ANGOLA
A China pretende instalar bancos chineses no mercado angolano, no quadro da colaboração económica entre os dois países. Analistas mostram-se reticentes e sublinham a falta de transparência nas relações sino-angolanas.
No seguimento da visita oficial do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à China, o Governo deste país anunciou hoje (09.06) que irá ajudar financeiramente Angola a superar as dificuldades causadas pela crise petrolífera. Porém, recusou precisar qual será o montante desta ajuda, declarando que se trata de uma questão confidencial.
Foi também avançada pela Secretária de Estado para a Cooperação, Ângela Bragança, após a V Comissão Mista de Cooperação Bilateral, a intenção de o governo chinês entrar na banca angolana a curto prazo.
Segundo Ângela Bragança, há igualmente o interesse da parte angolana em evoluir para a modalidade de cooperação no âmbito financeiro. A Secretária de Estado para a Cooperação afirma ainda que o governo angolano já fez chegar às autoridades chinesas uma proposta de Memorando de Entendimento para ser analisada.
Analistas criticam falta de transparência
Apesar de as autoridades angolanas se mostrarem otimistas quanto à entrada de bancos chineses no mercado angolano, alguns analistas e economistas independentes vêem com reticência este interesse chinês, devido à falta de transparência que tem pautado a relação entre os dois países.
Carlos Rosado de Carvalho, professor de economia da Universidade Católica de Angola e diretor do semanário Expansão, tem dúvidas acerca de quais serão as vantagens deste acordo.
“Nós temos bancos a mais. Temos, creio, 29 bancos autorizados e 23 ou 24 em operação, e portanto isto são demasiados bancos para tão poucos negócios como temos em Angola. Eu diria que tudo depende da forma como os chineses vão entrar no país. Se entrarem por aquisição de bancos é uma coisa, mas se for através de bancos novos não vejo efetivamente nenhuma vantagem nisso”, diz o professor.
O economista mostrou-se ainda preocupado com a falta de transparência dos bancos chineses e teme que a sua eventual entrada no mercado angolano possa colocar ainda mais em risco o setor financeiro do país.
“As relações com a China estão normalmente envoltas num grande mistério, e isso não é bom para nós. A única coisa que conheço é um relatório que penso que seja de 2008 ou 2009, publicado no site do Ministério das Finanças. De resto ninguém sabe de nada: quanto é que a China nos emprestou, quanto é que devemos, como é que estamos a pagar essa dívida, qual é a taxa de juro…enfim. Não temos conhecimento acerca de todas essas coisas, e portanto, do ponto de vista da transparência, sem dúvida nenhuma que pode ser motivo de preocupação, caso o Banco Nacional de Angola (BNA) não faça aquilo que deve fazer.”
As relações sino-angolanas são frequentemente criticadas por esta falta de transparência. Desde o fim da guerra, em 2002, Angola é um dos países no mundo que mais investimentos recebe da China, e sobre os quais pouco se sabe.
O montante real da dívida angolana para com a China é também desconhecido pelo Parlamento angolano, apesar de o Presidente José Eduardo dos Santos ter a obrigação constitucional de informar os deputados e pedir autorização para a solicitação de empréstimos.
Desconhece-se o número de chineses a viver em Angola
O número real de chineses a viverem atualmente em Angola também não é conhecido. Estes estão geralmente presentes nas grandes obras públicas, como na construção de estradas e até da cidade de Kilamba, que foi construída de raiz por cidadãos chineses.
Para além dos investimentos feitos diretamente pelo governo chinês, há centenas de empresas chinesas que atuam no mercado angolano. Talvez por isso, e tendo em conta o nível de cooperação entre os dois países, a China pretenda instalar em Angola alguns bancos de direito chinês, o que para Carlos Rosado de Carvalho faz algum sentido.
“Os bancos chineses devem acompanhar as empresas chinesas aqui em Angola, devem também conhecer melhor os clientes angolanos que fazem negócio com a China, e portanto essa entrada dos bancos tem alguma lógica, naturalmente. O importante é saber de que forma vão entrar em Angola, pois já temos bancos a mais”, reforça o economista.
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- Data 09.06.2015
- Autoria Nelson Sul D'Angola (Benguela)
- Assuntos relacionados China
- Palavras-chave China, Angola, bancos, economia, petróleo, crise petrolífera, José Eduardo dos Santos, transparência
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