EDITORIAL
No meio de todo um clima de cepticismo, há sinais encorajadores
que indicam que dificilmente, mas com firmeza, estão a surgir
canais de comunicação entre o governo e a Renamo, os quais
irão eventualmente conduzir a um entendimento mais sólido.
Isto, apesar do incidente do último domingo na província de Tete, em
que elementos da Unidade de Intervenção Rápida da Polícia estiveram
envolvidos em escaramuças com homens armados da Renamo.
Num momento em que parecia estar a endurecer o discurso político do
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaçando recorrer à força para
obter concessões do governo, a decisão anunciada esta segunda-feira,
dando conta de que as duas partes tinham chegado a acordo quanto à
matéria da despartidarização da administração pública, é uma indica-
ção clara de que elas estão convencidas de que só o diálogo será a única
alternativa política viável, substituindo-se à violência.
E surgindo esta decisão depois da Renamo ter se reunido em Conselho
Nacional alargado, na cidade da Beira, traz conforto saber que este partido
está sincronizado nos seus objectivos, e que todos os seus membros
(pelo menos ao nível da cúpula) falam a mesma linguagem.
É preciso clarificar que na verdade não existe ainda um acordo definitivo
entre as delegações do governo e da Renamo sobre a questão da
despartidarização da administração pública. O que foi decidido — e
aqui é que se pode sentir o peso da reunião do Conselho Nacional da
Renamo — é que havendo mais de 80 por cento de acordo sobre esta
matéria, o respectivo documento pode ser remetido à Assembleia da
República, cabendo a esta a responsabilidade de procurar consensos
sobre as partes ainda em desacordo.
Fundamentalmente, há dois pontos que a Renamo insiste que devem
ser incorporados na referida lei. O primeiro é que a proibição de envolvimento
em actividades político-partidárias para servidores públicos
durante as horas normais de trabalho incluam o Presidente da Repú-
blica, ministros, governadores provinciais e administradores distritais.
O segundo ponto defendido pela Renamo é a incorporação de uma
cláusula que impeça a participação, em concursos adjudicados pelo Estado,
de empresas pertencentes a servidores públicos ou seus familiares
directos quando os titulares tenham interesse directo no assunto.
Para uma administração pública que se queira isenta e transparente, estas
exigências parecem ser pacíficas. Mas o governo insiste que as figuras
referidas no primeiro ponto são eminentemente políticas, e afastá-
-las da possibilidade de envolvimento em actividades políticas durante
o período normal de funcionamento da administração pública equivaleria
a um esvaziamento do conteúdo do seu trabalho como políticos.
Quanto ao segundo ponto, a argumentação do governo resume-se ao
facto de que seria discriminatório impedir que dirigentes públicos com
alguma veia empresarial fossem barrados de participar em actividades
económicas simplesmente pelo facto de serem servidores públicos.
Da forma como as coisas estão, caberá agora ao parlamento decidir
sobre esta matéria, assim como voltar a debruçar-se sobre o projecto
da autonomia das províncias, que deverá ser remetido de novo pela
Renamo, desta vez abrangendo todas as províncias do país. Aqui, vale a
pena enaltecer o abandono tácito da intenção da Renamo de impor as
autarquias provinciais com recurso à violência, o que demonstra claramente
que Dhlakama está disposto a prosseguir com o diálogo.
Ultrapassadas estas questões, continuará na mesa das negociações a
componente militar do diferendo entre o governo e a Renamo.
A primeira preocupação da Renamo sobre as questões militares tem a
ver com os oficiais que foram incorporados nas Forças Armadas na sequência
do Acordo Geral de Paz de 1992, mas que o partido de Afonso
Dhlakama diz terem sido ilegalmente passados à reserva ou que alega
estarem a ser marginalizados, servindo de assessores.
De acordo com a Renamo, o estatuto orgânico das Forças Armadas
determina que oficiais passam à reserva de duas formas. Uma, ao ultrapassarem
10 anos com a mesma patente, e a outra, ao atingirem 55
anos de idade. Nenhuma destas condições foram observadas com os
seus oficiais, defende a Renamo, e exige que eles sejam reintegrados e
colocados na posição de comandantes de unidades militares.
Se a desconfiança não fosse a principal característica no relacionamento
entre o governo e a Renamo, talvez fosse fácil decidir-se objectivamente
sobre esta questão através de uma verificação independente de
cada um dos casos e exigir que em cada um deles se conforme com a lei.
Parece simples, mas não quando a política entra em acção.
Temos estado a ver na TV um spot duma lavandaria, cujo fundo musical é a mítica canção ‘’ELISA GOMARA SAIA’”! Antes de mais, vão palavras de muito apre- ço para esta lavandaria por regularmente usar a música nacional para apaladar os seus spot’s. Num passado recente, tinha escolhido o “Para quê?” de Mabessa e desta feita, elegeu “Elisa gomara saia” e o gomara assumiu o sentido de engomar. Nestas linhas apenas quero comentar que de facto alguns dicionários hoje dão ao gomar o sentido unicamente de engomar, todavia, na lendária canção “Elisa gomara saia”, o gomar tinha o sentido de colocar goma na roupa, no caso, na saia. Goma era um amido que engrossava o pano. No antigamente era moda aplicar este produto para a roupa assumir consistência, e não se amarfanhar facilmente e os vincos ficarem bem salientes, (a nkonyo). O conteúdo desta canção é crítica a uma moça que andava com as saias sempre amarfanhadas e, por conseguinte, se recomendava que colocasse goma, para que as suas saias ganhassem “dureza” para não se amarrotarem. “Elisa gomara saia” consta na lista das canções mais conhecidas de Moçambique, na qual também consta “Moda Xicavalo. A original pertence ao renomado Conjunto Djambo, com a voz de Rosa Tembe, uma das ex-alunas do Prof. Samuel Dabula, o fundador daquele agrupamento e 1º locutor moçambicano. “Elisa Gomara Saia” foi gravada ao vivo no programa “África à Noite”, aliás, muitas canções do Djambo, a exemplo de Elisa Ntonhana, Bambatela Sábado, Xinwanana xanga, foram gravadas naquele programa. De tão lendária que é “Elisa Gomara Saia”, já foi regravada por vários cantores nacionais e estrangeiros. Uma das versões que fez mais furor foi a da Banda angolana “DUO ouro negro”. Lamentavelmente, apesar de “Elisa Gomara Saia” ser o nosso cartão de visita, mas a sua intérprete é uma ilustre desconhecida… quase ninguém conhece a cara de Rosa Tembe… Não sei o que está a acontecer, chego a pensar que talvez não nos orgulhamos dos nossos notáveis, pois como Rosa Tembe, também existem muitas figuras de relevo, que nem os nomes, muito menos as suas imagens são conhecidas… A título de exemplo, Mutano Gomes Feliciano, o 1º moçambicano que gravou um disco, ninguém fala dele, as gerações recentes não o conhecem, mesmo o Prof. Samuel Dabula, o 1º locutor moçambicano, a sua cara é pouco conhecida, até no Emissor Provincial de Maputo da Rádio Moçambique, estação cuja predecessora ele fundou! Qual é o problema ou a dificuldade de se afixar um quadro com a foto de Rosa Tembe nalgum canto da RM, Escola Nacional de Música, da Associação dos Músicos ou nalgum livro de Educação Musical? Gravar uma canção que vira o cartão de visita de todo um País, não é facto extraordinário bastante para se ter essa honra? *Autor dos livros sobre música moçambicana: 1. “A Longa estó- ria da Moda Xicavalo” e 2. “Fany Mpfumo e outros ícones” .
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