A TALHE DE FOICE
Por Machado da Graça
Como tem acontecido desde que Filipe Nyusi foi colocado onde está, a perspectiva de mais um discurso deixou em mim alguma expectativa de que ele já fosse capaz de sacudir a água do capote e assumir com determinação as suas funções. Obviamente as minhas expectativas foram completamente frustradas.
A única diferença em relação ao anterior “filho mais querido da Nação” foi que o actual “filho mais querido da Nação” não acabou o seu discurso garantindo que o estado da Nação é bom. Pelo contrário declarou-se insatisfeito com os resultados conseguidos. Tudo o mais foi igualzinho.
De resto, uma coisa que me impressiona há anos é o facto de um partido que se apresenta como “a força da mudança” conseguir não mudar coisíssima nenhuma. É obra!
Todo o resto do discurso foi o desfilar de todas as realizações positivas do Governo e o escamotear de todos os seus fracassos.
Referências à dívida externa insustentável? Nenhuma! À dívida criminosa da EMATUM? Ainda menos! Recordar a “contribuição para a Paz” que foram as emboscadas a
Dhlakama? Nem pensar! Referir a participação policial nos raptos, na venda de partes do corpo de albinos, na caça furtiva, no roubo de combustível ou em variados assassinatos? Nada esteve mais distante das palavras de Nyusi.
Como sempre, o diálogo foi indicado como o caminho para a Paz. Só não foi explicado se favorece o diálogo o facto de os deputados do partido Frelimo chumbarem sistemática e liminarmente todas as propostas vindas das bancadas da oposição. E não esqueçamos que Filipe Nyusi é, pelo menos teoricamente, o Presidente do partido Frelimo.
Costuma-se dizer que é preciso que alguma coisa mude para tudo continuar na mesma. Neste discurso mudaram uns pouquinhos parágrafos no princípio. O resto...
Particularmente chocante a forma totalmente lambe-botas como a Presidente da Assembleia da República tratou Filipe Nyusi, assinalando como todos os deputados estavam honradíssimos com a presença dele no Parlamento.
Honra imediatamente desmentida quando umas boas dezenas de deputados abandonaram a sala às primeiras palavras do orador.
Diz-se também que quem não aprende com os erros cometidos está condenado a repeti-los. Só que os moçambicanos parecem condenados a ver a banda passar e a terem que pagar as respectivas despesas.
SAVANA – 18.12.2015
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