Vojislav Kostunica
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EPA
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Em março de 2004, consegui entrevistar o primeiro-ministro da Sérvia Vojislav Kostunica. Isso ocorreu logo após os acontecimentos dramáticos do Kosovo e Metohija.
O premiê não excluiu a possibilidade de esses acontecimentos no Kosovo terem tido a mão da Al-Qaeda: houve uma altura em que Osama bin Laden era muito ativo na Bósnia. Até se dizia que ele também apoiou o “Exército de Libertação do Kosovo”:
– Sem dúvida que a Al-Qaeda ajudou ativamente os mujahedin na Bósnia. Lá, eles atuavam de uma forma praticamente aberta. Eu não excluo que a Al-Qaeda esteja presente no Kosovo, mas sob a cobertura de diversas organizações religiosas e humanitárias. O mundo deve pensar nisto: por um lado, os norte-americanos estão em guerra contra o terrorismo islâmico em todo o mundo, e por outro, não vêm o que eles fazem no Kosovo debaixo do seu nariz. É assim que o Kosovo vai gradualmente se transformando no centro do terrorismo organizado e global. Nas grandes cidades os terroristas têm uma tática, na nossa região eles escolheram uma outra – a intimidação da população e assassinatos. No dia 17 de março, os albaneses iniciaram uma ofensiva geral. Se tratou de uma tentativa para colocar todo o território da província sob o seu controle.”
– Qual é então, na opinião de Kostunica, o principal objetivo dos albaneses do Kosovo? Eles querem criar a “Grande Albânia” que incluirá não só o Kosovo, mas também parte da Bósnia, da Macedonia e do Montenegro? O premiê não tinha dúvidas:
– Neste momento não existe um único político albanês que reconheça abertamente perante a UE que o seu principal objetivo é a criação de uma província etnicamente limpa e um Estado independente do Kosovo. Mas na realidade eles querem atingi-lo de todas as maneiras e feitios. Mas se isso acontecer, então as fronteiras dos estados vizinhos irão ser imediatamente refeitas de acordo com a “Grande Albânia”. O primeiro passo nesse sentido foi dado em 2001 na Macedonia, quando os albaneses locais começaram uma guerra contra as autoridades oficiais. Se o Kosovo declarar a sua independência, seria de admirar se Tirana não o quisesse apoiar e, em perspectiva, se unir. Isso será uma avalanche que irá varrer tudo no seu caminho. Nesse caso, a “Grande Albânia” poderá vir a ser um projeto realista. Antes, Washington assustava todo o mundo com os sérvios, mas agora o Ocidente praticamente estimula os albaneses no seu desejo de criar uma “Grande Albânia”. O principal, neste momento, é atingir a estabilidade na região e que não haja nenhuma modificação das fronteiras a favor de uns e em prejuízo de outros.
O dia 17 de março dissipou o mito de um Kosovo multiétnico. Isso foi um grandioso engano da comunidade internacional. Agora, é preciso pensar muito bem nas razões porque não podem os albaneses viver em paz com os outros povos no Kosovo. Por que não se pode encontrar algum modus vivendi , uma coexistência pacífica de todos os povos na província, umas relações civilizadas e normais? Claro que é difícil falar de gostarem uns dos outros, mas o principal é que não haja o ódio e o desejo de destruir tudo o que tenha relação com a religião ortodoxa e com os sérvios.
– Como vê a declaração de Vladimir Putin acerca da situação no Kosovo, feita logo após os trágicos acontecimentos que ocorreram na província a 17 de março de 2004?
– Depois dos acontecimentos de 17 de março, Putin fez uma declaração firme e clara sobre o Kosovo, em que classificou tudo o que aconteceu como limpezas étnicas. Depois disso, nós recebemos uma ajuda humanitária muito importante para nós. Isso simboliza o fato de a Rússia apoiar a Sérvia nestes minutos tão difíceis para nós. Não se trata só da ajuda material, os sérvios receberam um sinal de que a Rússia é um amigo e que voltou a ajudar-nos e nós demos a tudo isso o devido valor. Nós queremos fazer tudo para que as pessoas que ficaram sem as suas casas no Kosovo possam viver, ao menos algum tempo, em condições dignas na Sérvia. Se eles não quiserem regressar, isso poderá provocar uma nova vaga de fugas em massa do Kosovo.”
Tem uma grande importância o fato de, quando fui eleito premiê da Sérvia, eu ter recebido de Vladimir Putin não só as felicitações, mas também uma carta importante em que o presidente russo analisava a situação no Kosovo. Era uma análise clara dos acontecimentos que correspondia inteiramente à nossa. Isso prova que a diplomacia russa e o presidente Putin sabiam sobre o que poderia ocorrer a 17 de março e nos estavam a avisar. Era uma análise precisa sobre o real estado das coisas na nossa região. Todas as análises que vieram, depois de 17 de março, a partir da OTAN e dos países ocidentais não significam nada. Até então, eles afirmavam que o estado de coisas no Kosovo era simplesmente ideal. Mas a Rússia expressou a sua preocupação com a situação muito complexa do Kosovo. Agora, temos de procurar uma solução política rigorosa para os problemas do Kosovo. Pessoalmente, eu vejo a seguinte hipótese: a autonomia territorial. Visto que o Kosovo tem uma autonomia estando integrada na Sérvia, também os sérvios, para a proteção dos seus direitos e da sua segurança no território do Kosovo e Metohija, devem ter uma autonomia a diferentes níveis. Tanto territorial, como pessoal e cultural. Isso será a única verdadeira proteção dos sérvios no Kosovo.
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