Aministra de Trabalho,
Emprego e Segurança
Social (MITRESS),
Vitória Diogo, disse ao
SAVANA, esta quarta-feira, que
o Governo está a empreender
um conjunto de acções com vista
a tornar o sistema de segurança
social cada vez mais robusto e
mais sólido. Diz que terminou o
processo de informatização que
demorou 10 anos, porque havia
resistência de algumas pessoas
que não lhes interessava. Diogo
referiu que o Instituto Nacional
de Segurança Social (INSS) tem
gorduras excessivas que devem
ser retiradas.
Fala da excessiva mão-de-obra,
política de investimentos e controlo
dos pensionistas.
Na mesma entrevista, Vitória
Diogo fala da contratação ilegal
de mão-de-obra estrangeira e diz
que Moçambique não é uma República
de bananas onde cada um
chega e faz aquilo que quer.
Sublinha que o país tem leis que
devem ser obrigatoriamente
cumpridas e nessa componente
Moçambique é rigoroso. No ano
passado foram expulsos 1500
trabalhadores estrangeiros que
labutavam de forma ilegal com
maior enfoque para portugueses,
chineses, sul-africanos e indianos.
Nas linhas abaixo segue a primeira
parte da entrevista com Vitória
Diogo que ainda aborda a questão
das inspecções de trabalho.
A ministra dirige um pelouro
que tutela uma instituição responsável
pela protecção social
do trabalhador. Estamos a falar
do INSS. Muitas vezes, esta entidade
tem sido notícia pelo uso
abusivo e pouco transparente dos
fundos dos contribuintes. Diz-se
que o INSS está a saque. O que
está ser feito com vista a contornar
o actual cenário.
A saque? Essa expressão é muito
forte. Não há saque nenhum no
INSS.
Então o que está a acontecer com
os fundos do INSS?
É importante tranquilizar os moçambicanos que a segurança social
moçambicana através do INSS
está saudável. Todas as obrigações
da instituição para com os contribuintes
estão a ser cumpridas na
íntegra. Neste momento temos
cerca de 46 mil pensionistas que
têm as suas pensões em dia, contamos
com cerca de 71 mil entidades
contribuintes e estamos com cerca
de 1.5 milhão de beneficiários.
É um facto inegável que a forma
como são geridos os fundos do
INSS é questionada. O que está
sendo feito ao nível do Governo
com vista a garantir melhor gesVitória
Diogo anuncia reformas no “banco dos contribuintes”
Há gorduras no INSS que precisam de ser cortadas
...e ordena a suspensão dos investimentos até à aprovação da nova política
tão do dinheiro dos contribuintes
da parte desta instituição?
Como Governo temos uma visão
estratégica sobre o INSS. Há uma
série de acções em curso para tornar
o sistema de segurança social
cada vez mais robusto e mais só-
lido.
Uma dessas reformas e conseguimos
terminar, com sucesso, no ano
passado, é a questão da informatização.
Informatizámos dados dos
beneficiários e dos contribuintes.
Hoje, uma empresa consegue ver
qual é a sua situação contributiva
sem ter de se deslocar ao INSS.
Isto facilita mesmo a questão de
transparência, porque já não tem
de dar qualquer coisa ao nosso
funcionário para facilitar a tramitação
do expediente.
É bom lembrar que o processo de
informatização do INSS demorou
10 anos, porque havia resistência
de algumas pessoas que não lhes
interessava. Mas, no ano passado
concluímos.
Agora vamos passar para a fase
do pagamento que é o cálculo das
pensões de forma que, eu Vitória,
se trabalhei no Niassa, durante
algum tempo e descontei, depois
venho a Maputo, quando chega a
hora de calcular a pensão, com o
processo informatizado, o sistema
vai chamar directamente os dados
de Niassa e junto com os de
Maputo faz automaticamente os
cálculos.
Com a informatização, o sistema
faz de forma automática e directa
os cálculos de pensões de reforma.
Veja que hoje o contribuinte tem
de pedir aos colegas de Niassa para
enviar dados, o que leva muito
tempo.
A nossa abordagem para com o
INSS é de assegurar que este sistema
se consolide cada vez mais. Isto
tem a ver com toda a componente
legal e tipologia de investimentos
que se faz.
Mandámos preparar uma nova
política de investimentos. Não
vão entrar em novos investimentos
sem que haja esta política e a
política está sendo desenvolvida e
acredito que ainda neste primeiro
semestre poderá ser avaliada e
analisada.
Isso para termos certeza de que
em que áreas se vai entrar, porque
é que se vai entrar nesta ou naquela
área e qual é a garantia de retorno
desses investimentos, porque o que
nos interessa é que quando há uma
opção de se fazer investimentos,
tragam retorno para o INSS.
Quer dizer que o Governo, através
do MITRESS, ordenou a
suspensão dos investimentos do
INSS?
Sim, não estão ser feitos novos
investimentos. No ano passado o
INSS não entrou em novos investimentos.
Para além das medidas acima
anunciadas têm mais?
Sim. A outra componente que
definimos como prioridade tem a
ver com os recursos humanos. O
INSS tem mais de mil funcioná-
rios. Não é pouca gente. Por isso
definimos que, por enquanto a
instituição não vai entrar em novos
recrutamentos.
É preciso racionalizar a mão-de-
-obra. O que mais nos preocupou é
que a maioria desses funcionários
têm formação geral.
Não tem cursos que tem a ver com
a alma do negócio. Estamos a falar
de formação em áreas como seguro
social e seguro actuarial. Isto é,
tudo aquilo que tem a ver com a
segurança social.
É preciso fazer um plano de desenvolvimento
dos recursos humanos
para poder redireccionar a
força de trabalho que está dentro
daquela instituição.
Queremos uma gestão mais estruturada,
mais transparente em que
haja racionalização. Há gorduras
no INSS. É preciso começar a retirar
essas gorduras, mas duma forma
estruturada.
Hoje, no INSS há uma série de
prémios. Eu costumo dizer que a
palavra prémio usa-se em situa-
ções em que alguém fez uma coisa
extraordinária e para ter um pré-
mio há critérios abertos e que todos
possam concorrer.
Queremos afinar os instrumentos
de forma que o mérito, a competência,
o profissionalismo e a
qualidade contem. Afinar instrumentos
com vista a assegurar uma
gestão criteriosa.
A política de investimentos do
INSS é também questionada por
ser pouco transparente. O que
está sendo feito no sentido de
garantir que os investimentos do
INSS sejam mais credíveis e rentáveis?
Toda a instituição que paute por
uma boa gestão faz um levantamento
minucioso de tipo de negó-
cios que tem. Onde é que estão esses
negócios, qual é a situação das
entidades com que faz negócios,
que retorno esses negócios estão a
trazer.
Ao nível do INSS está ser feito
o mesmo porque, o que se quer é
garantir boa gestão dos fundos da
instituição.
Estamos a abordar questões de
natureza estratégica, política, de
gestão para aferir aquilo que está
bem, o que está mal e como corrigir
porque, queremos dar todo o
conforto e segurança aqueles que
são os verdadeiros donos da coisa.
A ministra disse que o processo
de informatização levou 10 anos
porque algumas pessoas não estavam
interessadas. As restantes
reformas estão a encontrar espa-
ço para avançar?
Estão. É por isso que as reformas
estão a acontecer. A política e o
plano estratégico estão sendo desenvolvidos.
Estamos a afinar os
instrumentos de trabalho, clarifi-
car aquilo que pode continuar e o
que não pode, estamos a trabalhar
com as entidades participadas para
ver em que situação se encontram.
A outra componente de fundo é
assegurar que as pessoas que estão
a receber as pensões existam. É por
isso que iniciamos com os registos
da prova de vida que começou em
Janeiro e que vai até Abril.
O desafio que nós pusemos ao
INSS nesta questão de prova de
vida é que agora ainda é manual,
mas terão de desenvolver plataformas
informáticas no sentido de
que a partir do próximo ano seja
um processo informatizado. Queremos
ter certeza de quem recebe,
quanto é recebe e onde é que
estão esses beneficiários. Estamos
também a desenvolver o trabalho
do registo dos trabalhadores por
conta própria.
...e quanto aos investimentos mal
parados?
Há um trabalho interno que se vai
fazendo. O que não estiver bem
vamos corrigir. A nossa abordagem
como tutela é assegurar que
esta instituição funcione com a
devida transparência e cumprindo
com aquilo que são as normas
de procedimento por forma a que
os verdadeiros donos tenham um
melhor tratamento, melhor atendimento
e que estejam tranquilos,
sabendo que aquilo que descontaram
lhes será retornado e se for
possível ainda a níveis melhorados.
O semanário Magazine Independente
publicou uma notícia
dizendo que a ministra estava
no encalço dos investimentos
malparados e que todos que se
apoderaram de dinheiro do INSS
indevidamente deviam devolver
a todo o custo. Comentário?
A imprensa fala o que bem entender.
O que estamos a dizer é que
tem de se assegurar que os investimentos
que o INSS fez tenham
o retorno. Que haja estudos de
viabilidade e que os investimentos
sejam legais.
Todo o investimento que for feito
pelo INSS tem de ter retorno
positivo para a instituição e deve
satisfazer interesses do INSS e não
do empresário individual.
Todo o investimento que for feito
pelo INSS deve ser para elevar a
pujança desta instituição a
fim de garantir boas pensões
para os contribuintes. inspectivo
A Inspecção do Trabalho é um
sector importante para disciplinar
alguns empregadores desonestos,
mas também é sensível
devido a sua vulnerabilidade à
corrupção. O que está sendo feito
para tornar este sector mais rígido
nas suas actividades?
Estamos a trabalhar e a introduzir
reformas com vista a tornar o
sector mais eficiente. Primeiro restruturamos
a inspecção sem parar
com o trabalho inspectivo. Visitá-
mos o estatuto, o regulamento interno,
o procedimento de actividade
inspectiva, código de conduta e
o guião do inspector.
Vimos a necessidade de termos
instrumentos padronizados para
que aquele inspector que actua em
Niassa tenha a mesma forma com
aquele que está em Maputo. Com
estes instrumentos padronizados,
o próprio inspeccionado vai saber
que quando o inspector chega o
que é que deve esperar e qual é que
deve ser a sua postura.
Quantas inspecções foram realizadas
no ano passado?
No ano passado tínhamos previsto
cerca de sete mil inspecções e conseguimos
fazer em oito mil estabelecimentos
onde foram constatadas
várias infracções.
Nas nossas actividades inspectivas
privilegiámos a parte didáctica e a
parte sancionatória só foi aplicada
em casos extremos. Mais de 70%
das inspecções registadas no ano
passado foram pedagógicas.
Em que ponto registaram a maior
parte de infracções?
Foi no desrespeito pelas condições
de higiene, segurança e protecção
no trabalho, falta de contratos de
trabalho, questões de contratação
de mão-de-obra estrangeira de forma
ilegal e a não canalização das
contribuições de segurança social.
Nestes casos fomos implacáveis e
aplicamos medidas punitivas que
vão desde aplicação de multas até
a suspensão de actividades.
Como é que o ministério tem tratado
a questão dos inspectores
corruptos?
Infelizmente temos situações de
alguns colegas desonestos, mas que
com a colaboração dos nossos parceiros
do sector privado estão a ser
desmantelados.
Temos casos em que alguns inspectores
estão suspensos e a responder
processos disciplinares e
criminais nas províncias de Nampula
e Maputo bem como ao nível
central. Temos casos de alguns colegas
que saem a título individual
para as empresas com intuito de fazer
inspecções, mas com fins pouco
claros.
Para todos esses casos somos intoleráveis,
porque não queremos esse
tipo de pessoas no nosso meio.
Nos nossos encontros com os
empregadores sempre apelámos
a estes que façam o seu trabalho
dentro das normas, cumpram com
as suas obrigações e denunciem situações
de colegas que vão lá com
intenções que violem os nossos
princípios porque nós queremos
um sistema laboral de paz, justiça
e que cumpra com a lei.
A legislação moçambicana
estabelece quotas
para a contratação de
mão-de-obra estrangeira.
Há muito barulho e controvérsia
nesta área. Que comentário
tem a tecer em relação a este
assunto?
Moçambique é um país soberano
e está aberto ao investimento.
Mas, quando os investimentos
vêm em primeiro lugar são para
beneficiar moçambicanos. O empresário
terá a sua renda, o seu
lucro, mas o moçambicano é que
tem de se beneficiar.
Em termos daquilo que são as
nossas políticas e em qualquer
parte do mundo, em primeiro lugar
o emprego é para o nacional.
Portanto, quando vêm, os nossos
investidores tem de ter clareza das
regras do jogo e se comprometer
cumprir com todas as regras.
Moçambique não é uma República de bananas onde cada um
chega e faz aquilo que quer. Este
país tem leis que devem ser obrigatoriamente
cumpridas e nessa
componente nós somos rigorosos.
Do nosso lado estamos a introduzir
reformas com vista a facilitar
que esses investidores façam seus
desejos com maior facilidade, mas
dentro das normas.
Uma das medidas tomadas é a
informatização de todo o processo
de contratação e de registo
de mão-de-obra estrangeira para
que a acção humana não seja tão
crucial neste processo.
Temos também um sítio na internet
onde antes de virem para
Moçambique os investidores podem
aceder e se informar sobre as
regras vigentes no país.
Que tipo de medidas tomam
quando detectam uma situação
de contratação ilegal de trabalhadores
estrangeiros?
Suspendemos.
Quantos trabalhadores foram
suspensos no ano passado e
quais é que são as nacionalidades
que lideram?
Cerca de 1500 trabalhadores estrangeiros.
O maior enfoque vai
para portugueses, chineses, sul-
-africanos e indianos. O sector da
construção civil está em primeiro
lugar, depois seguem as organizações
não governamentais e na
área de comércio.
Há correntes que dizem que os
imperativos legais fixados para
contratação de mão-de-obra
estrangeira é tão complexa que
muitas vezes prejudica empresas
que querem mão-de-obra especializada
por curto tempo para
resolver uma situação pontual.
Porque é que cada caso não merece
o seu devido tratamento?
Isso não pode afectar o investimento?
Isso é a interpretação que se faz.
Em qualquer canto do mundo
não se faz as coisas a bel-prazer.
Há regras claras.
O Governo tem a responsabilidade
de aferir que não há moçambicano capaz de fazer aquela
tarefa e assegurar que os que vêm
transmitem o seu conhecimento
aos moçambicanos.
O que nós incentivamos a essas
grandes empresas que têm equipamentos
sensíveis e exigentes e
que precisam de pessoas especializadas
é que é preciso que esse
técnico ponha um moçambicano
ao seu lado.
Nos nossos trabalhos de fiscalização,
constatamos que muitas
grandes empresas não fazem a
transferência de conhecimento
para moçambicanos e não podemos
incentivar isso.
Temos empresários desonestos
que estão a transformar contratos
de curta duração em longa dura-
ção. Eles vêm, ficam três meses,
regressam ao país de origem e
pouco tempo depois retornam.
Também estamos em processo de
revisão do regulamento da contratação
de mão-de-obra estrangeira
que é para tornar mais objectivo
e mais real e que assegure
os interesses dos trabalhadores
moçambicanos.
A avaliar pelas constatações do Tribunal Administrativo (TA), na sua mais recente auditoria às contas estatais, vive-se um verdadeiro fandango no Estado, com recurso a fundos dos contribuintes. Os agentes do Estado continuam a não dar ouvidos à lei, realizando despesas à margem da legislação orçamental vigente, muitas delas que sugerem uma gestão danosa. Tal traduz-se na falta de rigor no cumprimento das normas orçamentais. É um alerta que o TA vem fazendo há vários anos, mas que não encontra respostas da parte de quem deve pôr travão a práticas desta natureza. No seu Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2014, documento que consta do rol das matérias a serem debatidas na III sessão da 8ª legislatura da AssemTribunal Administrativo detecta práticas que sugerem corrupção Gestão perigosa das contas do Estado compromissos, à luz do disposto na alínea b) do nº 3 do artigo 93 da Lei nº 26-2009, de 29 de Setembro, atinente à organização, funcionamento e processo da 3ª Sessão do Tribunal Administrativo”. Aliás, o TA lembra que este negócio foi executado sem o visto do Tribunal e o Ministério da Agricultura incorreu em infracção financeira. “Os pagamentos foram efectuados em datas anteriores da concessão do visto obrigatório do Tribunal Administrativo(...)”, sublinha. O TA cita igualmente um manual de Administração Financeira e procedimentos contabilísticos, aprovado pelo ministro das Finanças, que veda o pagamento antecipado a qualquer título, excepto em situações previstas em lei, o que não foi o caso do contrato IPEX: um antro de corrupção? Um dos maiores regabofes, a avaliar pelos dados do TA, está no Instituto para a Promoção de Exportações (IPEX), uma instituição subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC). Segundo o TA, o IPEX tem de forma pouco criteriosa gerido a Feira Agro-Pecuária, Comercial e Industrial de Moçambique (FACIM). Em 2014, a IPEX, dirigida por João Macaringue, pagou um total de 22.215.505,65 meticais à empresa privada Santos & Rey-Estruturas e Eventos, LDA, “sem contrato e à luz de um memorando celebrado com a mesma no âmbito da presta- ção de serviços na FACIM”. Os auditores do TA questionaram ao IPEX sobre a não celebração do contrato, bem como os procedimentos adoptados para a selecção da empresa. Em resposta, a IPEX respondeu o seguinte: “tendo em conta a falta de um orçamento especí- fico, a opção foi o memorando de entendimento, em que todos iríamos investir no pressuposto de se aferir os esforços e, posteriormente, compensá-los. Outrossim, teria sido interrompida a realização da FACIM, por manifesta incapacidade financeira”. Entretanto, os auditores do Tribunal Administrativo la- -Ministério de Indústria e Comércio pagou de Junho a Dezembro de 2014 perto de 1.9 milhão de meticais de rendas de casa para o ex-titular Armando Inroga, com fundos de cinco projectos de investimentos -IPEX pagou cerca de 20 milhões de meticais à empresa privada Santos & Rey - Estruturas e Eventos, LDA sem realizar concurso público e muito menos formalizar o negócio. -Ministério da Agricultura, Empresa de Desenvolvimento de Maputo Sul e vários municípios destacam-se entre os que pontapearam a lei orçamental mentam que “deste pronunciamento, ressalta que os gestores não indicam como esta empresa foi seleccionada, e nem foram apresentados os relatórios das actividades desenvolvidas pela mesma. O TA faz igualmente notar que o contrato entre o IPEX e a Santos & Rey-Estruturas e Eventos, LDA devia ter sido sujeito a uma fiscalização prévia pelo Tribunal Administrativo. A Santos & Rey-Estruturas e Eventos, representada pelos cidadãos Teodósio José Lopes Rey e Mário Filipe Bessa dos Santos, tinha por missão prestar auxílio ao IPEX no melhoramento e alargamento das estruturas da FACIM, tendo em conta o número cada vez mais crescente dos expositores. Recorde-se que, em princípios de 2015, um grupo de trabalhadores do IPEX denunciou ao SAVANA o negócio com a Santos & Rey- -Estruturas e Eventos e outras prá- ticas que consideravam danosas. Na altura, a directora-geral do IPEX, Cecília Candrinho, a principal visada pelos funcionários da instituição, negou todas as acusações e disse que tudo não passava de manobras de “ambiciosos que querem o poder a todo o custo”. Explicou que, em 2011 e 2012, a componente ora adjudicada a Santos & Rey-Estruturas e Eventos foi feita com o visto do Tribunal Administrativo, a duas empresas mo- çambicanas, que não nomeou. Porém, o valor cobrado por essas duas empresas estava muito acima das capacidades do IPEX. Foi então que a direcção do IPEX, depois de ouvir a opinião dos funcionários e do Conselho de Administração, saiu para o mercado à procura de alternativas mais baratas. Candrinho frisou que, dentre várias propostas, a Santos & Rey-Estruturas e Eventos foi a mais viável. Segundo Candrinho, o IPEX iniciou com demarches e foi contratada a referida firma com aval do Tribunal Administrativo. No entanto, no relatório e parecer do TA que temos estado a fazer referência, o Tribunal nega que tenha feito uma fiscalização prévia. Candrinho teceu, na altura, rasgados elogios a Santos & Rey-Estruturas e Eventos. Disse que era uma empresa com largas credenciais nos domínios de organização, montagem e gestão de feiras em Portugal e Angola, e é a principal organizadora dos grandes eventos culturais na cidade de Maputo e os termos de parceria que esta apresentava beneficiavam a firma assim como ao IPEX. Pagamentos em numerário No relatório, o TA afirma que é igualmente prática no IPEX a emissão de cheques a favor de funcionários que, posteriormente, são descontados para atender a actividades de funcionamento da instituição, em numerário. Segundo o TA, em 2014 foram emitidos cheques no valor de 820.693,27 meticais a favor de funcioná- rios do IPEX, o que na óptica do TA constitui violação do preceituado no n.º 5.2 das Instruções Sobre a Execução do Orçamento do Estado da Direcção Nacional de Contabilidade Pública. De acordo com o TA, foram também “abonadas ajudas de custo no montante de USD1.730 (equivalente a 53.145,60 meticais), através do cheque n.º 797953, a um cidadão que não faz parte do quadro do pessoal do IPEX”, o que viola o estatuído no artigo 96 da Lei n.º 26/2009, de 29 de Setembro. Em princí- pios de 2015, em entrevista ao SAVANA, a directora-geral do IPEX desmentiu que haja pessoas fora do quadro a receberem dinheiro da instituição. (F.C.) bleia da República que arrancou nesta quarta-feira, o TA faz uma série de levantamentos da aplicação dos fundos do Estado pelas diversas instituições estatais e destapa a podridão que lá reina. A título ilustrativo, o TA afirma que o Ministério da Agricultura pagou a 18 de Dezembro de 2014 34.140 mil meticais, por adiantamento de fundos, à Toyota de Moçambique, pela aquisição de 22 viaturas land cruiser 4x4 cabine simples, as quais não tinham sido recebidas, até ao dia 27 de Março de 2015, data do término da auditoria. O TA afirma que o Ministério da Agricultura violou as normas sobre a execu- ção dos orçamentos, bem como “da assunção, autorização ou pagamento de despesas públicas ou
entre o Ministério da Agricultura e a Toyota de Moçambique. As rendas de Armando Inroga Outra operação que inquieta o TA tem a ver com as rendas pagas a um imóvel destinado à habitação do Ministro da Indústria e Comércio (MIC). Na altura dos factos, o titular da pasta de Indústria e Comércio era Armando Inroga. Com recurso a fundos de cinco projectos de investimentos, o MIC pagou de Junho a Dezembro de 2014 um total de 1.863 mil meticais, o equivalente a 310.500/mês (USD10350 ao câmbio de 30 meticais na altura). O TA afirma que esta despesa deveria ter sido suportada pela componente de financiamento. O arrendamento de casas para detentores de altos cargos públicos é uma prática há muito enraizada no Estado, uma operação usada para drenar fundos estatais. Pagamentos indevidos A auditoria do TA na posse do SAVANA está igualmente cheio de exemplos de pagamentos “indevidos” que reinam nas instituições do Estado. O Instituto Médio de Ciências Documentais (CIDOC) pagou cerca de 1.7 milhão de meticais a favor da empresa MECH- -Sociedade Unipessoal, para a fiscalização da obra de reabilitação do ex-edifício do Ministério da Cultura. Contudo, segundo o TA, esta actividade não foi efectuada. “Estes pagamentos são indevidos, nos termos do artigo 96 da Lei nº26/2009, de 29 de Setembro (...) a qual consideram-se pagamentos indevidos os que forem ilegais e causarem dano para o Estado ou entidade pública”, sublinha. Outro pagamento considerado “indevido” deu-se na empresa de Desenvolvimento de Maputo Sul, firma que está a executar o projecto da Circular de Maputo e a Ponte Maputo-Catembe. Após a cessação de funções do PCA, a 4 de Março de 2014 (na altura o PCA era Elias Paulo), o mesmo continuou a receber salá- rios com todos os subsídios inerentes à função, bem como a beneficiar dos serviços de segurança da sua residência até Outubro do mesmo ano. Segundo o TA, os valores totalizaram 1.642.166 meticais, sendo 1.347.735 meticais de salários e o remanescente de serviços de segurança. “A alínea a) do nº 1 do artigo 46 da Lei nº 16/2012, de 14 de Agosto estabelece que depois de cessar funções públicas o servidor público está, a todo o tempo, proibido de actuar em forma tal que tenha da sua antiga instituição vantagens indevidas para si ou para terceiros”, sublinha. Questionado pelos auditores do TA, o Governo considerou pertinentes as questões levantadas e prometeu adoptar medidas para a sua correcção. Outro atropelo à lei deu-se no Conselho Municipal de Quelimane, um município gerido pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política em Moçambique. Em 2014, foi, segundo o TA, pago o décimo terceiro salário ao Presidente do Conselho Municipal e ao director da empresa municipal de saneamento e água, acrescidos de 68.720 meticais relativo ao bónus especial. Em contraditório, os responsáveis pela gestão de contas no Conselho Municipal reconheceram o facto, alegando que foi “por lapso” e comprometeram-se a proceder à reposição do valor em causa, através dos descontos nos salários dos visados. No entanto, o TA considera de “indevidos” os pagamentos efectuados. No Conselho Municipal de Mueda, a gestão vai de hilariante à preocupação. O valor de salários e remunerações pago aos membros e titulares do Conselho Municipal (2.087.699,5) supera 40% o total das receitas próprias cobradas pela edilidade (4.715.984,11). De acordo com o TA, esta prática contraria o disposto na lei, considerando que “as remunerações dos titulares e membros dos órgãos autárquicos só podem ser suportados pelas receitas próprias da autarquia e, em nenhum momento, pode exceder 40% das mesmas”. Considera igualmente que os pagamentos feitos em excesso (201.305,86 meticais) são indevidos à luz do artigo 96 da Lei nº 26/2009, de 29 de Setembro. (F.C.)
A avaliar pelas constatações do Tribunal Administrativo (TA), na sua mais recente auditoria às contas estatais, vive-se um verdadeiro fandango no Estado, com recurso a fundos dos contribuintes. Os agentes do Estado continuam a não dar ouvidos à lei, realizando despesas à margem da legislação orçamental vigente, muitas delas que sugerem uma gestão danosa. Tal traduz-se na falta de rigor no cumprimento das normas orçamentais. É um alerta que o TA vem fazendo há vários anos, mas que não encontra respostas da parte de quem deve pôr travão a práticas desta natureza. No seu Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2014, documento que consta do rol das matérias a serem debatidas na III sessão da 8ª legislatura da AssemTribunal Administrativo detecta práticas que sugerem corrupção Gestão perigosa das contas do Estado compromissos, à luz do disposto na alínea b) do nº 3 do artigo 93 da Lei nº 26-2009, de 29 de Setembro, atinente à organização, funcionamento e processo da 3ª Sessão do Tribunal Administrativo”. Aliás, o TA lembra que este negócio foi executado sem o visto do Tribunal e o Ministério da Agricultura incorreu em infracção financeira. “Os pagamentos foram efectuados em datas anteriores da concessão do visto obrigatório do Tribunal Administrativo(...)”, sublinha. O TA cita igualmente um manual de Administração Financeira e procedimentos contabilísticos, aprovado pelo ministro das Finanças, que veda o pagamento antecipado a qualquer título, excepto em situações previstas em lei, o que não foi o caso do contrato IPEX: um antro de corrupção? Um dos maiores regabofes, a avaliar pelos dados do TA, está no Instituto para a Promoção de Exportações (IPEX), uma instituição subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC). Segundo o TA, o IPEX tem de forma pouco criteriosa gerido a Feira Agro-Pecuária, Comercial e Industrial de Moçambique (FACIM). Em 2014, a IPEX, dirigida por João Macaringue, pagou um total de 22.215.505,65 meticais à empresa privada Santos & Rey-Estruturas e Eventos, LDA, “sem contrato e à luz de um memorando celebrado com a mesma no âmbito da presta- ção de serviços na FACIM”. Os auditores do TA questionaram ao IPEX sobre a não celebração do contrato, bem como os procedimentos adoptados para a selecção da empresa. Em resposta, a IPEX respondeu o seguinte: “tendo em conta a falta de um orçamento especí- fico, a opção foi o memorando de entendimento, em que todos iríamos investir no pressuposto de se aferir os esforços e, posteriormente, compensá-los. Outrossim, teria sido interrompida a realização da FACIM, por manifesta incapacidade financeira”. Entretanto, os auditores do Tribunal Administrativo la- -Ministério de Indústria e Comércio pagou de Junho a Dezembro de 2014 perto de 1.9 milhão de meticais de rendas de casa para o ex-titular Armando Inroga, com fundos de cinco projectos de investimentos -IPEX pagou cerca de 20 milhões de meticais à empresa privada Santos & Rey - Estruturas e Eventos, LDA sem realizar concurso público e muito menos formalizar o negócio. -Ministério da Agricultura, Empresa de Desenvolvimento de Maputo Sul e vários municípios destacam-se entre os que pontapearam a lei orçamental mentam que “deste pronunciamento, ressalta que os gestores não indicam como esta empresa foi seleccionada, e nem foram apresentados os relatórios das actividades desenvolvidas pela mesma. O TA faz igualmente notar que o contrato entre o IPEX e a Santos & Rey-Estruturas e Eventos, LDA devia ter sido sujeito a uma fiscalização prévia pelo Tribunal Administrativo. A Santos & Rey-Estruturas e Eventos, representada pelos cidadãos Teodósio José Lopes Rey e Mário Filipe Bessa dos Santos, tinha por missão prestar auxílio ao IPEX no melhoramento e alargamento das estruturas da FACIM, tendo em conta o número cada vez mais crescente dos expositores. Recorde-se que, em princípios de 2015, um grupo de trabalhadores do IPEX denunciou ao SAVANA o negócio com a Santos & Rey- -Estruturas e Eventos e outras prá- ticas que consideravam danosas. Na altura, a directora-geral do IPEX, Cecília Candrinho, a principal visada pelos funcionários da instituição, negou todas as acusações e disse que tudo não passava de manobras de “ambiciosos que querem o poder a todo o custo”. Explicou que, em 2011 e 2012, a componente ora adjudicada a Santos & Rey-Estruturas e Eventos foi feita com o visto do Tribunal Administrativo, a duas empresas mo- çambicanas, que não nomeou. Porém, o valor cobrado por essas duas empresas estava muito acima das capacidades do IPEX. Foi então que a direcção do IPEX, depois de ouvir a opinião dos funcionários e do Conselho de Administração, saiu para o mercado à procura de alternativas mais baratas. Candrinho frisou que, dentre várias propostas, a Santos & Rey-Estruturas e Eventos foi a mais viável. Segundo Candrinho, o IPEX iniciou com demarches e foi contratada a referida firma com aval do Tribunal Administrativo. No entanto, no relatório e parecer do TA que temos estado a fazer referência, o Tribunal nega que tenha feito uma fiscalização prévia. Candrinho teceu, na altura, rasgados elogios a Santos & Rey-Estruturas e Eventos. Disse que era uma empresa com largas credenciais nos domínios de organização, montagem e gestão de feiras em Portugal e Angola, e é a principal organizadora dos grandes eventos culturais na cidade de Maputo e os termos de parceria que esta apresentava beneficiavam a firma assim como ao IPEX. Pagamentos em numerário No relatório, o TA afirma que é igualmente prática no IPEX a emissão de cheques a favor de funcionários que, posteriormente, são descontados para atender a actividades de funcionamento da instituição, em numerário. Segundo o TA, em 2014 foram emitidos cheques no valor de 820.693,27 meticais a favor de funcioná- rios do IPEX, o que na óptica do TA constitui violação do preceituado no n.º 5.2 das Instruções Sobre a Execução do Orçamento do Estado da Direcção Nacional de Contabilidade Pública. De acordo com o TA, foram também “abonadas ajudas de custo no montante de USD1.730 (equivalente a 53.145,60 meticais), através do cheque n.º 797953, a um cidadão que não faz parte do quadro do pessoal do IPEX”, o que viola o estatuído no artigo 96 da Lei n.º 26/2009, de 29 de Setembro. Em princí- pios de 2015, em entrevista ao SAVANA, a directora-geral do IPEX desmentiu que haja pessoas fora do quadro a receberem dinheiro da instituição. (F.C.) bleia da República que arrancou nesta quarta-feira, o TA faz uma série de levantamentos da aplicação dos fundos do Estado pelas diversas instituições estatais e destapa a podridão que lá reina. A título ilustrativo, o TA afirma que o Ministério da Agricultura pagou a 18 de Dezembro de 2014 34.140 mil meticais, por adiantamento de fundos, à Toyota de Moçambique, pela aquisição de 22 viaturas land cruiser 4x4 cabine simples, as quais não tinham sido recebidas, até ao dia 27 de Março de 2015, data do término da auditoria. O TA afirma que o Ministério da Agricultura violou as normas sobre a execu- ção dos orçamentos, bem como “da assunção, autorização ou pagamento de despesas públicas ou
entre o Ministério da Agricultura e a Toyota de Moçambique. As rendas de Armando Inroga Outra operação que inquieta o TA tem a ver com as rendas pagas a um imóvel destinado à habitação do Ministro da Indústria e Comércio (MIC). Na altura dos factos, o titular da pasta de Indústria e Comércio era Armando Inroga. Com recurso a fundos de cinco projectos de investimentos, o MIC pagou de Junho a Dezembro de 2014 um total de 1.863 mil meticais, o equivalente a 310.500/mês (USD10350 ao câmbio de 30 meticais na altura). O TA afirma que esta despesa deveria ter sido suportada pela componente de financiamento. O arrendamento de casas para detentores de altos cargos públicos é uma prática há muito enraizada no Estado, uma operação usada para drenar fundos estatais. Pagamentos indevidos A auditoria do TA na posse do SAVANA está igualmente cheio de exemplos de pagamentos “indevidos” que reinam nas instituições do Estado. O Instituto Médio de Ciências Documentais (CIDOC) pagou cerca de 1.7 milhão de meticais a favor da empresa MECH- -Sociedade Unipessoal, para a fiscalização da obra de reabilitação do ex-edifício do Ministério da Cultura. Contudo, segundo o TA, esta actividade não foi efectuada. “Estes pagamentos são indevidos, nos termos do artigo 96 da Lei nº26/2009, de 29 de Setembro (...) a qual consideram-se pagamentos indevidos os que forem ilegais e causarem dano para o Estado ou entidade pública”, sublinha. Outro pagamento considerado “indevido” deu-se na empresa de Desenvolvimento de Maputo Sul, firma que está a executar o projecto da Circular de Maputo e a Ponte Maputo-Catembe. Após a cessação de funções do PCA, a 4 de Março de 2014 (na altura o PCA era Elias Paulo), o mesmo continuou a receber salá- rios com todos os subsídios inerentes à função, bem como a beneficiar dos serviços de segurança da sua residência até Outubro do mesmo ano. Segundo o TA, os valores totalizaram 1.642.166 meticais, sendo 1.347.735 meticais de salários e o remanescente de serviços de segurança. “A alínea a) do nº 1 do artigo 46 da Lei nº 16/2012, de 14 de Agosto estabelece que depois de cessar funções públicas o servidor público está, a todo o tempo, proibido de actuar em forma tal que tenha da sua antiga instituição vantagens indevidas para si ou para terceiros”, sublinha. Questionado pelos auditores do TA, o Governo considerou pertinentes as questões levantadas e prometeu adoptar medidas para a sua correcção. Outro atropelo à lei deu-se no Conselho Municipal de Quelimane, um município gerido pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política em Moçambique. Em 2014, foi, segundo o TA, pago o décimo terceiro salário ao Presidente do Conselho Municipal e ao director da empresa municipal de saneamento e água, acrescidos de 68.720 meticais relativo ao bónus especial. Em contraditório, os responsáveis pela gestão de contas no Conselho Municipal reconheceram o facto, alegando que foi “por lapso” e comprometeram-se a proceder à reposição do valor em causa, através dos descontos nos salários dos visados. No entanto, o TA considera de “indevidos” os pagamentos efectuados. No Conselho Municipal de Mueda, a gestão vai de hilariante à preocupação. O valor de salários e remunerações pago aos membros e titulares do Conselho Municipal (2.087.699,5) supera 40% o total das receitas próprias cobradas pela edilidade (4.715.984,11). De acordo com o TA, esta prática contraria o disposto na lei, considerando que “as remunerações dos titulares e membros dos órgãos autárquicos só podem ser suportados pelas receitas próprias da autarquia e, em nenhum momento, pode exceder 40% das mesmas”. Considera igualmente que os pagamentos feitos em excesso (201.305,86 meticais) são indevidos à luz do artigo 96 da Lei nº 26/2009, de 29 de Setembro. (F.C.)
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