O nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro
Baloi, afirmou recentemente
que algo de mau estava a
acontecer com a Polícia sul-africana.
Ele falava a propósito da morte de
cidadãos moçambicanos nas celas
das esquadras do país vizinho, por
razões fúteis. E eu estou totalmente
de acordo com ele.
Só que as minhas preocupações são
bastante mais alargadas.
Já depois destas declarações de Baloi
um outro moçambicano, Luciano
Zavale, barbeiro de sua profissão, foi
morto numa esquadra de polícia da
Swazilândia.
Da nossa própria Polícia nem é bom
falar. Não há crime grave em que
não haja polícias envolvidos, desde
os raptos, assassinatos, caça furtiva,
assaltos à mão armada, aluguer ou
venda de armas, extorsão e tudo o
mais que o leitor conseguir imaginar.
Um dos seus pontos mais “altos” foi
mesmo o baleamento mortal de um
cidadão por não ter licença de bicicleta...
A Polícia angolana é tristemente
conhecida por uma repressão violentíssima,
muitas vezes homicida,
contra quem o governo daquele país
não gosta. Ainda recentemente foi
acusada de assassinar, a sangue frio,
uma enorme quantidade de homens,
mulheres e crianças de uma seita religiosa.
E eu pergunto: Porquê isto tudo?
Porque não há, nestes nossos países, uma polícia civil e civilizada que
mantém a ordem respeitando os direitos
dos cidadãos que lhes pagam
os impostos?
Creio que uma das respostas é que,
à frente das forças policiais, organização
que se quer civil, foram
colocados militares. E os militares
não foram formados para lidar com
cidadãos nacionais. Foram formados
para combaterem inimigos externos
e, se possível, para os exterminarem.
Postos perante uma situação de crise
recorrem imediatamente ao gatilho.
E se lhes colocam nas mãos armas de
guerra, os resultados são os que vemos
com demasiada frequência. As
metralhadoras de tiro real no cimo
dos blindados da nossa PRM são um
sintoma assustador disso.
Depois temos a corrupção desenfreada.
Corrupção que começa do topo
e se vai espalhando, com e pela gravidade,
até à base. Comandos policiais
que assistem ao enriquecimento súbito de antigos camaradas de armas,
agora na política e/ou nos negócios,
tendem a procurar, no local onde estão
“amarrados” forma de também
engordarem.
Patriotismo, brio profissional, honra,
decência, tudo é levado à frente da
enxurrada na luta pelas mordomias
pessoais. E, para isso, a fidelidade
canina a quem manda é indispensável para garantir a continuidade do
bem-bom. Por aberrantes que sejam
as ordens ninguém as põe em causa.
E se o comandante faz isso, o sub-
-comandante vê e imita, o inspector
vê e imita, o sargento vê e imita, o
trânsito ou o cinzentinho vêem e
imitam.
Pelo que vejo aqui por casa, os comandos
da PRM não são nomeados
pelas suas qualidades policiais. São
nomeados para serem os comandantes
militares da Intervenção Rápida,
o exército do poder do dia. Tudo o
mais que se passa para além disso
perde importância perante esta prioridade.
Os resultados são os que podemos
ver.
E, nos países aqui à volta, as coisas
não parecem ser muito diferentes.
Para mal de todos nós...
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