CanalMoz
Canal de opinião
Perguntas do Zé Povinho Perguntador (#canalmoz)
Beira (Canalmoz) - Agora que alguns órgãos de comunicação públicos se desdobram a falar das realizações do Presidente, um cidadão, Zé Povinho, perguntador, veio ter comigo. Perguntou-me porquê tudo se centra na pessoa do Presidente, tal como se o Presidente seja um Hércules. Ele disse assim:
Ninguém fala dos governadores, ninguém ...fala dos administradores, nem dos PCA’s, muito menos dos chefes dos postos administrativos. Ninguém fala de mais ninguém que não seja o Presidente. Ninguém fala dos presidentes das autarquias.
Pior do que isso, ninguém fala dos operários, dos humildes trabalhadores.
Dizem que tudo foi o Presidente que fez e parece que na construção da Ponte de que ele próprio é patrono não havia mais ninguém senão ele a conduzir toupeiras. Parece que nenhum projecto existiu antes dele.
A ideia que se dá sobre as realizações do Presidente parece que o Presidente construiu e levou os tabuleiros às costas. Parece que não havia máquinas escavadoras nem gruas nem nada que assentasse os pilares no fundo da terra. Parece que sozinho o Presidente cavou a mão o rio Zambeze e sobre o olhar atormentador dos crocodilos afastou os anfíbios e herculeamente estabeleceu as bases sobre as quais assentam o betão na água. Parece que foi ele a assentar dois mil e trezentos e setenta e seis metros de cumprimento e dezasseis de largura, sobre o rio. Parece que o marciano Presidente mantém as colunas das infraestruturas de pé e sem ele tudo, incluso o céu, pode desabar.
Do Zambeze até Rovuma, com outras pontes de permeio, Parece que o presidente sozinho pegou em rebarbaderas e maçarico para a construção das mesmas. Parece que não há indústrias no mundo e o presidente fabrica os equipamentos e acessórios de trabalho.
Da Ponte do Zambeze nem se fala que foi projectada no tempo colonial. Fala-se do presidente como se ele tivesse sido o arquitecto, o engenheiro e o mestre de obras e operário único. O que é feito o engenheiro que lá apanhou muito sol e chuva? Ninguém certamente nunca mais se lembrará dele.
Não se fala de nenhum operário que morreu tragicamente nesta e outras empreitadas. Se não se fala de um vivo, pior será dos mortos porque estão enterrados.
Foi o Presidente que construiu o saneamento e o sistema de água na Beira, Nampula e Maputo. E o que faziam os presidentes destas autarquias enquanto o Presidente solitariamente construía esses empreendimentos? O que é que fazia o povo, os operários que eventualmente devem existir nessas cidades? Dormir.
Não se fala de doadores que pagam esses empreendimentos, como não se fala de fundos do Estado que comparticiparam nos gastos. Está-se mesmo a ver que o presidente tirou da sua caixa forte os dinheiros com quem se construíram muitos empreendimentos.
Está-se a ver o porquê do Presidente que chegou ao poder com cabelos quase grisalhos, agora leva na cabeça muita doze de farinha de milho. É o presidente que opera guindastes e descarrega o trigo nos portos, hoje com grandes volumes de manuseamento de carvão. Por isso vemos o rosto do Presidente e as camisas suadas de goma pastosa de suor, as suas mãos cheias de calos.
Terá o Presidente horas para se ocupar de suas necessidades elementares? Terá o presidente tempo para se beneficiar do calor humano da sua musa inspiradora, se bem que se desdobra a delinear e a realizar trabalho noite e dia? A despeito, se não há mais ninguém que faça algo no país, quem se ocupa dos patos que o tornaram rico? Certamente que a resposta será: ele próprio.
Se o Presidente goza do seu dom de ubiquidade, então obra ao mesmo tempo no seu Gabinete da Presidência e nas estruturas de betão armado. O que espanta o Zé Povinho é como ele concilia tudo a ponto de simultaneamente servir-se das betoneiras para misturar a água, a areia e o cimento, em muitas indústrias que nascem e florescem pelo país, sem necessitar de mais ninguém. O que espanta é o Presidente que se tem desdobrando vinte quatro horas por dia, sem dormir, em um rol de tarefas, tendo apenas duas mãos consegue fazer tanta coisa que muitos de nós não conseguimos fazer. Ademais até cuida dos seus empreendimentos e negócios pessoais, porque somos um país de vinte milhões de preguiçosos que ele tem que amamentar.
Ou será que o Presidente dispõe de um sem número de braços, de pés e cérebros que lhe permite fazer tudo, o que um homem comum não é susceptível de lograr? Quem lhe terá atribuído tantos engenhos e multiplicidades de tarefas que não atribuiu a outro homem à face desta terra? Ou o Presidente é a consagração do Homem Vitruviano?
E a todos nos fazem crer que foi o Presidente quem trouxe a iniciativa de sete milhões de meticais nos distritos. Estará a distribuir dinheiro do seu bolso? Parece que esse Presidente é uma bênção porque faz doações ao que as suas ‘holdings’ saqueiam do Estado. Haverá mais um homem mais trabalhador e generoso que o presidente, que sozinho tem em riste o machado de guerra contra a pobreza, contra a corrupção, contra o subdesenvolvimento e contra a criminalidade?
Perante essa acepção nada mais que nos conformarmos que nenhum ministro faz nada. Nenhum director nacional faz patavina. Ninguém no Estado mexe uma palha. Tudo é com o presidente: obras, finanças e cortes de fitas.
No mundo nenhum país foi merecedor da dádiva de algum Presidente como esse. É por isso que à volta dele multiplicam-se bajuladores, que o endeusam.
Entre as acepções do Presidente está a paz social. Quer dizer, ironicamente enquanto há vinte anos que as armas não ressoavam no Muxúnguè o Presidente é quem trouxe ao povo a paz social e sem o Presidente o povo deixará de usufruir dessa mesma paz social. É o que se ouve não em surdina, mais na rádio e televisão públicas. De noite e de dia. Logo é um homem que não pode ser descartado.
Na rádio e televisão públicas e não públicas o Presidente parece ser o Messias de que os Judeus esperam há mais de dois mil anos. Fala-se do Presidente como uma criatura genial que, se crê, nenhum país teve a bênção de tê-la. Não estudou engenharias mineiras, mas ele faz a prospecção e exploração de recursos energéticos para garantir o futuro melhor ao povo.
Fala-se do Presidente como o único homem à face desta terra capaz de abrir novas perspectivas à diminuição das assimetrias regionais.
O Presidente é o único iluminado, por isso mormente o Filipe o trata por clar. (Adelino Timóteo)
Perguntas do Zé Povinho Perguntador (#canalmoz)
Beira (Canalmoz) - Agora que alguns órgãos de comunicação públicos se desdobram a falar das realizações do Presidente, um cidadão, Zé Povinho, perguntador, veio ter comigo. Perguntou-me porquê tudo se centra na pessoa do Presidente, tal como se o Presidente seja um Hércules. Ele disse assim:
Ninguém fala dos governadores, ninguém ...fala dos administradores, nem dos PCA’s, muito menos dos chefes dos postos administrativos. Ninguém fala de mais ninguém que não seja o Presidente. Ninguém fala dos presidentes das autarquias.
Pior do que isso, ninguém fala dos operários, dos humildes trabalhadores.
Dizem que tudo foi o Presidente que fez e parece que na construção da Ponte de que ele próprio é patrono não havia mais ninguém senão ele a conduzir toupeiras. Parece que nenhum projecto existiu antes dele.
A ideia que se dá sobre as realizações do Presidente parece que o Presidente construiu e levou os tabuleiros às costas. Parece que não havia máquinas escavadoras nem gruas nem nada que assentasse os pilares no fundo da terra. Parece que sozinho o Presidente cavou a mão o rio Zambeze e sobre o olhar atormentador dos crocodilos afastou os anfíbios e herculeamente estabeleceu as bases sobre as quais assentam o betão na água. Parece que foi ele a assentar dois mil e trezentos e setenta e seis metros de cumprimento e dezasseis de largura, sobre o rio. Parece que o marciano Presidente mantém as colunas das infraestruturas de pé e sem ele tudo, incluso o céu, pode desabar.
Do Zambeze até Rovuma, com outras pontes de permeio, Parece que o presidente sozinho pegou em rebarbaderas e maçarico para a construção das mesmas. Parece que não há indústrias no mundo e o presidente fabrica os equipamentos e acessórios de trabalho.
Da Ponte do Zambeze nem se fala que foi projectada no tempo colonial. Fala-se do presidente como se ele tivesse sido o arquitecto, o engenheiro e o mestre de obras e operário único. O que é feito o engenheiro que lá apanhou muito sol e chuva? Ninguém certamente nunca mais se lembrará dele.
Não se fala de nenhum operário que morreu tragicamente nesta e outras empreitadas. Se não se fala de um vivo, pior será dos mortos porque estão enterrados.
Foi o Presidente que construiu o saneamento e o sistema de água na Beira, Nampula e Maputo. E o que faziam os presidentes destas autarquias enquanto o Presidente solitariamente construía esses empreendimentos? O que é que fazia o povo, os operários que eventualmente devem existir nessas cidades? Dormir.
Não se fala de doadores que pagam esses empreendimentos, como não se fala de fundos do Estado que comparticiparam nos gastos. Está-se mesmo a ver que o presidente tirou da sua caixa forte os dinheiros com quem se construíram muitos empreendimentos.
Está-se a ver o porquê do Presidente que chegou ao poder com cabelos quase grisalhos, agora leva na cabeça muita doze de farinha de milho. É o presidente que opera guindastes e descarrega o trigo nos portos, hoje com grandes volumes de manuseamento de carvão. Por isso vemos o rosto do Presidente e as camisas suadas de goma pastosa de suor, as suas mãos cheias de calos.
Terá o Presidente horas para se ocupar de suas necessidades elementares? Terá o presidente tempo para se beneficiar do calor humano da sua musa inspiradora, se bem que se desdobra a delinear e a realizar trabalho noite e dia? A despeito, se não há mais ninguém que faça algo no país, quem se ocupa dos patos que o tornaram rico? Certamente que a resposta será: ele próprio.
Se o Presidente goza do seu dom de ubiquidade, então obra ao mesmo tempo no seu Gabinete da Presidência e nas estruturas de betão armado. O que espanta o Zé Povinho é como ele concilia tudo a ponto de simultaneamente servir-se das betoneiras para misturar a água, a areia e o cimento, em muitas indústrias que nascem e florescem pelo país, sem necessitar de mais ninguém. O que espanta é o Presidente que se tem desdobrando vinte quatro horas por dia, sem dormir, em um rol de tarefas, tendo apenas duas mãos consegue fazer tanta coisa que muitos de nós não conseguimos fazer. Ademais até cuida dos seus empreendimentos e negócios pessoais, porque somos um país de vinte milhões de preguiçosos que ele tem que amamentar.
Ou será que o Presidente dispõe de um sem número de braços, de pés e cérebros que lhe permite fazer tudo, o que um homem comum não é susceptível de lograr? Quem lhe terá atribuído tantos engenhos e multiplicidades de tarefas que não atribuiu a outro homem à face desta terra? Ou o Presidente é a consagração do Homem Vitruviano?
E a todos nos fazem crer que foi o Presidente quem trouxe a iniciativa de sete milhões de meticais nos distritos. Estará a distribuir dinheiro do seu bolso? Parece que esse Presidente é uma bênção porque faz doações ao que as suas ‘holdings’ saqueiam do Estado. Haverá mais um homem mais trabalhador e generoso que o presidente, que sozinho tem em riste o machado de guerra contra a pobreza, contra a corrupção, contra o subdesenvolvimento e contra a criminalidade?
Perante essa acepção nada mais que nos conformarmos que nenhum ministro faz nada. Nenhum director nacional faz patavina. Ninguém no Estado mexe uma palha. Tudo é com o presidente: obras, finanças e cortes de fitas.
No mundo nenhum país foi merecedor da dádiva de algum Presidente como esse. É por isso que à volta dele multiplicam-se bajuladores, que o endeusam.
Entre as acepções do Presidente está a paz social. Quer dizer, ironicamente enquanto há vinte anos que as armas não ressoavam no Muxúnguè o Presidente é quem trouxe ao povo a paz social e sem o Presidente o povo deixará de usufruir dessa mesma paz social. É o que se ouve não em surdina, mais na rádio e televisão públicas. De noite e de dia. Logo é um homem que não pode ser descartado.
Na rádio e televisão públicas e não públicas o Presidente parece ser o Messias de que os Judeus esperam há mais de dois mil anos. Fala-se do Presidente como uma criatura genial que, se crê, nenhum país teve a bênção de tê-la. Não estudou engenharias mineiras, mas ele faz a prospecção e exploração de recursos energéticos para garantir o futuro melhor ao povo.
Fala-se do Presidente como o único homem à face desta terra capaz de abrir novas perspectivas à diminuição das assimetrias regionais.
O Presidente é o único iluminado, por isso mormente o Filipe o trata por clar. (Adelino Timóteo)
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