Em Março de 2015, à saída
de uma audiência com
o presidente Nyusi, terá
descrito como normal a
situação política de Moçambique,
afirmando que “não há nenhuma
guerra de palavra, é uma
situação normal entre o governo
e partidos da oposição”. Então,
onde acha que a situação mudou,
já que hoje fala de violência?
O que mudou foi a decisão da Renamo
de abandonar as negociações
e anunciar a governação em zonas
identificadas. Também, nós vimos
propostas da Renamo derrotadas
em sede do parlamento e entendemos
que eles estejam frustrados,
todavia, qualquer que seja a frustração,
a melhor solução é sempre
buscar essas soluções por via do
diálogo, por via do engajamento
público e não necessariamente a
recorrência à violência.
Mas o Presidente da Renamo diz
que já foi a vários diálogos com os
presidentes da República, todos
eles da Frelimo e que, muitos deles,
de substancial nada produziram.
Diz Afonso Dhlakama que
já não quer ir a encontro só para
sair na foto…
Pessoalmente, não percebo muito
bem o que o presidente da Renamo
quer ou que está interessado,
mas estou resolutamente convicto
de que é sempre preferível o diá-
logo, falar do que levantar armas.
Moçambique está neste momento
num ponto sem retorno, onde as
multinacionais estão já preparadas
para fazer os seus investimentos
multimilionários. O FMI estima
que, entre 2025 a 2045, Moçambique
terá um investimento avaliado
em 500 trilhões de dólares, pelo
que seria um retrocesso enorme se
o Governo e a Renamo decidissem
voltar ao conflito. Seria na verdade,
uma infelicidade para o desenvolvimento
de Moçambique.
Mas quando tomou posse, o Presidente
Nyusi prometeu de viva
voz que o país não regressaria
mais à guerra. Disse que devia ser
inabalável a certeza de que jamais
os moçambicanos voltariam a se
confrontar. Contudo, a verdade
em um ano mostra que não estamos
tranquilos, que não estamos
em paz efectiva para pensar
no desenvolvimento do país.
Tem alguma receita para que ele,
como Chefe de Estado, possa, de
uma vez por todas, devolver a paz
a Moçambique e aos moçambicanos?
O futuro de Moçambique pertence
aos moçambicanos e não cabe
aos diplomatas andarem a dar conselhos
do que devia ser feito pelo
Governo. Todavia, o Canadá saudou
bastante o discurso inaugural
do presidente Nyusi pelo seu compromisso
em melhorar a questão
dos direitos humanos, a sua visão
de um Estado não partidário e um
serviço público.
Como é que tem acompanhado
assassinatos ou tentativas de
assassinatos que, coincidentemente,
sempre vitimam pessoas
ligadas à oposição ou então que
tomam posições incómodas ao
Governo da Frelimo?
Gostaria de repetir que o Governo
de Moçambique tem nos
próximos 10 anos a oportunidade
de investir muito dinheiro para o
benefício das suas populações. E
uma das vantagens de nós estarmos
no G19 é que podemos de
uma forma transparente e directa
discutir vários assuntos com o
Governo moçambicano desde a
gestão das finanças públicas, paz
e segurança, a corrupção. Também
somos parceiros fiscais do Governo
de Moçambique e por essa
via estamos interessados em ver
como essa gestão acontece. Nada
disso vai acontecer sem a paz. Por
isso que essas discussões directas
entre o Governo e a Renamo são
para o Canadá muito importantes.
Portanto, tolerância de ideias e de
visões é um dos elementos importantes.
Acreditamos que as palavras
que o presidente Nyusi proferiu
durante a sua tomada de posse
sejam acolhidas por partes de tal
forma que se reactive o diálogo e
continuarmos a levar Moçambique
para frente num clima de paz.
Consta-nos que está no fim do
seu mandato como alto-comissário
em Moçambique. Sai satisfeito?
A minha missão termina em Julho
próximo. Vim a Moçambique há
25 anos, havia guerra e voava pelos
aviões do PMA por Sussundenga,
Beira e Vilankulo. Neste momento
estou feliz por poder viajar pelo
país e ver o que vejo. Todavia há
muito que deve ser feito em Mo-
çambique. Fora de Maputo os níveis de pobreza continuam altos, os
níveis de educação são muito baixos,
o acesso aos cuidados de saúde
ainda permanecem problemáticos.
Eu acredito que o crescimento
económico só fará sentido quando
entre homens e mulheres houver
igualdade e as mulheres tiverem
o controlo do seu próprio destino.
Em termos gerais, estou satisfeito
com o progresso de Moçambique,
todavia, existe muito que deve ser
feito. Acredito que com boa vontade
e num clima de paz, os moçambicanos
podem alcançar os anseios
que pretendem.
A menos de seis meses
para o fim da sua missão
em Moçambique, o alto-comissário do Canadá,
Shawn Barber, abriu as portas do
seu gabinete, em Maputo, última
terça-feira, para 60 minutos de entrevista
com o SAVANA. Apesar
de cauteloso no discurso, o diplomata
não escondeu, nas entrelinhas,
a sua preocupação devido à
corrupção que disse ser um mal que
urge extirpar dados os seus efeitos
perniciosos para o país. “Gostarí-
amos de ver mais assuntos concretos
do que compromissos retóricos”,
afirmou Shawn Barber para
quem reformar a gestão e finanças
públicas é fundamental para que
Moçambique ganhe confiança da
comunidade internacional, principalmente,
num momento em
que os seus principais produtos
de exportação, como carvão e gás,
começam a declinar. A dado passo,
apontou a nebulosa Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM)
como um verdadeiro fardo para as
finanças. O que também não conseguiu
esconder é a sua simpatia
pelo presidente Filipe Nyusi e, em
contrapartida, disse não perceber
muito bem o que o presidente da
Renamo, Afonso Dhlakama, quer.
Admitiu, contudo, que a Renamo
esteja frustrada, mas indicou
o diálogo como a melhor saída,
condenando assim a pretensão de
governar o centro e norte a partir
de Março. Mas também confessou
estar preocupado com ataques
contra figuras de direcção do
maior partido da oposição, afirmando
que tolerância de ideias é
um dos elementos chaves para levar
Moçambique para frente.
Como caracteriza o actual estágio
das relações entre Moçambique e
Canada?
Existe até agora uma relação pequena,
mas crescente. Moçambique é
um dos países onde temos os níveis
de exportação a crescer para cereais
como trigo e tenho tentado convencer
os canadianos para investir
em Moçambique, razão pela qual já
existem, por exemplo, negociações
para a assinatura de um acordo de
cooperação comercial entre Canadá
e Moçambique. Canadá é um dos
maiores países mundiais com investimento
em África, actualmente
contando com mais de 25 biliões de
investimento em África e principalmente
no sector mineiro e é objectivo
do Canadá que tal investimento passe
a fluir em Moçambique para que as
empresas canadianas também tomem
parte das oportunidades e possam
contribuir para o crescimento econó-
mico de Moçambique e criar emprego
para os moçambicanos.
Para além do Orçamento do Estado,
o Canadá presta apoio para
áreas como saúde e educação. Ora,
quais são as vossas prioridades em
Moçambique?
Canadá tem três prioridades em MoAlto-comissário
do Canadá em Moçambique fala do combate à corrupção
É preciso ir além da retórica
Por Armando Nhantumbo
çambique. Primeiro é contribuir para
o crescimento económico e desenvolvimento,
através da contribuição para
os sectores da educação e saúde, bem
como para o Orçamento do Estado.
Para além disso, existe também um
programa de cooperação bilateral,
trabalhando exactamente nos mesmos
sectores, a educação e a saúde, e
um dos sectores agora em enfoque é o
crescimento sustentável que consiste
em ajudar o sector privado e os pró-
prios moçambicanos a criar emprego.
A segunda prioridade são as relações
comerciais e de investimento. O futuro
de Moçambique vai residir, seguramente,
no desenvolvimento económico.
É verdade que a assistência
ao desenvolvimento pode ajudar, mas
será sobretudo no sector privado que
Moçambique poderá melhorar a sua
situação económica.
A terceira prioridade está focada no
apoio e na advocacia pelos direitos
humanos, paz, segurança e também
no processo da democratização. E
deixem-me realçar a existência de
uma ligação directa entre democracia,
paz e crescimento económico. Só
em Países onde há democracia, paz e
segurança é que o crescimento económico
realiza-se em níveis relativamente
rápidos. Portanto, todas essas
prioridades estão interligadas e têm
como objectivo ajudar Moçambique
a avançar.
Mais adiante falaremos, particularmente,
desta terceira prioridade,
para já, que marco de que Canadá se
orgulha de ter feito em prol de Mo-
çambique e dos moçambicanos?
Primeiro aspecto é a assistência do
Canadá ao sector da saúde, particularmente
a saúde materno-infantil
em que Moçambique já fez muitos
progressos na redução da mortalidade
infantil e Canadá desempenhou
um papel muito importante juntamente
com o Governo de Moçambique
e outros parceiros, para realizar
este grande feito. Por outro lado, existe
o sector da educação onde o Canadá
fez uma grande contribuição. Por
exemplo, Canadá foi fundamental em
possibilitar que as crianças pudessem
ter livro escolar. Foi possível fazer
com que 17 milhões de livros fossem
distribuídos, principalmente, nas zonas
rurais. Portanto, estou orgulhoso
pela forma como o Canadá tem
contribuído para o desenvolvimento
social e económico de Moçambique.
Gostaríamos de fazer maior contribuição
com maior enfoque na cria-
ção de emprego e a despesa econó-
mica. Todos os anos, 300 mil jovens
disponibilizam-se para o mercado
de emprego. Apesar do crescimento
relativamente maior, não existe ainda
maior capacidade de absorção desta
mão-de-obra e nós gostaríamos de
desempenhar maior papel para expandir
o sector privado em Moçambique
para que esse sector privado
crie essas oportunidades.
Sabemos que a 18 de Fevereiro corrente,
realizar-se-á, em Maputo um
fórum de negócios Moçambique-
-Canadá. O que se pretende com o
evento?
O grande objectivo é expor ao sector
privado ou empresarial canadiano
a Moçambique, bem como o sector
empresarial moçambicano ao canadiano.
Fazer com que o sector empresarial
canadiano conheça as oportunidades
existentes e fazer com que
os moçambicanos conheçam as capacidades
e as oportunidades existentes
no Canadá e que podemos oferecer.
EMATUM, um verdadeiro
IDUGRSDUDDVÀQDQoDV
Agora sim, na terceira prioridade,
falava, por exemplo, de democratização,
um processo que envolve
questões como a boa governação, a
transparência, o combate à corrup-
ção. Como é que situa Moçambique
em termos de democratização?
Tal como os demais membros do
G19, acreditamos que muita coisa
melhorou, mas ainda existem outras
coisas que precisam ser feitas para
tornar Moçambique um País favorável
para o investimento. Se olharmos
para o ranking Doing Business
do Banco Mundial, Moçambique
não fez grandes mudanças nos últimos
anos. Portanto, existe um conjunto
de burocracia que precisa ser
reduzida para possibilitar que novas
companhias venham a Moçambique
investir. Os processos são lentos, mas
Moçambique precisa de entender
que está em competição quando o
assunto é o investimento estrangeiro.
Coreia do Sul, Singapura, Botswana,
Namíbia, são entre os competidores.
No passado tivemos a questão da
EMATUM que foi uma grande surpresa
tanto para a comunidade internacional
em geral, tanto para o G19
e que agora é de facto um verdadeiro
fardo às finanças moçambicanas. A
reforma da gestão e finanças públicas
é fundamental para Moçambique
ganhar confiança da comunidade
internacional, principalmente num
momento em que os seus principais
produtos de exportação como carvão
e gás começam a declinar. Ou seja,
criar um ambiente propício para investimento
estrangeiro, combater a
corrupção ou demonstrar claramente
que o governo está comprometido
em combater a corrupção, é fundamental
para que Moçambique possa
progredir em relação ao desenvolvimento
económico.
Sente que algo está sendo feito para
reduzir ou acabar a corrupção em
Moçambique?
A corrupção continua a ser uma preocupação
não só para Canadá, como
também para G19. Todavia, sei que
há um plano de acção de combate à
corrupção que é resultado das discussões
entre G19 e o Governo e acredito
que há muito ainda que pode ser
feito. Existe um sentimento generalizado
de que o Governo poderia ter
feito mais para estancar a corrupção a
todos os níveis. Vimos alguns sinais
do Governo moçambicano em querer
estancar a corrupção, em alguns sectores
da polícia, administração pública,
porém, existem outras áreas onde
o trabalho ainda tem de ser feito.
Que áreas?
Por exemplo, a questão da contratação
pública. Quando se oferece
contrato sem concursos públicos, no
geral não é uma boa prática ao nível
da gestão das finanças públicas e nós
sabemos que o Governo está a fazer
esforços para reduzir a percentagem
dos contratos que são adjudicados
sem contrato público, mas nós também
gostaríamos de ver mais assuntos
concretos do que compromissos retó-
ricos e isto é bom para tirar proveito
de cada metical ou dólar que se investe.
E tal como os restantes países que
estão a contribuir para o Orçamento
do Estado, o Canadá julga que esta é
uma questão legítima a ser levantada
na sua relação e continuarão de forma
efectiva a engajar-se no diálogo com
o Governo sobre este assunto.
Ano passado, alguns países membros
do G19 abandonaram o apoio
directo ao Orçamento do Estado
moçambicano, alegando questões
ligadas à transparência e falta de
evolução na luta contra a corrup-
ção. Entretanto, o Canadá continua
a apoiar directamente o Orçamento.
O que pesou para a vossa permanência
nessa modalidade?
Canadá vai agora entrar, ainda este
ano, num período de reflexão em relação
ao apoio ao Orçamento do Estado.
O programa actual chega ao fim
no próximo ano e a renovação destes
compromissos vai depender também
da reflexão que faremos internamente,
ponderados os prós e os contras.
Mas o que estará na mesa da reflexão?
Trata-se de um conjunto de factores,
entre os quais, a relevância desta
modalidade de apoio, os recursos disponíveis
e se esta é a melhor forma
de usar os recursos e em que medida
o apoio directo orçamental está
a atingir os objectivos, por exemplo,
na gestão da finanças públicas e na
transparência.
Ainda no ano passado, o alto-comissário
do Canadá saudou o que
chamou de compromisso do Presidente
Filipe Nyusi e do ministro
da Economia e Finanças, Adriano
Maleiane, para o fortalecimento
da transparência fiscal e reforço da
gestão das finanças públicas como
elementos-chave da parceria entre o
Governo de Moçambique e o grupo
dos Parceiros Programáticos.
Um ano depois, o que se oferece
dizer?
Nós saudamos o discurso do presidente em relação ao seu compromisso
pela transparência na gestão de
finanças públicas. Acredito que o
presidente Nyusi tem a noção dos
efeitos perniciosos da má gestão da
coisa pública para o desenvolvimento
do País. Como disse anteriormente,
Moçambique está em competição.
Se eu for um empresário com um
milhão de dólares para investir, um
dos elementos que tomarei em conta
será a corrupção. Altos níveis de
corrupção aumentam o risco de investimentos.
O investimento estrangeiro,
normalmente, olha para onde
existem baixos índices de corrupção.
Portanto, quanto menor forem os
níveis de corrupção em Moçambique,
maior serão as possibilidades de
investimento estrangeiro. Por causa
disso, saudamos o compromisso do
presidente Nyusi. Não é que tal possa
ser possível reverter em um ano, mas
o mais importante são actos tangíveis
e passos concretos para abordar este
aspecto. Portanto, voltando a vossa
questão, julgo que é muito cedo para
dizer algo.
A comunidade internacional desde
logo mostrou-se preocupada com a
forma como foi criada, em 2013, a
EMATUM, até porque o G19 chegou
a condicionar o desembolso do
orçamento para 2014, à “regulariza-
ção fiscal” da empresa sobre a qual
o Governo de Maputo avalizou um
empréstimo de 850 milhões de dó-
lares (cerca de 612 milhões de euros).
Foram esclarecidos? E se a resposta
for sim, estão satisfeitos com
o esclarecimento?
Deixe-me clarificar que não foi apenas
o G19, como também o FMI
(Fundo Monetário Internacional) e
nos últimos dois anos as transacções
da EMATUM começaram a ficar
cada vez mais claras. Independentemente
de ser ou não boa a ideia de
investir na indústria de Atum – esta
é uma decisão que caberia a Moçambique
- o que constituiu surpresa para
nós foi a inexistência de uma consulta
antecipada em relação ao assunto e,
subsequentemente, os pagamentos
a dívida da EMATUM são um verdadeiro
fardo às finanças moçambicanas.
Agora que sabemos, devemos
congratular o ministro Maleiane pela
sua transparência em trabalhar com
os doadores em relação aos passos a
seguir e acreditamos que houve alguma
lição aprendida em relação a este
negócio.
Em Janeiro de 2015, tomou posse
um novo presidente e um novo
Governo. Um presidente e um Governo
que encontram um país e um
povo que, para alguns analistas, tinha
mesmo parado de sonhar. Era
um país mergulhado numa tensão
política, um país abalado por raptos,
um país com elevados índices
de dívida. O que acha que foi este
primeiro ano de Governação da
equipa de Nyusi, tendo em conta o
Moçambique que herdou?
A dívida de Moçambique é uma
questão que o presidente Nyusi herdou
do governo anterior e ele está
a lidar com este aspecto. Quanto à
questão militar, temos de ver dos
dois lados para ver melhor o que está
a acontecer. Porém, lamentamos a
decisão de ambas as partes de terem
recorrido à violência como forma de
resolver o conflito. Eu apelei nos dias
passados a que o Governo e a Renamo
se engajassem num diálogo, todavia,
estou desapontado pelo facto de
a Renamo ter decidido não se engajar
nesse diálogo. Ao mesmo tempo
também estamos muito preocupados
com os ataques perpetrados contra
figuras de direcção da Renamo. Não
é uma boa coisa para a imagem de
Moçambique a nível internacional e
sabemos que todos os moçambicanos
não estão interessados em regressar
ao conflito. E saudamos o interesse
do presidente Nyusi em melhorar o
diálogo e um diálogo directo com o
senhor Dhlakama. Estaríamos muito
satisfeitos se antes de a Renamo
dar o próximo passo em relação à
governação das áreas identificadas,
existisse um encontro directo entre
o Presidente Nyusi e o Presidente
Dhlakama.
Uma brigada provincial da
RENAMO em Nampula encontra-se
em digressão pelos distritos daquela
província para se inteirar da situação
política, dominada pela perseguição
desenfreada protagonizada pela
Policia da República de Moçambique
aos seus quadros, membros e
simpatizantes.
Volvidos cerca de dois dias de
trabalho nos Distritos onde a situação
política é particularmente tensa,
nomeadamente: Ribáue, NacalaPorto,
Meconta, Monapo e Morrupula,
locais onde a perseguição policial tem
sido muito notória, tendo culminado
com as detenções arbitrárias, a
Chefe Provincial da Mobilização
criou uma brigada constituída por
três Deputadas da Assembleia da
República nomeadamente: Abiba
Abá; Gloria Salvador e Lúcia Xavier
Afate; bem como por José Leal - Chefe
Provincial de Organização.
Segundo apuramos, no dia 27 de
Janeiro de 2016, a brigada trabalhou
no distrito de Ribáue onde contactou
o Comando Distrital da PRM,
Procuradoria e Administração do
mesmo Distrito para inteirar-se da
situação, tendo sido informada que
os membros do Partido RENAMO
naquele Distrito estavam a empossar
o Administrador e o Régulo para o
Governo da RENAMO. Esta alegação
da polícia motivou a detenção no
dia 25 de Janeiro de 2016 de quatro
membros da RENAMO no Posto
Administrativo de lapala, localidade
de Mathara no povoado de Mope
na região do Régulo Mocona.
Todavia por falta de provas, após da
intervenção desta brigada, os detidos
foram Postos em liberdande. Eis os
membros detidos:
Abreu Cuela - Delegado da
Localidade; Daidoze Artur- Chefeda
Mobilização; Antonio
Acuie Avucula - chefe da Organização;
e Anastácio Muluco - Chefe do poder
Local.
A mesma acusação pesou
igualmente para a detenção em
Nacala- Porto de Gildo Rodrigues
Ernesto; Mek Mabira Guidion; e
Sulduane Abdulcadre, que igualmente
foram soltos após a intervenção
da mesma brigada por ausencia de
provas.
No distrito de Meconta, Camilo
Vasco Cavala - Chefe do poder local,
foi o unico acusado, pesando sobre
ele a mesma suposição de estar a
montar estruturas para o Governo da
RENAMO. Este quadro do partido da
Perdiz ainda permanece nas celas do
Comando da PRM, daquele Distrito
dada a ausência do Juiz para assinar a
guia de soltura.
Relativamente ao distrito de
Monapo a polícia da Republica de
Moçambique deteve no dia 30 de
Janeiro de 2016, pelas 10:00 horas
aos seguintes membros: Sandamela
Gosme Bazar - chefe de Mobirização
de Monapo-sede; Ramugy oscar
- Delegado do Bairro de Mucata,
acusados de estarem a inaugurar a
nova sede, içar a bandeiras do partido
RENAMO e colar panfletos.
E no passado dia 31 de Janeiro de
2016 pelas 17 a 18:00 horas foram
raptados em Morrupula os membros
da RENAMO que respondem pelos
seguintes nomes:
Daniel Casiel- Membro; - Mateus
Casse Lavo - Desmobilizado; -
Armando Daniel.- Membro; e
- Momade António – Membro,
desconhecendo-se até ao momento
as causas que motivaram o seu rapto,
mas sabe-se que estão nos calabouços
da PRM daquele Distrito.
Refira-se que estes actos estão a
acontecer um pouco por todo o país
e os raptos estão a ocorrer dia após
dia nos diversos pontos da República
de Moçambique nomeadamente nas
províncias do centro e norte.
SITUAÇÃO DE MARÍNGUE
Sobre o propalado rapto do membro da Frelimo em Maríngue e
posterior incêndio de sua casa pelos homens da RENAMO, o boletim
solicitou esclarecimento junto ao porta-voz deste partido António
Muchanga, que fez saber que este assunto resultou de desentendimento
havido entre alguns elementos que se pensava serem membro da
RENAMO que estavam a ser mobilizados para entregarem seus filhos
ao líder que na zona é conhecido como recrutador de populares que se
entregam ao governo em nome de guerrilheiros da RENAMO para se
beneficiarem do fundo da Paz.
Segundo Muchanga, tudo leva a crer que o líder local terá enganado
algumas famílias, não entregando o valor monetário vindo do Ministério
dos Combatentes.
“Lamentamos que o Primeiro Secretário-Provincial, ex-administrador
de Maringue apareça a destorcer esta realidade nos meios da
Comunicação social.” Disse.
Ainda o porta-voz da RENAMO fez saber que recebeu de Tete uma
informação de que elementos da Unidade de Intervenção Rápida
(UIR) dispararam a queira roupa contra um camionista que vinha
de Angónia (na zona
Água-boa, localidade
de Siambane) por ter
recusado dar refresco
aos polícias no posto
de controlo. Do tiroteio
resultou o ferimento do
referido motorista e das
vendedeiras de tomate que
iam no mesmo camião.
Editorial
CHEGOU A HORA DA FRELIMO
MOSTRAR A SUA VONTADE PELA PAZ
A Frelimo vai esta sexta-feira
a sessão extraordinária do seu
Comité Central para segundo o
que foi anunciado reestruturar o
secretariado. Esta sessão decorre
numa altura em que este partido
intensifica as suas acções visando
decapitar a RENAMO por um lado, e
por outro aumentam as expectativas
sobre a reabertura da janela do
diálogo sério depois que a Igreja
Católica e o Presidente sul-africano
aceitaram o pedido de mediar a
procura de uma solução política
para os moçambicanos. Embora se
tenha a certeza de que a Frelimo vai
nesta sessão continuar a ignorar os
apelos dos diferentes quadrantes
para o diálogo, a RENAMO, espera
que o bom censo prevaleça no seio
do partido dos camaradas, visando
mostrar quão está interessado pela
Paz, Democracia e a convivência
com os diferentes pensamentos e
ideológicas.
Esperamos que a Frelimo discuta
também o essencial da situação
política actual do país e procure
uma plataforma que conduza a uma
solução para os diferendos que o
opõe ao povo por via da RENAMO.
O presidente da Frelimo, Filipe
Nyusi já reconheceu no Parlamento
que não estava satisfeito com o
estado em que a Nação se encontra,
enumerando vários problemas sem
no entanto apresentar nenhuma
proposta de solução.
Esperamos que tal reconhecimento
seja também do próprio partido.
Queremos acreditar que neste
momento vivemos num país
dividido, com um governo ditatorial,
déspota e um Povo em aparente
silêncio cúmplice perante tudo
que nos tem sido imposto, embora
também em desespero e a viver na
incerteza.
Acreditamos na deposição das
armas e o avanço para um diálogo
sério e construtivo para o bemestar
dos moçambicanos.
A Igreja e muitos outros
intervenientes já manifestaram
o interesse de ajudar os
moçambicanos a encontrarem uma
plataforma justa e equilibrada para
a resolução de inúmeras diferenças
e problemas. Esperamos uma sessão
que trave as intentonas contra
a Paz e a Democracia. Estamos
atentos para perceber se realmente
o problema é do presidente ou de
todo o partido. Chegou o momento
que antecede o mês de Março para
Frelimo mostrar o seu interesse
pela pacificação do país e do bem-estar
dos moçambicanos.
Pelo contrário, continuaremos a
viver num país política, económica
e socialmente dividido e a beira da
desintegração.
RECORDAR É VIVER
“…Não nos arrogámos o sentimento de soberania nacional quando
milhares de moçambicanos morrem numa guerra injusta…”
Estas foram as palavras proferidas
pelo Deputado e Membro da Comissão
Permanente da Assembleia da República
Manuel Bissopo, na sessão dedicada
às informações do Governo e que teve
lugar no pretérito mês de Novembro de
2015.
Como é saudável recordarmos o que
as mentes sensatas produzem, assim
fazemos referência a esta intervenção
deste filho do povo que viria a ser ví-
tima das balas injustas da Polícia de
Moçambique a mando do governo mo-
çambicano.
Recuemos dois meses para nos lembrar
que nunca foi intenção da RENAMO
enveredar pela via da confrontação
armada, mas sim pelo diálogo construtivo
e inteligente entre filhos da mesma
pátria.
Eis as palavras do Deputado Manuel
Bissopo:
Minhas senhoras, Meus senhores,
A questão de crimes que chocam
violentamente a sociedade moçambicana
e a protecção de cidadãos
portadores de albinismo de facto preocupa
a sociedade moçambicana. Os
crimes violentos que nos últimos dias
têm assolado a nossa sociedade
são resultado de falta de políticas
sociais adequadas promovidas
pelo governo do dia. A exclusão
social, a corrupção e a falta de moral
institucional, são factores que de
forma sublime influenciam negativamente
o comportamento dos cidadãos.
Nos dias de hoje nas escolas e
ambientes de convívio não se priorizam
as raízes da tradição moçambicana.
O governo do dia rompeu com a
estrutura tradicional e instituiu estruturas
administrativas convenientes a
sua política de exclusão e arrogância.
Ficamos intrigados com a resposta
do Governo, secundada por alguns
deputados da Frelimo, segundo a
qual o Acordo Geral de Paz atribuiu
a responsabilidade da segurança pessoal
imediata dos seus mais altos dirigentes
à própria RENAMO, apenas
até às eleições de 1994.
Importa esclarecer aqui que o Acordo
Geral de Paz, que vigora em Mo-
çambique como lei nº 13/92, pelo seu
Protocolo V, Capítulo III, nº 8, reza:
• A RENAMO será responsável
pela segurança pessoal imediata dos
seus mais altos dirigentes. O Governo
da República de Moçambique concederá
estatuto policial aos elementos
da RENAMO encarregados de garantir
aquela segurança.
Claramente se verifica que é o governo
que não está a cumprir com a
lei. Até hoje, há mais de vinte anos,
a nenhum elemento da segurança da
RENAMO foi concedido o estatuto policial.
Portanto, juridicamente, o governo
está a agir fora da lei e de má
fé, ao tentar desarmar a segurança
da RENAMO sem cumprir com a sua
parte.
Fica à vista que o governo nunca
concedeu o estatuto policial à segurança
da RENAMO por falta de vontade
política, sentimento que até hoje
prevalece. Desafiamos o governo a
apresentar um único estatuto concedido
aos seguranças da RENAMO,
na letra e espírito do Acordo Geral de
Paz, e que tenha sido recusado pela
RENAMO. A culpa não é da RENAMO,
então!
A falta de vontade política da Frelimo
em aceitar a RENAMO no enquadramento
social moçambicano
revela-se mais uma vez no Acordo de
Cessação de Hostilidades Militares
de 5 de Setembro de 2014, agora lei
29/14 de 9 de Setembro.
Pelo seu Memorando de Entendimento,
a alínea h) determina:
• As equipes de peritos militares
de ambas as partes deverão apresentar
um documento que contenha
as questões relativas à integração
das forças residuais da RENAMO nas
Forças Armadas de Defesa de Mo-
çambique e da Polícia da República
de Moçambique e consequente enquadramento
da segurança da RENAMO.
A RENAMO cumpriu com a sua parte,
submetendo um documento como
modelo de integração das suas forças
residuais na FADM e na PRM. O Governo
não cumpriu. Não submeteu
à RENAMO nem a ninguém nenhum
documento a propor onde deveriam
ser colocados as forças residuais da
RENAMO e que funções iriam exercer,
em cumprimento do Acordo.
Estas constatações de incumprimento
dos acordos escritos e sob
auspícios de mediadores nacionais,
internacionais, incluindo as Nações
Unidas, leva-nos à conclusão que o
Governo da Frelimo quer apenas desarmar
a RENAMO porque este é o
único partido que tem capacidade
para impor o cumprimento da Constituição,
da lei e das regras de democracia
em Moçambique, algo o que a
Frelimo não tolera.
Foi nesta senda de não respeito pelas
leis que nos dias 12 e 25 de Setembro
a comitiva de Sua Excia Presidente
Afonso Dhlakama foi barbaramente
atacada na Província de Manica pelas
forças de defesa e segurança.
Quais foram as motivações que
ditaram a mobilização de tanto armamento
para assassinar um Líder
político que prosseguia livre e publicamente
os objectivos, direito que lhe
é assistido através da alínea a), do
artigo 14, da Lei nº7/91, de 23 de Janeiro,
Lei dos Partidos Políticos.
Como a Frelimo e seu presidente
não tivessem conseguido o seu objectivo
de assassinar Sua Excelência
Presidente Dhlakama, insatisfeita, e
depois de uma saída testemunhada
pelos mediadores nacionais, sociedade
Civil e jornalistas com a promessa
de que nada aconteceria, cercaram a
sua residência na Beira, no dia 09 de
Outubro transacto.
Ao nosso ver quer os ataques, quer o
cerco significam um acto de cobardia
da última estirpe, significa um golpe
baixo, indigno para quem se propõe a
cumprir as leis e a constituição.
Por isso é nossa visão que a Frelimo
não tem nem capacidade, nem moral
para desarmar à força, esta Resistência
Nacional Moçambicana que sobrevive
a todos os tipos de ataques a
mais de 38 anos.
Minhas senhoras, Meus senhores,
Os ataques e o cerco denotam terrorismo
do Estado que tem como actores
principais altas patentes pertencentes
ao governo do dia.
No dia 21 de Outubro do presente
ano, por ocasião da abertura da II
Sessão da Assembleia da República,
a Senhora Presidente da Assembleia
da República lamentava os acontecimentos
tristes, as tragédias que
ocorreram na China, em Meca, no
Mediterrâneo, na Índia e no Chile esquecendo-se
completamente do sangue
derramado e o luto semeado em
Vanduzi, e em Zimpinga no dia 25 de
Setembro.
Senhora presidente,
Acha que as vidas de moçambicanos
perecidos neste ataque não são
dignas de menção?
O sangue derramado por estes
compatriotas não tem a mesma cor
dos chineses, indianos e chilenos?
Que sentido de estado e auto estima
são esses?
Repetidamente temos denunciado
a descriminação em função da opção
política, aqui está um exemplo claro,
de que para a Frelimo, a vida de um
membro da RENAMO ou de um membro
das forças de defesa e segurança
que morre em confronto com a RENAMO
não tem valor, pois trata-se de
um cidadão da 2ª.
Relativamente à acusação de que
a RENAMO não reconhece o governo
democraticamente eleito, recordemos
que durante o processo de elei-
ções de 2014, não se realizou o apuramento
geral nos termos dos artigos
118 e 119 da lei 12/2014,
de 23 de Abril, donde resultaria a proclamação
dos vencedores. Esta falta
de realização do apuramento geral,
nos termos da lei, é confirmado pelo
relatório da CNE publicado no Boletim
da República nº 38, 1ª Série, de 14 de
Maio de 2015, através da Resolução
nº 2/CNE/2015, de 14 de Maio. Foi
de facto com grande relutância que
o Conselho Constitucional validou e
proclamou o resultado tão flagrantemente
fabricado, sem actas e editais
que provem os resultados exibidos.
Assim, não se realizando o apuramento
nacional, o processo de elei-
ções não ficou completo e então não
pode haver resultado, nem pode haver
vencedores. Isto significa que a
Comissão Nacional de Eleições violou
a lei eleitoral e que o Conselho Constitucional
validou uma ilegalidade
praticada pela CNE ao proclamar os
resultados.
A Missão de Observação Eleitoral
da União Europeia considerou terem
ficado aquém dos compromissos estabelecidos
pela legislação eleitoral
moçambicana e pelas convenções internacionais
subscritas pelo País.
A missão adianta ainda que uma
série de irregularidades, tentativas de
manipulação e fabricação de resultados
e restrições de movimento e acesso
à informação por parte dos observadores
e representantes de partidos
políticos, muitos destes reconhecidos
publicamente pela CNE, prejudicaram
a credibilidade do processo de apuramento
de resultados.
A verdade eleitoral manda dizer
que o nosso Partido, a Resistência
Nacional Moçambicana e Sua Excia
Presidente Afonso Macacho Marceta
Dhlakama ganharam as eleições.
Perante esta situação, a RENAMO
como parte no processo que saiu lesada
por violação da lei, não é obrigada
a reconhecer este governo e a
maioria no parlamento, recorrendo-
-se para tal ao abrigo do artigo 80 da
Constituição, que versa sobre o Direito
a Resistência, e que passo a citar:
• O Cidadão tem o direito de não
acatar ordens ilegais ou que ofendam
os seus direitos, liberdades e garantias,
fim de citação.
Minhas Senhoras e meus senhores,
Estas violações resultaram numa
maioria parlamentar ilegal, aqui presente
na forma de bancada da Frelimo
e num governo ilegal formado
por uma pessoa que não ganhou as
eleições mas que se auto-intitula de
Presidente da República.
Agora, a RENAMO e o Presidente
Dhlakama, que tudo fizeram para
implantar uma democracia multipartidária,
devem aceitar vontades desmedidas
de um grupo de pessoas que
assaltaram o poder porque julgam
ter força?
Será que esse grupo tem força para
matar todo o Povo Moçambicano?
Têm balas para exterminar toda a população?
Não serão actos de suicídio
insistirem manter-se no poder à força
contra a vontade popular?
Minhas Senhoras e meus senhores
A Frelimo não quer a reconciliação
dos moçambicanos, por ser de natureza
totalitária, que desrespeita os
direitos humanos e as leis e que pensa
ser dona da terra e do povo, seu
escravo, alegadamente porque levou
o País à independência.
Para todos nós, no entanto, tem
que ficar claro que a independência
de Moçambique foi uma conquista
de todo o povo, em que todos participaram
duma maneira ou doutra, e
que esta independência não pertence
apenas aos chefes da Frelimo.
Este grupo ilegalmente no poder
preocupa-se principalmente em pilhar
os recursos naturais e construí-
dos de Moçambique e seu povo, para
poder enriquecer desmedidamente,
sem olhar para o sofrimento e misé-
ria das populações. Não obedecem
às leis para poderem pilhar o Estado,
como são exemplos as empresas
participadas pelo Estado, que são
organizações para drenar o dinheiro
público para os bolsos dos dirigentes
da Frelimo e seus familiares e amigos.
Perante todos estas violações das
leis, a RENAMO, como partido político
que tem consciência das realidades
políticas, económicas e sociais no
País, não se demite das suas responsabilidades.
Temos a responsabilidade
de fazer o País crescer de modo
sustentável e em paz, com o seu povo
a progredir no caminho do desenvolvimento
com qualidade de vida.
O nosso Presidente, Sua Excia Afonso
Dhlakama ensina-nos que qualquer
conflito sempre termina na mesa
do diálogo, por isso, queremos aqui e
agora manifestar a sua disponibilidade
para esse desafio de modo a devolver
a tranquilidade ao nosso País.
Todavia, devido ao alto nível de desconfiança
prevalecente, sobretudo a
partir do dia 09 de Outubro para a
RENAMO a saída para esta crise político-militar
é encontrar um ambiente
de diálogo em que o formato seja
composto por actores sérios, idóneos,
comprometidos com a paz, independentes
do regime, sejam nacionais e
sobretudo internacionais
Não nos arrogámos o sentimento
de soberania nacional quando milhares
de moçambicanos morrem numa
guerra injusta.
Não nos sentimos envergonhados
de envolver outros actores na solução
dos caminhos da paz, porque há um
ditado que diz “ninguém é juiz de si
próprio.”
Infelizmente, há compatriotas que
não aceitam a participação dos mediadores
no diálogo que visa o regresso
da paz e da convivência democrática
entre os moçambicanos.
Não há dúvidas, esses compatriotas
pretendem generalizar a tensão para
ter um caminho aberto para o enriquecimento
ilícito, não querem mediadores
para voltar a agir de forma
cobarde como no dia 09 de Outubro
de 2015.
É nossa visão que a paz e democracia
só voltarão com o diálogo desde
que seja sério, franco, aberto e orientado
para a Partilha de puder como o
ponto mínimo de equilíbrio depois do
escândalo eleitoral, não venham aos
tiros, porque violência, gera violência.
Muito obrigado pela atenção.
Na sequência do atentado contra a
vida do Secretario Geral do Partido RENAMO,
Deputado e Membro da Comissão
Permanete da Assembleia da Republica,
Manuel Zeca Bissopo, a Chefe da
Bancada Parlamentar da Frelimo, pronunciou-se
perante os escribas do Jornal
Canal de Moçambique, dizendo que
o seu colega da Comissão Permantente
era um cidadão qualquer que não devia
ser visto como Deputado.
Ora, o senhor deputado Manuel Bissopo
é igual sim a todo e qualquer cidadão
porque ele é ser humano, tem cabeça,
tronco e membros, respira, tem família e
tem direito à vida como qualquer outro
Cidadão Nacional segundo o artigo 40 da
Constituição da República de Moçambique
(CRM).
Contudo, devido às funções que ele
desempenha tanto no Partido RENAMO
assim como na Assembleia da República
(AR) as suas responsabilidades e os seus
direitos são relativamente acrescidos
como forma de facilitar o exercício das
suas funções como atestam os artigos
173, 174, 176 e 177, todos da CRM.
O deputado Manuel Zeca Bissopo que
exerce ao mesmo tempo as funções de
secretário-geral da RENAMO faz parte do
Órgão que representa a Soberania do Estado,
o Órgão Legislativo por excelência
que é a AR. Ele é membro da Comissão
Permanente, o Órgão máximo de coordenação
das actividades da AR. Portanto,
ao atacar o deputado Manuel Zeca Bissopo,
Membro da Comissão Permanente,
a senhora Talapa chefe da bancada da
Frelimo, não está longe de atacar a Soberania
do Estado. Dito isto, como é que alguém
pode dizer que o atentado sofrido
por este parlamentar foi simplesmente
contra a vida de um cidadão qualquer,
como se o facto de alguém ser um cidadão
comum fosse motivo para em caso
de sofrer atentado contra a sua vida não
tivesse direito a protecção oficial. E mesmo
se fosse, um cidadão qualquer seria
licito sofrer atentado contra a sua vida? É
este o pensamento da Chefe da Bancada
da Frelimo? Aliás, só pode ser a posição
oficial de um colectivo chamado Frelimo,
que tendo falhado o objectivo de assassinar
Bissopo, depois que falharam por
tantas vezes abater o Presidente Dhlakama
vociferam desesperados. Perderam a
cabeça, estão nervosos.
Outro pronunciamento bárbaro da
Chefe da Bancada da Frelimo é o afirmar
que no contexto da tentativa frustrada
de assassinato do deputado Manuel Bissopo
deve ser visto como tendo acontecido
para um cidadão qualquer e não
como a um Deputado. Este é mais um
erro gravíssimo de alguém que está a
dirigir uma bancada parlamentar há dois
mandatos.
Isto só pode ser dito por alguém que
nunca leu a CRM nem o Regimento da
Assembleia da República (RAR). Porque
quem já deu uma leve passagem de
olhos por estes instrumentos sabe que
os artigos 171 e 185 da CRM conjugados
com os artigos 6 e 9 da RAR perceberá
que determinam que o mandado do Deputado
coincide com a duração da legislatura
e que esta legislatura tem a dura-
ção de 5 anos que inicia com a primeira
sessão da AR, após as eleições e termina
com a primeira sessão da nova assembleia
eleita.
Isto é o mesmo que dizer que o mandato
do Deputado começa com a sua tomada
de assento depois da sua eleição
e termina com a tomada de assento dos
outros deputados depois das eleições
seguintes. Portanto perguntamos, em
que momento o deputado e Membro da
Comissao Permanente Manuel Bissopo
cessou o mandato, para que o atentado
contra si não seja visto como um crime
contra o Estado? Será que a sua condição
de deputado foi suspensa pelo facto de
ele não estar na Cidade de Maputo?
Vem ainda a chefe da bancada da Frelimo
dizer que não se pode fazer um
aproveitamento político deste crime.
Ora, pelo pouco que se saiba, quando
se investiga um crime, deve se procurar
os antecedentes imediatos do mesmo.
Deste modo, o secretário-geral da RENAMO
Manuel Bissopo, acabava de dar
uma conferência de imprensa na qual
denunciava os sucessivos raptos e assassinatos
de quadros provinciais, distritais,
de localidade e de membros e
simpatizantes do Partido RENAMO pelo
país adentro assim como o impedimento
da realização dos trabalhos políticos
protagonizado pelas Forças de Defesa e
Segurança, caracterizado pelo cerco às
Delegações do Partido RENAMO como
aconteceu nos dias 29 de Dezembro de
2015 na cidade de Maputo. Durante este
acto, o local onde decorria a conferência
de imprensa, foi inesperada e inexplicavelemete
cercada pelas FDS fortemente
armadas.
Foi na saída deste local que a sua vida
foi atentada. Portanto, o antecedente
imediato foi a conferência de imprensa
que teve um cunho político, uma denúncia
as acções das FDS a mando do partido
Frelimo. Logo, este atentado tem
tudo para ser considerado como originado
por motivações políticas, se levarmos
em linha de conta as denúncias apontando
para o sofrimento atroz dos moçambicanos
que se identificam com o Partido
RENAMO.
É imperioso, que a Polícia veja as denúncias
feitas e investigue os denunciados
e faça justiça com a rapidez devida,
tendo em conta o facto de se ter atentado
contra a vida de um membro de um
Órgão de Soberania.
Enquanto não nos trouxerem dados
concretos e credíveis, este crime será
sempre visto como tendo motivações
políticas com o intuíto de calar a oposição e em especial o Partido RENAMO.
Será sempre visto como uma forma de
eliminar a democracia multipartidária e
a liberdade de expressão, porque esta é
claramente uma demonstração de que
vivemos uma ditadura.
Ao Senhor Manuel Zeca Bissopo, Secretário-geral
do Parido RENAMO, desejamos-lhe
rápidas melhoras e que volte
em breve ao convívio dos seus familiares,
amigos, colegas e do Povo Moçambicano
em geral. Embora reconheçamos que a
vida não será mais a mesma, uma coisa é
certa, o povo sabe que sofreu por causa
nobre, da democracia, liberdade e justiça.
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