Monday, September 16, 2013

A CONCP, A SOLIDARIEDADE ENTRE IRMÃOS

A CONCP, A SOLIDARIEDADE ENTRE IRMÃOS

 A CONCP, Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, quando se criara, assentava em organizações nacionais e visava coordenar, em particular, a acção diplomática. A sua criação, em 1960 em Rabat, no Marrocos, deu maior projecção à nossa causa comum de libertação nacional. Numerosos países e organizações da África, da Ásia e do Leste da Europa assistiram à criação da CONCP.
De Angola participou como fundador o MPLA. Elegeu-se para Presidente Mário Pinto de Andrade, que dirigia o MPLA. Agostinho Neto, na altura sem qualquer julgamento detido pela PIDE e deportado para Cabo Verde, não ocupava posições nos órgãos de direcção do MPLA, embora a organização o houvesse designado Presidente de Honra. Marcelino dos Santos representou a UDENAMO e elegeram-no Secretário-Geral da CONCP. No número 6 da Rua Paul Tirard, em Rabat, instalou-se a sede da CONCP, que aí funcionou até 1965, altura em que se mudou para a Argélia.
O Governo Marroquino, o Rei Mohamed V, o Ministro para Assuntos Africanos, Dr. Abdel Remane Khatibe e o poeta e Ministro da DefesaAhardane, apoiaram a CONCP, ofereceram o seu país para o treino dos combatentes do PAIGC e do MPLA. O Grupo de Casablanca que integrava os Estados mais progressistas do continente e que reconheciam o GPRA, Governo Provisório da República Argelina. O Gana, a Guiné (C), o Mali, o Egipto, o Marrocos e o GPRA integravam o grupo.
A II Conferência da CONCP realizou-se em Dar Es Salaam em 1965, onde se elegeu Mondlane como Presidente, em substituição de Mário de Andrade. Samora substituiu Mondlane depois da sua morte.
A CONCP progressivamente se esvaiu. A tarefa essencial para os três movimentos tornara-se a luta armada de libertação nacional, e a cooperação nesse campo não podia existir, para além de trocas de experiências. A CONCP garantiu, porém, uma coordenação política e diplomática entre os partidos, que se mostrou de grande importância em momentos críticos.
A CONCP desempenhou um papel positivo para uma intervenção coordenada na arena internacional. A Conferência Internacional de Roma, em 1970, e o encontro com Sua Santidade Paulo VI o demonstram isso e uma das missões mais importantes que se levou a cabo no plano externo. A retirada do reconhecimento da OUA ao GRAE, o apoio para que a independência da Guiné (B) triunfasse na arena internacional devem-se situar entre os grandes sucessos alcançados pela CONCP, de par com a concertação e frente comum para que se proclamasse a independência de Angola, e Luanda ganhasse o seu assento legítimo na OUA em 1976. A CONCP bateu-se pela causa timorense, quando só havia as nossas vozes a clamarem no deserto.
Durante a luta de libertação entre a FRELIMO e o MPLA assegurou-se algum apoio mútuo na frente militar, sobretudo no concernente a suprimentos pontuais no campo da logística, pois que isso se tornava exequível entre a Frente Leste de Angola e a Frente de Tete em Moçambique, dado que o desdobramento dos fornecimentos ocorria na Zâmbia. Delegações da FRELIMO visitaram Angola e as do MPLA Moçambique. O Presidente Neto visitou Nachingweia, coube-me, a mim, e ao camarada Munhepe a alegria e grande honra de o acompanhar durante a visita. O MPLA esteve representado no nosso II Congresso.
Em 1975, para assegurar a independência a CONCP, através dos Governos de Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo-Verde desempenhou um papel de grande relevo. Numa primeira fase tropas da Guiné (B), a que se juntaram as da Guiné (C) e do Congo (B), partiram para Angola para assegurar a defesa da faixa a sul de Luanda, ameaçada pela invasão sul-africana. Para a faixa Norte, onde a ameaça partia das forças de Mobutu, do FLNA e dos mercenários, Moçambique despachou todos os seus BM 21 e aviões de transporte, os NORD ATLAS, assim como meios adicionais de artilharia e munições. Estes meios mostraram-se importantes para a derrota em Quinfangondo da invasão conjunta do FLNA, Zaire e mercenários.
Na Ponta Vermelha, a 9 de Novembro de 1975, reuniram-se os Presidentes Samora, Neto, Luís Cabral e Pinto da Costa. Aristides Pereira, de Cabo Verde, chegou mais tarde, a 10, pois o Zaire de Mobutu havia interditado o sobrevoo do seu espaço aéreo. Isto não impediu Cabo Verde de se solidarizar a 100% com o posicionamento comum.
Na noite de 11, todos ouvimos, pela Rádio Moçambique em directo, na Ponta Vermelha, o Presidente Neto proclamar a independência angolana. Aristides Pereira e Xavier Amaral estavam presentes.
Os dirigentes presentes em Maputo confirmaram o seu apoio para que a 11 de Novembro, o MPLA proclamasse a independência em Luanda e Samora encarregou Marcelino de acompanhar Neto a Luanda no dia 9 e só regressar após proclamada a independência, transmitindo de imediato o nosso reconhecimento da República Popular de Angola.
Aos camaradas que iam para Angola, incluindo os voluntários nesse momento crítico e, isso também me deu como ordem, Samora disse:
Cumpram a tarefa. Em Moçambique dispomos de muita terra para fazermos monumentos, em Angola, não têm terra para recuar!
Um abraço à valorização da nossa tradição internacionalista,
Sérgio Vieira
JORNAL DOMINGO – 15.09.2013

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