CARTA A MUITOS AMIGOS
A
12 de Outubro celebrou-se o Dia do Professor. Merecem que os
homenageemos. Em todo o mundo e aqui eles asseguram o futuro da pátria.
Relembremos
o que aconteceu pelo mundo fora. Depois da II Guerra Mundial havia
países inteiros destruídos. A Alemanha, o Japão, a URSS haviam sofrido
as piores destruições. A Inglaterra, a Itália, a Grécia, a Jugoslávia
estavam com cidades e vilas inteiras em escombros.
Nesses
países não faltavam engenheiros, arquitectos, ferreiros, carpinteiros,
electricistas, pedreiros. Alguns Estados receberam apoios monetários
para se restaurarem, mas não se enviaram para nenhum deles técnicos
superiores, médios ou básicos para lá. Eles existiam em todos os locais,
incluindo num Japão que sofrera dois ataques nucleares.
Reconstruíram-se porque sabiam e sabiam fazer.
A educação e o ensino haviam apetrechado o país. Reergueram-se as
fábricas, os prédios, refizeram-se as estradas e pontes, os sistemas de
água, as ligações eléctricas. Normalizaram-se as vidas das gentes e dos
países.
A
FRELIMO durante a guerra de libertação criava escolas nas zonas
libertadas. Tunduro e Bagamoyo criaram-se nesse período. Enviávamos os
finalistas para diversos países amigos com bolsas.
Por
absurdo na libertação nacional havia mais jovens com cursos médios e
superiores vindos do sistema de educação da FRELIMO do que o
colonialismo formara durante a sua bem longa ocupação.
Estávamos conscientes e bem das prioridades e necessidades. Havia que assegurar a reconstrução da pátria livre.
Na
sequência da independência havia um Ministério da Educação e Cultura.
Nele se tratava do ensino superior, técnico, primário, do desporto, da
juventude e da cultura. Desmembrou-se o ministério, criaram-se vários e,
claro, aumentou o número de funcionários.
Fernando
Ganhão leccionava no Instituto Moçambicano desde 1967. Com ele aí
estavam João Ferreira, Jacinto Veloso. Todos expulsos da Tanzânia pelas
manobras dos reaccionários aliados ao Sheik Karume. Os únicos médicos
moçambicanos, Hélder e Helena Martins expulsos pela mesma razão.
Sobreviveu
o saudoso Daniel Saul Banze com pele mais escura. A cor da pele para
essa escumalha determinava tanto as necessidades da pátria, como do
ensino.
Devemos
interrogar porque razão a UEM nunca assinalou o nome do seu fundador e
demais reitores? Ruth First e Aquino de Bragança encontram os seus nomes
num pequeno jardim dentro do Centro de Estudos Africanos. Iniciativa e
custos do CEA.
Verdade, o Conselho Municipal no Bairro dos Cronistas o nome de Ganhão a uma das ruas. Obrigado!
Sofrerão o Conselho Universitário e os Magníficos Reitores de uma magnífica amnésia ou ignorância?
Nos estabelecimentos de ensino havia laboratórios de física, química, biologia, bibliotecas.
Bom
visitar para se constatar quantos funcionam, alguns pararam por
carência de reagentes e outros produtos, há protecção dos livros nas
bibliotecas? Havia alojamento para os docentes e para os discentes de
locais distantes e sem família o ministério criara lares.
Como está a situação hoje?
Não
se atrasa brutalmente o pagamento do salário bem baixo até nas
universidades dos docentes? Em quantos locais o professor primário deve
apanhar um chapa para se deslocar a um ATM ou banco para receber o seu
magro salário? Como alojamos os professores primários e mesmo do
secundário?
Vemos na Universidade alunos escrevendo com erros crassos de gramática, ignorantes da aritmética mais básica.
Premiamos com diplomas a ignorância. Sai-se de um Instituto Médio ou Superior sem saber e muito menos saber fazer.
Acusam-se docentes de venderem notas, venderem provas. Perguntemos se as condições criadas não os forçam a virarem traficantes?
Que
dizer da venda de álcool e drogas nas imediações dos estabelecimentos
de ensino? A entrada de facas e punhais nas escolas? Não se pode
controlar a embriaguez? Há ou não violação de alunas? O acontecido no
Josina constitui um caso único e excepcional?
Bem, na gota de orvalho reflecte-se a beleza do sol ou sujidade das valas carregando podridão.
A
polícia tem instrumentos que medem o teor alcoólico. Controlar armas?
Há aparelhos em todos os aeroportos para tal se fazer. Não existem
guardas em todos estabelecimentos de ensino? Qual a tarefa que cabe aos
guardas e de que meios dispõem?
Paremos de choraminguices e comecemos a agir como pessoas e adultos responsáveis pelos seus filhos, netos e o país.
Na comunicação social que investigação existe, quantas reportagens sobre estas calamidades que assolam a educação?
Lamentações deixem-se para o muro que existe na cidade santa de Jerusalém. Aqui e agora a tarefa está no agirmos.
Para satisfazer doadores e gostos de A e B alteraram-se os livros ensino
Desapareceu
a nossa História, a educação patriótica e cívica, na literatura ficaram
mais os autores portugueses que e todos juntos, os moçambicanos,
angolanos, cabo-verdianos, são-tomenses, goeses e brasileiros.
Porque
não se pode descrever a História pátria sem dar o devido relevo à
resistência anti-colonial, aos crimes e massacres dos ocupantes e à saga
da libertação nacional, tudo se considerou propaganda partidária e
liquidou-se. Hoje as novas gerações pouco ou nada sabem do passado.
O
8 de Março, um dos esteios essenciais da reconstrução nacional, está
ignorado. Os filhos e netos dessa geração pouco ou nada sabem da gesta
em que os seus pais estiveram envolvidos.
Temos que salvar o nosso futuro, retomar o ensino dos verdadeiros valores da História, literatura deste país.
Para isso o meu abraço.
P.S. Todo assassinato, sequestro, violência fazem parte do odioso.
Jeremias
Pondeca que nós gostássemos ou não dele tornou-se vítima dum
assassinato. Membro do Conselho de Estado, o Presidente da República, o
Governo e a FRELIMO condenaram a barbaridade.
Não
devemos cair nas especulações sobre as causas, quando ainda não há
pistas e dados. As lendas sobre esquadrões da morte só servem para
obscurecer a investigação.
Má comunicação social a que conclui sem investigar.
Queremos sim informação fiável e acção eficiente das autoridades policiais e judiciais.
SV
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