sexta-feira, 20 de novembro de 2015
INSS a arder
A empresa JOMAV, cujo dono é o Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, apurou o DC junto de uma fonte do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), estará em falta com mais de 100 milhões de Francos CFA, fruto dos descontos cobrados aos seus funcionários e trabalhadores. A dívida, ainda segundo a mesma fonte, "tem vindo a acumular durante anos a fio sem que haja qualquer solução."
A fonte do DC no INSS revelou ainda ao DC que os documentos sobre a dívida da empresa "simplesmente desapareceram" do Instituto. "A empresa nunca honrou os seus compromissos", garante a mesma fonte que revelou ainda as dificuldade dos trabalhadores da empresa JOMAV em verem resolvidos os seus problemas: "Há muitos trabalhadores, uns na reforma, outros no activo, que pedem subsídios e o INSS não pode pagar porque não recebeu da empresa."
Esta situação levou a que muitos deixassem de recorrer ao INSS para exigir os seus direitos. Na situação oposta encontram-se "as ONG e quase todas as grandes empresas estrangeiras, que cumprem com as suas obrigações." Um exemplo? Os Médicos Sem Fronteiras cumprem religiosamente.
No que toca ainda às ONG e a essas empresas "não tem havido problemas" mas reconhece, envergonhado, dizendo haver dois pesos e duas medidas. "Se estas empresas ou organizações falharem um mês que seja, são logo multadas." AAS
TERRORISMO: Sadjó Turé, o último jihadista português a morrer na Síria
Fonte: Revista SÁBADO
Autor: Nuno Tiago Pinto
É a mais recente baixa entre o grupo de jihadistas portugueses que combatem na Síria. Sadjo Turé, 36 anos, terá sido vítima de um tiroteio com as tropas de Bashar Al-Assad. No entanto, ao que a SÁBADO conseguiu apurar, aquele que foi um dos últimos portugueses a juntarem-se ao auto-proclamado Estado Islâmico, na Síria já terá morrido há algum tempo. "É verdade, mas já aconteceu há alguns meses", garantiu à SÁBADO uma fonte conhecedora do processo. A notícia da morte foi dada esta sexta-feira pelo Diário de Notícias.
Nascido a 24 de Dezembro de 1979 na Guiné Bissau, Sadjo chegou ainda muito novo para Portugal. O seu pai foi fuzileiro no exército português e, alguns anos após a independência, mudou-se com a família para a Amadora. Sadjo cresceu na linha de Sintra. Frequentou a escola Stuart Carvalhais e, em 1992, formou com três amigos de infância o grupo de hip-hop Greguz du Shabba. Respondia pelo nome de Magnetic e era b.boy [breakdancer]. Alguns anos depois, Celso e Edgar da Costa (na foto), quatro e sete anos mais novos, respectivamente, juntaram-se à banda (ver a edição desta semana da SÁBADO).
Entre 2005 e 2006 mudou-se para Londres, onde foi tirar o curso de engenharia informática. Tinha 27 anos. Instalou-se num apartamento em Creighton Road, na Zona Norte da capital britânica, num edifício ocupado maioritariamente por emigrantes. Depois mudou-se para o bairro de Leyton, onde ocupou o apartamento 34 de uma torre situada a meio caminho entre as residências de Nero Saraiva - outro dos jihadistas portugueses - e dos irmãos Rodrigues da Costa.
De todos, Sadjo era o único que já era muçulmano. Em Londres, onde existe uma grande comunidade, aproximou-se mais do Islão. Um amigo que viveu com ele na mesma casa contou à SÁBADO que a determinada altura ele começou a levar a religião muito a sério. "No início ele só não bebia. Mas depois passava o dia com os outros a conversar e a ler o Corão. Também tomava conta de uma loja de roupa que era de outro muçulmano. Eles são muito unidos. Ajudam-se em tudo o que precisam e até financeiramente", conta.
Em 2012, Sadjo (de quem não se conhecem fotografias) terá ido com Nero Saraiva e os irmãos Rodrigues da Costa para a Turquia. Aí, atravessaram a fronteira com a Síria. Dos quatro, só Nero Saraiva ficou na região. Os restantes regressaram à Europa. Celso e Edgar vieram nesse final de ano para Lisboa. Sadjo ficou em Londres. Não sabiam que nessa altura já estavam a ser investigados pela polícia britânica devido ao envolvimento no rapto dos jornalistas John Cantlie e Jeroen Oerlemans. Os dois repórteres tinham sido sequestrados na Síria a 17 de Julho de 2012 e mantidos em cativeiro durante nove dias até conseguirem escapar e regressar aos seus países. Em Londres, Cantlie disse aos investigadores que a maioria dos raptores eram estrangeiros e que vários tinham sotaque londrino. Através dos registos das viagens, as autoridades descobriram então que o grupo de portugueses tinha estado na Síria. Nessa altura, Celso e Edgar já estavam em Portugal. Mas Sadjo continuava em Londres - e a preparar um regresso à Síria.
A 9 de Janeiro de 2013, uma quarta-feira, Sadjo deixou o apartamento onde vivia no bairro de Leyton, em Londres, e fez o percurso de mais de uma hora que o levou ao aeroporto de Gatwick, nos arredores da capital britânica. Levava com ele o bilhete de um voo com destino a Damasco, a capital da Síria. No entanto, antes de embarcar no avião, o português foi abordado por agentes da Metropolitan Police da Scotland Yard por suspeitas de envolvimento no rapto de John Cantlie.
Na época, um porta-voz da polícia metropolitana afirmou que a detenção fazia parte de "uma investigação às viagens para a Síria em apoio de alegadas actividades terroristas". Mas o envolvimento do português nunca ficou claro e a sua identidade foi mantida em segredo. Foi identificado apenas como um "português" de 33 anos. Mas há alguns meses a SÁBADO confirmou a sua identidade junto das autoridades britânicas e portuguesas.
Apesar das buscas ao apartamento onde vivia, foi libertado sem acusação após uma semana de detenção. Durante o ano seguinte continuou a viver em Londres e constou até dos cadernos eleitorais britânicos. Só deixou de fazer parte das listas porque no início de 2014 conseguiu o objectivo: juntar-se à jihad na Síria, onde viria a morrer, sob o nome de Abdulkareem Andalus.
Será a quinta vitima entre os jihadistas portugueses. O primeiro a morrer foi Joni Miguel Parente, que em Maio de 2014 realizou um atentado suicida no Iraque. O segundo foi Sandro Monteiro, também ele originário da linha de Sintra e que, em Outubro do mesmo ano terá morrido vítima de um bombardeamento da coligação internacional em Kobane. Já em Janeiro deste ano, foi a vez de Micael Batista ser atingido na mesma cidade por um míssil. Há poucos meses foi a vez de Luís Almeida morrer na Síria. Houve ainda uma outra morte nunca confirmada: a de Abu Juwayria al-Portughali, apresentado como um "comandante português" do Estado Islâmico, mas sobre o qual as autoridades lusas não têm informações.
Apesar da notícia da sua morte, as autoridades portuguesas deverão manter activo o seu mandado de captura internacional, tal como fizeram no caso de Sandro Monteiro: o objectivo é impedir que o seu passaporte possa ser usado por outros jihadistas para entrar na União Europeia. Existem também mandados de captura contra, pelo menos, Nero Saraiva, Edgar e Celso Rogrigues da Costa e Fábio Poças. A investigação está a cargo do Departamento Central de Investigação e Acção Penal e da Unidade Nacional de Contra Terroristo da Polícia Judiciária, com a colaboração do Serviço de Informações e Segurança.
ECOMIB: União Africana aplaude continuação de força de estabilização na Guiné-Bissau
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana saudou hoje a prorrogação do mandato da força militar e policial Ecomib na Guiné-Bissau e com o apoio financeiro da União Europeia (UE) para a missão, anunciou em comunicado.
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) com vista a prorrogar o mandato da Ecomib até junho de 2016 (...) e igualmente a decisão da União Europeia de contribuir financeiramente para esta missão", refere-se no documento.
A Ecomib é uma força policial e militar de cerca de 500 homens dos Estados da África Ocidental, estacionada na Guiné-Bissau desde o golpe de estado de abril de 2012, para estabilização do país.
Dada a instabilidade política no país, os parceiros internacionais têm optado por manter o efetivo no país, mas a CEDEAO já tinha pedido que outros parceiros internacionais apoiassem a ação.
O comunicado de hoje surge depois de o Conselho de Paz e Segurança da UA se ter reunido a 10 de novembro para debater a situação da Guiné-Bissau.
Aquele órgão classificou como positivo o desfecho da crise política que eclodiu em Bissau, depois de o Presidente da República ter demitido o Governo em agosto.
O comunicado apela ainda à "estreita colaboração" dos políticos da Guiné-Bissau para conseguirem encontrar soluções para seis desafios que o país enfrenta.
"A reconciliação nacional e a boa governação, por um lado, a gestão transparente dos recursos naturais, o respeito pelos direitos humanos" e "a luta contra a impunidade e o tráfico de droga" são os quatro pontos que encabeçam a lista elencada pelo conselho.
Aquele órgão da UA pede ainda entendimentos sobre "a reforma do setor de defesa e segurança" e acerca do "desenvolvimento económico do país", tudo com vista "a garantir, a longo termo, a estabilidade e o bem-estar da população".
NOTÍCIA DC/EXPULSÃO e SUSPENSÕES: Baciro Dja foi expulso do PAIGC e outros três apanharam suspensão de 4 anos. São eles Aristides Ocante da Silva, Rui Dia de Sousa e Nuno Respicio. AAS
Para a semana a telenovela continua com mais castigos...
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
PM recebeu embaixador do Reino de Marrocos
O primeiro-ministro, Carlos Correia, manteve hoje um encontro no seu gabinete com o Embaixador do Reino de Marrocos acreditado em Bissau.
A ocasião, serviu para Taleb Barrada, felicitar, encorajar o chefe do governo pela sua designação ao cargo de Primeiro-ministro.
Também, as duas personalidades passaram em revista as relações de cooperações existentes, entre os dois países, particularmente os acordos rubricados, aquando da visita do Rei marroquino ao país, no mês de Maio, último.
Tendo as respectivas vontades manifestado o interesse em implementar o mais rápido os referidos acordos e para o qual já encontra permanente em Bissau um encarregado de negócios indigitado, El Alaoui. O encontro foi assistido pelo conselheiro para área da defesa e segurança, Luís Melo.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
TERRORISMO: Guiné-Bissau homenageia vítimas do terror em França
“Movimento 3 Minutos de Reflexão”
HOMENAGEM AS VITIMAS DO TERRORISMO EM PARIS
MANIFESTAÇÃO DE SOLADARIEDADE PARA COM O POVO FRANCÊS
Dia 19 novembro,
na Praça Mártires de Pindjiguiti
PROGRAMA
08H30: Concentração do Público;
08H30 – 09H30: Música clássica francesa, intercalada com música
guineense;
09h30 – Hino da Guiné-Bissau e da França;
09h40- 09H55 Intervenções:
- Presidente da Câmara Municipal de Bissau;
- Representante da Comissão;
- Representante da Igreja Católica
- Representante da Comunidade Muçulmana
- Representante da CPLP;
- Representante da CEDEAO
- Representante da UA;
- Embaixador de França
10h59 – 1 minuto de silêncio
11h00 – “3 minutos de reflexão”
2,1 milhões de euros da ONU para as áreas protegidas na Guiné-Bissau
O Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau vai receber um apoio de 2,1 milhões de euros através das Nações Unidas para reforçar a atividade nos próximos quatro anos, anunciou hoje a instituição.
A verba vai apoiar a conservação de 950 mil hectares de "habitats críticos" através da "sustentabilidade financeira a longo prazo da rede nacional de áreas protegidas da Guiné-Bissau", anunciou o IBAP em comunicado.
O instituto espera que as zonas vigiadas onde a natureza é de facto protegida chegue a 26% do território em 2016.
O apoio vai ser concedido através do Fundo Global para o Ambiente (GEF, na sigla inglesa) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O IBAP espera "consolidar os resultados já alcançados pelo Governo no domínio da conservação da biodiversidade na Guiné-Bissau", eleita como uma áreas prioritárias para a atração de investimento e promoção de desenvolvimento do país.
Ao nível das ações detalhadas, o instituto prevê usar o financiamento para "assegurar o pleno funcionamento e capitalização da Fundação BioGuiné", um fundo que envolva parceiros para financiamento das ações de conservação.
Prevê-se ainda fortalecer a "gestão eficaz" de uma área especialmente crítica, a do Parque de Cantanhez, através da criação de novas estruturas operacionais e o envolvimento da Direção-Geral de Florestas e Fauna.
A zona de Cantanhez, junto da fronteira sul do país, é habitualmente visitada por quem deseja avistar chimpanzés, mas junta um leque de animais e flora muito mais diversificado. Lusa
EXCLUSIVO DC/TERRORISMO: Ditadura do Consenso está em condições de assegurar de que existe algures na Guiné-Bissau um local assegurado por uma entidade islâmica (entre eles constam alguns elementos do Boko Haram). A informação foi já passada às autoridades portuguesas pelos serviços de informações franceses, hoje a braços com o maior atentado terrorista na história da França. AAS
terça-feira, 17 de novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Banco Africano de Desenvolvimento disponibiliza 28,9 milhões de euros à Guiné-Bissau
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD),disponibilizou hoje 28,9 milhões de euros para o Governo da Guiné-Bissau financiar projetos nas áreas da energia e melhoria das finanças públicas.
Os acordos para o desbloqueamento dos fundos foram hoje rubricados por Mamado Ndongo, representante regional do BAD, com residência no Senegal, e pelo ministro guineense da Economia e Finanças, Geraldo Martins.
Na ocasião, o governante guineense enalteceu a "confiança" do BAD nas autoridades guineenses, que diz traduzir-se na atribuição de apoios anunciados por aquela instituição na mesa redonda de doadores da Guiné-Bissau no mês de março.
"Estes projetos vêm testemunhar a confiança que o Banco Africano para o Desenvolvimento continua a depositar na Guiné-Bissau e nas suas autoridades", disse Geraldo Martins.
O ministro da Economia e Finanças disse ainda que os três projetos financiados pelo BAD "estão em coerência" com o Plano Estratégico apresentado pelo Governo de Bissau aos parceiros na mesa redonda.
As verbas destinam-se a melhoria do fornecimento de eletricidade a Bissau e o transporte de energia das barragens de Sambangalo (no Senegal) e Kaleta (na Guiné-Conacri) para a Guiné-Bissau.
A partir destas duas barragens, construídas no âmbito do projeto de aproveitamento da bacia do rio Gambia (OMVG, em sigla inglesa) a Guiné-Bissau passará a receber 28 megawatts de energia elétrica. Lusa
PM em forma
No jogo de amizade decorrido no dia 12 de novembro, no Estádio Nacional 24 de Setembro, em Bissau, entre as equipas de Sport Bissau e Benfica, que este ano venceu o campeonato e a Taça e o plantel B do Sport Benfica de Lisboa, cujo resultado foi de 4-3, presenciado por milhares de guineenses Sua Excelência, o Primeiro-ministro, Sr. Carlos Correia, dando o pontapé de saída demonstrou estar ainda em forma, como ilustram estas imagens.
Ex-guerrilheira lidera associação
Saturnina Santos, uma ex-guerrilheira das matas da Guiné-Bissau, é o rosto da associação que quer "melhorar a vida" da mulher rural no país onde as mulheres representam 52 por cento da população.
Saturnina Santos foi guerrilheira pela independência do país, estudou como radio-telegrafista e trabalhou nas Forças Armadas até 1998, quando decidiu despir a farda e dedicar-se ao associativismo. Por não encontrar "nenhuma política nacional" virada para as mulheres rurais, Saturnina e outras ativistas decidiram criar uma associação que mostrasse aos governantes "o erro que é deixar de lado uma grande parte da população" guineense nas políticas públicas, referiu à Lusa.
"A mulher representa cerca de 52% da população guineense, destas quase 70% estão no campo e não existe uma política nacional" que as tenha em conta, acrescentou. Viver na Guiné-Bissau, mesmo nas cidades, é complicado, no campo ainda mais, observou Saturnina, explicando as dificuldades do quotidiano. "No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Acorda primeiro que todos os membros da família e é a última a ir para cama. Se tiver arroz, tem que o pilar à mão, depois vai à mata, a procurar lenha e água, às vezes em zonas distantes da aldeia".
Depois é ela "que cozinha e ainda vai à ´bolinha´ (campo de plantação de arroz)", relata. "É uma vida dura demais, muitas morrem antes do tempo", lamenta a secretária-geral da associação que quer ver alterado este cenário nos próximos tempos na Guiné-Bissau. Saturnina Santos enaltece ainda um outro pormenor da mulher rural: "Não sabe ler, mas faz tudo para mandar o filho para uma escola nas cidades", refere.
A ativista diz que está cansada de ficar passiva perante "a dura realidade, que tarda em mudar", pelo que quer levar o Governo guineense a começar por reconhecer o dia Mundial da Mulher Rural - dia 15 de outubro, instituído pelas Nações Unidas desde 1995 na 4.ª Conferência Internacional sobre a Mulher, na China e na qual a Guiné-Bissau participou, lembra.
De seguida, a associação liderada por Saturnina Santos pretende introduzir na agenda questões como a alfabetização funcional, programas concretos de acesso à água, micro-crédito e leis que lhes dêem o controlo efetivo das terras onde trabalham. "Há políticas para tudo nos centros urbanos: combate à pobreza, promoção do emprego, saúde, educação, mas não há nada em concreto focado para a mulher do mundo rural", defende Saturnina Santos, que também quer ver os parceiros de desenvolvimento a colaborarem com a sua associação.
A dirigente tinha "alguma esperança" no Governo eleito em 2014, mas quando se preparava para ir apresentar as suas ideias ao primeiro-ministro, o executivo foi demitido pelo chefe de Estado. Se um dia a associação tiver o reconhecimento e o apoio de que precisa, a primeira ação será a realização de um Fórum Nacional da Mulher Rural, conclui Saturnina Santos. Lusa
Guiné-Bissau: A juventude pode ser uma prisão
FONTE: Público
Nos bairros de Bissau, jovens exibem um misto de desesperança e resignação que se consubstancia na palavra crioula “coitadeza”. Para muitos, a Europa, com Portugal à cabeça, é a saída.
Abrigam-se do sol numa figueira alta, frondosa. Uns sentam-se num tronco deitado na terra avermelhada. Outros em pneus velhos ou em cadeiras trazidas de casa. Podem ficar ali o dia inteiro. Lassana Massuba Sila, um rapaz alto, de olhos fundos, é que se lembrou de criar uma “bancada” no Bairro de Belém, periferia de Bissau. “Se levanto de manhã, só a noite que saio daqui para ir tomar ar.”
À sombra daquela árvore, param 34 jovens com um fogareiro, duas chaleiras, três pequenos copos. Vão fazendo um chá verde, adocicado, a que chamam warga. Alguns ainda estudam. Muitos não estudam nem trabalham, como Lassana. “Eu no ano passado concluí [o secundário]. Estou a esperar uma bolsa. Eu quero estudar engenharia informática, mas sabe a situação… Os carentes sempre ficam para trás.”
Tantas “bancadas” nos bairros em torno de Bissau. Há muito quem reduza estes grupos informais a jovens que “não querem pegar tesu”, isto é, que não querem trabalhar, esforçar-se. O sociólogo Miguel de Barros, que se tem dedicado ao estudo dos jovens e das suas formas de participação, vê um modo de expressar descontentamento com o estado do país, de protestar.
“Aqueles jovens não conseguem entrar no mercado de trabalho”, sublinha Barros. O Estado já não pode contratar, a indústria não existe, os serviços rareiam, as organizações não-governamentais empregam um número reduzido. “Escolhem o espaço mais vistoso da sua zona para mostrar a sua precariedade, projectar a sua condição de desesperançados, de vulneráveis.”
Há “bancadas” de assalto, “bancadas” de vigilância de bairro, “bancadas” que fazem rap, “bancadas” que se transformam em centros de debate antes e depois de cada acto eleitoral e “bancadas” que se organizam para recolher lixo, como esta, que o faz três vezes por ano. Em todas paira um misto de desesperança e resignação que se consubstancia na palavra crioula “coitadeza”.
Lassana tem cinco irmãos, três mais velhos do que ele, que já completou 22 anos. Só um trabalha a tempo inteiro. Esse irmão e o pai, que “costuma dar as suas voltas”, sustentam a família inteira. A mãe pede aos outros que não procurem uma “vida sem saída”, isto é, que não se enfiem no crime. Sentado naquele tronco, Lassana queixa-se do país: “Cada dia está pior. Nós, os jovens, é que pagamos por tudo.” Ficam presos à juventude, um estatuto de subalternidade.
Ser jovem na Guiné-Bissau não é igual a ter entre 18 e 35 anos. A juventude depende do género, da etnia, da condição económica. O período é tendencialmente curto para as raparigas, cedo tomadas pelo casamento e pela maternidade, e tendencialmente longo para os rapazes, que só dela saem através de rituais de iniciação e/ou assunção de responsabilidades. O antropólogo Henrik Vigh usa a expressão “moratória social” para designar este tempo, angustiante, marcado pela assimetria das relações sociais e pela falta de oportunidades para cumprir a trajectória que permite sair do estatuto de menoridade, alcançar os direitos e deveres da vida adulta.
Ali, na bancada “há muito puxa-puxa”. “Todos os dias é a mesma coisa”, ri-se Nézio Aniceto Rafael Pereira, o mais alto dos rapazes. Falam de desporto, política, educação, emprego. “Eles acham que a Europa é a solução para os problemas”, resume. Ir para a Europa é “sair do escuro”, isto é, dar o salto para um mundo com horizonte, ganhar independência, tornar-se adulto.
Num instante se percebe a revolta, contida, contra o modo como os mais velhos têm dirigido o país. Nézio abrevia o debate: “Quando uma pessoa está a tentar fazer algo de bom, o outro que não está lá a trabalhar começa a fazer a guerra. E isso não é bom. Sempre concluímos que isso não é bom. Quem merece trabalhar, que deixem trabalhar. Quem não merece, que fique em casa.”
Não é só a instabilidade político-militar, que se agravou desde a guerra civil de 1998-1999. É a fragilidade do Estado e da economia. O país depende da ajuda externa, quase só exporta castanha de caju, é incapaz de garantir serviços e infra-estruturas de nível básico – luz, água, saúde, educação.
“O futuro está muito ameaçado”, diagnostica o sociólogo Dautarin da Costa. A desvantagem começa a definir-se desde a mais tenra infância. “Pelo menos 20% das crianças em idade escolar não chegam a ir à escola. Das que vão, apenas 63% têm probabilidade de chegar ao 6º ano; 51% ao 9º ano; 46% ao 11º”, diz, citando o Relatório para a Situação da Educação na Guiné-Bissau.
Dautarin pode discursar horas sobre a fraca qualidade do ensino básico e secundário e a escassez de ensino técnico-profissional e superior. É com essa espécie de “amputação” que os jovens têm de enfrentar os desafios da integração na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, com livre circulação de pessoas e bens. Ou a vida em países como Portugal, Espanha, França, Luxemburgo ou Reino Unido – no ano passado, só os romenos (2455) ultrapassaram os guineenses (1239) em matéria de entradas em Portugal, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Nem todos se limitam a esperar por uma bolsa ou um familiar que lhes sirva de âncora. Proliferam organizações juvenis. Há muito quem as encare como um trampolim para a vida profissional, observa Miguel de Barros. Acreditam que os pode ajudar a aceder a uma bolsa de estudo no estrangeiro ou a ganhar uma projecção social capaz de abrir portas no mercado de trabalho. Nézio, agora com 32 anos, insistiu nesse caminho.
Entrou na escola aos oito anos, o rapaz alto, de cabelo rente. Antes, não havia “condição para pagamento [de matrícula] e material didáctico, alimentação até”. O pai não queria saber dele e a mãe vendia comida na rua. Com a ajuda de tios completou o 11º ano. Entrou numa associação juvenil e aproximou-se de uma grande ONG ligada à preservação do ambiente e à promoção da cidadania. Por uns trocados, foi cumprindo pequenas tarefas aqui e ali. Três anos nessa espera. Aproveitou uma oportunidade para fazer uma breve formação em informática. Esperou outro ano. Fez um curso profissional de contabilidade. Esperou outros três anos, até, por fim, ser seleccionado por uma ONG para um projecto. “Estou à espera que me chamem”.
Conta ganhar o suficiente para pagar um quarto, assegurar “um tiro kada dia”, isto é, uma refeição por dia, o almoço, e ajudar a mãe, que uma trombose atirou para uma cama. Não se sente diferente. Tudo à volta dele é luta pela sobrevivência. Mais de dois terços da população vivem com menos de dois dólares por dia – um terço com menos de um dólar. E os jovens são os mais afectados pela pobreza (80% dos pobres têm entre 15 e 35 anos). Impera a “dubria”, isto é, o “desenrascanço”.
Com latas de café, leite ou papa, jovens fazem brinquedos; com latas de alumínio, panelas; com linhas de coser roupa, depilação. Tudo se vende nas ruas e becos, nas rotundas, cruzamentos e entroncamentos, nas varandas e nos quintais da cidade e dos bairros à sua volta. Saldo para telemóvel, recarga, sacos de água, copos de café instantâneo, meias, boxers…. O importante é arranjar uns francos CFA para pagar a escola ou garantir o “tiro” de cada dia.
Quase não se vê raparigas sentadas em “bancadas” ou a liderar associações juvenis. Os homens estão mais presentes no espaço público e as mulheres mais associadas ao espaço privado, mas basta andar pelas ruas poeirentas de Bissau para as ver vender temperos caseiros, caldos industriais, pequenas porções de amendoins crus, sacos de castanha de caju, frutas avulso, sapatos usados, tecidos de cores garridas, galinhas vivas, peixes fumados, peixes frescos...
Laida Có trabalha de segunda a sábado no labiríntico mercado de Bandim, o maior de Bissau. Desde os 15 anos, ajuda a mãe a vender peixe. Acorda por volta das 7h30. Cedo atracam os barcos velhos e coloridos com barbo, barracuda, corvina, linguado, perca, peixe-gato, peixe-espada, arenque, sável. Fica de pé das 9h às 13h, a regar o peixe disposto numa banca inclinada. “Às vezes, quando estou na feira, há jovens e até adultos que passam ao pé de mim e ficam a discutir: ‘será que é ela?’, ‘não, não é!’. Muitos não acreditam que é a MC Leidy que está a vender peixe.”
MC Leidy é o seu nome artístico. No seu papel de rapper, a rapariga, de 22 anos, aconselha: “Para um jovem ser bom exemplo ele tem que seguir um caminho que o vai recompensar amanhã. No mundo de hoje, as pessoas devem escolher um caminho e segui-lo. Esse caminho deve ser um que não faz cair.”
Não se lembra de não trabalhar. A irmã mais velha foi criada por familiares. Enquanto a mais nova era muito pequena, caía-lhe a lida toda em cima. “Varria, limpava, acartava água, cozinhava, lavava a loiça, depois tinha que me preparar para ir às aulas.” Os dois rapazes mais velhos, não tinham tais encargos. “Às vezes o mais velho ia ao mercado e trazia o mafé [carne ou peixe], mas do resto nada.”
Sai para o mercado, volta, vai para as aulas no Centro Cultural Português, e vê rapazes sentados na bancada do Bairro Sector 7. Pensa que devem ser ‘filhos de boas mães’, ou seja, que têm quem os sustente. “Se estás sentado é porque tens quem te dê; se não, vais ter que te levantar e te sacrificar para conseguir nem que seja 25 francos CFA. Como eu não tenho quem me dê, para não entrar na ‘má vida´, luto”, diz. E lutar é, também, enfiar umas calças largas e um boné e cantar.
O rap popularizou-se como instrumento de contestação dos poderes políticos e militares e de denúncia da situação política, económica e social, sobretudo em Bissau. E isso, no entender de Miguel de Barros, é “muito importante num contexto onde os protestos eram controlados e de baixa intensidade”. É, explica, um fenómeno indissociável de um outro: o das rádios comunitárias.
Tudo começou ainda antes da guerra civil, com o programa semanal “rap pa raperus”, na rádio privada “Pindjiguiti”. A estação foi saqueada durante o conflito. Com a liberdade de imprensa enfraquecida, por iniciativa da Rede Nacional das Associações Juvenis nasceu a Rádio Comunitária Jovem. É nela que é emitido o programa Ondas Culturais, de segunda a sexta, das 14h às 16h.
Com voz grave, o radialista Mayerson Tavares Arsola Indi, de 33 anos, apresenta jovens artistas da Guiné-Bissau, entrevista-os em directo, abre a linha telefónica para que os ouvintes cheguem até eles. O programa chegou a ter às sextas-feiras, entre 2011 e 2013, um concurso de “Freestyle” dedicado à descoberta de novos talentos. O vencedor ganhava uma gravação em estúdio.
Braima Darame, o director da rádio, gosta de dar voz a jovens que, apesar de toda a adversidade, revelam criatividade. “Através da rádio, tentamos incentivar esses jovens, que não se limitam a esperar uma oportunidade para ir para Europa, e, ao mesmo tempo, consciencializar os outros. Estes podem servir de exemplo, podem mostrar que mesmo aqui se pode fazer algo.”
É preciso muita “dubria” para manter este “palco” a funcionar. Dezassete jovens afligem-se. As operadoras móveis, os grandes anunciantes, trocam serviços por publicidade. Precisavam de um patrocinador que pudesse garantir as deslocações de repórteres e animadores. “Muitas vezes ficamos com as mãos atadas. Ligo a alguém que tem de substituir o companheiro que está a trabalhar e esse alguém diz: quero ir, estou pronto, mas não tenho dinheiro para pagar o táxi.”
Braima é colaborador da Deutsche Welle, rádio internacional alemã com alguma programação em português, e já perdeu a conta às vezes que teve de tirar dinheiro do seu bolso para auxiliar a Rádio Jovem. Não que tenha muito para dar. Ele e um irmão é que sustentam a casa da família, morada de 12 pessoas. “Continuámos essa vida sem nada…” Já teve oportunidade de ir para fora, mas recusou. Tem 28 anos e está ali há oito. “Assumi esse projecto: um grupo de jovens a tentar mudar o seu país em regime de voluntariado.” Quem disse que ninguém acredita na Guiné-Bissau?
domingo, 15 de novembro de 2015
Estava escrito nas estrelas
Às 14 horas do dia 15 de Novembro do ano de 1966, haveria de nascer na Aldeia Formosa (actual Quebo), um indivíduo de sexo masculino a quem foi dado o nome de António José Aly Rodrigues da Silva, filho legítimo de Muna Said Aly (Rodrigues da Silva) e de Carlos Alberto Rodrigues da Silva.
Nasceu porreiro da vida, é jornalista, revolucionário, altamente perigoso e inflamável, e por causa disso, mas mais ainda por causa do analfabetismo, do ódio e da intolerância que grassam na Guiné-Bissau,
espera morrer de forma violenta. AAS
sábado, 14 de novembro de 2015
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
STJ: Visita de cortesia ao Primeiro-ministro
O Primeiro-ministro, Carlos Correia, recebeu em audiência as Suas Excelências, o Presidente do Supremo Tribunal - STJ, Paulo Sanha e o Vice-Presidente, Rui Nené, com quem trocou impressões, entre outras coisas, sobre o funcionamento dos tribunais.
Este encontro, que segundo o Presidente da STJ enquadra-se “no âmbito das relações institucionais dos órgãos de soberania. Por isso hoje estamos cá para fazer essa visita de cortesia ao Primeiro-ministro,” foi testemunhado pelo Ministro da Presidência, Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares, Malal Sane.
O Chefe do Governo regozijou-se pelo encontro, que considerou ser de extrema importância a manutenção desse tipo de relacionamento, entre os dois órgãos de soberania do país.
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