by Egidio Guilherme Vaz Raposo on Tuesday, 24 May 2011 at 16:06 ·
Não irei contribuir nem com um centavo para a campanha "TODOS NO BALANÇO PELA EDUCAÇÃO" da TV MiramarAnda por aí uma campanha NACIONAl da Televisão Miramar (TV Record) que tem como nome, "TODOS NO BALANÇO PELA EDUCAÇÃO". O objectivo dessa campanha é mobilizar a sociedade (pessoas singulares, instituições e entidades do Estado) para, com a sua contribuição garantam carteiras nas escolas.
Nada de mal com a ideia. Até porque podiamos ainda advogar por ar-condicionados, batas para professores ou mesmo e antes de tudo isso, uma escola, ou seja, quatro paredes erguidas e um tecto, para que cada criança moçambicana possa estudar.
Portanto, até podia questionar entre as prioridades para a criança moçambicana em idade escolar, e já que a campanha é de âmbito nacional, entre carteira e salas de aula, o que era prioritário? Para a informação dos organizadores, na Província de Tete, Distrito de Tsangano, em 1999 houve mais de 3000 carteiras que, não tendo sala para serem alojadas, permaneceram até apodreder debaixo das árvores por volta de 2001.
Mas o principal problema do sector de Educação não é este. O que actualmente preocupa ou devia merecer atenção dos decisores e dos que pretendem apoiar a campanha é conter a evasão escolar. Estima-se que mais de 40% das nossas crianças, principalmente meninas não conseguem completar o nível primário; portanto, abandonam a escola por vários motivos, incluindo a falta de incentivos para que elas estudem até temrinar o subsistema de ensino.
Existem estudos documentados que defendem que uma das razões que leva a evasão escolar (os moçambicanos chamam abandono escolar, mesma coisa no fundo) é a armadilha da pobreza.
A FDC-Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, já lançou vários programas com vista a garantir que a mulher permanença na escola, concedendo até Bolsas de Estudo. Já existem projectos a correr a nível nacional que consistem na provisão do lanche escolar a nível do ensino primário como incentivo para desmotivar a evasão escolar. Uma das organizações que lidera esse projecto é o PMA - PROGRAMA MUNDIAL DE ALIMENTAÇÃO.
Portanto, como se depreende, a carteira em sí não é problema de fundo para o nosso sector de Educação. Existem outros assuntos candentes, imprescindíveis e urgentes, incluindo o simples acesso da criança a Educação, Direito que é negado à milhares de crianças à cada ano, apesar do esforços notáveis do Governo e seus parceiros.
A carteira escolar é problema de alguém e não constitui prioridade nem merece atenção dos que desde ha muito lutam para garantir o acesso universal do moçambicano á educação. Não é problema nacional, pelo menos se formos rigorosos, dentro do prisma de priorização.
Mas, como disse, por ser uma iniciativa individual, não precisa que seja necessariamente alinhada aos planos e prioridades do Governo e seus parceiros. Entende-se. Também entendo o pendor publicitário que a Campanha Nacional tem. De uma ou de outra forma, nada do que disse atrás tira o mérito da Campanha Nacional. Que siga e desejo-a boa sorte.
Porque não irei contribuir para a campanha?A campanha apela a todos para que contribuam com dinheiro ou bens que concorram para garantir que toda a cirança moçambicana tenha uma carteira. Para além de não sabermos com exactidão: 1-quantas crianças estudam sem carteira ou "sentam no chão"; 2-quantas carteiras/dinheiro a campanha pretende mobilizar/comprar (critério importante, contra o qual a campanha deverá ser objectivamente avaliada); 3- quanto tempo durará a campanha televisiva; 4-quais os indicadores de sucesso da mesma e 5-Como se vai usar o dinheiro a arrecadar. Dizia, para além de não sabermos com exactidão os aspectos atrás aflorados, a Campanha Nacional TODOS NO BALANÇO PELA EDUCAÇÃO não acautelou o momento de crise em que nos encontramos.
Numa altura em que o Governo contrai o seu estômago (ou diz que esta a emagrecê-lo) para poupar algum que deverá ser usado ao subsídios de vária ordem (a palhaça cesta básica, os combustíveis, a imprtação do trigo, etc), a Miramar aparece a pessoas e instituições, que literalmente não existe.
Prefiro que "Ernesto Martinho" faça greve de fome e quase morra a uma campanha por ele encabeçadaSe no mínimo faltou atenção aos organizadores para ponderar o contexto de crise em que vivemos, pelo menos deviam reorientar a sua campanha para os bancos e grandes empresas (que declararam lucros chorudos no anterior ano financeiro). A Miramar devia ir buscar dinheiros dos seus patrocinadores, parceiros de negócio, bancos e outras instituições financeiras, etc., em vez de mais uma vez pedir ao já apertado povo para através da sua sms ou outro gesto, ainda emagrecer o seu bolso, matando assim a sua família.
Essa forma de fazer campanha é no mínimo estranha e cheira a extorão. Por falta de clareza, critérios de sucesso e outra informação bastante, própria de uma campanha, não irei atrever-me a tirar nem da minha sms, nem do meu banco muito menos da minha moral qualquer contribuição, à menos que me satisfaçam com a informação que falte.
Em abono da minha intelectualidade, não me revejo (até que é um direito que me assiste, o de divergir em opiniões) na Campaha Nacional, Todos belo Balanço pela Educação, por não ser no mínimo transparente e consequente.
Pedir ao povo, o público telespectador dinheiro para carteira, é no mínimo um insulto ao pai que viu a sua filha ou filho sem poder ir a escola este ano; roça a zombaria à quem abandonou a escola por causa da fome ou falta de dinheiro para pagar propinas; é falta de respeito à quem ainda estuda ao relento por falta de salas de aulas. É no mínimo resultado de uma clara falta de uma visão verdadeiramente nacional, e capacidade de gestão, porque incapaz de discernir o essencial do dispensável. É no final das contas gozar com o verdadeiro conceito do corporate social responsibility (responsabilidade social das empresas). É por outras palavras vender-nos gato por lebre, uma vez que está a fazer-se da publicidade um samaritano encobrindo assim a verdadeira face do fariseu.
As escolhas estratégicas de temas para campanhas ou "revoluções" precisam ser delicadamente analisadas antes que caiam no ridiculo. Já vimos outras coisas ridiculas como a Marcha Nacional pela Solidariedade e Paz no Mundo, que depois daquilo ninguem mais se lembrou em dar seguimento: um conjunto de homens e mulheres foram obrigados a seguir os passos de um grupelho de espertos, que cabalmente satisfizeram seus intentos obscuros, mas que ao ze povão, nada restou.
Eu preferia uma greve de fome do Ernesto Martinho pela Educação do que colecta de dinheiros para compra de carteira. Aí sim, o Martinho iria sentir quanto custa cada vintém que ele pede ao povo para satisfazer a sua campanha.
O povo Moçambicano não precisa de carteiras tão já pelo menos se pensarmos como um todo, conscientes que aos que estudam sem elas, já devem se considerar sortudos. Pelo contrário, precisa que os livros de distribuição gratuíta chegue ás pessoas e deixe de ser vendido nas ruas de Maputo; precisa que o lanche do PMA chegue as pessoas e não seja desviado pelo caminho para os mercados de Gurúe; precisa que as bolsas e diversas iniciativas com vista a aliviar o abandono escolar cheguem a devidas pessoas; precisa acima de tudo que naqueles locais onde as pessoas ainda estudam debaixo da árvore, cheguem umas salas.
E em última análise, uma verdadeira campanha pela Educação implicaria uma advocacia para que o FMI - Fundo Monetário Internacional (cujo ex-chefe, Dominique Strauss-khan - violou sexualmente uma africana nos EUA) deixe de impor limites na contratação de professores e consequente pagamento a estes; implicaria na materialização do acesso à educação por todos. Alguém devia indicar o endereço do MEPT -Movimento Educação para Todos para mais subsídios aos campanhistas.
Os mentores dessa campanha deviam dedicar um bocadinho de tempo para se aconselhar junto dos especialistas do sector por forma a dar corpo aos esforços concertados que já estão em curso no sector. A continuar assim, não me surpreenderia que outro dia fossemos fazer uma campanha pelo copo de leite para cada criança na escola. Não deixa de ser nobre mas entre as prioridades imediatas, eu prefiro ser mais racional e abrangente.
Mas essa campanha não vem ao acaso. Já se incrustrou na sociedade midiatica moçambicana o hábito de vivermos de campanha em campanha. Apesar de não ter nada contra, essa forma de viver e pensar Moçambique denota a amnésia colectiva e o equívoco em que caimos: mas não é assim, como se agendam os assuntos. Não será assim que mudaremos o país. Não é assim que coloca o país nos carris. Porque assim estamos a contribuir para piorar ainda mais a nossa sociedade.
Por estes e outros motivos que ficaram por esgrimir, eu digo não irei doar nada. Nem eu, nem minha família, porque todos estamos apertados com a crise financeira que abala a todos moçambicanos, a mim e minha familia e o Mundo em geral. E não sou cego, no mínimo.
PS:
Essa campanha é falaciosa e só ajuda a afundar as economias das pessoas, dos mais pobres porque menos informados e manipuláveis e dos desesperados. Por apelar a emoção (crianças que estudam n"no chão) a campanha quer tocar os desatentos aos verdadeiros problemas do sector de Educação. Vão falar para outros.
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