Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
“Não se pode falar de ventos favoráveis (oportunidades) ou desfavoráveis (obstáculos, dificuldades), quando não se sabe para que porto (objectivo) se quer ir. Filósofo romano Séneca in Armando José Dias Correia “O Mar no século XXI: Contributo para uma análise Estratégica aos Desafios Marítimos Nacional (2010).
Por que razão somos tão pobres? Cada um de nós, moçambicanos, independentemente de saber ler ou escrever possui algumas respostas sobre esta questão. A centelha de hoje procura trazer algumas achegas sobre as causas da nossa pobreza. É óbvio que amputação do nosso crescimento e desenvolvimento económico e social deveu-se em grande medida a colonização. Foram séculos de opressão, de escravatura e da negação do Homem, contrariando os preceitos religiosos de que eles (colonizadores) eram fiéis paladinos e depositários. Com a FRELIMO na vanguarda, conseguimos alcançar a nossa independência nacional e construímos uma nação livre, independente e soberano.
Trinta anos depois, o estado clínico do país baixou significativamente, não obstante alguns avanços do ponto de vista quantitativo e qualitativo nos sectores da educação, saúde, estradas e pontes. O que está a falhar para que o país alcance rapidamente a prosperidade? Já ouvi dizer que alguns políticos quando chegam ao poleiro só “metem água”. De facto, quem assim afirma não é gago. Tivemos, nos últimos anos, alguns políticos que administraram o património público nacional de forma negligenciada. Só não posso chamá-los de gatunos, larápios, sabotadores, vende-pátria, etc., aqui na gazeta do Wamphula Fax, porque esses prevaricadores gozam da garantia constitucional da presunção de inocência até decisão judicial definitiva. Comportaram-se como se fossem inimigos do país. O povo tem razão quando reclama que o lugar desses políticos é no xelindró. Para quando esta medida, senhoras e senhores guardiões da legalidade?
Também aponta-se a corrupção como a principal causa da nossa pobreza. Talvez pela inércia com que se combate este flagelo, algumas pessoas pensam que a corrupção é uma didáctica. Dizem ainda que a corrupção atingiu a medula óssea da sociedade, ou seja, o que era anormal e condenável nos tempos a seguir a independência nacional tornou-se absolutamente normal. Com base nesta corrente de opinião, sou tentado a concluir que, pelo andar da carruagem e o afrouxamento que se verifica no combate da corrupção, não me admiraria se ela (corrupção) um dia viesse a ser legalizada no Parlamento. Diz-se que, quem cala, consente. Para bom entendedor, meia palavra basta.
Dizem e bem alguns anciões que é preciso aumentar as horas de trabalho na função pública para haver mais produtividade. É uma receita aceitável. Porém, lembro que durante o estádio da escravatura também trabalhava-se duro e não havia horas de descanso. Trabalhava-se até à exaustão. Mas nem por isso esse xibalo colonial trouxe produtividade, senão nunca teria sido abolida das epístolas constitucionais dos países que o praticaram. Portugal tentou ensaiar esse paradigma e aumentou algumas horas na função pública, o que viria a revelar-se, anos mais tarde, como uma medida draconiana do governo da coligação PSD-CDS. Terá sido pela imposição da troika? No final das contas, os portugueses sancionaram a coligação e não a troika. Sou apologista (e disso falarei mais adiante) que se aumente as horas no sector do turismo para que as nossas cidades-capitais (municípios) tornem-se efectivamente produtivas de riqueza e não mamadeiras do erário público. Estas são sem dúvida algumas das causas da nossa pobreza, incluindo, outrossim, à inoperância do sector da agricultura, onde há mais políticos que políticas de desenvolvimento. Existe, porém, um problema maior. Chama-se TURISMO. O TURISMO DA DIFERENÇA. Não estamos a investir seriamente no turismo da diferença. Temos um país que é paraíso natural. Cheio de encantos e de lugares fantásticos. A nossa gastronomia é especial. A nossa paisagem é novelística. O nosso clima é deslumbrante. As nossas águas são terapêuticas. A localidade de Boroma, em Tete, além de histórica e monumental, possui águas termas com poderes curativas. Entretanto, consta-me que Boroma foi deixada para trás pelo comboio de desenvolvimento ou pela ignorância de alguns dirigentes. O que é que o governo local tem feito para alavancar o turismo em Boroma? Existe algum site com estas e aqueloutras informações sobre as potencialidades de Boroma? A via de acesso está uma lástima e pouco se faz para inverter este cenário desolador. Fala-se da construção da Barragem de Mphanda Kkuwa. Eu não sei se a população de Boroma logrará êxitos com a exploração deste importante empreendimento energético ou se, à semelhança do que aconteceu com a população reassentada de Moatize, ficarão a ver navios? O meu grande receio é que Boroma venha a torna-se uma espécie de barriga de aluguer de uma barragem que não os trará provei-tos significativos, enquanto os frutos da sua riqueza estarão na mesa de refeições dos poderosos capitalistas mundiais. Assim aconteceu no Brasil, Portugal, Angola, etc.
Zicomo (Um abraço nhúngue ao Hassam, a quem devo importantes conhecimentos sobre Marrocos).
WAMPHULA FAX – 06.06.2016
Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
“Não vamos por bom caminho. Na realidade, o problema é que nem sequer sabemos por que caminho vamos” Excerto do texto de António José Telo: “Um mundo em transformação”.
A decadência da Europa”. A beleza e o poder natural não estão só em Boroma, destaco também as fontes de águas termais da Angónia, da Macanga, de Chiúta e do Zumbo. Não seriam estas as mezinhas para acabar com o velho problema de reumatismo e juntas que incomodam uma boa parte dos anciões da província Tete? O inexistente desporto aquático da canoagem, as fortalezas abandonadas e em ruina, a fauna roubada pelos interesses do capital financeiro, o abate propositado de embondeiros lendários para “parir” edifícios da candonga, não acicatariam o progresso turístico da província? Diz-se com alguma ironia que Tete aquece para caramba, mas por detrás desse aquecimento tremendo, há vida e há futuro por explorar.
Não seria este o argumento para polarizar a vinda de turistas das regiões ou países de temperaturas frias ou geladas? Em vez disso o governo enganou-se com o carvão. Apressou-se a vender a pele do urso, antes de o ter apanhado. Agora chegou a factura do preço da precipitação que deve ser paga. Se me tivessem dado ouvidos, penso que Tete estaria em outros patamares de desenvolvimento.
Ao contrário do que alguns patrícios me acusam, não estou contra o governo de Tete, especialmente a figura do governador. Alguém dizia que a crítica não é cruel para ninguém, não é amiga para os amigos, não é inimiga dos inimigos. De facto, a crítica tenta compreender e descrever uma situação anómala para melhor pensar, agir e servir do governante. Ademais, o que faz a opinião pública é a situação em que cada país vive. Tete vive uma autêntica situação de inércia governativa no que toca ao turismo.
Esta análise remete para uma outra ideia complementar. A culpa deve ser partilhada com o responsável máximo do turismo a nível nacional. Recuso-me a calar perante uma situação de indolência governativa. Estão a deitar abaixo verdadeiros tesouros do turismo nacionais, aquilo que causaria menos poluição e traria mais riqueza para o país. A fundamentação da guerra é justa e legítima, mas não pode justificar uma atitude molanqueira dos que governam de braços cruzados, que nem sequer sabem por que caminho vão.
Quando visito a província de Nampula rendo-me à beleza da Ilha de Moçambique. É uma terra do passado mas com um futuro anestesiado. A Ilha de Moçambique foi vítima da eutanásia de alguns políticos. Não cresce, senão para baixo. Cresce rápido, mas para a destruição de si mesma. Ilha de Moçambique é um lugar de História, um museu a céu aberto. É um paraíso adormecido, é o berço de Moçambique. A única ponte existente que liga a parte continental da insular, construída no estádio colonial, clama por melhorias.
O desenvolvimento populacional da Ilha justifica uma nova ponte, moderna e com duplo sentido do ponto de vista de circulação de viaturas. Como dizia o saudoso Professor José Hermano Saraiva, é uma terra castiça (pura), onde cada pedaço de terra corresponde a um pedaço de História. Paradoxalmente, a sua riqueza turística não alimenta as comunidades locais. Quantos de vós conhecem a Ilha de Moçambique? Quantos de vós têm lá ido para passar as férias de verão? O que é que fazem as nossas embaixadas para promover o potencial turístico da Ilha de Moçambique?
Entretanto, gasta-se rios de dinheiro em publicitar drogas alcoólicas e o tabagismo nas televisões pagas com o imposto dos moçambicanos, em lugar de potenciar o turismo da diferença. O turismo da diferença é o turismo do futuro.
O futuro está aqui: em Tete, na Ilha de Moçambique e em toda a parte deste vasto e rico país que se chama MOÇAMBIQUE. ZICOMO e um abraço nhúngue a todas crianças africanas, pela ocasião do 16 de Junho.
WAMPHULA FAX – 20.06.2016
O TURISMO DO FUTURO É O TURISMO DA DIFERENÇA (Final)
Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com
“Deus deu-me agulha sem linha e flecha sem seta” – Hosiah Chipanga, músico e compositor zimbabueano
E deu-nos também alguns dirigentes com uma fraca capacidade de análise do futuro. É curioso que continua-se a pensar que os recursos naturais são a vereda do progresso económico do país. Engana que assim pensa, porque a maior parte dos recursos são efémeros, ao contrário da cultura, é duradoura. O futuro das nações está precisamente no turismo não dogmático, nem igualitário.
O país precisa de um turismo dinâmico, genuíno e de qualidade, que faça a diferença no contexto das nações. O pensamento estratégico do turismo deve olhar para a gastronomia nacional, a dança, a música, a escultura, a pintura, enfim, o património arqueológico e arquitectónicos, para solucionar os problemas locais de pobreza e do desemprego. Estes são os motores capazes de puxar pelo país. É disto que o país precisa. Falta-nos técnicos de cultura, dotados de uma visão estratégica, para dinamizar o turismo. Há tantas reuniões públicas, muitas delas inúteis em termos de agenda e de resultados, mas raramente debate-se o turismo cultural.
Aquilo que conseguirmos fazer de diferente, certamente despertará interesse a toda a gente. Todos vão querer ter, comprar, vender e publicitar. Se o governo de Inhambane incentivasse o seu povo a apostar mais na utilização das suas ramadas para construir hotéis e objectos de arte, decerto aumentaria a presença dos turistas na província. Se o governo de gaza apostasse mais no turismo aquático, com certeza traria maiores ganhos para a província.
Se o governo de Manica publicitasse mais a suas artes rupestres e o seu património geológico, certamente não estaria a minguar. Se os governos de Tete e Niassa prestassem mais atenção na sua fauna, naturalmente estariam no poleiro e a prosperar. Se o governo de Nampula capitalizasse a sua história, é óbvio que a província estaria noutro estágio de desenvolvimento.
Não basta levar dezenas de artistas para Portugal, Suíça, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, etc., quando internamente desconhece-se o valor das suas obras. Não se faz turismo sem elementos culturais. Não pensar nisso, que a cultura é o fermento do desenvolvimento, é amputar o sonho libertário da nação. Numa altura em que o país ressente-se da falta de divisas, o turismo cultural poderia ser uma alavanca certa para o desenvolvimento.
Gostaria de falar das passagens áreas, mas as palavras morrem-me nos lábios. Há duas semanas estive na Bélgica e visite o memorial da Batalha de Waterloo (para ser mais preciso o Monte do Leão). O que é que há de especial? Nada mais que um amontoado de terra que se diz ter sido trazida do próprio terreno de batalha. Ao cimo está a famosa estátua do leão. Conversei com uma das funcionárias que me disse que aquele local histórico recebe diariamente dezenas de visitantes de todo o mundo.
Outro aspecto interessante é que não há elevador, o visitante sobe e desce dos próprios pés os 226 degraus de escadas que dão acesso ao pico do monte. Perguntei e a resposta foi pronta “com esta escada ganha-se saúde”.
As visitas geram divisas para a região. Isto é que é fazer turismo, o turismo do futuro. Um turismo que não compromete o meio ambiente, pelo contrário, promove o progresso económico, social e cultural da região de Waterloo. Não sei porque é que não seguimos o exemplo. Estou a ver, por exemplo, o monte Binga ou a cabeça de Velho, na província de Manica, que são monumentos naturais únicos, mas que não têm sido devidamente aproveitados.
A diferença é que os belgas já vivem o futuro, os moçambicanos ainda estão à procura da chave para abrir as portas do futuro. ZICOMO e um abraço nhúngue ao amigo Saene.
WAMPHULA FAX – 27.06.2016
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