Foi
detido várias vezes e brutalmente espancado, mas não desistiu de lutar pela
Democracia. Sem violência.
Por SABRINA HASSANALI
É o único político no Zimbabwe que tem coragem para
enfrentar o presidente Robert Mugabe e a sua poderosa máquina de repressão.
Foi várias vezes detido, brutalmente espancado pela polícia e alvo de quatro
tentativas de assassinato, mas nunca vergou. Nem desistiu do seu sonho: viver
num país em liberdade. A luta de toda uma vida de Morgan Tsvangirai parece
estar finalmente a quebrar o ditador. "Já se vislumbra a mudança
democrática", comentou antes mesmo das eleições.
O carisma do líder do maior partido da oposição do
Zimbabwe revelou-se cedo. Filho mais velho de uma família de nove irmãos, foi
forçado a abandonar os estudos aos vinte anos para ajudar os pais, de poucos
recursos. Começou a trabalhar como operário numa empresa têxtil e, dois anos
mais tarde, ingressou nos quadros da Mina de Níquel Trojan, onde chegou a
capataz. A aguçada consciência política começou a manifestar-se quando se tornou
sindicalista.
Em 1989 tornou-se secretário-geral da poderosa
Confederação dos Sindicatos do Zimbabwe (ZC-TU), que mantinha fortes vínculos
com a União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (Zanu-PF), o
partido de Mugabe. Tsvangirai iniciou o combate político contra o ditador ao
romper com esta suspeita aliança.
É a partir desta altura que começa a implacável
perseguição política. Mas a repressão apenas reforçou a sua determinação. Em
1997 organizou a primeira greve geral da história do país e, dois anos mais
tarde, fundou o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), que em apenas
alguns meses conseguiu emergir como uma poderosa força de oposição e derrotar
o governo no referendo sobre a reforma constitucional, que permitia
nomeadamente a apreensão de propriedades de fazendeiros brancos sem
compensação.
NÃO QUER SER MÁRTIR
Tsvangirai sobreviveu a quatro tentativas de
assassinato, uma das quais em 1997, quando agentes da polícia secreta tentaram
atirá-lo pela janela. Numa das vezes em que foi detido a polícia espancou-o brutalmente
numa esquadra perante apoiantes para o humilhar. Mas não conseguiu fazê-lo
vergar. "Sim, brutalizaram a minha carne, mas jamais conseguirão esmagar o
meu espírito. Vou lutar até o Zimbabwe ser livre" jurou.
A repressão violenta do regime de Mugabe
não extremou os seus sentimentos. "Não acredito na violência. Sei que
muitas vezes sou acusado de ser fraco porque prefiro evitar o confronto.
Quando Mugabe me roubou a presidência em 2002 os meus apoiantes estavam
prontos para o confronto nas ruas. Contive-os porque não acredito na violência.
[...] Não procuro o martírio", garante. Esta posição pacifista nem sempre
se reflecte, contudo, no seu discurso. Num comício, em Setembro de 2000,
afirmou aos militantes: "Se Mugabe não sair pacificamente será retirado
pela força."
As suas credênciais de democrata também
já foram postas em causa. Em 2005 dividiu o partido após anular uma decisão da
liderança de participar nas eleições para a Câmara Alta e ordenar o boicote.
Tsvangirai perdeu apoios depois deste episódio, mas regressou em força nestas
eleições.
Apesar das contradições, o líder do MDC
foi conseguindo corroer a resistência de Mugabe. Até aqui poucos acreditavam
que o velho ditador cedesse. Depois destas eleições o próprio partido de
Mugabe está dividido, com muitos militantes a defenderem que a situação se
tornou insustentável e que é preciso encontrar uma forma menos humilhante de
Mugabe sair de cena.»
O APOIO DOS FAZENDEIROS BRANCOS
A questão da distribuição de terras constitui um dos
pontos quentes da agenda política no Zimbabwe. Morgan Tsvangirai garante que
todos os fazendeiros apoiam o manifesto político do seu partido, que inclui a
redistribuição de terras aos negros. Mas alguns acusam-no de hipocrisia por ter
concordado com o apoio financeiro deles. Aliás, a propaganda eleitoral de
Mugabe tirou partido desta questão. Num dos cartazes via-se fazendeiros brancos
em fila a passarem cheques sob o olhar atento de Tsvangirai. O líder da
oposição não comenta, mas este apoio, embora vital para a recuperação da muita
debilitada economia, pode comprometê-lo. Esta não é a única contradição
ideológica de Tsvangirai. No passado costumava culpar o FMI pelos desaires
económicos do país e agora parece ter mudado de posição ao manter ligações com
industriais que apoiam as leis do mercado livre.
UM RIVAL "IGNORAMUS"
Filho
de um carpinteiro e pedreiro da etnia maioritária shona, Morgan Richard
Tsvangirai, de 56 anos, nasceu em Gutu. Teve de suspender os estudos aos vinte
anos para ajudar a numerosa família. Mugabe costuma referir-se a ele como
"ignoramus" pela falta de formação académica e origem humilde. Foi
líder sindicalista e dirige o Movimento que transformou no maior partido da
oposição. É cristão, casado e tem seis filhos.
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