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Editorial |
Escrito por Redação |
Quinta, 14 Fevereiro 2013 11:38 |
No entanto, os últimos acontecimentos revelaram o quão frágil é o nosso desenvolvimento. Uma explosão numa subestação de energia deixou a cidade de Maputo às escuras. A subida do caudal dos rios, antes, deixou milhares de desalojados em todo o país e um rasto de degradação digno de um país desestruturado. Em tão pouco tempo o discurso segundo o qual caminhamos rumo a qualquer coisa foi torpedeado, estilhaçado e ridicularizado diante da impotência de quem de direito e sofrimento de cidadãos nacionais. Um país à mercê de calamidades naturais evitáveis não pode arvorar, em lugar algum, chavões como auto-estima e desenvolvimento. Isso é trair os cidadãos. A quem devemos responsabilizar pelo sucedido? A quem devemos questionar pelas viaturas sumptuosas dos gestores da coisa pública? Pelas mortes de crianças recém-nascidas no Hospital Central da Cidade de Maputo por causa do apagão? Informação, essa, que ninguém revelou. Ninguém pediu desculpas às famílias enlutadas e ninguém será responsabilizado. Estamos mais do que acostumados a essa forma de governação que desconhece responsabilidades e que recusa qualquer matrimónio com a incompetência. É tudo culpa do outro. Antes foi da água. Agora é da explosão. A situação de Maputo serviu para mostrar a forma vergonhosa como vive o resto do país. É assim que vocês governam? É assim que tratam aos que vivem no país real? Afinal como é que ganham eleições atrás de eleições com tamanha incompetência? Não adianta, neste caso, pedir a cabeça do presidente do Conselho de Administração da Electricidade de Moçambique. O homem, na verdade, só peca por esperar que o demitam. Se tivesse um pingo de dignidade e bom senso, colocava o lugar à disposição. No entanto, em última análise, é Armando Guebuza quem deve responder pelo actual estado de coisas. O último apagão que se abateu sobre capital do país é uma oportunidade para falar de outros atropelos à nossa dignidade protagonizadas pelo senhor e o seu Governo. O saudoso Carlos Cardoso disse que o senhor não seria um bom dirigente para a Nação. Para a nossa desgraça, Cardoso estava certo. Aliás, mais do que certo. Depois de o senhor ser eleito, um dos primeiros sinais de que algo iria correr pior do que antes foi a promiscuidade entre o Estado e as empresas ligadas ao senhor e os seus amigos. Na ocasião, o Presidente, para além de afirmar, sem convicção, de que ia combater um tal deixa-andar fez-nos crer de que se tratava de um Messias. Analisada a sua forma de operar, o seu combate revelou-se vazio, porquanto, bem se vê, o deixa-andar é uma espécie de força omnipotente. Portanto, se o deixa-andar é a moda hoje, está mais do que explícita – das duas uma – a sua incapacidade de lidar com ele ou a manifestação pornográfica de um esquema maquiavélico congeminado nos esgotos da sacanice para o manter e institucionalizar. O senhor rodeou-se de pessoas servis e incapazes de o questionar. Nesse processo, houve tanta má-fé que induziram os próprios moçambicanos a papaguearem chavões absurdos, numa clara atitude de arruinar a imagem de quem nos tinha liderado. Com este gesto, ficava consumada a entrada de uma nova quadrilha nas nossas vidas, escudada num pálida tocha da unidade. Depois disso a nossa desgraça colectiva foi cozinhada com mestria. Veio a Star Times, a Movitel, as empresas que fornecem material à Electricidade de Moçambique; a TATA que fornece carros obsoletos às empresas públicas de transporte de passageiros. Foi, portanto, com o senhor que a nossa desgraça ganhou contornos de calamidade. Com a sua governação os moçambicanos viraram escravos e a fome ficou mais densa, mais presente e pujante. O lambebotismo foi elevado á categoria de atestado de integridade. O que aconteceu em Maputo é culpa sua, senhor Presidente. As empresas que fornecem material têm ligações aos seus negócios. O senhor enriquece com os lucros desse fornecimento. As empresas que reabilitam as vias de acesso também são suas. Sim, o carvão não cria desenvolvimento imediato, mas a Star Times dará lucro garantido com a conversão do sistema analógico para o digital. A TATA idem. E muitas outras, senhor Presidente. Por isso, estranhamos quando o senhor, à vista do furor da sua quadrilha, que papagueia não se sabe o quê, deixa o país sem energia e vem apresentar aquelas desculpas estapafúrdias de que a pobreza está nas nossas cabeças. Devia, isso sim, dar-nos conta de que não tinha qualquer ideia para o país. Apesar de já ser visível esta falta de ideias, poderia, em nome da auto-estima, que constitui o estandarte dos nossos dias, demitir-se. O povo agradeceria... PS: Temos medo do futuro senhor Presidente. Os rumores segundo os quais os seus rebentos abocanharam uma linha-férrea para escoar carvão, entregue sem concurso público, deixam-nos apreensivos e com saudades do passado. Quando ouvimos, também, que os seus filhos e amigos vão ganhar o concurso internacional de exploração de blocos de gás e petróleo, no nosso país, o nosso medo fica ainda maior. Gostaríamos de estar errados e que, no futuro, tudo se revelasse um mero boato. |
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