segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A Renamo: No combate em que morreu André Matsangaissa

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Hoje é um dia grande para a Renamo. Morre em combate, há 36 anos, o seu primeiro comandante, André Mathadi Matsangaíssa Djuwayo. Seus seguidores armados ficarão conhecidos pelo seu nome, tal como ficaram os seguidores de Cristo: os cristãos. Os matsanga são os seguidores de André Matsangaissa, bandido para uns, herói nacional para outros! São 10 dias do mês de Outubro de 1979. O local chama-se Gorongosa, para onde as forças governamentais se dirigem para partir «a espinha dorsal do inimigo». É noite e sete homens armados chegam a uma aldeia comunal situada a alguns quilómetros da Vila. A sua missão não é clara mas a sua presença aterroriza e intimida os camponeses ali residentes. Uns começam a abandonar a aldeia o que chama atenção às Forças Populares de Libertação de Moçambique. Parece-me que estes homens aperceberam-se da grande operação arquitectada contra eles e vieram a este local apenas para certificar a suspeita antes de bater em retirada, abandonando no terreno material militar. Um Jornal dirá 30 dias depois que «…, antes de partirem, queimaram dezenas de habitações, saquearam uma Loja do Povo e, num acto de selvajaria característica, cortaram ambas as orelhas a dois camponeses, um deles uma mulher». Tempo, nº 474 – 11.11.79, pág. 13

O poderio militar da força inimiga vai obrigar as FPLM ao prolongamento das operações que levarão uns 15 dias porque o objectivo é neutralizar uma suposta «importante força inimiga, infiltrada na área da Gorongosa». O efectivo que acompanha o líder do até aqui denominado MNR (Mozambique National Resistence) é estimado em cerca de 350 homens, e integra oficiais rodesianos e moçambicanos que penetraram em Moçambique com o objectivo de estabelecer um acampamento militar no interior, a partir do qual poderão lançar acções de sabotagem contra alvos económicos e sociais. Outros grupos pouco importantes estão dispersos em Mucuti, Mabate, Chidoco, Sitatonga, Chinete, Muxungue. Os sete homens vistos são rebenta-minas e servem de isca para convidar o adversário ao terreno lamacento. Refugiam-se num pequeno planalto no alto da serra da Gorongosa, a mais de 1800 metros de altitude. A sua posição é praticamente inexpugnável contra ataques por terra e por dia, facilmente, é abastecida em armas, munições e mantimentos pelos aviões e helicópteros rodesianose pelas populações cúmplices. 

Para proteger o acesso ao acampamento principal, foi estabelecido um posto avançado em Morombodze, uma estação pecuária que antigamente pertencia a um inglês, guarnecendo-o com um efectivo calculado em cerca de 100 homens. Esta área tem a importância estratégica para a defesa das posições principais do grupo. É aqui que termina a picada quase intransitável que vai da Vila, a única via de acesso para viaturas a partir da pequena plataforma ali existente. No comunicado do Estado-Maior General de 2 de Novembro reconhece-se que «as condições de acesso terrestre a este local são de tal modo difíceis que, para se percorrer a pé os poucos quilómetros que o separam de Morombodze, são necessários cerca de três dias». No dia 11, as FPLM lançam uma ofensiva. Os combates são aqui particularmente violentos, com o efectivo inimigo cercado, encontrando-se instalado nas próprias instalações da estação pecuária. Os 100 homens resistem ao poder de fogo das forças atacantes, e lançam uma contra-ofensiva a partir das cinco horas da manhã do dia 12. 

O tiroteio, quase à queima-roupa, prolonga-se até às 11:00 horas, quando as FPLM reagrupam as suas forças para novos desenvolvimentos. A resistência sugere haver pessoas importantes no local. Aproveitando-se do reagrupamento das FPLM, o grupo dispersa-se pela mata adentro o que permite que no dia seguinte, 13, o posto seja ocupado, com resistência esporádica e localizada. Ocupada a posição estratégica de Morombodze, as FPLM preparam-se para a ofensiva final contra o acampamento inimigo na Serra. No dia seguinte, 14, os rebeldes desencadeiam uma série de acções, numa tentativa de fazer dispersar as forças agora ocupantes. A floresta nas cercanias de Gorongosa está em ebulição e o turbilhão de tudo isso é um grupo de 350 homens armados com armas ligeiras contra um exército armado até aos dentes. Nos dias 14, 15 e 16 os combates estão circunscritos nas cercanias do posto avançado ora ocupado. Para lá são mobilizados materiais de guerra e homens na tentativa de romper o cerco. A resistência tenaz dos rebeldes volta a sugerir haver entre eles os principais comandantes, mas ainda ninguém tem certeza. 

Pela manhã do dia 17, ataques coordenados saem de diferentes posições contra Morombodze o que força as FPLM a dividirem-se em pequenos grupos e a penetrar para o interior em perseguição aos adversários. Há muitas baixas do lado das FPLM, o Hospital da Vila já não é capaz de atender quantos feridos para lá chegam. Também há muitas mortes do lado dos rebeldes e só mais tarde saber-se-á que entre eles estava o próprio comandante, o André. No dia 17, entre os que combatem notam a ausência do comandante, pois estão divididos em pequenos grupos. A ira e a necessidade de certeza força-os a ter que aumentar a intensidade dos ataques. No dia seguinte, 18, aproxima-se da Vila, fustigando-a com um poder de fogo. Neste dia, 20 homens já tombaram e os 80 sobreviventes dividem-se em três grupos conforme fora traçado no dia anterior: o primeiro ataca directamente o quartel das FPLM, criando um pânico entre os habitantes da vila; o segundo ataca uma área residencial, criando uma debandada geral e o terceiro ataca a zona do hospital, deixando doentes desprotegidos. As FPLM estão sob fogo intenso em todas as frentes. Pela mata ainda há resistência, mas não tanta. Há que redobrar esforços para proteger a vila. Os combates iniciam-se cerca de dez horas da manhã, e prosseguem até às cinco da tarde. Por um pouco a vila não cai. Os rebeldes querem ver se no Hospital haverá alguns elementos feridos entre eles o seu comandante. 

A percepção de um dos comandantes das FPLM é de que «o grupo inimigo julgou provavelmente que, como um importante efectivo moçambicano se encontrava na serra a proceder a operação de «limpeza», a vila estaria pelo menos parcialmente desguarnecida. Por outro lado, tentou aproveitar-se ao máximo das características da vila, particularmente da grande dispersão das casas e instalações ali existentes». Tempo, idem. Ao fim do dia os dois primeiros grupos são rechaçados com numerosas baixas, deixando feridos que são capturados pelas FPLM, e o terceiro consegue atingir as paredes do hospital com balas, e um roquete destrói por completo a casa mortuária, situada a cerca de 20 metros do hospital. A vila está momentaneamente dividida com os rebeldes a controlar uma parte nos dias 19, 20 e 21. Apesar de todas as tentativas de romper o cerco, e dos reforços importantes recebidos as FPLM instalam a artilharia na plataforma de Morobodze. No dia 22, procedem ao bombardeamento sistemático do campo no topo da montanha, que será completamente arrasado. 

No dia 23, as forças de infantaria iniciam a escalada da montanha, cujo cimo atingem a 26, limpando completamente a encosta. Os sobreviventes dispersam-se em pequenos grupos, fugindo em direcção à fronteira ou, abandonando armas e uniformes, fazendo-se passar por elementos da população. Na montanha numerosas ligaduras cheias de sangue são ali encontradas. Cadáveres também são encontrados mais tarde em áreas vizinhas, nomeadamente num rio que corre nas proximidades. O saldo global da operação é de mais de 100 baixas do lado dos rebeldes, um número elevado de feridos e 22 prisioneiros, sendo ainda abatido um helicóptero quando tenta evacuar oficiais rodesianos, na zona de Manica. Do lado das FPLM o número de baixas é estimado em cerca de 136 mortes, 45 feridos e, 37 desaparecidos em combate, entre mortos, capturados e desertores. A tentativa de estabelecer um campo militar no interior de Gorongosa, para servir de base para o desencadeamento de acções de terrorismo e sabotagem, fracassou mas abriu espaço para que Maringue, já sob liderança de Afonso Dhlakama, emergisse como símbolo de resistência da Renamo até ao Acordo Geral de Paz, de 1992.


Nota: Na foto, André Matsangaissa e Pedro Marangoni, Arquivo de  Pedro Marangoni
Eusébio A. P. Gwembe, Historiador

7 comentários:

  1. A RENAMO foi e sempre será um instrumento de sabotagem e terrorismo ao serviço de interesses externos contra o nosso pais.
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  2. Respostas


    1. Na foto, André Matsangaissa e Pedro Marangoni
  3. Senhor Bila, não sabe o que você está a falar ou se sabe é um homem vencido pela ganância do poder e esquece o povo que é tão importante quanto tudo. Tenta ler mais um bocadinho na vida, para deixar daquilo que alguém vem inculcando nas nossas para uma lavagem cerebral. As pessoas merecem conhecer a verdade. Tenta ler 'Um Homem, Uma Causa' para ter alguma noção que o que pensa que sabe e ser verdade, nunca passa duma farsa. E analise o que está acontecer agora, será a RENAMO é promotor de tudo isso. Apesar de eu não ser de nenhum partido da oposição, mas eu digo as pessoas devem conhecer a verdade e cabe a cada um a sua decisão. Mas deixemos de ser ambiciosos. Que vale o homem ganhar todo mundo e perder a sua alma. Vale a penas morrer mesmo agora, mas com alma que se sabe que não será perdida.
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  4. DISSE JESUS CRISTO. UM REINO DIVIDIDO ENTRE SI MESMO NAO SUBSISTE. NAO ESTOU ADMIRADO O PORQUE DOS 16 ANOS DA GUERRA CIVIL QUE FRAGMENTOU TOTALMENTE O NOSSO-MOCAMBIQUE. ANTES DE COMECAR ESSA GUERRA ALGUEM DENTRO ELES QUE COMECOU A GUERRA, DEVERIA ENTENDER UMA COISA. IRMAOS SEMPRE SAO IRMAO. NINGUEM COMPRA A IRMANDADE. PORTANTO LUTAR SENDO IRMAOS E MAIOR FRAQUEZA DA MORALIDADE. EM OUTRAS PALAVRAS A GUERRA CIVIL, E A MAIOR SUJEIRA DE UM PAIS. O QUE ACONTECEU EM 1992 ACORDO GERAL DA PAZ E O QUE DEveRIA TER ACONTECIDO ENTRE ELES QUE PROVOCARAM-SE UM AO OUTRO. NAO TERIAMOS UM MOCAMBIQUE DESGRASSADO ASSIM...
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  5. E sempre o foi e a favor de interesses imperialistas. Esse miúdo que esta ai a comentar que idade tem? Viveu a guerra? Combateu? Sofreu? Perdeu familiares! Va ao GAME comprar brinquedos, menino! Saia disto!
ANDRÉ MATSANGAISSE
Hoje comemora-se a passagem do 37° ano da morte do lendário e corajoso primeiro presidente e comandante da Renamo, André Matsangaisse. André Matsangaisse morreu em combate na madrugada do dia 17 de Outubro de 1979 na então Vila Paiva de Andrade, hoje Vila da Gorongoza, na província de Sofala. No momento da sua morte, a Renamo apenas estava a combater na Provincia de Manica e no distrito de Gorongoza. Quando o André morreu, a frelimo fez uma festa de arromba, pensando que finalmente a Renamo vai acabar. O corpo do André foi queimado e de transportado, ainda a fumegar, num bulldozer e foi enterrado numa grande cova como que uma vala comum.
A frelimo julgou ter enterrado e encerrado a luta pela democracia e opressão do regime marxista-comunista que estava ser levada a cabo pela Renamo mas foi ledo engano, muito pelo contrário, a luta intensificou - se. O comandante Matsangaisse foi logo substituído pelo actual presidente do partido renamo e comandante-em-chefe das forças revolucionárias da renamo o Field Marshall Afonso Macacho Marceta Dhlakama, que encorajou e ensinou a estratégia de continuar a combater o regime marxista-comunista da frelimo.
De imediato Dhlakama decidiu abrir mais frentes de combate em Tete, Zambézia, Inhambane, Gaza, Nampula, Niassa, Maputo e finalmente Cabo Delgado é logo a frelimo ficou de cabeça perdida. Até meados de 1984 a Renamo já estava a combater em todas províncias e alguns anos depois a frelimo foi derrotada. Mas a frelimo fez gigantescos e desesperados esforços para esmagar militarmente a renamo. Quando as coisas já estavam muito quentes em 1984, a frelimo solicitou ajuda militar de vários exércitos estrangeiros como da Tanzânia, Zimbabwe, Cuba e técnicos e comandos especiais da ex-União Soviética e outros ex-países socialistas da Europa.
Todos estes exércitos vinham munidos com blindados, tanques, aviões, helicópteros, sistemas BM-21 "Katiusha", bombas de 500 kg, etc. Na altura a frelimo tinha comandantes brilhantes e veteranos da guerra anti colonial, como "Leyland", Nampulula, Nhanzozo, Mandango, entre outros. O Zimbabué tinha um exército esplêndido e altamente capaz, e com forca área avançada, porque herdou tudo do poderosíssimo exercito de Ian Smith. Mas mesmo com tudo isso, a Renamo não recuou e nem desistiu do seu objectivo de lutar pela democracia e liberdade.
Já nos meados de 1988, depois de muitas derrotas, a frelimo começou a elaborar uma nova constituição, aceitando todas as reivindicações da Renamo. Esta constituição, que entrou em vigor em 1990, já falava de eleições no país, de partidos políticos (fim do monopartidarismo), liberdade religiosa e de imprensa, liberdade de circulação (fim das infames guias de marcha), justiça, direitos humanos, economia de mercado, etc. Tudo isso foi possível graças à coragem e determinação da renamo, do contrário, o país estaria ainda com a constituição de 1975, que era muito pior do que o colonialismo. Portanto, André Matsangaisse não morreu em vão porque hoje os mocambicanos saboream os frutos regados pelo seu sangue derramado em combate.
17 de Outubro é uma data muito importante para a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Hoje a Renamo também recorda e rende homenagem aos generais, brigadeiros, e outros escalões que sacrificaram as suas vidas na luta pela democracia, justica e liberdade. Estes são os verdadeiros heróis deste país e não os que a frelimo depositou na cripta dos heróis em Maputo, exceptuando Filipe Samuel Magaia (assassinado a mando de Samora) e uns poucos.
André Matade Matsangaisse, natural de Machaze, foi o homem que içou pela primeira vez a bandeira nacional no dia independência em Junho de um 1975. Quem baixou ou retirou do mastro a bandeira portuguesa foi um tal de Martins Maurício. E finalmente dizer que hoje o André continua a travar uma batalha sem igual para libertar os mocambicanos da tirania do actual regime frelimo porque "ressuscitou" e encarnou - se em UNAY CAMBUMA, que também vai içar em breve a bandeira das novas regiões autónomas do centro e norte caso a frelimo faça brincadeiras nas negociações em curso em Maputo.
Unay Cambuma
Destruída estátua de André Matsangaissa na Beira
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Destaques - Nacional
Escrito por AIM  em 19 Outubro 2012
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Em plena celebração do 33º aniversário da morte de André Matsangaissa, primeiro comandante da Renamo, antigo movimento armado em Moçambique, indivíduos supostamente do mesmo movimento, hoje maior partido de oposição, destruíram, na manhã da Quarta-feira (17), a estátua erguida numa praça no cruzamento da avenida Acordos de Lusaka e a rua Kruss Gomes, no bairro da Munhava, na Beira, centro do país.
A estátua vandalizada tinha sido produzida em mármore e foi colocada no local em 2008, ano em que a Assembleia Municipal da Beira, na altura dominada pela Renamo, aprovou a transformação da rotunda da Munhava em Praça André Matsangaissa.
Uma testemunha ocular afirmou que a destruição foi protagonizada por indivíduos ligados a Renamo. Contactado pelo “Diário de Moçambique”, o chefe do posto administrativo municipal da Munhava, Jaime Domingos, lamentou o facto, tendo precisado que os protagonistas da acção não reconhecem o valor patrimonial de uma estátua na exaltação das figuras moçambicanas.
“Não se sabe quem, de facto, teria destruído a estátua, mas presume-se que sejam membros da Renamo, que foram vistos logo pela manhã neste local”- respondeu Jaime Domingos, quando questionado sobre se os autores eram ou não conhecidos.
A colocação da estátua naquela praça foi aprovada numa altura em que Daviz Simango, actual edil da cidade e líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), governava a cidade depois de ter sido eleito pela coligação Renamo, para além de que a Assembleia local era dominada por este partido.
O “Diário de Moçambique” deslocou-se à sede da Renamo, na Beira, para colher reacção sobre a destruição da estátua que exalta a figura de André Matsangaissa.
No local, um membro daquela formação política, que não quis se identificar, disse que ninguém podia tecer comentários sobre o facto na ausência de Noé Marimbique, delegado do partido nesta urbe e por isso pessoa indicada para o efeito.
“Nós temos os vossos números de telefone, logo que tivermos a autorização para nos pronunciarmos, faremos a questão de contactá-los.” - referiu a fonte.
A Polícia da República de Moçambique (PRM), através do oficial de imprensa no comando provincial de Sofala, Mateus Mazibe, disse que a corporação está a trabalhar no sentido de identificar os autores da vandalização da estátua.
“Trata-se de um bem público. Por isso, os autores, se forem identificados, serão responsabilizados pelo acto que cometeram” – referiu Mazibe.
Mussa Caisse Caisse Paz a sua alna
Gosto120 min
Carlos Januario Niquisse Que deus cuida a sua alma. durante anos.
Omar Mausa Mussacare Paz a sua alma.
Regalado Onofre Viva a força nacional da democracia
Osvaldo Uala Dhlakana é Marshall??
Edgar Mario Mario Os grandes homens numca morre sta sempre presente. Viva a democracia iniciada pelo grande homem andre e continua com o grande lider da familia mocambicana o comandante afonso Dlhakama.
Zacarias Matope Matope Pouco se fala mas é o herói de todos que gozam a liberdade.
Chikweza Maphossa Paz asua alma amen

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