quinta-feira, 25 de junho de 2015

A TALHE DE FOICE: Polícias

O  nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, afirmou recentemente que algo de mau estava a acontecer com a Polícia sul-africana. Ele falava a propósito da morte de cidadãos moçambicanos nas celas das esquadras do país vizinho, por razões fúteis. E eu estou totalmente de acordo com ele. Só que as minhas preocupações são bastante mais alargadas. Já depois destas declarações de Baloi um outro moçambicano, Luciano Zavale, barbeiro de sua profissão, foi morto numa esquadra de polícia da Swazilândia. Da nossa própria Polícia nem é bom falar. Não há crime grave em que não haja polícias envolvidos, desde os raptos, assassinatos, caça furtiva, assaltos à mão armada, aluguer ou venda de armas, extorsão e tudo o mais que o leitor conseguir imaginar. Um dos seus pontos mais “altos” foi mesmo o baleamento mortal de um cidadão por não ter licença de bicicleta... A Polícia angolana é tristemente conhecida por uma repressão violentíssima, muitas vezes homicida, contra quem o governo daquele país não gosta. Ainda recentemente foi acusada de assassinar, a sangue frio, uma enorme quantidade de homens, mulheres e crianças de uma seita religiosa. E eu pergunto: Porquê isto tudo? Porque não há, nestes nossos países, uma polícia civil e civilizada que mantém a ordem respeitando os direitos dos cidadãos que lhes pagam os impostos? Creio que uma das respostas é que, à frente das forças policiais, organização que se quer civil, foram colocados militares. E os militares não foram formados para lidar com cidadãos nacionais. Foram formados para combaterem inimigos externos e, se possível, para os exterminarem. Postos perante uma situação de crise recorrem imediatamente ao gatilho. E se lhes colocam nas mãos armas de guerra, os resultados são os que vemos com demasiada frequência. As metralhadoras de tiro real no cimo dos blindados da nossa PRM são um sintoma assustador disso. Depois temos a corrupção desenfreada. Corrupção que começa do topo e se vai espalhando, com e pela gravidade, até à base. Comandos policiais que assistem ao enriquecimento súbito de antigos camaradas de armas, agora na política e/ou nos negócios, tendem a procurar, no local onde estão “amarrados” forma de também engordarem. Patriotismo, brio profissional, honra, decência, tudo é levado à frente da enxurrada na luta pelas mordomias pessoais. E, para isso, a fidelidade canina a quem manda é indispensável para garantir a continuidade do bem-bom. Por aberrantes que sejam as ordens ninguém as põe em causa. E se o comandante faz isso, o sub- -comandante vê e imita, o inspector vê e imita, o sargento vê e imita, o trânsito ou o cinzentinho vêem e imitam. Pelo que vejo aqui por casa, os comandos da PRM não são nomeados pelas suas qualidades policiais. São nomeados para serem os comandantes militares da Intervenção Rápida, o exército do poder do dia. Tudo o mais que se passa para além disso perde importância perante esta prioridade. Os resultados são os que podemos ver. E, nos países aqui à volta, as coisas não parecem ser muito diferentes. Para mal de todos nós...

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