Custa-me bastante, tratar de convencer com toda sinceridade, a uma pessoa que teve um ente querido assassinado, que esta pessoa deve ter compaixão pelo assassino. Ainda que muitos realmente consigam perdoar, outros não conseguirão, por vários motivos, como não conseguiram perdoar os fetos das mulheres mortas grávidas, porque ninguém deu a chance a esses fetos de poderem perdoar, porque morrerem dentro dos ventres de suas mães, assassinadas. E não puderam perdoar aos bandidos, as crianças menores que ficaram orfãs de ambos pais, e sem ajuda da sociedade, também morreram. E aqueles que vivem, sem saber a sua origem, porque seus pais se perderam na guerra, também custa-lhes perdoar aos bandidos, ao procurarem-se e não encontrarem-se dentro na nossa sociedade enorme, custa perdoar aos bandidos, aqueles que vivem com deficiência e sem ajuda, porque accionaram uma mina ou porque foram atingidos por um estilhaço, com uma enxada na mão a cavar a terra, buscando um mísero alimento para seus filhos famintos. Particularmente, eu não sou a favor da pena de morte, mas nunca consegui incomodar-me com bandido que é morto em troca de tiros com a policia, durante um assalto. Simplesmente não consigo. Não tenho empatia suficiente por alguém que se presta a pegar uma arma e atirar em policiais quando vê sua tentativa de assalto frustrada, ou mesmo quando este bandido cospe na alma de várias pessoas, envolvendo-se em loucura energúmena e mata pessoas indiscriminadamente e de forma desumana, seja qual for o motivo, num estado democrático esse bandido perde a razão e deve ser aniquilado incondicionalmente .
Na guerra fratricida dos 16 anos, os bandidos da Renamo mataram o irmão mais novo do meu pai, o meu tio Calbi Cossa, e ordenaram, ameaçadoramente, as populações para não enterra-lo, prometendo-as de voltarem e queimar vivo quem se atrevesse a enterra-lo. O único pecado do meu tio para merecer tão imundo castigo dos bandidos da Renamo foi porque ele opôs-se que aqueles bandidos arrancassem os bens da população, já que as populações, ao seu ver, não tinham nenhuma culpa no conflito da Renamo com o Governo. Porém, os bandidos da Renamo mataram o homenzinho, acusando-o de insubordinação e enfrentamento extraordinário. Aqueles bandidos, no seu verdadeiro sentido literário, depois de matarem meu tio roubaram todos os bens da nossa familia, entre gado bovino, caprino, suino e muitas outras coisas mais. Mais de nove meses, as populacoes terrorizadas, não podiam aproximar-se ao local, onde os bandidos assassinaram o meu tio, só mais tarde, a família conseguiu ir para aquele lugar, recolher os restos mortais do meu tio e enterra-los como as tradições africana e cristã, recomendam. Para os membros da minha família, em especial para os filhos do meu tio, custa muito, depois da Frelimo nos ter pedido para perdoarmos este bárbaro, vandálico e selvático crime, admitir que isso possa repetir-se outra vez com um de nós sobreviventes. Não sei com que cara e quem poderá ter coragem de voltar a chamar-nos para dizer-nos as mesmas palavras, que nunca foram nenhum conforto para nós, mas aceitamo-as em nome da reconciliação nacional, pensando que tais barbaridades desses vándalos jamais voltariam a acontecer no nosso país, nós todos, a nação moçambicana, aceitamos a reconciliação em prol de nossos filhos, que devem viver em plena paz. Aceitamos viver com essa mágoa e estígma no coração, porque achamos que era a única forma de cicatrizar a nossa dor e abraçarmos de mãos dadas, a paz que vinha no país para eternizar-se, aceitamos a reconciliação em nome da irmandade. Eu já não terei mais palavras para redirigir-me em frente dos que perdem seus filhos assassinados, para pedir-lhes desculpas, seja em nome do que for, eu não quero ouvir mais desculpas pela morte de meus familiares, de meus compatriotas, de civis e indefesos. Basta! Não há nenhuma ideia humana que pode justificar a matança de irmãos em guerras sem fim.
A Frelimo reabilitou a Renamo nos nossos corações, pensando e convicta de que em Moçambique jamais voltariamos á guerra entre irmaõs e não errou, porque há muitos elementos da Renamo que hoje estão a contribuir para o bem do pais e pacificamente lutam dia-a-dia para o desenvolvimento de Moçambique, e porque muitos desses elementos eram uma isca humana na guerra, foram capturados forçosamente, entre nós pela Renamo, para ingressarem suas fileiras.
A Frelimo errou, e nós todos erramos em aceitar reabilitar o energúmeno Dlakama, porque o bom bandido é o bandido morto!.
Veronica Macamo Dlhovo Castigo Langa Gabriel Muthisse Fernando BilaBenedita Guambe Lindo A. Mondlane Amosse Macamo Elisio MacamoEgidio Vaz Eusébio A. P. Gwembe Julião João Cumbane João Pedro Muianga
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