O país está numa fase de desafios em várias áreas. Na área económica e na área da sua defesa e segurança, Moçambique não atravessa bons momentos. Estranhamente, no lugar de os moçambicanos mais esclarecidos se concentrarem no debate sobre as causas e soluções destes bicudos problemas, os filhos da Pátria amada estão à pega com insultos que cheiram a odio e vingança.
Através de semanários que pululam na praça, através de redes sociais de alguns donos frustrados e irresponsáveis, através de debates em estacões televisivas conhecidas, vemos moçambicanos lançando achas à fogueira, atirando pedras de forma irresponsável com consequências perigosas para todos nós.
Nós prezamos a democracia. Nós prezamos o debate livre de ideias. Já demos mostras, na nossa vida profissional, do quanto amamos o debate de ideias, à luz da liberdade da expressão e da imprensa, bens que defendemos nas últimas duas décadas. Está documentada a nossa jornada nesse sentido.
Tirando alguns erros involuntários, nunca assumimos como boa pratica o insulto a pessoas com quem divergimos na interpretação de fenómenos políticos, sociais ou económicos ou mesmo culturais. Nunca assumimos como forma de estar a incitação a violência, seja porque razão for, porque conhecemos as consequências da violência, sobretudo, a armada.
Hoje por hoje, para a nossa desgraça, vemos jovens jornalistas a apostarem no insulto e no incitamento a violência, refugiando-se nesse belo conceito de liberdade de opinião e de expressão. Jovens editores de jornais, teimosos e alguns até ignorantes, recorrem ao insulto a dirigentes ou a cidadãos comuns para demonstrarem as suas zangas com determinados dirigentes políticos, com determinadas forças políticas sejam elas da esquerda ou da direita. Para demonstrarem, até, as suas filiações partidárias. Como se as Redacções fossem, elas próprias, células de partidos políticos.
Não conseguem criticar com serenidade o mal feito. Não conseguem criticar serenamente e de forma educada os seus alvos. Políticos frustrados com a vida e com a sua idade já avançada, agitam a sociedade com suas palavras virulentas lançadas através dos ecrãs televisivos ou através da pena. Apelos à violência e à rebelião aparecem, de tempos em tempos, pelas bocas de figuras que ontem já nos mereceram respeito e consideração, mas que hoje apenas nos incomodam e nos perturbam porque não lançam ideias para debate, não sugerem soluções razoáveis para além do insulto, do ódio e do ajuste de contas.
Académicos que já nos mereceram respeito, sempre que abrem a boca só atiram bacoradas, ora porque estão ansiosos de saírem na televisão, ora porque estão zangados com colegas ou antigos chefes seus. Que culpa tem o país no seu todo com os grupos que hoje andam desavindos? Que culpa temos nós para andarmos a ouvir tanta violência verbal, tanta confusão lançada por intelectuais que têm como missão educar do que confundir a opinião pública?
Estamos num momento difícil, em que a massa cinzenta devia contribuir para serenar ânimos de militares e polícias que julgam que as armas é que resolvem. Mas no lugar de serenar as armas com ideias, políticos, jornalistas e académicos fazem-se de prolongamento dos homens das armas, incendiando o país com ideias perigosas, umas cheirando a autêntico tribalismo, outras cheirando a sangue.
Cada moçambicano adulto está livre de abraçar as ideias políticas que quiser. Mas nenhum moçambicano está autorizado a promover a violência armada. Nenhum moçambicano está autorizado a insultar outro. Nenhum moçambicano está autorizado a vandalizar outro.
Imaginamos que nos últimos 40 anos, moçambicanos brancos ou mulatos acumularam contas por ajustar com moçambicanos negros. Sabemos que grupos de filhos ou de netos dos nosso colonos continuam zangados com a geração que lhes correu dos prédios e lhes retirou os privilégios. Mas nossos filhos e nossos netos não têm nada que pagar ate hoje por essas vossas zangas.
Lendo alguns jornais hoje, temos vontade de esconde-los da circulação junto das nossas crianças, tão nojentos são para uma convivência pacifica entre cidadãos. Certos textos de opinião, certas entrevistas lá vertidas são de uma irresponsabilidade de bradar aos céus.
Há moçambicanos que para eles, o país pode desabar amanhã que não têm nada a perder. Há moçambicanos que só desejam mal a isto e generalizam estas suas zangas para tudo e para todos.
Esquecem-se que para além das suas ideias macabras, para além do seu pessimismo, para além dos seus ódios, invejas e rancores, para além das guerras em defesa dos seus interesses de grupo, há todo um povo que acorda de manhã e luta por alimentar os seus com trabalho e muito sacrifício.
Há camponeses que trabalham e alimentam as cidades. Há operários que fazem andar o país. Há militares e polícias que garantem a segurança deste pais que querem partir a todo o custo. Há vendedores informais que são autênticos salva-vidas das economias familiares. Há vida para além dos barulhentos e irresponsáveis analistas. Por favor, pensem antes de abrirem as bocas, pois o país merece serenidade e calma, nestes dias difíceis. O país precisa de paz. Paz de espirito. Paz efectiva sem armas. Construamos um pais sem rancor, reconciliado e com espaço para todos… ljossias@magazineindependente.com
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