Sexta, 12 Junho 2015
A RENAMO, apesar de, através do seu líder, reafirmar que não quer mais guerra, conserva, como todos sabemos, a sua força militar. Perante este facto é justo questionar as razões. Tendo sido ela a insistir na necessidade da constituição da equipa de observadores que ficou conhecida pela sigla EMOCHM, é justo questionar porque não apresentou a lista dos indivíduos à desmilitarizar e a reintegrar nas FADM e na PRM.
O balanço do trabalho da EMOCHM aponta para resultados francamente insignificantes na medida em que as expectativas dos moçambicanos amantes da paz ficaram defraudadas. Não por sua culpa, pois os integrantes da EMOCHM estiveram durante 195 dias a “curtir” férias. Férias bem pagas, diga-se.
Como é do domínio púbico, o Governo, constatando que a continuação do “funcionamento” do grupo, apenas resultava em gastos e mais gastos sem que os objectivos inscritos nos seus termos de referência fossem alcançados, o Governo, dizia, decidiu pela extensão da equipa. Esquisita e estranhamente, a Renamo diz não compreender a atitude do Governo, defendendo por isso que ela devia continuar.
Vale a pena lembrar aliás, que a ausência de resultados no actual processo de diálogo, principalmente depois da assinatura do acordo de cessação das hostilidades, levou o grupo dos observadores nacionais a, publicamente manifestar a sua frustração, chegando ao ponto de sugerirem que o diálogo fosse transferido para a Assembleia da República.
Outros observadores, estes não institucionais, os cidadãos em geral, têm vindo a manifestar seus desencantados devido a falta de resultados. Em surdina ou em “volume 10”, muitos moçambicanos perguntam-se sobre as verdadeiras razões que levam a Renamo a não cumprir o que prometeu – ao assinar o documento sobre a cessação das hostilidades.
Estranhamente, a famosíssima Sociedade Civil, está queda e muda. Contrariamente a outras situações, não se ouve, não se lê, não se vê nada sobre a realização desta, ou daquela outra manifestação contra a ausência de resultados no CICJC. Porque será? Não será porque não “fica bem” condenar o verdadeiro responsável por essa situação?
É de louvar aqui, entretanto, o esforço que tem vindo a ser realizado pelo grupo de confissões religiosas, que ainda há pouco, defendeu na cidade da Beira a inclusão de mais actores no processo de diálogo. Uma posição que merece, quanto a mim, um tratamento positivo; principalmente se tivermos em conta a forma como a Renamo encara o assunto-Moçambique. Pois, na minha opinião, “lendo” atentamente o discurso de Dhlakama e do seu partido, a mensagem que sobressai é a de bipolarização. Como se o País pertencesse apenas a dois actores.
Substancia esta minha percepção, o discurso do presidente renamista, de que a bem ou a mal, o projecto das autarquias irá avante apesar do chumbo na Assembleia da República. Como quem diz, nós Renamo governaremos uma parte do País, e, vocês da Frelimo Sim ficam com a outra parte. Como se nós o povo, fôssemos propriedade dos partidos políticos. Parece estar aqui a verdadeira razão porque a Renamo não quer desmobilizar e desmilitarizar os seus homens armados.
Repare-se nesta tirada de Dhlakama, na abertura da reunião do Conselho Nacional: “A partilha de poder seria o primeiro passo para a descentralização da administração do Estado”, apontando que seria saudável (…) para as populações das províncias de Manica, Tete, Sofala, Zambézia, Nampula e Niassa! Vale a pena perguntar: afinal, quem vai partilhar o poder? A partilha não é entre a Renamo e a Frelimo? Então, como é que tal partilha seria saudável para as populações?
Parece ficar claro que apesar de Dhlakama afirmar que não haverá o retorno à guerra, quando diz que a bem ou mal o projecto das autarquias vai avançar, está na verdade a ameaçar tomar o poder pela força. Se alguém tem dúvidas é só olhar para o que (não) fez a EMOCHM…
MARCELINO SILVA - marcelinosilva57@gmail.com
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