Para um docente da Universidade Eduardo Mondlane, a principal do país, a história é narrada num discurso fechado e marcado, a nível rítmico, pelos congressos da Frelimo.
A forma como o ensino da independência de Moçambique foi conduzido nos últimos quarenta anos nas escolas tem uma marca política e ideológica, além de uma perspectiva simplista e insuficiente da história, consideram professores ouvidos pela Lusa.
O historiador e escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho defende que o ensino da independência em Moçambique foi codificado de uma forma política e ideológica, realçando a adoção de uma fórmula simples e binária, baseada em oposições.
“Todo esse processo, no que diz respeito ao ensino, acabou por ser codificado de uma forma política e ideológica e criou-se uma fórmula simples. É uma história binária, baseado na existência de um colonizador contra colonizado, de um revolucionário contra o reacionário”, defendeu Borges Coelho.
Para o docente da Universidade Eduardo Mondlane, a principal do país, a história é narrada num discurso fechado e marcado, a nível rítmico, pelos congressos da Frente de Libertação Moçambicana (Frelimo).
“É uma história fechada e marcada pelos congressos da Frelimo. Em cada ciclo, há um problema novo que é resolvido”, afirmou Borges Coelho, lembrando que uma história contada como fechada está condenada à “morte”.
Quarenta anos depois, defendeu, "já há distanciamento suficiente para o surgimento de novas formas de contar a história”, apelando para a abertura dos arquivos dos ´libertadores´.
“Infelizmente, não existe um debate público sobre as fontes deste período e isso é paradoxal, porque é um período central da identidade moçambicana”, disse Borges Coelho, observando que a história da independência de Moçambique “enobrece a própria Frelimo”, partido no poder há quarenta anos.
“A história só existe se nós continuarmos a discuti-la”, sublinhou o historiador e escritor moçambicano, destacando que “a independência é um fenómeno demasiadamente grande, maior do que o simples discurso político” e que precisa de um discurso cultural, fundado nas artes e na realidade especifica do povo.
Por seu turno, Romeu da Silva, jornalista e professor de História da 12.ª classe na Escola Secundária de Laulane em Maputo, admitiu à Lusa que a história da Independência em Moçambique não é ensinada na sua totalidade, provavelmente por razões políticas.
“Os nossos manuais não trazem muita coisa relacionada com a independência. O que temos são apenas datas, mas não temos, por exemplo, como se inicia o processo da independência. Mesmo no que diz respeito a guerra civil, há muitas coisas que os programas não contemplam ”, considerou Romeu da Silva.
De acordo com o professor, as consequências deste fenómeno são nefastas, na medida em que os alunos acabam por chegar ao ensino superior sem o domínio da história da independência do seu próprio país.
“Temos casos de estudantes do último ano da faculdade que não sabem traçar os contornos daquilo que foi o processo da independência. Por exemplo, em países como Portugal, Alemanha e o Brasil, os alunos falam da história dos seus países como se deles próprios se tratasse, o que já não acontece aqui”, lamentou Romeu da Silva, destacando também que já há distanciamento histórico suficiente para que a história seja divulgada na sua totalidade.
“Nós temos alunos que nos perguntam, por exemplo, como surge a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana, maior partido da oposição], mas, porque são questões que não constam dos programas, não respondemos”, disse o professor, propondo a uma revisão do currículo adotado pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento.
Lusa
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