segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Banco central não sabe o que fazer sobre crise cambial de Moçambique - Castel-Branco

O economista Carlos Castel-Branco considerou hoje que o banco central de Moçambique não sabe o que fazer para inverter a depreciação do metical, defendendo que é a sociedade civil que tem de forçar novas políticas económicas.
"O banco central não sabe o que fazer, não está a tocar nas questões de fundo, e está apenas a tomar algumas medidas clássicas para conter o valor da queda e a fuga de capitais, mas os mecanismos que estão a ser usados incidem apenas sobre as coisas pequenas", disse o economista.
Em entrevista à Lusa em Lisboa, Carlos Castel-Branco criticou o governador do banco central de Moçambique, Ernesto Gove, pela incapacidade em atacar as causas de fundo da depreciação da moeda local, que desvalorizou de 38 meticais por dólar em julho para 70 meticais em dezembro e chegou a cair quase 30% em apenas duas semanas.
"Há uns dias perguntaram ao governador o que fazer, e ele respondeu que deveríamos criar uma lista negativa de importações, ou seja, as importações que não são prioritárias e que devíamos deixar de comprar, exemplificando com a quinquilharia e o fogo-de-artifício tradicional nesta épocas do ano", disse o economista.
Ora isso, continuou, "não perturba a balança de pagamentos de Moçambique, o que perturba são os mega-investimentos, alguns dos quais não têm qualquer valor social, como a ponte de Catemba, o aeroporto de Nacala e a Ematum, que em conjunto representam um terço da dívida externa" do país.
O tema da dívida pública e a sua relação com a crise cambial moçambicana, diz o coordenador do Grupo de investigação sobre Economia e Desenvolvimento no Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique na entrevista à Lusa, não é novo: "Durante a administração (do ex-Presidente Armando) Guebuza foi recusado e quem falou do assunto foi parar ao tribunal", diz o académico, referindo-se ao processo movido contra si pela Procuradoria-Geral da República por causa de um texto muito crítico do governo publicado em dois jornais.
"Em setembro do ano passado, fiz uma série de intervenções em que apelava a que a questão da dívida pública entrasse no debate de campanha eleitoral e que os candidatos se posicionassem sobre a questão, sobre como gerir o problema, mas a discussão foi recusada por todos os partidos, com o argumento de que a dívida pública é assunto para intelectuais e não afeta a vida das pessoas", lamenta.


O episódio da recusa de debate serve de mote para Castel-Branco lamentar a falta de consistência das políticas públicas seguidas no país há anos: "Se o metical desvaloriza 28% em duas semanas, o Governo não vai dizer que a resposta é renegociar os contratos [de empréstimos internacionais e de dívida pública], o metical está a explodir nas mãos, é cortar cartões de crédito, aumentar taxas diretoras do banco central", diz.
Em Moçambique, o que o Governo está a fazer é "um plano de austeridade que não se chama plano de austeridade, que ataca as possibilidades da economia investir, sobretudo de investir de forma diversificada pelas Pequenas e Médias Empresas (PME), as mais afetadas, porque as grandes empresas não dependem da economia de Moçambique, só estão presentes na economia de Moçambique e só dependem dos recursos", acrescenta.
Com as medidas que estão a ser tomadas, "o banco central só vai piorar o ambiente para as PME, tornando-as mais inviáveis ainda", diz Carlos Castel-Branco, concluindo partilhar das preocupações dos empresários, que dizem que "cortar importações, subir taxas diretoras, aumentar as taxas de reservas dos bancos são coisas que não promovem a produção, só protegem o sistema financeiro".
MBA // EL
Lusa – 17.12.2015

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