segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Presidente moçambicano vai ter de escolher entre crise económica e crise militar, avisa politólogo


O analista moçambicano José Jaime Macuane considera que o Presidente de Moçambique vai ser confrontado em 2016 com uma escolha entre a crise económica e a crise militar, defendendo que dificilmente conseguirá gerir as duas ao mesmo tempo.
O docente de Ciência Política e investigador da Universidade Eduardo Mondlane espera, em entrevista à Lusa, que 2016 seja "um ano com um alto nível de incerteza", atendendo ao choque externo que a sua economia enfrenta e à ameaça do líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, de tomar o poder nas seis províncias no centro e norte do país onde reivindica vitória eleitoral, após o que alega ter sido uma fraude nas eleições gerais de 2014.
"Como decisão estratégica, o chefe de Estado precisa ver qual a crise que consegue gerir a curto-prazo", assinala Macuane, lembrando que Moçambique tem pouco controlo sobre o actual choque externo, que, associado a problemas estruturais da sua economia, não faz prever resultados positivos tão cedo.
Nesse sentido, "a estratégia mais óbvia seria concentrar-se na questão militar", observa o académico, até porque se tornaria mais fácil gerir depois a crise económica, traduzida por forte desvalorização do metical face ao dólar, com impacto nos preços das importações, disponibilidade de divisas e inflação.


Perante o "ajuste de contas" que Dhlakama parece insinuar para 2016, Macuane não se arrisca a prever o comportamento da Renamo e sobretudo do seu líder, que já fez outras ameaças no passado, mas reconhece que "a possibilidade de um confronto militar é mais alta", mesmo depois de o chefe de Estado, Filipe Nyusi, ter parado o desamamento compulsivo da oposição.
Apesar disso, "esgotou-se a possibilidade de um acordo ou mudança institucional que possa albergar o que a Renamo exige", afirmou Macuane, recordando que "ninguém podia, por exemplo, prever que ia haver uma acção militar contra o seu líder e desarmá-lo da forma como foi feito na Beira".
Desde o início do seu mandato, em Janeiro de 2015, Nyusi promete envidar todos os esforços para resolver o impasse político, num discurso mais inclusivo por comparação com o seu antecessor.
"Mas pelos vistos isso não aconteceu", refere o académico, questionando a capacidade de liderança do chefe de Estado.
Os incidentes envolvendo a comitiva de Dhlakama em Setembro em Manica e a operação de desarmamento, a 9 de Outubro na Beira, da guarda do líder da oposição (que não é visto em público desde então) faz supor, segundo Macuane, "um poder paralelo" e a ideia de que o Presidente "não está a controlar" as forças de defesa e segurança.
"O ponto crítico está na liderança e como [Nyusi] conduz os processos políticos e as forças [de defesa e segurança] se alinham com a perspectiva do chefe do Estado, refere o comentador político, sustentando que, neste momento, "parece haver um certo desalinhamento".
José Jaime Macuane sugere ainda que não se olhe para a crise entre Governo e Renamo como uma questão homogénea, argumentando que outro ponto crítico está, novamente, na capacidade de liderança de Nyusi no seu partido, onde também parece faltar consenso em relação à abordagem a ter com a oposição.
"O grande desafio é que o chefe de Estado consiga da sua base de apoio concessões daqueles que podem ter uma visão divergente em relação à paz e só aí estará em condições de ver a latitude que tem para negociar com a Renamo", defendeu.
Nyusi chegou à presidência da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) em Março mas herdou os principais órgãos do partido maioritário da direcção anterior, chefiada pelo ex-Presidente Armando Guebuza.
"Tudo leva a crer que ainda existem forças dentro da Frelimo que constituem um contrapeso muito importante para ele [Nyusi]", assinala o académico, além de a própria base regional de apoio do actual Presidente, assente na província de Cabo Delgado e suas figuras histórias da luta de libertação, também terem, elas próprias, possivelmente outra perspectiva na gestão de assuntos como a paz.
Lusa – 20.12.2015

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