Por Gustavo Mavie
“Não é a posição que faz o líder, é o líder que faz a posição... A eficácia das pessoas e das organizações está na força do líder...E ser líder é ser capaz de influenciar. Liderança é influência – nada mais, nada menos,
John C. Maxwell, in as 21 Leis da Liderança.
Para quem estudou as leis da liderança e faça uma análise das realizações do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, durante os últimos 20 anos, poderá concluir sem muito esforço que ele não conseguiu passar de um dirigente militar errático que, em vão, tentou se tornar num líder político.
Uma simples avaliação do seu comportamento e atitudes deixam claro que ele é mau político e, como dizia Máximo Dias quando o comparou a uma pedra preciosa não lapidada, está muito longe de ser um líder político.
“Não é a posição que faz o líder, é o líder que faz a posição... A eficácia das pessoas e das organizações está na força do líder...E ser líder é ser capaz de influenciar. Liderança é influência – nada mais, nada menos,
John C. Maxwell, in as 21 Leis da Liderança.
Para quem estudou as leis da liderança e faça uma análise das realizações do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, durante os últimos 20 anos, poderá concluir sem muito esforço que ele não conseguiu passar de um dirigente militar errático que, em vão, tentou se tornar num líder político.
Uma simples avaliação do seu comportamento e atitudes deixam claro que ele é mau político e, como dizia Máximo Dias quando o comparou a uma pedra preciosa não lapidada, está muito longe de ser um líder político.
É preciso ter em conta que há uma grande diferença entre ser comandante militar e ser líder político. Os verdadeiros líderes são, segundo Leroy Eims, aqueles que vêem mais do que os outros, que vêem mais longe do que os outros, que vêem antes dos outros.
Em Moçambicanos podem citar-se alguns líderes tais como Eduardo Mondlane e Samora Machel, como foi Martin Luther King para os norte-americanos ou Nelson Mandela para os sul-africanos.
Estes viram o que muitos de nós ainda não conseguíamos ver. No caso de Samora, foi um dos poucos chefes militares que era também um verdadeiro líder político, tal como o General francês, Charles de Gaule.
Infelizmente, Dhlakama não passa de um chefe militar que confunde o povo com soldados. Isto porque, enquanto um comandante militar dita ordens que têm de ser religiosamente cumpridas pelos seus soldados, o líder político tem que ganhar a simpatia de um povo, à semelhança do amor de uma mulher que se conquista com palavras doces e não com ameaças.
Tal como a mulher que se apaixona mais pelas palavras e os homens pelos olhos, também é com palavras que um líder deve persuadir ou influenciar um povo para que o siga ou aceite fazer o que ele quer que faça.
Por isso, é legítimo concluir que Dhlakama não conseguiu se transformar num verdadeiro líder político, portanto, capaz de influenciar com palavras as massas, para que votassem massivamente nele e no seu partido.
Prova disso é o facto de nem sequer ter sido capaz de organizar e consolidar a Renamo para passar de organização militar para partido político como o fez sabiamente Samora em relação à Frelimo, funcionando como um corpo uno e indivisível.
Por isso, ele não pode culpar ninguém, muito menos a Frelimo senão a ele próprio.
Todas as vezes que ele esteve em vantagem, fez tudo para dar um tiro no próprio pé, desacreditar a si próprio e seu partido.
Um dos seus maiores erros foi desfazer-se daqueles membros iluminados que seriam uma mais-valia na luta pela sua ascensão ao poder. Isto levou-me a escrever um artigo em 2004, intitulado “Os Assessores de Palmo e Meio da Renamo”, e que tinha como pano de fundo a adesão à Renamo do trio Dr. Eduardo Namburete, Dr. Ismael Mussá e o Dr. Matiquite.
No referido artigo escrevi que a filiação daquelas figuras haveria de terminar mal à semelhança de outros doutores que se haviam filiado à Renamo antes e depois de sair das matas em 1992.
Hoje, eu posso me outorgar o título de profeta porque, efectivamente, Dhlakama divorciou-se não só do referido trio, bem como de muitos outros intelectuais que mais tarde se filiaram à Renamo. Todos eles nadam agora em outras águas políticas.
Na verdade, ele assemelha-se àqueles governantes que se apropriam do Estado, faltando apenas proclamar que “Renamo Sou Eu Dhlakama e mais ninguém”.
Quem tiver dúvidas pode pegar numa caneta e arrolar os nomes das figuras que fizeram parte das fileiras da Renamo antes e depois de sair das matas.
Eu posso ajudar começando pelo chamado “miúdo” Daviz Simango, passando pelo Doutor Manuel de Araújo, o próprio Ismael Mussá, para não falar dos que vieram com ele das matas, incluindo Raul Domingos e o Dr. Manuel Frank, que Dhlakama marginalizou sem dó nem piedade.
Pior ainda é que Dhlakama não tem consciência que não sabe o que não sabe, socorrendo-me agora das palavras sábias do antigo primeiro-ministro britânico, Benjamin Disraeli, daí que nunca se cuidou em aperfeiçoar-se. Isto o impeliu a cometer erros sucessivos que agora são motivo da sua própria frustração, desespero e o seu precipitado e perigoso regresso para si mesmo às florestas de Gorongosa.
Disareli vinca que enquanto a pessoa não sabe o que não sabe, não se aperfeiçoa. Ter consciência de que ignoramos determinados factos é um grande passo rumo ao conhecimento, enfatizou ele, uma frase que é, digamos assim, validada por uma outra de Mao Tsé Tung, quando diz que a primeira condição para que sejamos curados de uma doença é termos consciência de estarmos doentes.
Todas as vezes que ouvi Dhlakama recorrer a ameaças, como quando proclamou que iria vingar-se da Frelimo incendiando Moçambique, concluí que ele deve ser como aqueles homens que quando não conseguem conquistar o coração de uma mulher decide ameaçá-la ou ao homem por quem ela está apaixonada. Está mais do que claro que Dlhakama odeia a Frelimo e se pudesse matá-la, iria enterrá-la no mar como o fizeram os americanos em relação a Bin Laden, para que mesmo que ressuscitasse, morreria de novo afogado. Tudo indica que Dlhakama odeia também o próprio povo pelo amor que tem pela mesma Frelimo, daí que ameace incendiar o próprio país ou esteja agora a ensaiar reacender a guerra. Só que se voltar a mover uma guerra, poderá ser o seu fim, porque nunca se pode afogar um povo no seu próprio sangue. Todos os que assim o tentaram neste mundo, acabaram sendo eles a ser mortos. Assim foi com Adolfo Hitler e outros sanguinários, como Jonas Savimbi em Angola.
O que ele devia fazer, devia continuar a tentar ganhar os corações dos seus compatriotas através da retórica política como o fazia o nosso lendário Samora que, hoje, ainda nos encanta quando ouvimos os seus discursos volvidos 26 anos após a sua morte.
O seu regresso a Gorongosa está a prejudicar-lhe mais a ele do que à Frelimo. Aliás, está a cometer o mesmo pecado mortal como quando, pouco depois da nossa independência, aliou-se aos regimes racistas da então Rodésia do Sul e do então apartheid na África do Sul.
O regresso de Dhlakama às matas irá desacreditá-lo ainda mais e torná-lo cada vez mais impopular que já é em consequência dos erros políticos que foi cometendo ao longo dos últimos 20 anos.
Nada justifica o seu regresso às matas ou o reinício da guerra porque, nestas duas décadas de paz, ele teve toda a liberdade e condições para fazer política pacificamente que, como bem se define, é a única formal aceitável de se continuar uma guerra bélica. É por isso que se define política como a continuação da guerra por outras formas.
DHLAKAMA CAMPEÃO DOS DITOS POR NÃO DITOS
Paradoxalmente, Dhlakama e os seus colaboradores mais próximos, sobretudo Fernando Mazanga, alegam que ele decidiu regressar a Gorongosa para pressionar Guebuza a negociar.
Ora, ainda a 17 de Abril último, Guebuza voltou a manter um téte-à-téte com Dhlakama e no final do encontro, largamente reportado pela imprensa, Dhlakama exibia um ar de quem estava muito satisfeito com o seu desfecho.
O próprio Dhlakama anunciou que havia trocado com Guebuza os seus números de telemóveis, como forma de garantir um contacto imediato em caso de necessidade.
Mas agora Dhlakama alega que Guebuza não dialoga com ele. Mas já o seu porta-voz, Mazanga, o contradiz ao alegar que o problema é que Guebuza faltou à palavra, porque segundo ele, nunca mais formou uma dita Comissão mista que teria sido um dos acordos selado no tete-a-tete de Nampula, e que devia entabular negociações entre as partes.
Estranhamente, nunca foi reportado pela imprensa moçambicana que Dhlakama estaria a queixar-se pelo facto de Guebuza não estar a atender as suas chamadas. Ele queixa-se apenas, mas sem exibir comprovativos, tais como uma carta, capaz de demonstrar que Guebuza não tem respondido aos seus pedidos.
Dhlakama ainda não disse claramente os motivos que o levaram de regresso às matas volvidos seis meses após o seu último frente-a-frente com Guebuza em Nampula. Até aqui somente Mazanga limita-se a dizer que Guebuza mentiu ao meu Presidente Dhlakama porque não criou a referida comissão.
Estas alegações acabam em ruídos que ninguém entende, como dizia um dos editoriais do Savana, em que seu autor acabou especulando dizendo que o que Dhlakama quer de facto é a partilha dos recursos que alega que são monopolizados pela Frelimo.
O que Dhlakama devia fazer, era continuar a expor os tais pecados da Frelimo, se é que existem, para que todos os moçambicanos os possam ver um dia.
Só através do voto popular é que a sua razão será aceite legitimamente pelos moçambicanos e pelo resto do mundo. Sei que dirá que os moçambicanos já votaram em si no passado e na sua Renamo, mas que a Frelimo roubou os votos que vos davam como vencedores.
Mas o que Dhlakama não sabe é que se a Frelimo tivesse roubado votos, nem seria ele a queixar-se. Seria o povo que é o legítimo dono desses votos e que teria ficado chocado ao ver que aquele em quem votou de facto foi preterido. O que o povo quer não há quem possa impedir, como se viu em 1974 quando milhares de colonos tentaram travar a ascensão de Moçambique à independência. O povo saiu espontaneamente em massa nas ruas da então Lourenço Marques e sacudiu esses colonos e desalojou os que haviam ocupado locais estratégicos como a então Rádio Cluble de Moçambique, hoje Rádio Moçambique. Tudo isto mostra que se a Frelimo tivesse andando a roubar de facto os votos que teria depositado a seu favor e para a sua Renamo, o mesmo povo nem precisaria dos apelos que tem feito para que manifeste. Iria se rebelar espontaneamente contra a Frelimo e colocaria a si e a sua Renamo no poder.
O que tem acontecido é que esta vossa alegação de roubo de votos nunca sequer foi secundada pelos observadores que acompanharam as quatro eleições gerais realizadas em Moçambique desde 1994.
Mesmo nas de 1999, que a Renamo insiste ter sido vencedora, nunca conseguiu provar nada, porque na conferência de imprensa que convocou para anunciar a alegada vitória, os dados numéricos que trazia na manga do casaco para sustentar a suposta vitória eleitoral, o seu somatório dava, pelo contrário, triunfo à Frelimo, e ao seu então candidato à Presidência, Joaquim Chissano.
Este facto tão insólito de apresentar dados numéricos eleitorais que acabaram provando que afinal quem ganhou não era Dhlakama nem a sua Renamo mas sim a Frelimo e o seu candidato, inspirou o falecido jornalista Carlos Cardoso, a escrever uma notícia intitulada “Vitória da Frelimo anunciada pela Renamo”.
REGRESSO À ANTIGA BASE-MÃE É ÚLTIMA MACHADADA À CREDIBILIDADE DE DHLAKAMA
A prova de que Dhlakama não é um líder, é que em política, quem mais sofre desgaste ou perde a popularidade, é quem está no poder, e não quem está na oposição.
Mas, por incrível que pareça, Dhlakama está a provar o contrário, porque ele e a sua Renamo foram perdendo ano após ano, a significativa inserção que tinham revelado ter junto do povo, principalmente durante as primeiras eleições gerais de 1994, mas principalmente ainda nas de 1999, quando quase ocorreu um empate.
Essa inserção foi-se desfazendo porque Dhlakama não soube aceitar as derrotas que ia sofrendo e que não eram tão esmagadoras, e deixavam claro que com um pouco mais de trabalho político, poderia um dia pensar na vitória.
Refira-se que nas eleições de 1999 a Renamo chegou a ter 119 deputados de um total de 250 que compõem o Parlamento moçambicano. Caso ele tivesse sabido aceitar estas decrescentes derrotas com humildade, e continuasse a trabalhar, era provável que tivesse pelo menos elevado esta fasquia eleitoral.
No lugar de se guiar pelo princípio que reza que as boas coisas são para os que sabem esperar, Dhlakama decidiu acusar a Frelimo de ter roubado os votos, quando as eleições foram consideradas livres, justas e transparentes pelos observadores nacionais e estrangeiros.
Ao renegar os resultados foi mais um erro desastroso que ele voltou a cometer, e que jamais seria capaz de corrigir. De facto, Dhlakama nunca aceitou os resultados das quatro eleições, incluindo as últimas que Guebuza e seu partido venceram com uma margem folgada e superior a dois terços.
Ele não só foi renegando essas derrotas cada vez mais próximas da vitória, como os seus deputados foram piorando a situação, porque foram protagonizando no parlamento cenas e atitudes a todas as luzes condenáveis.
Alguns desmandos que, amiúde, foram protagonizando acabaram levando o mesmo povo a rotular aquele parlamento de escolinha de indisciplinados.
Ora, isto teve o seu preço para a Renamo e o seu líder, porque acabaram vendo a sua percentagem eleitoral cair a níveis muito baixos para atingir apenas 51 deputados nas últimas eleições gerais.
Para esta redução, o único culpado é mais uma vez o próprio Dhlakama. Veja-se que mesmo estes 51 deputados tomaram posse à sua revelia, porque ele tinha ordenado que não ocupassem os seus assentos, alegando que a Frelimo e Guebuza roubaram os seus votos.
O PRIMEIRO E MAIOR ERRO DE DHLAKAMA
O primeiro erro e o mais grave cometido por Dhlakama foi quando na véspera das primeiras eleições gerais multipartidárias em 1992, anunciou que ele e a sua Renamo tinham mudado de ideias e que iriam boicotá-las, para no dia seguinte dar o dito por não dito.
Essa decisão mal pensada foi muito prejudicial para ele e o seu partido, porque nem todas as pessoas que o haviam ouvido dizer que optava pelo boicote, voltaram a ouvi-lo a revogar a sua decisão.
Este seu dito por não dito fez-lhe perder certamente muitos votos, mas mais do que isso, o pior é que ele se desacreditou mesmo perante os que ainda o podiam ver como alguém a apostar nele.
NÃO PODEMOS PERMITIR QUE A NOSSA PAZ SEJA REFÉM DE DHLAKAMA
No meio deste regresso de Dhlakama às matas como que prelúdio do seu regresso à guerra, tenho notado com preocupação que há alguns de entre nós que pensam que para evitarmos que reactive a guerra, temos de nos submeter a ele.
Ora, os que assim pensam, estão a dar azo a que Dhlakama se sinta como um Deus-todo-poderoso que nunca foi e nunca será. Uma coisa é temermos a guerra, outra coisa é temermos um homem.
Nós todos valemos mais que um homem, mesmo que conte com os tais 5.000 mil outros homens armados.
Com isso nunca nos podemos deixar dominar pelo medo, porque no dia em que nos deixarmos dominar pelo medo, será o nosso fim como um povo. Temos que ter coragem de chamar Dhlakama à razão. O medo é o pior inimigo.
Vicent Van Gogh disse uma vez que se alguém perder dinheiro, terá perdido pouco, se perder a honra, terá perdido muito, mas que se perder a coragem, terá perdido tudo.
A mensagem de fundo desta célebre frase é a de que quem tiver coragem, terá tudo, incluindo o dinheiro e mesmo a honra, porque sem coragem, não se pode defender a honra.
Isto se aplica a nós como povo. No dia em que perdermos a coragem de nos opormos ao que é ruim, iremos perder tudo.
Aliás, o que nos levou a derrotar o colonialismo em apenas 10 anos de luta armada, que nos vinha oprimindo, explorando e desonrando passavam já 500 anos, foi quando ganhamos a coragem. Não podemos ser cobardes, porque isto leva o homem a morrer antes de morrer de facto.
Se não tivéssemos resgatado a nossa coragem que, segundo Mandela, é o único antídoto ou remédio contra o medo, até hoje estaríamos debaixo da bota colonial.
É triste quando surgem alguns moçambicanos que acreditam que a paz de que desfrutamos há já 20 anos, deriva da boa vontade de Dhlakama, indo ao ponto de sugerirem que para que continue a nos manter essa paz, temos que lhe dar tudo que ele quer para si e para os seus, como acabo de ler num dos jornais da praça.
De modo algum o podemos pagar seja o que for pelo simples facto de que alguma vez foi um instrumento de guerra de Ian Smith e do apartheid. Nós não somos propriedade de Dhlakama e muito menos seus reféns. Somos um povo de que ele é parte ruim, neste caso infelizmente.
Para mim, o único preço que se lhe pagou, foi o ter sido aceite de novo no seio dos moçambicanos, quando finalmente assinou o Acordo de Paz com o então presidente Chissano, com base no qual ambos assumiram o compromisso de que jamais iriam mais recorrer à guerra que, neste caso, foi uma terrível tragédia para nós seus compatriotas.
O facto de termos aceite foi por termos assumido que ele já se havia tornado numa espécie dum filho pródigo que estava de volta à casa, após 16 anos de um casamento diabólico com o apartheid que, neste caso, era na altura o regime mais desumano que prevalecia na face da Terra, segundo as Nações Unidas.
Mas Dhlakama é agora um viúvo político porque o apartheid morreu tal como o então regime racista de Smith e que neste caso eram a sua única força. Ele era apenas a sua cara disfarçada. Por isso não nos pode meter medo sequer.
GM/SG
gustavomavie@gmail.comAIM – 03.11.2012
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