quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cúpula residual dos “libertadores” emperrando processos e desenvolvimento

Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
 
- Elitismo doentio e lesa-pátria cegando “libertadores”
Beira (Canalmoz) - Custa dizer e por vezes é difícil de compreender como quem se empenhou tanto na luta anticolonial tenha enveredado por caminhos tão diferentes logo que se guindou ao poder.
Gente que modestamente chegou à zona dominada pelo sistema colonial logo se transformou e se transfigurou. De verticalidade ou de afirmações coerentes com uma causa que todo um povo abraçava e defendia rapidamente se viu “camaradas” optarem por caminhos escusos da prepotência e arrogância.
O facto de terem participado na luta anticolonial colocou-se acima de seus concidadãos e paulatinamente constituíram-se numa classe especial de cidadãos da república tão bem recebida.
De “camaradas” a quem se podia dizer “bom-dia” e receber-se resposta fácil passamos a ver os mesmos “camaradas” se distanciando do povo que diziam “amar, defender e proteger”.
Conversa fiada logo se viu. O que queriam e concretizaram, afinal substituírem na íntegra o colono no poder, seu sistema e continuar a fazer o mesmo senão nalguns casos, muito pior que os colonialistas.
Daí para uma situação de contradições que desembocaram numa guerra violenta não passaram muitos anos.
Convenhamos que a situação regional e internacional era complicada, governadas por agendas muitas vezes concebidas e implementadas por outros no quadro de uma confrontação à escala global historicamente como “guerra-fria”. Como peões convencidos de que estavam governando o novo país muitos, na impossibilidade ou incapacidade de fazer uma leitura concreta do que havia em jogo, acabaram por defraudar as esperanças de todo um povo sofrido.
Se não tem sido a teimosia doentia e crónica, alguma megalomania incipiente, disfarçada de militância revolucionária Moçambique não teria sofrido os horrores da guerra. Os moçambicanos ter-se-iam entendido e compreendido que não eram as diferentes ideologias em voga que os separavam.
O que se vive hoje é a continuação de posicionamentos algumas vezes camuflados e outras vezes quando é oportuno abertamente assumidos por actores políticos “desnorteados”.
Já muitos moçambicanos pereceram advogando a tolerância política e um espírito patriótico capaz de unir verdadeiramente cidadãos de um mesmo país.
Quando se espera pro manifestações conducentes a normalização política no país o que nos é dado a observar são teses de um passado monolítico e voraz.
Afinal o AGP está-se revelando uma encenação que visava a manutenção do poder por uns e a contínua subordinação de outros, da maioria.
Os desafios na frente económica, na consolidação da democracia política estão sendo propositadamente adiados porque há indivíduos pertencentes a uma “casta” sem interesse algum que alterações aconteçam no status.
Quando a elite política de um país não consegue ver acima de seus interesses materiais, sua posição na hierarquia governante estão criadas as condições para a emergência e proliferação de travões à corrente de desenvolvimento.
Importa entender o ambiente prevalecente, as reivindicações da Renamo, o conteúdo das declarações do Conselho Episcopal da Igreja Católica em Moçambique, as entrevistas de conceituados académicos e as mensagens de inúmeros moçambicanos como forma de negação de um ordenamento político e económico sofrível, desgastante e contraproducente.
Algum traquejo e experiência manipulativa acabam por esgotar sua utilidade e denunciar-se face a uma percepção crescente dos cidadãos e forças políticas.
A democracia num país é um processo que acontece de forma prática, sob respeito de preceitos que a caracterizam e jamais através de manobras dilatórias e de arranjos particulares entre figuras políticas.
O que os moçambicanos desejam é que seus governantes e políticos se assumam coerentes com o que apregoa. Basta de entrarem e jogos que visam ultimamente garantir a sua contínua preponderância.
Moçambique não se pode dar ao luxo de alimentar uma elite que se tem mostrado parasita e sem ideias claras quanto aos destinos e forma de conduzir os moçambicanos a destinos dignos e honráveis.
Este país é dos moçambicanos e não unicamente da elite que constitui a liderança política e governamental.
A transição que alguns fazem do mundo governamental para a banca, empresas públicas, empresas privadas e holdings privadas faz parte de um processo similar ao que acontece em todo o mundo só que entre nós as coisas sucedem-se sem observância de critérios éticos e morais mínimos.
Chegou a altura dos moçambicanos rejeitarem com toda a firmeza a continuação de um sistema que consubstancia nepotismo em cada passo e esquina.
A “dumbanenguização” da política, o clientelismo, o tráfico de influências, a tristemente chamada “confiança política” roeram o tecido social nacional e colocaram o país numa posição incomoda, instável e perigosa.
Políticos um tanto ou quanto fossilizados e de orientação política retrógrada continuam recebendo espaço especial na comunicação social pública e privada e aproveitando-se de um passado de protagonismo na arena política nacional consideram-se perenes, insubstituíveis, proprietários únicos da verdade.
Senhoras e senhores, a reforma no aparelho do Estado existe e na política também o mesmo se passa. Quando um funcionário atinge uma certa idade vai para a reforma e os titulares de cargos públicos sujeitos a eleição também obedecem a regras quanto a sua elegibilidade e mandatos. Uma vez impedidos de estarem no activo as pessoas retiram-se e deixam campo aberto para novos titulares eleitos e funcionários em geral no aparelho do Estado.
É pouco elegante e manifestação de corrosão de um executivo que figuras do passado continuamente se imiscuam nos assuntos do presente na política nacional.
O antigo PR, Joaquim Alberto Chissano, tem de fazer como George W. Bush, Nicolas Sarkozy, Nelson Mandela e outros antigos chefes de Estado que se colocam efectivamente na reforma, deixando campo e espaço para que seus substitutos exerçam suas responsabilidades livres de “sombras”.
Se Moçambique atravessa uma fase de convulsões de ordem política tem de haver a sensibilidade de refrear ânimos e encetar todo o tipo de esforços para aproximar posições e não radicalizar a situação.
Erros e percepção ou de expressão, apresentação indevida de factos ou de posições não devem constituir barreira para que conteúdos não se discutam.
Quando é o interesse dos milhões de moçambicanos que está em jogo os enfeites discursivos, as jogadas maquiavélicas, a arrogância, a intolerância política devem ser postos fora da mesa e jogados no caixote de lixo.
Não se trata de ceder por ceder mas aceitar que este país não pode andar para a frente com tanto desequilíbrios, desestruturação e um ordenamento político que mina a democracia.
É nesse sentido que se chama e se clama pela experiência e sabedoria de pessoas como Joaquim Chissano. Com clareza, frontalidade, verticalidade é possível entendermo-nos e resolvermos as disputas e percalços de nosso processo histórico e político.
Pela paz somos todos obrigados a dar o nosso máximo… (Noé Nhantumbo)

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