Monday, April 25, 2016

Antiga embaixadora acusada de se apoderar de perto de meio milhão de dólares

Por Armando Nhantumbo

Já é oficial. Amélia Sumbana, antiga embaixadora moçambicana nos Estados Unidos de América (EUA) entre 2009 e 2015, deverá responder em Tribunal pela prática de crimes de peculato, abuso de cargo e branqueamento de capitais. Em causa está um total de 496.945,03 USD, equivalente a 17.393.076,05 MT, ao câmbio da época dos factos, valor de que Amélia Sumbana se terá apoderado na qualidade de Embaixadora Extraordinária e Plenipotenci- ária da República de Moçambique, junto dos Estados Unidos de América. Em nota de imprensa datada de 20 de Abril corrente, o Gabinete Central de Combate à Corrup- ção (GCCC) não refere o nome daquela que apenas diz ser uma agente do Estado afecta ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC) e que foi dirigente de Missão Diplomática num país do continente americano. Mas o SAVANA, como já publicou em edições anteriores, sabe que se trata de Amélia Sumbana que foi também secretária para as Relações Exteriores na Frelimo. Aliás, o cauteloso GCCC diz que, “para lograr os seus intentos, entre os anos de 2009 a 2015, (a agente em causa) ordenava a emissão de cheques a seu favor, alegadamente para efectuar pagamentos referentes a obras de reabilitação da residência oficial e compra de bens para o funcionamento da Missão”. Ora, a embaixadora de Moçambique em Washington neste período tem como nome Amélia Sumbana. E mais, em nenhum outro país do continente americano, uma Missão Diplomática moçambicana era dirigida, no período em causa, por uma mulher. De acordo com o Ministério Pú- blico (MP), para se apoderar de fundos públicos, a arguida ordenava reembolsos com base em cota- ções de passagens aéreas sem que tivesse realizado tais deslocações e, outras vezes, tendo as feito, solicitava os reembolsos de passagens da classe executiva, quando as viagens se efectuavam na classe económica. “Os cheques sacados das contas bancárias daquela Missão eram depositados nas contas tituladas pela arguida, cujos valores, em parte, eram posteriormente transferidos para as suas contas bancárias”, denuncia o MP. Como parte desses fundos transferidos para Moçambique, a antiga Embaixadora adquiriu um imóvel na Cidade de Maputo, tendo-o registado em nome de um parente. A unidade anti-corrupção da Procuradoria-geral da República Antiga embaixadora acusada de se apoderar de perto de meio milhão de dólares Por Armando Nhantumbo (PGR) garante que, após a dedu- ção da acusação, o processo-crime foi remetido, ainda esta semana, ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo para ulteriores trâmites processuais. Foi na edição de 1 de Abril corrente que o SAVANA apontava, em primeira mão, o nome daquela que também foi alta-comissária de Moçambique junto do Canadá, como estando metida até pescoço em esquemas de delapidação do erário público. “Maputo transferia fundos para o funcionamento da embaixada em Washington, mas estranhamente o dinheiro voltava a sair, pouco tempo depois, para pagamentos que nada tinham a ver com a embaixada. Os americanos estranharam essas transferências e alertaram o MINEC”, descrevia na altura fonte próxima da investigação. Na altura, Sumbana evitou falar do caso, quando abordada pelo SAVANA. “Prefiro não falar sobre esse assunto”, rematou a militante da Frelimo que foi vista na recente V Sessão do Comité Central do partido governamental. Entretanto, a “antiga dirigente de Missão Diplomática num país do continente americano”, não é a primeira a cair nas garras do GCCC, este ano. Em finais do mês passado, o GCCC anunciou a acusação de outros dois funcionários do Ministério dos Negócios estrangeiros e Cooperação (MINEC), nomeadamente um antigo embaixador e um antigo adido Financeiro e Administrativo, indiciados de prática de crimes de peculato, abuso de função e pagamento de remunerações indevidas de forma continuada. Mas este jornal também publicou que se trata de Bernardo Xerinda, antigo embaixador de Moçambique na Rússia, entre 2003 e 2012, e ex-secretário para a Mobilização e Propaganda do partido Frelimo, bem como Horácio Paulo Matola, ex-adido Financeiro e Administrativo que também trabalhava na embaixada moçambicana na Rússia. Calcula-se que estes dois funcionários do MINEC terão lesado o Estado em oito milhões de meticais, o equivalente a USD200 mil, ao câmbio médio de 40 meticais. Mas uma fonte do SAVANA fez notar que o valor desviado na embaixada moçambicana na Rússia está muito acima do que foi tornado público pelo GCCC. “Os referidos servidores públicos materializavam os actos ilícitos, através do processamento de salá- rios de funcionários desvinculados da missão diplomática, bem como pagamento de 13º salário que não era canalizado aos legítimos beneficiários, pagamento fictício de passagens aéreas e de serviço de reparação de viaturas, pagamento de ajudas de custo a filhos, entre outras situações”, sublinha a o GCCC. Tal como com Amélia Sumbana, o alerta sobre o embaixador mo- çambicano na Rússia foi dado pelos americanos que estranhavam as constantes visitas de Bernardo Xerinda à Nova Iorque, onde alegadamente Xerinda ia visitar uma “amiga”, moçambicana de nacionalidade, que trabalhava nas Nações Unidas. Soubemos que o embaixador viajava às custas dos fundos destinados à gestão corrente da missão diplomática onde exercia funções. Chamado a comentar sobre o processo que também já foi encaminhado para o Tribunal Judicial da cidade de Maputo, Bernardo Xerinda disse que a melhor entidade para falar do assunto é o MINEC ou a instituição acusadora. Há detenções Dois dias antes de anunciar a dedução da acusação contra Amélia Sumbana, o GCCC informou ter detido, a seis de Abril corrente, dois funcionários da Direcção Municipal da Cidade de Maputo, pela prática do crime de Corrup- ção. Os técnicos, afectos àquela instituição, foram flagrados quando recebiam indevidamente, três mil meticais. Ao que conta o MP, tudo começou quando a Direcção Municipal da Cidade de Maputo administrou uma multa sobre a proprietária de um estabelecimento vocacionado na comercialização de alimentos confeccionados, localizado na Feira Popular, pela falta do pagamento da taxa de exibição de um painel luminoso, colocado junto ao seu estabelecimento. Eis que a referida proprietária apresentou uma reclamação a respeito da administração da multa, tendo aqueles funcionários se dirigido a ela, com a finalidade de cobrar suborno para não pagar a multa. Mas em resposta, a proprietária denunciou o caso ao GCCC, tendo culminado com a detenção dos referidos funcionários e até última segunda-feira, o processo estava em instrução preparatória. Enquanto isso, na semana passada, a unidade anti-corrupção deduziu acusação contra dois funcionários da Autoridade Tributária de Mo- çambique (AT) e um trabalhador de uma empresa privada, pela prá- tica do crime de concussão. Trata-se de funcionários afectos à Direcção da Área Fiscal da AT, na Província de Maputo, e de um Técnico Administrativo que exerce funções numa empresa privada vocacionada à prestação de serviços de transporte, segurança e aluguer, manutenção, reparação e limpeza de viaturas, situada no Parque Industrial de Beluluane, que se apoderaram de 600 mil meticais. “Os funcionários da AT serviram- -se das funções por si exercidas, de Técnico de Contas e de Economista, assim como de informação em sua posse, para interpelar e ameaçar a referida empresa privada, fazendo os seus responsáveis acreditar que ser-lhe-ia aplicada uma multa de 77 milhões, em resultado de uma auditoria que efectivamente teve lugar no mês de Setembro de 2015. Na sequência, os funcionários deslocaram-se aos escritórios centrais da empresa, onde impuseram o pagamento do valor monetário de 1 milhão de meticais a seu favor para não aplicarem a aludida multa. Para o efeito, interagiram com o trabalhador da empresa privada e, por meio deste, receberam, em duas tranches, os valores monetários de 400 mil e 200 mil meticais, respectivamente. Ao trabalhador, os funcionários pagaram a quantia de 14 mil meticais, sendo 10 mil na primeira tranche e 4 mil meticais na segunda”, o GCCC que assegurou que, pós a dedução da acusação, o processo-crime foi remetido ao Tribunal Judicial da Província de Maputo para conhecer os passos subsequentes. Quem já está em sede do Tribunal são quatro funcionários do Instituto Nacional de Desminagem (IND), acusados da prática de crime de Abuso de Cargo. O julgamento, que teve início na pretérita terça-feira, na 2ª Secção do Tribunal Judicial do Distrito Municipal KaMaxaquene, envolve funcionários que, à data dos factos, Abril de 2009 a Junho de 2011, exerciam as funções de Chefe do Departamento de Administração e Finanças (DAF) e técnicos do mesmo sector e acusados no ano passado. “Aproveitando-se das suas fun- ções, os referidos funcionários mandaram emitir, indevidamente, 21 passagens aéreas a favor 14 pessoas, seus familiares, sem vínculo com o Estado, para destinos nacionais e internacionais, tendo prejudicado o Estado em cerca de 250 mil meticais” esclarece o Ministério Público.
SACO AZUL 
Por Luís Guevane 
O cidadão moçambicano já aborda com cada vez mais ímpeto o “Ematum gate” e a nova erupção económica que dá pelo nome de “Proídicus gate”. O volume dos dinheiros envolvidos e o contorno aos poderes e funções da Assembleia da República, esquecendo a “Constituição”, criam uma ementa amarga. A falta de clareza no esclarecimento público dos “gates” abre espaço aos mais variados tipos de interpretações e completa o quadro de amargura. No imaginário popular o verdadeiro menu é a grande corrupção. A 5ª sessão ordinária do partido Frelimo pode ter sido interessante ao reconhecer que a corrupção que grassa o País, em parte (?), tem mão interna partidária e que é necessário, nos diversos níveis, tomar “medidas Prato do dia: grande corrupção! cada vez mais firmes” (qual comprimido que já não cura a corrupção resistente). A verdade é que os maiores danos dos actos de corrup- ção (pequena, média ou de grandes propor- ções) impactam fortemente fora dos partidos políticos. A “pequena corrupção”, ou corrupção de refresco, tem a sua sustentabilidade na permissibilidade do próprio cidadão. É uma corrupção que irrita ao cidadão, pois atinge directamente sobre o seu bolso. Sem direito a salário, o cidadão comum age como auxiliar de corrupção. Em muitos casos é tido como corruptor pelo Cabrito (M/F) que come onde está amarrado. Todos percebem a efemeridade do acto, a “intocabilidade” e o drible de defesa/promoção de imagem. A “média corrupção” luta sempre para não transitar para a grande corrupção e nem cair na vergonhosa pequena corrupção. Pode ocorrer a qualquer momento e tem como lema “a ocasião faz o ladrão”. Digamos que é a corrupção dos honestos. Entram, trincam e saem. Não falam e nem pensam na corrupção para não pecarem “em palavras, actos e omissões”. Estão diante de nós, a olhar-nos nos olhos, a capturar a nossa atenção, mas nem na câmara escura se revelam corruptos. A “grande corrupção” envolve esquemas complexos que implicam uma rede que se vai organizando e densificando-se, fortalecendo os seus próprios nós. Raramente se fala em corruptores. A grande permissibilidade dos actos está na fraca qualidade de governação. A grande maioria de moçambicanos não avalia o impacto da grande corrupção e até admira os envolvidos. Sarcasticamente! A corrupção está sempre em rede e a “justiça” anda longe para não ser desacorrentada por ela. Cá entre nós: de quem é a grande corrupção, aliás, o fato e a gravata que todos usam com máscara de cordeiro? A corrupção não tem patrão. Se o tiver, troca-o todos os dias. A corrupção é um animal longe de estar em vias de extinção. Toma novas formas em função de quem a combate. Para o nosso caso, combater, aliás, minimizar a corrupção, passa pela despartidarização do Estado, passa por termos um parlamento que cumpre de facto o seu papel. Como animal que é, a corrupção tem o dom de quebrar o decoro político-partidário. No “Estado”, é praticamente correcto afirmar que todos os arrogantes são corruptos mas nem todos os corruptos são arrogantes. Em qualquer País, a corrupção é o hino da incompetência governativa. 

As minhas dívidas.
A TALHE DE FOICE Por Machado da Graça
Durante toda a minha vida procurei não ter dívidas e, com pequenos momentos excepcionais, consegui-o. Neste momento descubro cada manhã, ao levantar-me da cama, que as minhas dívidas aumentaram de forma galopante. O primeiro sobressalto já foi há algum tempo quando, ao ler um artigo de uma revista francesa, descobri que tinha comprado uma frota de navios de pesca do atum. Ou alguém o tinha feito em meu nome. E assustei-me. A compra rondava os US$850 milhões o que, dividido pelos 22 milhões de moçambicanos, dava quase 39 dólares a cada moçambicano. E comecei a deitar contas à vida para saber onde poderia fazer mais uns biscates para conseguir pagar essa dívida, dado que, com os meus rendimentos actuais, isso seria difícil. Mais recentemente o Wall Street Journal veio aumentar as minhas angústias ao revelar que eu, ou alguém em meu nome, tinha sido avalista de uma outra dívida a favor da empresa PROINDICUS, ao que parece para comprar armamento. Dizem que esta começou nos cerca de US$ 600 milhões mas depois subiu até aos US$ 950 milhões. Ora, eu não preciso dessas armas para nada, sei que armas não geram rendimentos para pagar os empréstimos e, pelo contrário, geram destruição de pessoas e de bens. E, ao fazer as contas, descobri que, com isto, passei a dever mais 43 dólares. Somando aos 39 do atum a minha dívida pessoal subiu para 82 de dólares. Um desastre. Mas o pesadelo não estava no fim. Ao que parece fui também avalista (ou alguém o foi por mim) de mais um empréstimo, desta vez a favor da Base Logística de Pemba. Coisa para mais uns US$600 milhões. Mas as notícias desse empreendimento dizem que aquilo não anda nem desanda e que há mesmo o risco de a Annadarko e a ENI usarem instalações no sul da Tanzânia em vez de Pemba. Isto é de o empreendimento não vir a servir para nada, não gerar receitas e ser eu, e os outros 22 milhões de moçambicanos, a termos de pagar a dívida contraída. E isso significaria para o meu bolso um novo compromisso de 27 dólares. O que, somado aos outros 82, dá US$ 109. Pois é, leitor, descobri em pouco tempo que devo 109 dólares gastos nem eu sei bem em quê. Mas que gostaria de saber, dólar a dólar! Mas não se ria de mim porque, se você for moçambicano, também deve o mesmo que eu. E cada membro da sua família também deve os mesmos 109 dolares. Até o Antoninho, que ainda só gatinha, ou a Leninha, que ainda chupa na mama da mãe. Isto se o “filho mais querido da nação moçambicana” não nos tiver deixado mais outras surpresas destas, escondidas debaixo do tapete. E, é claro, tendo em conta que, com os juros e a desvalorização do nosso Metical estas quantias estão sempre a subir... 

Do “melhor” ao amargo!
Por Ericino de Salema 
Em 1999, quando Chiquinho Conde ainda era capitão da Selecção Nacional de Futebol, Moçambique foi humilhado, em pleno Estádio da Machava, pelos Camarões, por nada mais, nada menos que seis bolas a uma. Enquanto não terminava a partida, todos os amantes de futebol pelo país todo, que se encontravam no campo ou a acompanhar o jogo ou pela rádio ou pela televisão, esperavam, pela magnitude do desaire, por mais um golo dos forasteiros. Nós nos encontrávamos na cidade de Inhambane, na companhia de alguns colegas de profissão, a acompanhar o jogo pela televisão: aquela foi uma tarde a todos os níveis má e vergonhosa. Dezassete anos depois, o país está a viver algo mais ou menos similar, mas, desta vez, não no futebol, mas nos fundamentos do nosso Estado como um todo. Estamos a ser, nos últimos dez dias, sensivelmente, notícia pelas piores razões em órgãos de informação de influência planetária como o Wall Street Journal e o Financial Times. Mas porquê? Dívidas assumidas pelo Governo, em 2013, como avalista, sem que o quadro jurídico-legal pátrio fosse observado, estão a ser descobertas e expostas, o que mancha grandemente a nossa dignidade colectiva. Depois da da ProIndicus, que, associada à relativa à tristemente célebre EMATUM, ronda os pouco mais de um bilião e meio de dólares norte-americanos, agora transpiram notícias de que há uma terceira “dívida escondida”, de pouco mais de 500 milhões de dólares norte-americanos, supostamente contratada para aplicação na Base Logística de Pemba. Como resultado dessas escandaleiras, uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que deveria ter trabalhado em Moçambique esta semana cancelou a vinda ao país quando tal foi descoberto. De imediato, aquela instituição de Bretton Woods suspendou a cooperação com o nosso país, e, ligado a isso, foi já descondiderado o cheque de mais de 150 milhões de dólares norte-americanos que deveria ser liberto a nosso favor por estes dias. Semana passada, a bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República (AR) solicitou a ida do Governo à “Casa do Povo”, para que aquele esclarecesse as notícias sobre as sobreditas dívidas, que acabavam de ser veiculadas por alguns media estrangeiros e reveiculadas pela imprensa doméstica. Como se a AR já fosse a “Casa do Abuso do Poder”, a bancada da Frelimo, numa empreitada quanto a nós de uma irresponsabilidade política de proporções bíblicas, chumbou a pretensão da bancada da Renamo, com recurso àquilo que se afigura como uma das “imperfeições perfeitas” das democracias representativas: a ditadura do voto. Mas quando, dias depois, o FMI se posicionou, de imediato o Governo formado pelo mesmo partido que possui maioria absoluta na AR foi de imediato à Wasghington DC, sede do FMI e do Banco Mundial, para gestão político-diplomática de uma situação que poderia, muito bem, ter sido evitada. A Renamo, talvez se se não ativesse na problemática racionalidade bélica, poderia já ter assumido as suas responsabilidades políticas, accionando pelo menos dois dos mecanismos constitucionais ao seu dispor numa situação destas: (i) tendo 89 deputados, mais de um terço dos deputados da AR, a Renamo já deveria, por estas alturas, ter solicitado ao Conselho Constitucional a apreciação da ilegalidade do acto de contratação ou emissão de avales tanto no ‘Caso EMATUM’ como no ‘Caso ProIndicus’ (ou mesmo de inconstitucionalidade, se se atentar à CRM como tal e não ao acto concluído), com fundamento na norma contida na alínea c) do número 2 do artigo 245 da Constituição da República de Moçambique (CRM); e (ii) depois que recusado o seu pedido de convocação do Governo para explicação das mesmas situações, a Renamo já deveria, tendo mais de um terço dos deputados da AR, cuidado de requerer a convocação de uma sessão extraordinária [da AR], com um único ponto de agenda, com base no disposto na parte final do artigo 186 da CRM. Ainda em termos políticos, a Renamo já poderia ter concedido, por exemplo, uma conferência de imprensa, para informar às moçambicanas e aos moçambicanos, por exemplo, “ter accionado” os instrumentos ao seu dispor nos termos da CRM, ao mesmo tempo que exigiria, por exemplo, que a factura decorrente da realização de uma sessão extraordinária da AR fosse paga pela bancada da Frelimo, que teve a oportunidade de ter o Governo a explicar uma e outra situação numa sessão ordinária que decorria quando a solicitação foi feita. Mas, mas...a Renamo parece que só dá conferências de imprensa para arguir questões militares, para a nossa infelicidade colectiva! Por outro lado, é por demais premente a realização de uma auditoria, de preferência forense, às contas do país, para que se possa apurar, com rigor, qual é a nossa situação financeira. Como parte disso, anúncios de chamada de eventuais credores, já que esconder parece a regra, deveriam ser publicados em órgãos de informação de dimensão internacional, a começar pelo Wall Street Journal e Financial Times, a quem coube expor o estado da crise das finanças moçambicanas. Infelizmente, estas situações, que a breve trecho, segundo o economista Regendra de Sousa, falando no “Linha Aberta”, da Stv, esta terça-feira, poderão concorrer para que se não consiga, a breve trecho, pagar salários na Administração Pública; subida dos preços dos combustíveis; e carência de géneros alimentícios básicos transpiram numa altura em que o país vive uma cada vez mais aguda crise político-militar, opondo o Governo e a Renamo. Nisso, e até prova em contrário, o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, parece estar a agir, em termos de solução do problema, muito lentamente: a Renamo recebeu a carta-convite do gabinete do PR numa sexta-feira, tendo a respondido no dia útil imediatamente a seguir, destacando-se, nisso, o facto de o partido de Afonso Dhlakama ter desistido da pré-condição de, antes do reinício do diálogo, assumir a governação nas seis províncias onde supostamente venceu as eleições. Já passam quatro/cinco semanas, sem que nada profundo avance, continuando, o PR, a expor a sua aversão a pré- -condições e à não participação de estrangeiros no diálogo. Será que ao exigir segurança reforçada, chamemos-lhe assim, depois de dois atentados e um assalto à sua residência, estará Dhlakama a exigir algo irrazoável? Nós achamos que não! E, quanto ao envolvimento de estrangeiros que sejam consensuais para as partes, qual é o problema, se “a única alternativa à paz é a própria paz”, tal como diz sempre o PR? Quando o PR despertar, eventualmente o futuro discursivamente melhor já será futuro materialmente amargo! Do “melhor” ao amargo!

O desporto motorizado no país, no caso vertente do karts, está em subida meteórica, sendo prova disso o aumento do número de pilotos nos últimos quatro anos, de apenas quatro para 35. A subida acontece tanto nas classes de maxterino e max júnior, como nos DD2. António Marques, presidente do ATCM, é, por via disso, um homem feliz, mas lamenta o facto de existirem algumas pessoas com interesses obscuros que procuram, desesperadamente, minar o relacionamento na instituição, fazendo cartas anónimas descontextualizadas quando as portas da direcção estão abertas. E sentencia: “Muita gente sabe que há pessoas, desde as ligadas à área imobiliária, área político-empresarial, que cobiçam este espaço como de pão para boca se tratasse, mas nós não vamos nem queremos ceder ou vender”. Eis os excertos da entrevista. O Autódromo da Costa do Sol acolheu, fim-de-semana último, mais uma prova. De que se trata? -É a segunda prova do Campeonato de Karts ATCM-2016 e apura- -se o piloto de Moçambique que vai ao Campeonato de Mundo Rotax neste ano, a realizar-se na Europa, em Novembro. Esta é a grande novidade! Moçambique tem pilotos com capacidade para ombrear com os de outros países que também vão participar nesse campeonato do mundo? -Sim, tem, não para ganhar o campeonato do mundo, mas para não ficar em último lugar e vale, sobretudo, pela possibilidade que temos de participar na alta roda do karts a nível mundial. Quais são, internamente, os pilotos de referência? -Não fica bem referir porque isso pode ferir susceptibilidades. É uma questão de pedir a lista das classificações e ver quem são os primeiros na classe de cadetes, Maxterino “A” e “B”, Max júnior e DD2, para daí tirar as suas ilações, mas não podemos deixar de citar Cristian Bouché nos dd2, que há três anos esteve na Academia da FIA, em Joanesburgo, na África do Sul e ficou entre os cinco melhores de toda a África! Que avaliação faz da modalidade? -Se hoje nos lembrarmos, se fizermos uma pequena retrospectiva desta modalidade, veremos que quando tentaram tomar de assalto e aniquilar o ATCM e aniquilar a mim próprio, a primeira prova depois disso teve quatro pilotos e hoje tivemos 35. Então, de 2012 a 2015, isto é, em quatro anos e qualquer coisa, subimos de quatro para 35 Há gente que cobiça o espaço do ATCM como de pão para boca por isso... “Não perco tempo com cobardes e frouxos que escrevem cartas anónimas” -Diz António Marques, presidente da agremiação Por Paulo Mubalo pilotos. Estamos no caminho certo, quem não tem de estar cá não está, e quem quer estar cá aceitando as condições que nós procuramos explicar e fazer vincar através dos regulamentos vem e sente-se bem e cada vez vem mais. Isso também é fruto do trabalho que estamos a desenvolver na academia, agora que temos duas classes no maxterino subdividimos: os “a” são aqueles consagrados, que estão a fazer competição desde o ano passado e para os pequeninos que vieram da academia , como se diz em gíria, para não apanharem poeira, criamos a classe “b” que é onde eles também vão à procura do seu pódio e não atrás dos outros, mas competindo entre eles. A academia serve de trampolim para o crescimento da modalidade… -Sim, não pode ser de outra maneira, vamos festejar o trigésimo curso, isto é, já formamos à vontade mais de 150 pilotos e agora vê-se. Eu poderei dizer, deixa-me fazer uma retrospectiva de todos os cadetes, de todos maxterino “a” e “b”, todos os max juniores, todos os DD2 e todos os pilotos são frutos da academia do ATCM, excepto um! Frouxos e cobardes Como caracteriza o ambiente no ATCM? -O ambiente está bem, mas há aqueles que eu chamo de frouxos, cobardes, muito poucos e com dor de corno que, em vez de procurarem se integrar, não se integram, disparam de lado de fora com cartas anónimas, postagens nos facebook mas, afinal nós temos um gabinete, temos escritório, temos todo um aparato logístico que faz e dá possibilidade para quem não estiver contente chegar a nós. Há uma carta anónima que já entregaram à STV, já entregaram ao Notícias e SAVANA. Isto é ridículo porque dizem que eu não dou estatutos, é uma estupidez, não quero ofender os leitores do jornal SAVANA, mas dirigo-me directamente às pessoas que fizeram essa carta para irem ao Boletim da República e lá estão os nossos estatutos. Disse que não fazemos assembleia, mas a última assembleia que realizamos foi em 2014; disse que queremos vender este espaço, é uma mentira do tamanho de(...) bem, é melhor marcar a minha posição como líder e eu, como presidente, podia dizer asneiras, mas como líder faço um exercício de contenção, calando-me. Nós, eu, esta direcção jamais venderemos esta pista, porque esta é a grande luta que temos tido! Muita gente sabe que há pessoas, desde as ligadas à área imobiliária, área político-empresarial, que cobiçam este espaço como do pão para boca se tratasse, mas nós não vamos ceder, não queremos ceder, não vamos vender, mas pronto, não vamos perder tempo com este tipo de situa- ções, sobretudo porque são pessoas cobardes. Fazem cartas anónimas, não se dirigem ao nosso conselho fiscal, não se dirigem à nossa assembleia geral, não se dirigem à nossa direcção e põem-se a fazer este tipo de jogo que não tem nível. O País não merece este tipo de pessoas e a melhor resposta é aquilo que está aqui: 35 pilotos a fazer uma prova de karting em quatro categorias dos quatro anos. Tem documentos que provam que tudo o que se diz é mentira? -Sim, aliás, o senhor não devia fazer esta pergunta porque eu mostrei -lhe a carta anónima que está lá para toda a gente poder ver; está o anúncio da assembleia e se alguém tiver dúvida é só se dirigir a nós, directamente, como sócio com as quotas em dia porque aquilo que eu costumo dizer, aquela documenta- ção que está lá não é para qualquer gajo ou para qualquer gaja, aquela documentação é expressamente para os sócios do ATCM com as quotas em dia, porque se não as tiverem, então não são sócios, são pessoas que podem ser tratadas como nós entendermos, mas sócios já não posso usar essa linguagem, tenho muito respeito por eles. Os estatutos dizem que se me quiserem tirar basta fazer um abaixo-assinado com número percentual. Mas o que acho Paulo é que não vou desenvolver mais este tipo de conversa num final de dia espectacular, em que fizemos mais uma prova sem acidentes, sem incidentes, sem protestos e deixar essas senhoras, que talvez nem sejam senhoras e esses senhores nem são cavalheiros, porque ninguém os conhece. Que venham cá dentro e indaguem, questionem as coisas duma forma frontal e não cobarde. Quer isso dizer que António Marques é alvo a abater? -Não, acho que não e jamais e em tempo algum vou me vitimizar, mas que sou incómodo, isso sim. Ainda há bocado, deixe-me que lhe diga, esteve aqui, casualmente, um exministro da cultura, que disse que eu sou herói. Eu disse-lhe para não exagerar, apesar da palavra herói estar um bocado diluída no contexto da heroicidade do país e universal, mas sou um incómodo, mas dizer que alvo abater poderia dizer que sim e dar exemplos e dizer que não porque estou aqui!... Como encara a situação de segurança no ATCM? -Isso aí só vamos resolver quando conseguirmos vedar o autódromo, já vedamos metade do nosso autódromo, falta a outra metade. Mas nós não somos agentes de segurança, nós somos agentes que cultivamos a velocidade no nosso espaço e desenvolvemos trabalhos de segurança e prevenção rodoviária a nível do país e do nosso espaço. Essa parte tem a ver com a polícia que tem de patrulhar o autódromo frequentemente e não só quando sabe que alguém está a fazer a prática de condução aqui e depois vem ao encalço deles para extorquir dinheiro. Nesse momento, nessa hora, nessa altura não precisamos de polícia, nós precisamos é que venham fazer patrulhas frequentemente. O resto já dissemos e vamos agora aproveitar este tempo e espaço para dizer que o nosso problema é que a população não nos ouve. Não atravessem o autódromo depois de certas horas. A partir das 17 horas é perigoso atravessar o autódromo, devem dar volta pelas estradas iluminadas, não façam corta-mato e apanhem esses marginais que fazem o que querem e o que não devem, na maior parte das vezes. Lamentamos, mas também queria dizer de boca cheia que ninguém nasce marginal, quem faz os marginais são as próprias sociedades, então temos de fazer um rebate de consciência para vermos o que cada um faz para que não haja marginais. É de pequeno que se torce o pepino Rúben do Vale tem seis anos de idade e, contrariando a máxima que diz que filho de peixe sabe nadar, isto porque o pai nunca praticou Karts, está a mostrar que a modalidade é igual a muitas outras. “Não tenho medo ou receio de entrar na pista, sinto-me bem. É fácil ser-se piloto, o que é preciso é mais concentração. Eu comecei a correr há pouco tempo, esta é a segunda vez que participo nas provas porque terminei a academia em Agosto”, disse. O pequeno Rúben conta que com dedicação e querer facilmente ultrapassa-se todos os obstáculos. Aliás, tal como qualquer piloto, o pequeno Rúben sonha um dia vir a ser uma referência na modalidade”, Cristian Bouché Tem 25 anos e é um nome a ter em conta na modalidade, uma verdadeira estrela cintilante. “Estou a treinar arduamente pensando em conseguir a qualificação para o mundial. As possibilidades continuam intactas e a prova disso é que hoje (domingo) consegui ficar em primeiro lugar”. O piloto diz que para se ser bom atleta é um processo, mas o facto de haver uma academia de karts ajuda bastante porque só depois de se passar por essa instituição é que se passa a competir de facto. Mesmo assim, anota que a existência de máquinas faz com que muita gente abrace a modalidade. Relativamente aos preços de cada máquina, o entrevistado diz não ser correcto falar dos valores para não assustar as pessoas e explica que os valores variam consoante a sua especificidade e tamanho. “Não é difícil concertar as máquinas”, Simião Simango O mecânico Simião Simango diz ser fácil consertar as máquinas porque têm um tipo de mecânica básica principal, excepto os motores que são abertos por pessoas autorizadas, as pequenas falhas essas são facilmente detectadas. O entrevistado conta que o maior problema reside no facto de o país não estar a fabricar esse tipo de máquinas sendo encontradas, regra geral, nos revendedores autorizados.

O Estádio da Machava, antigo Estádio Salazar, um empreendimento inaugurado a 30 de Junho de 1968 e que até há pouco tempo foi a catedral do nosso futebol, vai passar a chamar- -se Estádio da Independência. A infra-estrutura possui uma capacidade para 45 mil espectadores e só é superada pelo Estádio Nacional do Zimpeto. A mudança de nome para Estádio da Machava aconteceu em 1975 e foi neste local onde a Frelimo proclamou a independência de Moçambique. Breve historial Três meses antes da data marcada para a inauguração da infra-estrutura, em Março de 1968, os CFM despacharam para Lisboa uma importante delegação que, entre outras figuras, integrava o director dos serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique, Eng. Fernando Seixas, e o Inspector superior da empresa, Eng. Francisco dos Santos Pinto Teixeira, com a missão de, pessoalmente, convidarem o presidente da República Portuguesa, Almirante Américo Tomás, o Presidente do Conselho (Chefe do Governo), António de Estádio da Machava já é Estádio da Independência Oliveira Salazar, e o ministro do Ultramar, Silva Cunha, a assistirem à inauguração do estádio do CFVM. Entretanto, nenhuma das figuras convidadas compareceu, mas cada uma à sua maneira fez-se representar na cerimónia. Salazar enviou uma mensagem sonora que foi transmitida às mais de 50 mil pessoas pela instalação sonora no estádio e a uma significativa parte da restante população de Mo- çambique pelas antenas da rádio. Assistiram, igualmente, à cerimónia altos membros dos governos e das empresas dos Caminhos de Ferro e Transportes da África do Sul, do Malawi e da Swazilândia, para além de representações administrativas e desportivas dos restantes territórios africanos, sob a administração portuguesa e de jornalistas de imprensa, rádio e televisão dos quatros cantos do Mundo. Aliás, foi o primeiro acontecimento desportivo ocorrido no chamado ultramar português de maior mediatização internacional e de maior mobilização humana e material. Na verdade, a 30 de Junho de 1968, a então cidade de Lourenço Marques foi a encruzilhada de todos os caminhos de todos os pontos de Moçambique, gente dos países vizinhos e de outros cantos da terra misturaram-se com os “Iaurentinos” na mais fantástica e impressionante aglutinação de cidadãos de diversas origens de que há memória em manifestações desportivas ocorridas na capital moçambicana. O grande ausente nos acontecimentos que assinalaram a inauguração do estádio Salazar foi o então Governador-geral de Moçambique, Baltazar Rebelo de Sousa, que na altura se encontrava em Lisboa onde, entretanto, não deixou de se deslocar ao local do estágio da selecção portuguesa para encorajar os seus jogadores, ao mesmo tempo que lhes desejava uma boa estada em terras moçambicanas, assim como enviou um telegrama de felicitações e de encorajamento ao CFVM. As selecções nacionais “A” de futebol de Portugal e do Brasil, embora desprovidas das suas duas mais cintilantes estrelas, Eusébio e Pelé, foram as que protagonizaram o capítulo mais importante da cerimónia da inauguração do estádio Salazar, que também contou com outras manifestações de índole cultural e desportiva. Quanto à partida, Portugal perdeu diante do Brasil por duas bolas a zero.

S erá lançado brevemente no país o Prémio Texto Editora Escolar de Ciências Sociais com vista a incentivar a produção e divulgação de obras do género. “A criação do prémio surgiu depois da divulgação de várias obras ligadas às ciências sociais chamadas caderno de ciências sociais. Foi difícil mas quando as pessoas começaram a ver os primeiros exemplares a sair começaram a aceitar. Aceitar que um pobre moçambicano de lá do oceano Índico dirigisse pessoas doutoradas dos países onde se fala português. Esta colecção surgiu para dar respostas simples da vida social. Combinamos o rigor e a simplicidade”, explica o sociólogo Carlos Serra, acrescentando: “estamos no décimo livro editado desde 2013. Há muitos a serem preparados nos mais variados temas. Por exemplo o livro que vai ser entregue no dia 20 de Maio deste ano questiona como se produz a cultura do medo? É de um autor de Moçambique e faz parte dos cadernos das ciências sociais. É justamente nos cadernos das ciências sociais que surgiu o projecto o Prémio Escolar Editora de ciências sociais. Sabemos que existe prémio para escritores, poetas, mas não há prémios para ciências sociais como historiadores, sociólogos, linguistas, economistas, juristas, etc”. O prémio visa ampliar o conhecimento das ciências sociais e contribuir no desenvolvimento do país. “Podemos evitar que as ciências sociais fiquem restringidas para um campo pequenino. A ideia do prémio é ampliar a visão das ciências sociais. Contribuir para o desenvolvimento da sociedade no nosso país, para surgir trabalhos que promovam esse desenvolvimento de forma multi-sectorial. O primeiro prémio desse concurso vai ser a publicação desse trabalho pela Texto Editora Escolar e o regulamento vai brevemente surgir e ser divulgado”, frisa Carlos Serra. O concurso não se restringe aos autores dos países falantes da língua portuguesa. “O concurso está colado aos cadernos de ciências sociais. O segundo aspecto é ampliar o impacto desses cadernos de ciências sociais e o objectivo principal é dar respostas simples da vida social dos vários autores do quadrante do mundo”, destaca. O objectivo do galardão é fazer com que os autores tenham as suas obras editadas, lidas e ajude a resolver problemas sociais. “Acredito que este prémio vai incentivar as pessoas a verem os seus trabalhos publicados. Quero acreditar que vai ter um grande impacto pelo facto de as pessoas quererem ver os seus trabalhos publicados. E ao contribuir nesse sentido, seja no campo da Sociologia, Antropologia e outros campos a serem publicados e lidos, é uma ponte fundamental para Prémio em ciências sociais no país que se resolvam problemas. Muitas vezes os problemas não são resolvidos porque não são equacionados de forma analítica e teórica. A colocação de um problema muitas vezes não dá origem à solução do problema. É nesse sentido que a colecção e o Prémio Ciências Sociais podem ser um instrumento fundamental para esse caminho”, enaltece. Despertar a vontade de publicar trabalhos científicos por parte dos formados pelas universidades é um dos propósitos do concurso. “Em primeiro lugar é a promoção do conhecimento e divulgação de obras. É preciso saber que há muita gente formada no país e há muitos trabalhos com que as pessoas podem concorrer. Quero acreditar que esta iniciativa da Texto Escolar Editora vai certamente dar origem a outras iniciativas. É preciso sempre começar”, aponta. O certame vai despoletar os cientistas nacionais a produzir mais trabalhos de pesquisa nas várias áreas de ciências sociais. “Acho que todo o cientista deve produzir. Produzir é pôr suas ideias com trabalhos de pesquisa. É preciso que nas ciências sociais existam os Ungulani Ba Ka Khosa, Mia Couto. Haja essas pessoas nas áreas científicas que realmente produzam. Isso é fundamental”, aponta. É preciso alargar a área de conhecimento e acesso dos trabalhos científicos produzidos no país. “Existem várias teses sobre a história de Moçambique. Quantas pessoas não querem conhecer essa história? Quantas pessoas sabem disso? Quantas pessoas não gostariam de ter acesso a essas teses. Os cadernos de ciências sociais e o Prémio Texto Editora Escolar podem ser uma janela aberta para fazer conhecer a sua história. Quem não gostaria de ver o seu livro a ser editado e a ser lido aqui e fora de Moçambique. É esse o objectivo”, finaliza. A.S

Por Luís Carlos Patraquim 90 C omo toda a gente sabe, os tubarões são mamíferos e anfíbios vorazes. As baleias não são cetáceos mas bichos parvos, porque enormes, que só comem plâncton e não se devoram entre si. As orcas amarfanham as focas e os búzios têm maminhas. As sereias existem e o seu canto, ao contrário da lenda, não é perigoso. O único senão é a barbatana que não as deixa passear no areal. Vingam-se praticando o topless, espojadas na babugem da praia e perturbando os pescadores. Os únicos mamíferos que sabem de política são os tubarões e os búzios mas por razões diferentes. É tão complicado que nem dá para explicar. Aliás, os mundos marinhos são os mais difíceis de perceber. São muito fundos e os atuns costumam fazer uma espécie de rede que impede os especialistas de mergulhar. Os atuns, ao contrário das corvinas, que não gostam de ser pescadas, adoram barcos. Há atuns overcraft, os mais avançados, e os outros, adeptos da vela. São todos grandes viajantes. Percorrem oceanos, canais, estreitos e enseadas e passam férias nos off-shores. Costumam fazer troça dos salmões espojados às fatias nas bandejas, aspergidos com ácido cítrico ou embalados nas prateleiras dos supermercados. A característica maior dos atuns é a sua organização em cardumes talassa, se assim se pode dizer. Há os pró-Índico, os filiados no Atlântico e os membros do Pacífico. O seu horror maior é a lata de conserva, considerada mais uma humilhação do que um fim triste. Apesar de não terem a desenvoltura do espadarte, os atuns consideram-se os peixes dirigentes e fazem tudo para não serem pescados à linha. É por isso que classificam a pesca desportiva como uma autêntica pirataria. A relação dos atuns com a literatura é bastante problemática. Herman Melville é um traidor por ter escrito Moby Dick. Não há praticamente personagens da sua espécie nas muitas narrativas do mundo. A cobra está na Bíblia, os dragões povoam romanceiros da Europa à Ásia, a entomologia tem deriva- ções interessantíssimas nos cronópios e nos famas de Cortazar, os sáurios dos rios e dos mares alimentam as lendas das origens de vários países, os hipopó- tamos encarnam chefes poderosos, mas os atuns, grandes armadores, são preteridos pelos Beagle, Bounty, Cutty Sark, e mesmo pela nau Bérrio de colonialista memória. E isso é intolerável. Como se alimentam de espécies mais pequenas, os atuns vêm procedendo à privatização das barreiras de corais, onde instituíram regras de reprodu- ção, de circulação e de financiamento, garantido a seu favor o equilíbrio, por vezes informal, da cadeia alimentar. Os sobressaltos que têm sofrido ultimamente são manifestamente injustos e chamar-lhes vampiros é desrespeitar a classificação das espécies. Esquecidos da prosa e da poesia, os atuns, observam os especialistas, são totalmente desprovidos de criatividade metafórica mas não é demais registar aqui este modesto reparo. Deixemos o bestiário e o estigma para os grifos, os mochos, as águias, criaturas tementes de outros deuses. Os atuns são a encarnação das origens. Que haja gastrónomos gabando as delícias de um bife de atum grelhado e preços delirantes por uma cabeça, isso é a prova da desordem do mundo. E os atuns sabem-no. Por isso mergulham as braças necessárias quando se sentem ameaçados ou deslizam pelo mar oceano com a sua destreza de prata entre luas de prosperidade, arredado o perigo, garantida a mansuetude das espécies menores e a cumplicidade dos concorrentes. Enquanto os búzios, discretos e gozosos, refrescam as maminhas nas correntes profundas que há nos mares.

O músico saxofonista Moreira Chonguiça actuou há dias no Casino Estoril na gala de celebração dos vinte anos da RDP África (rádio portuguesa que promove as artes e culturas africanas). Moreira Chonguiça (Moçambique), Yuri da Cunha, Eduardo Paim (Angola), Dino D’Santiago (Cabo Verde), Karyna Gomes (Guiné Bissau), Toto (São Tomé e príncipe), são os artistas de destaque que fizeram a festa dos africanos. Durante a gala houve reconhecimento e homenagem a diversas figuras africanas e não Artistas homenageados em Portugal só, que se destacaram nos últimos vinte anos nas diversas áreas. Para a sua performance, Moreira Chonguiça preparou um pequeno vídeo que projectava no ecrã do palco imagens sobre Moçambique. Imagens da bandeira de Moçambique, das cidades, praias moçambicanas, mulheres de Mussiro, Cahora Bassa, Mafalala, Big Band, acompanhadas de vozes de Chico António, Júlia Mwitu, Dilon Djindje, Elvira Viegas, Ali Faque que falavam da música, faziam a mescla com o sopro do saxofonista que calmamente invadia o palco, arrancando uma forte salva de palmas da plateia do Casino Estoril. A propósito da actuação, Moreira Chonguiça disse: “esta foi a forma que encontrei e escolhi para mostrar Moçambique. Um Moçambique com presente e futuro, com potencialidades turísticas e culturais. É igualmente uma homenagem que faço às nossas vozes musicais – Chico António, Júlia Mwitu, Wazimbo, Dilon Djindje, Elvira Viegas, Xidiminguana que alimentaram esta rádio ao longo dos vinte anos com as suas composições”. Os cantores presentes na gala interpretaram músicas de Lura, Sara Tavares, Tabanka Djaz, Juca, SSP, entre outras bandas africanas, resumindo musicalmente os vinte anos da promoção e divulgação feita pela rádio portuguesa. Foram homenageados pela RDP África: Roberto Chichorro (artes plásticas) – Moçambique, Lurdes Mutola (desporto – Moçambique), Dany Silva (música), Sana Na N’Hada (cinema), Benvindo Fonseca (dança), Pedro Champalimaud (Ciência), Prémio especial do júri para o percurso político (Miguel Trovoada), Armando Cabral (Moda), Maria Isabel Monteiro (associativismo), Rogério Carvalho


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