ARMAZENAMENTO DE DADOS:
Algumas instituições do Ensino Superior, públicas e privadas, são acusadas pelos respectivos estudantes, sobretudo finalistas, de irresponsabilidade no armazenamento de informação do aproveitamento pedagógico: em causa está o desaparecimento de notas referentes a certas disciplinas dos cursos leccionados.
A nossa reportagem registou reclamações de alguns estudantes das Universidades Pedagógica, Eduardo Mondlane e São Tomás de Moçambique.
Segundo contam, o número de vítimas tende a aumentar. Paradoxalmente, a culpa tem recaído, sempre, sobre o estudante, que no final das contas é acusado de não ter feito a cadeira.
Trata-se duma situação que está a deixar as suas vítimas desnorteadas, pois tem acarretado prejuízos incalculáveis nos planos académicos e profissionais.
Por vezes, algumas vítimas são obrigadas a perder um ou dois anos do curso, à espera de resolver o problema, emperrando o processo de defesa para a culminação do curso.
Segundo relatos dos estudantes, essas informações têm aparecido de forma surpreendente, quando solicitam a atribuição de uma declaração de aproveitamento pedagógico.
As vítimas que falaram para a nossa Reportagem retratam actos de desorganização de arrancar os cabelos. Quando se verifica a falta de alguma informação académica, corre-se atrás dos docentes, solicitando cópias em sua posse dos mapas de aproveitamento. Quando o azar bate à porta e o docente não localiza o documento, não resta outra alternativa ao funcionário senão
dizer: “tens de repetir a cadeira”.
Nesta dança há que contar com o efeito contrário: “existem situações em que o estudante não faz a avaliação, mas no fim do semestre surpreende-se com uma nota na pauta”, relatam as testemunhas.
PAGAR PARA OBTER NOTAS
O desaparecimento de notas de aproveitamento pedagógico transformou-se, também, numa forma de arrancar dinheiro dos estudantes. Há quem pensa que as notas somem propositadamente, para gerar lucro para certas pessoas.
Alguns estudantes da Universidade São Tomás de Moçambique garantem que foram vítimas desse negócio: tiveram de desembolsar 800 meticais no Registo Académico para pagar pela cadeira perdida.
Paulo, do curso de Informática, testemunha o pagamento desse valor, o que, milagrosamente, trouxe de volta a sua nota.
"Paguei os 800 meticais, procuraram a nota, um tempo depois informaram-me que a tinham localizado”. Mas os males não se estancaram dessa feita: “depois de um tempo fui novamente comunicado que tenho outra cadeira em falta…”, disse.
José, estudante da Universidade Pedagógica, cidade de
Maputo, referiu que as falhas da instituição fizeram com que, só este ano, perdesse três oportunidades de emprego. As candidaturas requeriam certificado de conclusão do curso.
José viu as suas expectativas goradas pela falta do documento que devia comprovar o término do curso, e passou por mentiroso nas instituições que haviam lançado as candidaturas.
“Somos formados, mas não podemos ter o certificado por negligência de algumas pessoas. Há muita gente a passar pela mesma situação”, revelou.
TROCA DE ACUSAÇÕES
Os dirigentes das Universidades Eduardo Mondlane (UEM) e Pedagógica (UP) acusam os estudantes de serem negligentes e faltarem com a palavra, pois a maior parte das vítimas são indivíduos que tinham reprovado nas referidas cadeiras, e deixaram-nas para última hora.
O director pedagógico da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Henriques Henriques, garantiu que não constituem verdade as preocupações apresentadas pelos estudantes, pois, segundo disse, aquela universidade tem três arquivos onde ficam conservadas as notas, um electrónico, outro da faculdade e um terceiro, geral, que foi montado no Campus Universitário.
Incomodado com a situação, solicitou aos estudantes visados a entrarem em contacto com a sua direcção para clarificarem o cenário.
Por sua vez, Elena Magumane, directora do Registo Académico da UP, reconhece a existência de falhas no registo das notas do aproveitamento, mas, segundo refere, deram-se numa altura em que a informação não estava centralizada. Segundo explicou, isso acontece quando o estudante reprova na mesma cadeira ou quando a frequenta sem ter feito a respectiva inscrição.
Para fazer face a esta situação foi montado um sistema electrónico "online", em 2014, no qual “é obrigatório todos os docentes tanto da sede, assim como das delegações introduzirem a informação, sobretudo, dos estudantes inscritos e do seu aproveitamento pedagógico”, afirmou.
Acredita-se que esta plataforma vai ajudar tanto o docente, assim como o Registo Académico na conservação da informação institucional, e, quiçá, evitar que os problemas apresentados pelos seus estudantes não voltem a acontecer.
“Mas posso adiantar a esses estudantes que apresentaram a sua preocupação ao jornal que não têm outra saída senão repetir a cadeira. A maior parte dos estudantes é negligente. No entanto, registámos, recentemente, um caso raro para a nossa instituição: estudantes dum determinado curso vieram ter connosco para denunciar um docente que, segundo referiram, nunca os avaliou e no fim atribuiu-lhes notas. Eles disseram que preferem repetir a cadeira”, disse.
Refira-se que a nossa reportagem tentou, sem sucesso, colher a reacção do director da Faculdade de Informática da Universidade São Tomás de Moçambique.
Governo preocupado
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Técnico-profissional não confirma a recepção de denúncias sobre o desaparecimento de notas de estudantes, mas refere que está preocupado com o actual sistema de gestão de informação das diferentes instituições do Ensino Superior no país.
A preocupação vem pelo facto de, depois duma visita, terem constatado que a informação daquelas instituições encontra-se espalhada, facto que dificulta o seu controlo.
Para fazer face a este problema foi aprovada, recentemente, a instalação de dois pacotes electrónicos "online", nomeadamente, Sistema Universitário do Registo Académico (E-SURA) e Sistema de Informação do Ensino Superior (SIES), cujo objectivo é fazer a recolha e conservação da informação de cada instituição do Ensino Superior em actividade no país.
Os dois pacotes serão geridos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Técnico-profissional. No entanto, o E-SURA será instalado nas instituições do Ensino Superior, enquanto o SIES no ministério.
Segundo Anésio Baptista, técnico da Direcção do Ensino Superior do Ministério de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Técnico-profissional, as instituições vão depositar os seus dados no E-SURA, que serão posteriormente introduzidos no SIES. Adiantou que depois de um determinado tempo nenhuma instituição terá a permissão de fazer alterações da informação depositada.
Anésio assegurou que a sua direcção está a trabalhar de forma a evitar a sua invasão por piratas.
A medida, que se espera seja de cumprimento obrigatório, numa primeira fase, vai abranger apenas as instituições públicas, para posteriormente serem contemplados as privadas.
"Neste momento, estamos a fazer testes da sua eficácia dentro do ministério. O nosso desejo é ver a funcionar nas instituições universitárias a partir do próximo ano, 2017, mas tudo vai depender dos resultados da avaliação que estamos a fazer”, disse.
Texto de Abibo Selemane
abibo.selemane@snoticicas.co.mz
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