sábado, 13 de fevereiro de 2016

Carta ao Afonso Dlhakama de Armindo Chavana e a respectiva resposta de Fernando Mazanga

1. Uma Carta ao Senhor Presidente da Renamo
Caro Senhor Presidente da Renamo,
Chamo-me Armindo Chavana Jr. Espero que ainda se lembre de mim. Fui o jornalista da TVM que o acompanhou 45 dias consecutivos, sem trocar, na campanha eleitoral de 1994. A nossa relação de trabalho nunca foi invasiva: não me imiscui nos seus assuntos de campanha, do mesmo modo que o senhor não o fez em relação a minha cobertura jornalística. Sempre com respeito mútuo, trocámos amigavelmente, (à margem das obrigações de cada um), impressões sobre os mais diversos assuntos do dia-a-dia, sem qualquer problema de consciência. Sabe senhor presidente, há jornalistas que não conseguem encarar os sujeitos das suas histórias no dia seguinte, de tanto lhes deturparem o sentido. Na minha carreira profissional de 30 anos, nunca foi esse o meu caso. Lembro-me porém de um episódio em Cabo Delgado. O senhor afirmara, no comício de Pemba, que o acusavam de querer deportar os Macondes para Angola, porque era de lá que se dizia que vinham, mas que isso não era verdade, que, a deportar alguém, seria o Chissano para o Gazankulo, porque era de lá que vinham os Machanganas. O meu despacho foi fiel ao seu pronunciamento. Por qualquer razão, na edição do Telejornal, ele não passou como tal, sendo, ao invés, reduzido a um headline (título) que o acusava de querer expulsar os Machanganas de Moçambique. Não sei qual foi o racional editorial: se a consciência cívica do chefe da redação mandou-o desencorajar a manipulação política de um factor sensível (como a tribo, a religião, a etnia), que quando jogado sem responsabilidade resulta em gravíssimos banhos de sangue entre irmãos, ou se leu o despacho do avesso. 
Hoje, volvidos 22 anos sobre esse episódio, noto com frustração que o senhor ainda usa, de forma derrogatória, e divisionista, termos como aquela Macua, aquele Maconde! Recentemente ouvi-lhe dizer ao Canal de Moçambique que os militares das FADM destacados no centro do país não aceitavam uma ordem contra a Renamo, insinuando uma guerra entre o sul e o norte, o que não é verdade. 
Caro presidente, tenho acompanhado com atenção a evolução da Renamo, ao longo dos tempos, e a sua postura na arena política. Os acontecimentos mais recentes, sobretudo de 2011 a esta parte, deixam-me perturbado. Está cada vez mais claro que independentemente dos progressos negociais no Centro de Conferências, (antes da ruptura), ou dos resultados de um eventual face-a-face com o Presidente da República, o senhor vai, até ao limiar de 2019, priorizar um discurso militar incendiário, acompanhado de ataques pontuais, como uma estratégia de pressão pré-eleitoral, que por um lado impede o PR de governar e, por outro realça a Renamo como um factor político-militar omnipresente, e permanentemente intimidatório. Parece-me, senhor presidente, que o alcance político dessa estratégia, é que a Renamo dispensa a Assembleia da República como a plataforma mais importante da contenda democrática, e que nos pleitos que se avizinham (autárquicas de 2018 e gerais de 2019) é ou sangue, ou nada. O que se parece com um golpe constitucional premeditado.
Senhor presidente, quando vi a cláusula da amnistia no Acordo de Secessão das Hostilidades, de 2013, percebi que a Renamo estava consciente das consequências de uma actuação política à margem da lei, e que doravante seria diferente. Parece que me enganei.
O seu partido é importante no nosso ordenamento democrático. Se mobiliza perto de metade do eleitorado, representa as aspirações de todo esse agregado, perante o qual a sua liderança devia mostrar maior responsabilidade.
No ano passado o senhor presidente sofreu dois ataques condenáveis que poderiam ter posto termo à sua vida. Imagino a Renamo sem o senhor: ninguém, mas absolutamente ninguém na sua estrutura de comando chegou sequer perto do seu estatuto político, de quase intocabilidade. Em Angola depois do Jonas Savimbi a UNITA não mais se reencontrou e parece irradiada da luta pelo poder, pelo menos nos próximos 50 anos, apesar da sua condição de segunda maior força política. 
Penso que a Renamo já esteve perto de se consolidar como um partido político alternativo e forte. Vindo de um passado militar era natural que nalgum momento do percurso claudicasse e parecesse recuar. Foi precisamente nesses momentos de provação que outros interesses, que de seus (da Renamo), só parecem, a encorajaram (e ainda encorajam) a desviar-se do âmbito legal. Interesses que usam a sua pré-disposição de se deixar manipular, para a manipularem perniciosa, e viciosamente, contra o interesse nacional. Batem-lhe palmas quando mata civis, quando corta a espinha dorsal do país, (impedindo o fluxo normal da economia), ou quando apregoa o tribalismo e a divisão da nossa pátria amada. Não me parece que seja isso que querem os que votam em si e na Renamo.
Em 1994 vi um país completamente dilacerado pela guerra acabada de terminar. Num dos distritos da Zambézia despi, em pleno comício, a minha t-shirt, ficando apenas com o pulôver, para a oferecer a uma jovem mãe esquelética e semi-nua, como se com isso vestisse o eleitorado, quase todo ele também esfaimado e semi-nú, que aguardava de si uma mensagem de esperança. 
Hoje uma guerra civil senhor presidente da Renamo vai fazer-nos recuar para um quadro bem pior que o do relatório Gersony: que descrevia o conflito moçambicano com um dos piores do planeta depois da segunda guerra mundial. 
“Lutar por lutar irmão, sem saber porque lutar então... sem sentido na vida, sem rumo na vida, a culpa é sua.... pense um pouco no amanhã .....” – só para parafrasear, adaptando.

Fraternalmente, Armindo Chavana jr

Resposta de Fernando Mazanga.
Amigo Chavane:
sou Fernando Mazanga,;Vogal da CNE, estando por essa razao, fora da accao politica. renunciei à minha qualidade de dirigente politico, mas me mantenho como cidadao com direito a usufruir das liberdades consagradas na nossa CR. 
li atentamente o artigo q meus colegas do grupo "comunicologos 2016" partilharam da sua publicacao " nas redes sociais", como me terao respondido quando procurei saber aonde teria o ilustre, publicado tal peca. Na verdade fiquei comovido com o seu desmentido com relacao à entrevista que o presidente Dhlakama teria lhe concedido em 1994. achei muita coragem da sua parte faze-lo...a minha questao è, porque tera deixado passar todo este tempo? porque nao o fez no meio proprio e dentro dos limites temporais q a lei preve? nao tem remorsos dos danos que o seu silencio tera provocado em Afonso Dhlakama e na RENAMO? 
mais ainda, hoje ao se referir à mesma peca fa-lo em colagem ao q chamou "... usa de forma derrogatoria e divisionista,;termos como Macua, aquele Macua, aquele Maconde!" que insinuacao è essa? como devemos tratar as pessoas da etnia Changane, Ndau,;Macua? sinto q a ideia tacanha de se eliminar a tribo continua em algumas pessoas, que nao esperava que fosse o seu caso, pois, lhe reconheco intelectualidade...Samora dizia, sim um portugues me chamar preto, eu vou lhe chamar branco. sao cores. nenhuma è superior a outra. se alguem me chamar miudo, eu vou lhe chamar velho. qual è o problema. eu sou machangana com muito orgulho, se alguem assim me chamar vou me sentir orgulhoso porque essa è aminha tribo. ha alguem q tem vergonha do que é? esta sua colagem continua a ter o mesmo peso que teve o seu silencio durante a vigencia da truncagem/ omissao que seu colega da TVM fez em 94, perante o seu silencio cumplice.
a outra coisa que me intriga, è q quando o presidente Dhlakama sofreu 3 atentados directos, o bom do Chavane ficou em silencio. a sua condenacao aqui è extemporranea e fere os principios da pragmatica da comunicacao...senhor, o presidente Dhlakama sofreu um atentado directo. seu motorista morreu. seu guarda costa morreu. seus cozinheiros morreram nesse ataque que pereceram 11 pessoas. e o amigo Chavane trata isso com um eufemismo de bradar os ceus. para si o q conta nao è a origem, è a consequencia. eu nao sou de guerra, mas ha posicionamentos que sao incendiarios. por exemplo os seus. esta a dizer aos mocambicanos que o culpado è o presidente Dhlakama. esta a ser paternalista, como influenciador de opiniao, lugar q conquistou, ao longo da sua carreira, à custa dos nossos impostos. desta forma nao ajuda a que haja reconciliacao nacional. fala de discursos incendiarios...para si quem nao faz discurso incendiario na arena politica nacional? ou melhor, para si quem fala e quem faz quem è perigoso? se eu lhe convidar para falar consigo, porque pegou as mamas da minha mulher e diz que podemos nos encontrar para falar seriamente, mas nao è para falar das mamas da sua mulher, esta a dizer o que? afinal vamos falar de que? leu "papalagui"? o auto- retrato de si... quando descreve outra organizacao em funcao da sua, esta a " desconversar" . seria bom que se recordasse que depois dos ataques do dia 25 de Setembro, o presidente Dhlakama refugiou-se em parte " incerta" para alguns, e "parte segura ", para otros. de la saiu. o que lhe aconteceu na sua residencia na cidade da Beira? sua casa foi cercada, sua seguranca arrancada armas, sua casa revistada como se fosse de um criminoso com mandato da justica. um General que desde 1977 sempre contou com seguranca, homem que negoceiou a paz e em Roma foi lhe reconhecido o direito a seguranca feita pelos seus homens, e para numa accao pseudo herculea exibirem musculatora igual a quem pesca no prato para lhe "desarmar" e humilha-lo daquela forma...usando as palavras do proprio, ate o Papa nao toleraria...ha muito pano para a manga no seu artigo, mas vou parar por aqui, para nao ferir sensibilidades. o meu ultimo apelo è q haja o senso de sabedoria para se sair deste imbroglio... o problema è q muita gente corre para o exemplo de Angola pos Savimbe, deixando aqui mesmo na patria, os exemplos do Mondlane, Matsangaisse, Samora...tudo pela nacao, nada contra a nacao...

Eu: Nós que somos capim só queremos paz em todos sentidos.

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13 comentários
Comments
Hélder Thavede Gostei da carta e da resposta também. 

Só me ilucida que a história não termina tão já!

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Max Panguene sem gaguejar o Homen respondeu ao Jr
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Hélder Thavede Talvez foi uma resposta necessária.
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Homer Wolf Pagou com nota de 20, deram-lhe troco de 100... Wamama! 
Emoji grin

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Homer Wolf eh eh eh
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Rafael Ricardo Dias Machalela Gostei da parte das mamas eh eh eh
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Homer Wolf eh eh eh... foi a parte mais "bem feita" ne'?
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Rafael Ricardo Dias Machalela Essa parte cheira-me a Muchanguismo... eh eh
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El Patriota Senhores... Ha muita coisa boa no texto.... Mamas, mamas o que?
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Lúcio T Langa Ish tawasss... As mamas kkkkk gostei dessa parte
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Max Panguene foi bonificado o Jr espero a resposta não ter lhe afecto o seu estado psico emocional
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Alves Talala Foi uma resposta na medida certa. Espero que o Jr. tenha aprendido. Fernando Mazanga é um bom comunicador.
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Cadu Moreira Sim senhor, quem responde assim não é gago não, Fernando Mazanga, sempre igual a si próprio.
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Mateus Joaquim Mutembué Se discutissem com assim sem armas contra o povo seria muiiiiiiiiiiito bommmmm
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Egidio Vaz AINDA HÁ QUEM perde tempo lendo textos do Chavana? Eu não. Apreciei o seu jornalismo; foi das pessoas que segui atentamente durante os tempos do ensino secundário porque aliás, soube que era historiador e queria ser como ele. Os programas quinta-à noite foram fabulosos. Entrei para a faculdade, fiz o curso de história e divergimos, porque descobri que ele era contra a história. desde então só lhe olho. Mais velho, que devia servir de inspiração, se joga no chão, rendido à sobrevivencia política. #CONFIRMATION_BIAS
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Homer Wolf Estranho... Um historiador contra historia...
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Rafael Ricardo Dias Machalela Um herege e um religioso...
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Egidio Vaz Mais velho, Homer Wolf tantos.
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Alves Talala "Se joga ao chão, rendido a sobrevivencia politica", kkkkkkkkkkk tufa.
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Domus Oikos Acabei de ler agora a carta de Chavana. 1. Falta de lógica estrutural do que descreve; 2. Não discute a causa do problema e refugia-se no único e fútil argumento que encontrou o da etnia; 3. Ele mesmo apresenta-se como juiz sem precisar os motivos do conglito julga o culpado; 4. Chega a conclusão sem premissas. É muito triste quando um tipo deste diz-se jornalista. Mais triste ainda me parece que pretende como Maquiavel persuadir e ganhar os favores de quem esta no poder escrevendo um livrinho que ficou famoso:"O principe". Todos querem tirar proveito desta situação pra promoção pessoal. Esta raça de gente não lhe interessa Moçambique, mas a própria barriga. Estas escritas servem pra comover os patrões, chefes?... Não sei.
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Duclesio Chico Retorica ilucidativa.
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Ariel Sonto Tufa! Mazanga eh um macaco velho para os Jrs desta vida.
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Zulficar Mahomed Antes do Muchanga está o Mazanga...Gostei

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