OPINIÃO
O verdadeiro Patriota opera para o engrandecimento da Pátria, criticando e sugerindo aperfeiçoamentos, recusando a nojenta bajulação e combatendo a abjecta jactância.
Por: Amadeu Fortes Oliveira
Hoje, constava da minha agenda escrevinhar sobre dois assuntos que me indignaram, mas que vão ter de aguardar por uma melhor oportunidade, em virtude de ter surgido, no panorama nacional, algo de maior relevo e da maior justiça.
1- Falsos Combatentes: O primeiro assunto seria o revoltante episódio relacionado com a conspurcação do nome dos Combatentes da Liberdade da Pátria com trafulhices inomináveis. Basta dizer que antes de se aprovar a lei que veio atribuir uma pensão mínima de 75.000$00 mensais aos combatentes, eram somente cerca de 80 candidatos, para, depois da aprovação dessa lei, surgirem do nada cerca de 500 candidatos, estando já 300 aprovados e os demais 200 ainda à espera da conclusão do respectivo processo administrativo. Resulta imperdoável o facto de haver gente que até eram informadores da PIDE que, hoje em dia, graças à falta de rigor e aldrabice de uns quantos, figuram na galeria de heróis nacionais como se tivesse feito algo de relevante para a nossa independência. É claro que oportunistas sempre haverá, mas, desta forma e em tamanho número, jamais foram vistos tantos, em parte alguma. Necessariamente deverá haver meia dúzia de trafulhas que deverão ser condenados a penas de prisão efectiva superior a 8 anos de reclusão, como a única forma de lavar o sangue e o sacrifício dos verdadeiros heróis nacionais. Qualquer outra solução, não será solução mas sim jeitinho para escamotear gente sem carácter, sem vergonha, indignos de ostentarem a nacionalidade cabo-verdiana. Mas essa matéria será alvo de uma outra crónica específica e mais aprofundada.
2- Desgraça da ENAPOR: O segundo assunto seria o que considero ser a outra vergonha nacional: eu apelido assim o que foi a nomeação do Carlitos Fortes para desempenhar o cargo de Presidente do Conselho de Administração da ENAPOR. Como é de conhecimento geral, trata-se de uma empresa composta a 100% por capitais públicos. Ou seja, trata-se de uma empresa de todos nós.
Ora, depois do Primeiro-Ministro, José Maria Neves, ter badalado a sete ventos a criação de uma lei “Anti-Cunha” e de declarar que estava determinado a combater o “Jeitinho” nos cargos públicos, o País foi confrontado com essa nomeação, sem conseguirmos descortinar a mais leve réstia de transparência e rigor nessa escolha, numa total opacidade de critérios, pelo que cumprirá provar (estou pessoalmente disposto a isso) que havia e ainda subsistem muitas e variadas dúvidas sobre a justeza, justiça e falta de razoabilidade na forma como deram esse “Tacho” a esse indivíduo. Aliás, tal escolha foi feita somente entre três membros do Governo, sem nenhum critério objectivo e à revelia tanto da Direcção do Partido como dos demais membros do Governo, pelo que não poderá merecer nem a anuência nem o apoio da maioria dos militantes do PAICV, por se tratar de uma decisão clandestina e suspeita, até porque o visado é irmão de uma ministra com alguma intervenção no sector, o que, só por si, já demandava um outro nível de transparência.
Mas este também é um assunto que deverá ser desenvolvido numa outra crónica, ou melhor, em duas ou três crónicas sucessivas, onde tentarei sustentar as minhas reservas em relação ao visado e até para permitir-lhe exercer, publicamente, o contraditório.
Assim, esses dois supra referidos assuntos que me atormentam a alma e creio, que também estarão a atormentar a alma de muita boa gente, devem ficar para um segundo momento, face a uma outra notícia que, para mim, se reveste de maior significado e importância.
3 - Honra e Glória ao “A Semana”: - Na verdade, neste momento, nenhum outro assunto deverá ofuscar o merecimento da distinção que o Governo de Cabo Verde fez ao Jornal A Semana e à pessoa da sua lendária Directora, Dra. Filomena Silva, mais conhecida por “Filó”.
A respeito do “A Semana”, numa esquecerei as palavras do nosso Comandante Pedro Verona Pires, aquando da comemoração do 15º aniversário do Jornal, na ilha do Fogo, quando, em conversa particular, me dizia que: “No início era somente uma vaga ideia; Depois, uma urgência nacional; Posteriormente, uma resistência, qual insana teimosia; Mas que, com o passar do tempo, se tinha transformado num modo de ser Cabo Verde e de pensar o País profundo; - Isso dizia-me o Comandante na noite de 07 de Julho de 2007, dentro da caldeira do vulcão do Fogo, onde as festividades decorriam. Todavia, complementando essa ideia, eu diria que, “agora, hoje em dia, graças à Filó e a sua equipa, o “A SEMANA” é um vício nacional; Uma vanguarda útil e necessária, sem a qual Cabo Verde não seria o mesmo Cabo Verde que é hoje.”
Pedro Pires tem razão, pois, nos tenebrosos anos 90 em que o MpD mandava e desmandava nesta terrinha escalavrada, o “A Semana” foi um acto puro de resistência face a actos duros de repressão e censura. Não será nunca de olvidar que, num determinado período, esta Instituição atravessou tempos terrivelmente difíceis, perante imensos e perversos poderes que estavam blindados em uma estúpida lógica de cálculos políticos. No entanto, pese embora a imensidão e a perversão desses poderes que se estendiam até à barra dos Tribunais, a verdade é que, no meio dessa noite de breu que foram aqueles tempos, o “A Semana”, contra ventos e marés, manteve-se sempre firme e resistente, qual última candeia acesa no meio da escuridão, dando vez a quem não a tinha, e dando voz a todas as esperanças de um Cabo Verde melhor. Felizmente eu me incluo entre aqueles a quem a Filó deu espaço para gritar imensas dores e para expressarmos tremendas angústias que, lamentavelmente, parecem querer ressuscitar nestes últimos anos da governação de José Maria Neves. (Quem diria???)
É caso para dizermos que, naqueles tempos de escuridão, o “A Semana” conseguiu provar que “Não há, nem haverá machado algum capaz de cortar as raízes do pensamento”.
Ademais, penso que ninguém de boa consciência poderá negar ao A Semana a suprema vaidade de saber-se um marco fundamental do jornalismo cabo-verdiano, sobretudo no que se refere à comunicação social escrita. Indubitavelmente, existe, claramente, em Cabo Verde, uma fase pré- A Semana e outra fase pós-A Semana, de tal modo que, hoje em dia, já não seria possível conceber ou mesmo imaginar a comunicação social e mesmo Cabo Verde sem o precioso contributo do “A Semana”. Entretanto, também é verdade que, dentro do “A Semana” será justo falarmos de um tempo antes, e de um outro tempo depois da Filó.
Para mim, essas duas nobres Instituições (o jornal e a Filó em si, pois, ela sozinha é também uma verdadeira instituição nacional) conseguiram o grande feito de semear, entre os seus leitores, uma outra forma de abordar e de relacionar-se com a verdade, mas sobretudo, nos tem ajudado, a todos, a sermos mais e melhores Cabo-Verdianos.
Infelizmente, obra dessa natureza nunca se finda, pelo que, hoje como ontem, ao A Semana está reservada a ingente responsabilidade de se manter atenta e firme, contra eventuais desvios e perversões, na vanguarda de Cabo Verde, como sempre foi o seu timbre. Aliás, nesta fase nebulosa em que o País se encontra, urge alguma ventilação de espíritos e a construção de um outro “Amor à Terra”. Estou certo que o “A Semana” continuará ajudando nessa construção, na vanguarda dos amanhãs que hão-de vir. A Bem da Pátria Cabo-Verdiana!!!
Mindelo, Casa do Scapa, 27 de Maio de 2015.
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