10/05/2006-03h00
A carta enviada na segunda-feira (8) ao governo americano pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no que parecia ser um surpreendente gesto de reconciliação e argúcia diplomática, contém um grande número de críticas ao governo de George W. Bush e aos valores ocidentais e nenhuma proposta concreta para solucionar a crise, como havia prometido a república islâmica.
O texto, de 18 páginas, escrito em farsi e traduzido para o inglês, é a primeira mensagem pública de um líder iraniano ao governo americano desde que os dois países romperam relações diplomáticas, em 1979.
Leia abaixo a íntegra da carta em português:
"Sr. George Bush, presidente dos Estados Unidos da América
Já há algum tempo venho refletindo sobre como se poderia justificar as inegáveis contradições que existem na arena internacional --as quais vêm sendo constantemente debatidas, especialmente nos foros políticos e entre os estudantes universitários. Muitas questões continuam sem resposta. Isso me levou a discutir algumas das contradições e questões, na esperança de que surja uma oportunidade de resolvê-las.
Será que um homem pode ser um seguidor de Jesus Cristo, o grande mensageiro de Deus, se sentir obrigado a respeitar os direitos humanos, apresentar o liberalismo como modelo de civilização, anunciar oposição à proliferação de armas nucleares e de destruição em massa, fazer da guerra contra o terrorismo o seu lema e, por fim, trabalhar para o estabelecimento de uma comunidade internacional unificada --comunidade que Cristo e os virtuosos da Terra um dia governarão--, mas ao mesmo tempo determinar ataques contra outros países, causar a destruição de vidas, reputações e posses? Pode este homem, devido à possível existência de armas de destruição em massa em um país, ocupá-lo, causando a morte de 100 mil pessoas, destruir suas fontes de água, sua agricultura e sua indústria, enviar cerca de 180 mil soldados estrangeiros ao seu território, violar a santidade dos lares de seus cidadãos e fazer com que esse país recue em pelo menos 50 anos? A que preço? Centenas de bilhões de dólares do Tesouro de um país e de determinados outros países gastos, e dezenas de milhares de jovens colocados em risco --como soldados de ocupação--, afastados de seus familiares e entes queridos, tendo as mãos manchadas com o sangue alheio, sujeitos a tamanha pressão psicológica que a cada dia alguns cometem suicídio, e aqueles que voltam aos seus lares sofrem de depressão, adoecem e enfrentam toda espécie de distúrbio, enquanto alguns são mortos e seus corpos são devolvidos às suas famílias.
Sob o pretexto da existência de armas de destruição em massa, esta grande tragédia veio a absorver tanto o povo do país ocupado quanto o do país ocupante. E mais tarde foi revelado que as de armas de destruição em massa nunca existiram.
É claro que Saddam era um ditador assassino. Mas a guerra não foi travada para derrubá-lo. O objetivo anunciado da guerra era localizar e destruir armas de destruição em massa. Ele foi derrubado a caminho de um outro objetivo, mas mesmo assim o povo da região ficou feliz. Gostaria de lembrar que, ao longo dos muitos anos de sua guerra com o Irã, Saddam contou com o apoio do Ocidente.
Sr. presidente, talvez o senhor saiba que sou professor. Meus alunos me perguntam como essas ações podem reconciliadas com os valores expressos no começo da carta e com os deveres para com, e as tradições de, Jesus Cristo, mensageiro da paz e do perdão.
Existem prisioneiros na baía de Guantánamo que não foram julgados, não dispõem de representação legal, estão impedidos de ver suas famílias e obviamente estão presos em uma terra estranha e distante de seus lares. Não há monitoração internacional das condições em que vivem e daquilo que acontece com eles. Ninguém sabe se são prisioneiros comuns, prisioneiros de guerra, acusados ou criminosos.
Investigadores europeus confirmaram a existência de prisões secretas também na Europa. Eu não correlacionaria o seqüestro de uma pessoa e sua detenção em prisões secretas com as disposições de qualquer sistema judiciário. Aliás, não consigo compreender de que maneira essas ações podem corresponder aos valores delineados no início da carta, ou seja, aos ensinamentos de Jesus Cristo, aos direitos humanos e aos valores liberais.
Os jovens, os estudantes universitários e as pessoas comuns têm muitas questões sobre o fenômeno de Israel. Estou certo de que o senhor está familiarizado com algumas delas.
Ao longo da história, muitos países foram ocupados, mas acredito que o estabelecimento de um novo país com um novo povo é fenômeno inédito, exclusivo de nossa era.
Os estudantes dizem que 60 anos atrás, esse país não existia. Mostram velhos documentos e mapas e declaram que, por mais que tenham tentado, não encontraram um país chamado Israel.
Eu lhes digo que estudem a História da Primeira e da Segunda guerras mundiais. Um dos meus alunos me disse que durante a Segunda Guerra Mundial, na qual pereceram dezenas de milhões de pessoas, notícias sobre a guerra eram rapidamente disseminadas pelas partes em conflito. Cada qual se vangloriava de suas vitórias e das mais recentes derrotas dos adversários nos campos de batalha. Depois da guerra, surgiram alegações de que seis milhões de judeus haviam sido mortos. Seis milhões de pessoas decerto deveriam ser aparentadas a dois milhões de famílias, pelo menos.
Uma vez mais, presumamos que tais acontecimentos tenham sido verdade. Será que isso se traduz logicamente no estabelecimento do Estado de Israel no Oriente Médio, ou em apoio a esse Estado? De que maneira esse fenômeno pode ser racionalizado ou explicado?
Senhor presidente,
Estou certo de que o senhor sabe como --e a que custo-- Israel foi estabelecido. Milhares de pessoas foram mortas no processo.
Milhões de moradores da região se tornaram refugiados.
Centenas de milhares de hectares de terras aráveis, plantações de oliveiras, cidades e aldeias foram destruídas.
Essa tragédia não se limitou ao período de estabelecimento; infelizmente, ela vem ocorrendo já há 60 anos.
O regime estabelecido não demonstra misericórdia nem mesmo para com as crianças, destrói casas ainda ocupadas pelos moradores, anuncia com antecedência suas listas e planos de assassinar líderes palestinos e mantém milhares de palestinos prisioneiros. Um fenômeno como esse é único --ou pelo menos extremamente raro-- na memória recente.
Outra grande questão que as pessoas perguntam é por que esse regime está sendo apoiado? Será que o apoio a ele acompanha os ensinamentos de Jesus Cristo ou Moisés, ou os valores liberais? Ou devemos entender que permitir aos habitantes originais dessas terras --quer sejam cristãos, judeus ou palestinos-- que determinem seu destino se opõe aos princípios da democracia, aos direitos humanos ou aos ensinamentos dos profetas? Se não, por que existe tamanha oposição a um referendo?
A administração palestina que acaba de ser eleita assumiu recentemente. Todos os observadores independentes confirmaram que esse governo representa a vontade do eleitorado. Inacreditavelmente, o governo eleito está sofrendo pressão e sendo aconselhado a reconhecer o regime israelense, abandonar a luta e seguir os programas do governo anterior.
Se o atual governo palestino tivesse usado essa plataforma na campanha eleitoral, teria obtido os votos do povo palestino? Uma vez mais, será que a posição tomada em oposição ao governo palestino pode ser reconciliada com os valores delineados anteriormente? As pessoas também querem saber por que todas as resoluções de condenação a Israel são vetadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Senhor presidente,
Como o senhor bem sabe, vivo em meio ao povo e estou em constante contato com ele --muitas pessoas do Oriente Médio em geral também conseguem entrar em contato comigo. Elas tampouco têm fé nessas políticas dúbias. Existem indícios de que as pessoas da região estão cada vez mais iradas com relação a essas políticas.
Não é minha intenção apresentar muitas perguntas, mas preciso me referir a outros pontos, igualmente.
Por que qualquer avanço tecnológico obtido na região do Oriente Médio é traduzido e retratado como uma ameaça ao regime sionista? Será que a pesquisa e desenvolvimento científico não constituem um direito básico de qualquer nação?
O senhor conhece a História. Além da Idade Média, em que outro ponto da História o progresso científico e técnico foi considerado crime? Será que a possibilidade de que realizações científicas sejam usadas para a guerra é causa suficiente para que nos oponhamos completamente à ciência e à tecnologia? Se essa suposição é verdade, então todas as disciplinas científicas, incluindo física, química, matemática, medicina, engenharia e outras, precisam ser reprimidas.
Mentiras são contadas sobre a questão iraquiana. Qual vem sendo o resultado? Não tenho dúvida de que mentir é considerado repreensível em qualquer cultura, e o senhor não que mintam ao senhor.
Senhor presidente,
Será que os latino-americanos não têm o direito de perguntar por que seus governos eleitos estão sendo alvo de oposição e por que líderes golpistas vêm recebendo apoio? Ou, por que eles devem sempre viver sob ameaça e com medo?
O povo da África é trabalhador, criativo e talentoso. Pode desempenhar papel importante e valioso no atendimento das necessidades da humanidade, e contribuir para o seu progresso material e espiritual. A pobreza e as dificuldades em grandes porções da África impedem que isso aconteça. Será que os africanos não têm o direito de perguntar por que sua imensa riqueza --incluindo os minerais-- está sendo saqueada, a despeito do fato de que precisam dela mais do que ninguém?
Uma vez mais, ações como essas correspondem aos ensinamentos de Cristo e aos preceitos dos direitos humanos?
O bravo e fiel povo do Irã também tem muitas questões e queixas, entre as quais: o golpe de Estado de 1953 e a subseqüente derrubada do governo legítimo daquela era, a oposição à revolução islâmica, a transformação de uma Embaixada em quartel-general de apoio às atividades dos opositores da República Islâmica (muitos milhares de páginas de documentos corroboram essa alegação), o apoio a Saddam na guerra travada contra o Irã, a derrubada de um jato de passageiros iraquiano, o congelamento dos ativos nacionais iranianos, as ameaças cada vez mais violentas, a ira e o desprazer diante do progresso científico e nuclear da nação iraniana (no momento mesmo em que os iranianos estão jubilosos e colaboram com o progresso de seu país), e muitas outras queixas a que não me referirei nesta carta, senhor presidente.
Senhor presidente,
O 11 de setembro foi um incidente horrendo. A morte de inocentes é deplorável e repugnante em qualquer parte do mundo. Nosso governo imediatamente declarou sua repulsa aos responsáveis, ofereceu condolências às famílias das vítimas, e expressou sua simpatia.
Todos os governos têm o dever de proteger as vidas, propriedades e posição de seus cidadãos. O seu governo, ao que sabemos, emprega extensos sistemas de segurança, proteção e informações, e chega até a caçar oponentes no exterior. O 11 de setembro não foi uma operação simples. Será que poderia ter sido planejado e executado sem coordenação com serviços de segurança e inteligência --ou sem que estes sofressem extensa infiltração? É claro que isso é apenas um palpite bem informado. Por que diversos aspectos dos ataques foram mantidos em segredo? Por que não somos informados sobre quem fracassou em cumprir suas responsabilidades? E por que as partes responsáveis e culpadas não foram submetidas a julgamento?
Todos os governos têm o dever de prover segurança e paz de espírito aos seus cidadãos. Já há alguns anos, pessoas de seu país e dos países vizinhos aos pontos problemáticos do mundo não têm paz de espírito. Depois do 11 de setembro, em lugar de procurar a cura das feridas emocionais dos sobreviventes e do povo norte-americano --que ficou imensamente traumatizado com os ataques--, parte da mídia ocidental decidiu intensificar o clima de medo e insegurança --alguns veículos falavam constantemente sobre a possibilidade de novos ataques e mantinham as pessoas apavoradas. Isso é um serviço ao povo dos Estados Unidos? Será possível calcular os danos incorridos devido ao medo e ao pânico?
Os cidadãos norte-americanos viviam em constante medo de novos ataques que poderiam acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar. Sentiam-se inseguros nas ruas, em seus locais de trabalho e em casa. Quem vive feliz nessa situação? Por que a mídia, em lugar de transmitir um sentimento de segurança e de prover paz de espírito, preferia suscitar sentimentos de insegurança?
Alguns acreditam que essa histeria da imprensa abriu caminho --e serviu como justificativa-- para o ataque ao Afeganistão. Uma vez mais me parece necessário me referir ao papel da mídia. Nos manuais de imprensa, a disseminação correta de informações e a reportagem honesta de uma história são dogmas estabelecidos. Expresso meu profundo pesar diante do desdém que certos veículos ocidentais de mídia demonstram quanto a esses princípios. O principal pretexto para o ataque ao Iraque era a existência de armas de destruição em massa. Isso foi repetido incessantemente --até que o público, enfim, acreditasse, o que preparou o terreno para um ataque ao Iraque.
Será que a verdade não se perderá, em um clima enganoso e forjado? Uma vez mais, se permitirmos que a verdade se perca, como é que isso poderá ser reconciliado com os valores mencionados anteriormente? Será que a verdade, conhecida pelo Todo Poderoso, se perderá igualmente?
Sr. presidente,
Em países de todo o mundo, os cidadãos bancam as despesas de seus governos de modo que os governos, por sua vez, possam servi-los.
A questão aqui é o que as centenas de bilhões de dólares gastos a cada ano para pagar pela campanha no Iraque produziram para os cidadãos?
Como Sua Excelência bem sabe, em alguns Estados de seu país as pessoas vivem na pobreza. Há muitos milhares de desabrigados, e o desemprego é um enorme problema. É claro que esses problemas existem, em menor ou maior extensão, também em outros países. Com essas condições em mente, será que as gargantuescas despesas da campanha --pagas pelos cofres públicos-- podem ser explicadas, de maneira consistente com os princípio mencionados anteriormente?
O que venho expondo até agora representa algumas das queixas dos povos de todo o mundo, de nossa região e de meu país. Mas minha principal alegação --com a qual espero que o senhor concorde pelo menos em parte-- é que as pessoas que estão no poder têm um mandado de duração específica, e não governam indefinidamente, mas seus nomes serão registrados pela História e passarão por constante julgamento no futuro imediato e no mais distante.
Os povos esquadrinharão nossas presidências.
Será que conseguimos trazer a paz e a prosperidade ao povo, ou em lugar disso insegurança e desemprego? Pretendíamos estabelecer a justiça, ou apoiamos grupos de interesses especiais e, ao forçar grande número de pessoas a viver na pobreza e dificuldade, tornamos poderosos e ricos a alguns poucos, trocando a aprovação do povo e do Todo Poderoso por a desses privilegiados? Defendemos os direitos das pessoas menos favorecidas ou os ignoramos? Defendemos os direitos de todos os povos do mundo ou impusemos guerras a eles, interferimos ilegalmente em seus assuntos, estabelecemos prisões infernais e encarceramos alguns de seus membros? Trouxemos ao mundo paz e segurança ou suscitamos o espectro de intimidação e ameaça? Contamos a verdade à nossa nação e às demais nações do mundo ou apresentamos uma versão invertida? Estivemos do lado do povo ou do lado dos ocupantes e opressores? Será que nossa administração decidiu promover o comportamento racional, a lógica, a ética, a paz, o cumprimento das obrigações, a justiça, o serviço ao povo, a prosperidade, o progresso e o respeito pela dignidade humana ou a força das armas, a intimidação, a insegurança, o desrespeito pelo povo, retardando o progresso e a excelência de outros países e pisoteando os direitos das pessoas? E, por fim, eles nos julgarão para determinar se nos mantivemos ou não fiéis aos juramentos que fizemos ao assumirmos nossos cargos --servir ao povo, que é a nossa principal tarefa, e às tradições dos profetas.
Senhor presidente,
Por quanto mais tempo o mundo tolerará essa situação? Para onde essa tendência conduzirá o mundo? Por quanto tempo as pessoas do mundo devem pagar pelas decisões incorretas de alguns governantes? Por quanto mais tempo o espectro da insegurança --gerado pelos estoques de armas de destruição em massa-- atormentará os povos do mundo? Por quanto mais tempo o sangue de homens, mulheres e crianças inocentes será derramado nas ruas, e as casas das pessoas serão demolidas por sobre elas? O senhor está satisfeito com a atual situação do mundo? O senhor acredita que as atuais políticas deveriam ser mantidas?
Se os bilhões de dólares gastos em segurança, campanhas militares e movimentos de tropas fossem em lugar disso aplicados em investimento e assistência aos países pobres, promoção da saúde, combate a diferentes doenças, educação e melhora da saúde física e mental, assistência às vítimas de desastres naturais, criação de oportunidades de emprego e produção, projetos de desenvolvimento e combate à pobreza, estabelecimento da paz, mediação entre países envolvidos em conflitos e extinção das chamas dos conflitos étnicos, raciais e de outras ordens que existem no mundo, onde poderíamos estar, hoje? Será que o seu governo e o seu povo não ficariam justificadamente orgulhosos? Será que a posição política e econômica de sua administração não se tornaria ainda mais forte? E, lamento dizer, será que continuaria a existir ódio crescente pelo governo norte-americano?
Senhor presidente, minha intenção não é perturbar ninguém.
Se os profetas Abraão, Isaac, Jacó, Ismael, José ou Jesus Cristo estivessem conosco hoje, de que maneira julgariam esse tipo de comportamento? Será que teremos um papel a desempenhar no mundo prometido, no qual a justiça será universal e Jesus Cristo estará presente? Será que eles nos aceitariam?
Minha questão básica é esta: Não há uma maneira melhor de interagir com o resto do mundo? Hoje existem centenas de milhões de cristãos, centenas de milhões de muçulmanos, e milhões de pessoas que seguem os ensinamentos de Moisés. Todas as religiões divinas compartilham e respeitam da palavra, ou seja, o monoteísmo ou crença em um único Deus.
O sagrado Corão enfatiza essa comunhão e conclama todos os seguidores das religiões divinas, afirmando: [3:64] "Ó, seguidores do Livro! Venham a um mundo justo entre nós e vocês, no qual cultuamos apenas a Alá e não tomaremos por Senhor qualquer outro que não Alá. E caso, eles nos voltem as costas, diremos: prestai testemunho de que somos muçulmanos" (A família de Imram).
Senhor presidente,
De acordo com os versos divinos, fomos todos conclamados a seguir um Deus e a respeitar os ensinamentos dos profetas divinos. Servir a um Deus acima de todos os poderes do mundo e que pode fazer tudo que Lhe aprouver. O Deus que conhece aquilo que é oculto e que é visível, o passado e o futuro, sabe o que transcorre no coração de Seus servos e registra seus feitos. O Senhor que domina os céus, e a terra e o universo são sua corte, e o planejamento do universo é feito por Suas mãos, e transmite aos Seus fiéis a feliz notícia da misericórdia e perdão dos pecados. Ele é o companheiro dos oprimidos e o inimigo dos opressores. O compassivo e misericordioso. O recurso dos fiéis, aquEle que os guia das trevas para a luz. Ele é testemunha da ação de seus fiéis, Ele conclama os servos a serem fiéis e a agirem bem, e pede que se mantenham no caminho da retidão, e que se mantenham inabaláveis. Ele pede aos seus servos que ouçam Seus profetas, e é testemunha de seus feitos. Um mau final caberá àqueles que escolheram a vida deste mundo e O desobedeçam, oprimindo Seus servidores. E um bom e eterno paraíso caberá àqueles que temem sua majestade e não seguem suas inclinações lascivas.
Acreditamos que um retorno aos ensinamentos dos divinos profetas é o único caminho que pode conduzir à salvação. Fui informado de que Sua Excelência segue os ensinamentos de Jesus, e acredita na divina promessa do governo dos bons sobre a Terra. Também nós acreditamos que Jesus era um dos grandes profetas do Todo-Poderoso. Ele é elogiado repetidas vezes no Corão. Jesus também foi citado no Corão --"E decerto Alá é meu Senhor e seu Senhor, portanto sirva-o. Este é o caminho correto, Marium".
Serviço e obediência ao Todo-Poderoso é o credo de todos os mensageiros divinos.
O Deus de todos os povos na Europa, África, Ásia, África, Pacífico e no resto do mundo é um só. É o Todo-Poderoso que deseja nos guiar e oferecer dignidade a todos os Seus servos. Ele deu dignidade aos seres humanos.
Uma vez mais mencionamos o Livro Santo: Deus Todo-Poderoso enviou seus profetas com milagres e sinais claros que orientam as pessoas e lhes exibem sinais divinos e pureza ante seus pecados e maus feitos. E Ele enviou o Livro e a balança para que o povo exiba justiça e evite rebeliões.
Todos os versos acima podem ser lidos, de uma forma ou de outra, também no Bom Livro.
Os divinos profetas prometeram que chegará o dia em que todos os seres humanos se congregarão diante do Todo-Poderoso, para que seus feitos sejam examinados. Os bons serão encaminhados ao paraíso, e os maus sofrerão a divina retribuição. Confio em que nós acreditamos em um dia como esse, mas não será fácil calcular as ações dos governantes, porque devemos responder às nossas nações e a todos aqueles cujas vidas são direta ou indiretamente afetadas por nossas ações.
Todos os profetas falam de paz e tranqüilidade para o homem --baseada no monoteísmo, justiça e respeito pela dignidade humana.
O senhor não acredita que, caso venhamos todos a acreditar em e acatar esses princípios --ou seja, o monoteísmo, o culto a Deus, o respeito à dignidade do homem, a crença no Juízo Final--, podemos superar os presentes problemas do mundo --que resultam da desobediência ao Todo-Poderoso e aos ensinamentos dos profetas-- e melhorar nosso desempenho?
O senhor não acredita que a crença nesses princípios promove e garante a paz, amizade e justiça?
O senhor não acredita que os princípios citados, escritos e não escritos, são universalmente respeitados?
O senhor não aceitará este convite? Ou seja, de um retorno genuíno aos ensinamentos dos profetas, ao monoteísmo e à justiça, para preservar a dignidade humana e a obediência ao Todo-Poderoso e seus profetas?
Senhor presidente, a história nos ensina que governos repressivos e cruéis não sobrevivem. Deus confiou-lhes o destino do homem. O Todo-Poderoso não deixou o universo e a humanidade entregues aos seus recursos. Muitas coisas acontecem em contraposição aos desejos e planos dos governos. Isso nos diz que existe um poder maior em operação, e que todos os acontecimentos são determinados por Ele.
Será que se pode negar os sinais de mudança no mundo, hoje? A situação atual do mundo pode ser comparada à de 10 anos atrás? As mudanças acontecem em ritmo veloz e furioso.
Os povos do mundo não estão satisfeitos com a situação atual, e prestam pouca atenção às promessas e comentários feitos por diversos líderes mundiais influentes. Muitas pessoas no mundo se sentem inseguras e se opõem à difusão da insegurança e da guerra, e não aprovam ou aceitam políticas dúbias.
As pessoas protestam contra a crescente disparidade entre os favorecidos e os excluídos e os países ricos e pobres.
As pessoas estão desgostosas com a crescente corrupção.
As pessoas de muitos vezes estão zangadas com os ataques contra suas fundações culturais e a desintegração das famílias. Estão igualmente decepcionadas com a compaixão e a caridade cada vez menores. As pessoas do mundo não têm fé nas organizações internacionais, porque seus direitos não são defendidos por essas organizações.
O liberalismo e a democracia ao estilo ocidental não foram capazes de nos ajudar a realizar os ideais da humanidade. Hoje, esses dois conceitos fracassaram. As pessoas mais perceptivas já distinguem o som da fratura e queda da ideologia e dos pensamentos dos sistemas democráticos liberais.
Cada vez mais vemos os povos do mundo se dirigindo a um ponto focal --Deus Todo-Poderoso. Sem dúvida, por meio da fé em Deus e no ensinamento dos profetas, as pessoas resolverão seus problemas. Minha questão para o senhor é: o senhor não quer se juntar a elas?
Senhor presidente,
Quer gostemos, quer não, o mundo está gravitando em direção à fé no Todo-Poderoso e a justiça e a vontade de Alá prevalecerão sobre todas as coisas.
Mahmoud Ahmadinejad, presidente da República Islâmica do Irã"
Tradução de Paulo Migliacci
O texto, de 18 páginas, escrito em farsi e traduzido para o inglês, é a primeira mensagem pública de um líder iraniano ao governo americano desde que os dois países romperam relações diplomáticas, em 1979.
Leia abaixo a íntegra da carta em português:
"Sr. George Bush, presidente dos Estados Unidos da América
Já há algum tempo venho refletindo sobre como se poderia justificar as inegáveis contradições que existem na arena internacional --as quais vêm sendo constantemente debatidas, especialmente nos foros políticos e entre os estudantes universitários. Muitas questões continuam sem resposta. Isso me levou a discutir algumas das contradições e questões, na esperança de que surja uma oportunidade de resolvê-las.
Será que um homem pode ser um seguidor de Jesus Cristo, o grande mensageiro de Deus, se sentir obrigado a respeitar os direitos humanos, apresentar o liberalismo como modelo de civilização, anunciar oposição à proliferação de armas nucleares e de destruição em massa, fazer da guerra contra o terrorismo o seu lema e, por fim, trabalhar para o estabelecimento de uma comunidade internacional unificada --comunidade que Cristo e os virtuosos da Terra um dia governarão--, mas ao mesmo tempo determinar ataques contra outros países, causar a destruição de vidas, reputações e posses? Pode este homem, devido à possível existência de armas de destruição em massa em um país, ocupá-lo, causando a morte de 100 mil pessoas, destruir suas fontes de água, sua agricultura e sua indústria, enviar cerca de 180 mil soldados estrangeiros ao seu território, violar a santidade dos lares de seus cidadãos e fazer com que esse país recue em pelo menos 50 anos? A que preço? Centenas de bilhões de dólares do Tesouro de um país e de determinados outros países gastos, e dezenas de milhares de jovens colocados em risco --como soldados de ocupação--, afastados de seus familiares e entes queridos, tendo as mãos manchadas com o sangue alheio, sujeitos a tamanha pressão psicológica que a cada dia alguns cometem suicídio, e aqueles que voltam aos seus lares sofrem de depressão, adoecem e enfrentam toda espécie de distúrbio, enquanto alguns são mortos e seus corpos são devolvidos às suas famílias.
Sob o pretexto da existência de armas de destruição em massa, esta grande tragédia veio a absorver tanto o povo do país ocupado quanto o do país ocupante. E mais tarde foi revelado que as de armas de destruição em massa nunca existiram.
É claro que Saddam era um ditador assassino. Mas a guerra não foi travada para derrubá-lo. O objetivo anunciado da guerra era localizar e destruir armas de destruição em massa. Ele foi derrubado a caminho de um outro objetivo, mas mesmo assim o povo da região ficou feliz. Gostaria de lembrar que, ao longo dos muitos anos de sua guerra com o Irã, Saddam contou com o apoio do Ocidente.
Sr. presidente, talvez o senhor saiba que sou professor. Meus alunos me perguntam como essas ações podem reconciliadas com os valores expressos no começo da carta e com os deveres para com, e as tradições de, Jesus Cristo, mensageiro da paz e do perdão.
Existem prisioneiros na baía de Guantánamo que não foram julgados, não dispõem de representação legal, estão impedidos de ver suas famílias e obviamente estão presos em uma terra estranha e distante de seus lares. Não há monitoração internacional das condições em que vivem e daquilo que acontece com eles. Ninguém sabe se são prisioneiros comuns, prisioneiros de guerra, acusados ou criminosos.
Investigadores europeus confirmaram a existência de prisões secretas também na Europa. Eu não correlacionaria o seqüestro de uma pessoa e sua detenção em prisões secretas com as disposições de qualquer sistema judiciário. Aliás, não consigo compreender de que maneira essas ações podem corresponder aos valores delineados no início da carta, ou seja, aos ensinamentos de Jesus Cristo, aos direitos humanos e aos valores liberais.
Os jovens, os estudantes universitários e as pessoas comuns têm muitas questões sobre o fenômeno de Israel. Estou certo de que o senhor está familiarizado com algumas delas.
Ao longo da história, muitos países foram ocupados, mas acredito que o estabelecimento de um novo país com um novo povo é fenômeno inédito, exclusivo de nossa era.
Os estudantes dizem que 60 anos atrás, esse país não existia. Mostram velhos documentos e mapas e declaram que, por mais que tenham tentado, não encontraram um país chamado Israel.
Eu lhes digo que estudem a História da Primeira e da Segunda guerras mundiais. Um dos meus alunos me disse que durante a Segunda Guerra Mundial, na qual pereceram dezenas de milhões de pessoas, notícias sobre a guerra eram rapidamente disseminadas pelas partes em conflito. Cada qual se vangloriava de suas vitórias e das mais recentes derrotas dos adversários nos campos de batalha. Depois da guerra, surgiram alegações de que seis milhões de judeus haviam sido mortos. Seis milhões de pessoas decerto deveriam ser aparentadas a dois milhões de famílias, pelo menos.
Uma vez mais, presumamos que tais acontecimentos tenham sido verdade. Será que isso se traduz logicamente no estabelecimento do Estado de Israel no Oriente Médio, ou em apoio a esse Estado? De que maneira esse fenômeno pode ser racionalizado ou explicado?
Senhor presidente,
Estou certo de que o senhor sabe como --e a que custo-- Israel foi estabelecido. Milhares de pessoas foram mortas no processo.
Milhões de moradores da região se tornaram refugiados.
Centenas de milhares de hectares de terras aráveis, plantações de oliveiras, cidades e aldeias foram destruídas.
Essa tragédia não se limitou ao período de estabelecimento; infelizmente, ela vem ocorrendo já há 60 anos.
O regime estabelecido não demonstra misericórdia nem mesmo para com as crianças, destrói casas ainda ocupadas pelos moradores, anuncia com antecedência suas listas e planos de assassinar líderes palestinos e mantém milhares de palestinos prisioneiros. Um fenômeno como esse é único --ou pelo menos extremamente raro-- na memória recente.
Outra grande questão que as pessoas perguntam é por que esse regime está sendo apoiado? Será que o apoio a ele acompanha os ensinamentos de Jesus Cristo ou Moisés, ou os valores liberais? Ou devemos entender que permitir aos habitantes originais dessas terras --quer sejam cristãos, judeus ou palestinos-- que determinem seu destino se opõe aos princípios da democracia, aos direitos humanos ou aos ensinamentos dos profetas? Se não, por que existe tamanha oposição a um referendo?
A administração palestina que acaba de ser eleita assumiu recentemente. Todos os observadores independentes confirmaram que esse governo representa a vontade do eleitorado. Inacreditavelmente, o governo eleito está sofrendo pressão e sendo aconselhado a reconhecer o regime israelense, abandonar a luta e seguir os programas do governo anterior.
Se o atual governo palestino tivesse usado essa plataforma na campanha eleitoral, teria obtido os votos do povo palestino? Uma vez mais, será que a posição tomada em oposição ao governo palestino pode ser reconciliada com os valores delineados anteriormente? As pessoas também querem saber por que todas as resoluções de condenação a Israel são vetadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Senhor presidente,
Como o senhor bem sabe, vivo em meio ao povo e estou em constante contato com ele --muitas pessoas do Oriente Médio em geral também conseguem entrar em contato comigo. Elas tampouco têm fé nessas políticas dúbias. Existem indícios de que as pessoas da região estão cada vez mais iradas com relação a essas políticas.
Não é minha intenção apresentar muitas perguntas, mas preciso me referir a outros pontos, igualmente.
Por que qualquer avanço tecnológico obtido na região do Oriente Médio é traduzido e retratado como uma ameaça ao regime sionista? Será que a pesquisa e desenvolvimento científico não constituem um direito básico de qualquer nação?
O senhor conhece a História. Além da Idade Média, em que outro ponto da História o progresso científico e técnico foi considerado crime? Será que a possibilidade de que realizações científicas sejam usadas para a guerra é causa suficiente para que nos oponhamos completamente à ciência e à tecnologia? Se essa suposição é verdade, então todas as disciplinas científicas, incluindo física, química, matemática, medicina, engenharia e outras, precisam ser reprimidas.
Mentiras são contadas sobre a questão iraquiana. Qual vem sendo o resultado? Não tenho dúvida de que mentir é considerado repreensível em qualquer cultura, e o senhor não que mintam ao senhor.
Senhor presidente,
Será que os latino-americanos não têm o direito de perguntar por que seus governos eleitos estão sendo alvo de oposição e por que líderes golpistas vêm recebendo apoio? Ou, por que eles devem sempre viver sob ameaça e com medo?
O povo da África é trabalhador, criativo e talentoso. Pode desempenhar papel importante e valioso no atendimento das necessidades da humanidade, e contribuir para o seu progresso material e espiritual. A pobreza e as dificuldades em grandes porções da África impedem que isso aconteça. Será que os africanos não têm o direito de perguntar por que sua imensa riqueza --incluindo os minerais-- está sendo saqueada, a despeito do fato de que precisam dela mais do que ninguém?
Uma vez mais, ações como essas correspondem aos ensinamentos de Cristo e aos preceitos dos direitos humanos?
O bravo e fiel povo do Irã também tem muitas questões e queixas, entre as quais: o golpe de Estado de 1953 e a subseqüente derrubada do governo legítimo daquela era, a oposição à revolução islâmica, a transformação de uma Embaixada em quartel-general de apoio às atividades dos opositores da República Islâmica (muitos milhares de páginas de documentos corroboram essa alegação), o apoio a Saddam na guerra travada contra o Irã, a derrubada de um jato de passageiros iraquiano, o congelamento dos ativos nacionais iranianos, as ameaças cada vez mais violentas, a ira e o desprazer diante do progresso científico e nuclear da nação iraniana (no momento mesmo em que os iranianos estão jubilosos e colaboram com o progresso de seu país), e muitas outras queixas a que não me referirei nesta carta, senhor presidente.
Senhor presidente,
O 11 de setembro foi um incidente horrendo. A morte de inocentes é deplorável e repugnante em qualquer parte do mundo. Nosso governo imediatamente declarou sua repulsa aos responsáveis, ofereceu condolências às famílias das vítimas, e expressou sua simpatia.
Todos os governos têm o dever de proteger as vidas, propriedades e posição de seus cidadãos. O seu governo, ao que sabemos, emprega extensos sistemas de segurança, proteção e informações, e chega até a caçar oponentes no exterior. O 11 de setembro não foi uma operação simples. Será que poderia ter sido planejado e executado sem coordenação com serviços de segurança e inteligência --ou sem que estes sofressem extensa infiltração? É claro que isso é apenas um palpite bem informado. Por que diversos aspectos dos ataques foram mantidos em segredo? Por que não somos informados sobre quem fracassou em cumprir suas responsabilidades? E por que as partes responsáveis e culpadas não foram submetidas a julgamento?
Todos os governos têm o dever de prover segurança e paz de espírito aos seus cidadãos. Já há alguns anos, pessoas de seu país e dos países vizinhos aos pontos problemáticos do mundo não têm paz de espírito. Depois do 11 de setembro, em lugar de procurar a cura das feridas emocionais dos sobreviventes e do povo norte-americano --que ficou imensamente traumatizado com os ataques--, parte da mídia ocidental decidiu intensificar o clima de medo e insegurança --alguns veículos falavam constantemente sobre a possibilidade de novos ataques e mantinham as pessoas apavoradas. Isso é um serviço ao povo dos Estados Unidos? Será possível calcular os danos incorridos devido ao medo e ao pânico?
Os cidadãos norte-americanos viviam em constante medo de novos ataques que poderiam acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar. Sentiam-se inseguros nas ruas, em seus locais de trabalho e em casa. Quem vive feliz nessa situação? Por que a mídia, em lugar de transmitir um sentimento de segurança e de prover paz de espírito, preferia suscitar sentimentos de insegurança?
Alguns acreditam que essa histeria da imprensa abriu caminho --e serviu como justificativa-- para o ataque ao Afeganistão. Uma vez mais me parece necessário me referir ao papel da mídia. Nos manuais de imprensa, a disseminação correta de informações e a reportagem honesta de uma história são dogmas estabelecidos. Expresso meu profundo pesar diante do desdém que certos veículos ocidentais de mídia demonstram quanto a esses princípios. O principal pretexto para o ataque ao Iraque era a existência de armas de destruição em massa. Isso foi repetido incessantemente --até que o público, enfim, acreditasse, o que preparou o terreno para um ataque ao Iraque.
Será que a verdade não se perderá, em um clima enganoso e forjado? Uma vez mais, se permitirmos que a verdade se perca, como é que isso poderá ser reconciliado com os valores mencionados anteriormente? Será que a verdade, conhecida pelo Todo Poderoso, se perderá igualmente?
Sr. presidente,
Em países de todo o mundo, os cidadãos bancam as despesas de seus governos de modo que os governos, por sua vez, possam servi-los.
A questão aqui é o que as centenas de bilhões de dólares gastos a cada ano para pagar pela campanha no Iraque produziram para os cidadãos?
Como Sua Excelência bem sabe, em alguns Estados de seu país as pessoas vivem na pobreza. Há muitos milhares de desabrigados, e o desemprego é um enorme problema. É claro que esses problemas existem, em menor ou maior extensão, também em outros países. Com essas condições em mente, será que as gargantuescas despesas da campanha --pagas pelos cofres públicos-- podem ser explicadas, de maneira consistente com os princípio mencionados anteriormente?
O que venho expondo até agora representa algumas das queixas dos povos de todo o mundo, de nossa região e de meu país. Mas minha principal alegação --com a qual espero que o senhor concorde pelo menos em parte-- é que as pessoas que estão no poder têm um mandado de duração específica, e não governam indefinidamente, mas seus nomes serão registrados pela História e passarão por constante julgamento no futuro imediato e no mais distante.
Os povos esquadrinharão nossas presidências.
Será que conseguimos trazer a paz e a prosperidade ao povo, ou em lugar disso insegurança e desemprego? Pretendíamos estabelecer a justiça, ou apoiamos grupos de interesses especiais e, ao forçar grande número de pessoas a viver na pobreza e dificuldade, tornamos poderosos e ricos a alguns poucos, trocando a aprovação do povo e do Todo Poderoso por a desses privilegiados? Defendemos os direitos das pessoas menos favorecidas ou os ignoramos? Defendemos os direitos de todos os povos do mundo ou impusemos guerras a eles, interferimos ilegalmente em seus assuntos, estabelecemos prisões infernais e encarceramos alguns de seus membros? Trouxemos ao mundo paz e segurança ou suscitamos o espectro de intimidação e ameaça? Contamos a verdade à nossa nação e às demais nações do mundo ou apresentamos uma versão invertida? Estivemos do lado do povo ou do lado dos ocupantes e opressores? Será que nossa administração decidiu promover o comportamento racional, a lógica, a ética, a paz, o cumprimento das obrigações, a justiça, o serviço ao povo, a prosperidade, o progresso e o respeito pela dignidade humana ou a força das armas, a intimidação, a insegurança, o desrespeito pelo povo, retardando o progresso e a excelência de outros países e pisoteando os direitos das pessoas? E, por fim, eles nos julgarão para determinar se nos mantivemos ou não fiéis aos juramentos que fizemos ao assumirmos nossos cargos --servir ao povo, que é a nossa principal tarefa, e às tradições dos profetas.
Senhor presidente,
Por quanto mais tempo o mundo tolerará essa situação? Para onde essa tendência conduzirá o mundo? Por quanto tempo as pessoas do mundo devem pagar pelas decisões incorretas de alguns governantes? Por quanto mais tempo o espectro da insegurança --gerado pelos estoques de armas de destruição em massa-- atormentará os povos do mundo? Por quanto mais tempo o sangue de homens, mulheres e crianças inocentes será derramado nas ruas, e as casas das pessoas serão demolidas por sobre elas? O senhor está satisfeito com a atual situação do mundo? O senhor acredita que as atuais políticas deveriam ser mantidas?
Se os bilhões de dólares gastos em segurança, campanhas militares e movimentos de tropas fossem em lugar disso aplicados em investimento e assistência aos países pobres, promoção da saúde, combate a diferentes doenças, educação e melhora da saúde física e mental, assistência às vítimas de desastres naturais, criação de oportunidades de emprego e produção, projetos de desenvolvimento e combate à pobreza, estabelecimento da paz, mediação entre países envolvidos em conflitos e extinção das chamas dos conflitos étnicos, raciais e de outras ordens que existem no mundo, onde poderíamos estar, hoje? Será que o seu governo e o seu povo não ficariam justificadamente orgulhosos? Será que a posição política e econômica de sua administração não se tornaria ainda mais forte? E, lamento dizer, será que continuaria a existir ódio crescente pelo governo norte-americano?
Senhor presidente, minha intenção não é perturbar ninguém.
Se os profetas Abraão, Isaac, Jacó, Ismael, José ou Jesus Cristo estivessem conosco hoje, de que maneira julgariam esse tipo de comportamento? Será que teremos um papel a desempenhar no mundo prometido, no qual a justiça será universal e Jesus Cristo estará presente? Será que eles nos aceitariam?
Minha questão básica é esta: Não há uma maneira melhor de interagir com o resto do mundo? Hoje existem centenas de milhões de cristãos, centenas de milhões de muçulmanos, e milhões de pessoas que seguem os ensinamentos de Moisés. Todas as religiões divinas compartilham e respeitam da palavra, ou seja, o monoteísmo ou crença em um único Deus.
O sagrado Corão enfatiza essa comunhão e conclama todos os seguidores das religiões divinas, afirmando: [3:64] "Ó, seguidores do Livro! Venham a um mundo justo entre nós e vocês, no qual cultuamos apenas a Alá e não tomaremos por Senhor qualquer outro que não Alá. E caso, eles nos voltem as costas, diremos: prestai testemunho de que somos muçulmanos" (A família de Imram).
Senhor presidente,
De acordo com os versos divinos, fomos todos conclamados a seguir um Deus e a respeitar os ensinamentos dos profetas divinos. Servir a um Deus acima de todos os poderes do mundo e que pode fazer tudo que Lhe aprouver. O Deus que conhece aquilo que é oculto e que é visível, o passado e o futuro, sabe o que transcorre no coração de Seus servos e registra seus feitos. O Senhor que domina os céus, e a terra e o universo são sua corte, e o planejamento do universo é feito por Suas mãos, e transmite aos Seus fiéis a feliz notícia da misericórdia e perdão dos pecados. Ele é o companheiro dos oprimidos e o inimigo dos opressores. O compassivo e misericordioso. O recurso dos fiéis, aquEle que os guia das trevas para a luz. Ele é testemunha da ação de seus fiéis, Ele conclama os servos a serem fiéis e a agirem bem, e pede que se mantenham no caminho da retidão, e que se mantenham inabaláveis. Ele pede aos seus servos que ouçam Seus profetas, e é testemunha de seus feitos. Um mau final caberá àqueles que escolheram a vida deste mundo e O desobedeçam, oprimindo Seus servidores. E um bom e eterno paraíso caberá àqueles que temem sua majestade e não seguem suas inclinações lascivas.
Acreditamos que um retorno aos ensinamentos dos divinos profetas é o único caminho que pode conduzir à salvação. Fui informado de que Sua Excelência segue os ensinamentos de Jesus, e acredita na divina promessa do governo dos bons sobre a Terra. Também nós acreditamos que Jesus era um dos grandes profetas do Todo-Poderoso. Ele é elogiado repetidas vezes no Corão. Jesus também foi citado no Corão --"E decerto Alá é meu Senhor e seu Senhor, portanto sirva-o. Este é o caminho correto, Marium".
Serviço e obediência ao Todo-Poderoso é o credo de todos os mensageiros divinos.
O Deus de todos os povos na Europa, África, Ásia, África, Pacífico e no resto do mundo é um só. É o Todo-Poderoso que deseja nos guiar e oferecer dignidade a todos os Seus servos. Ele deu dignidade aos seres humanos.
Uma vez mais mencionamos o Livro Santo: Deus Todo-Poderoso enviou seus profetas com milagres e sinais claros que orientam as pessoas e lhes exibem sinais divinos e pureza ante seus pecados e maus feitos. E Ele enviou o Livro e a balança para que o povo exiba justiça e evite rebeliões.
Todos os versos acima podem ser lidos, de uma forma ou de outra, também no Bom Livro.
Os divinos profetas prometeram que chegará o dia em que todos os seres humanos se congregarão diante do Todo-Poderoso, para que seus feitos sejam examinados. Os bons serão encaminhados ao paraíso, e os maus sofrerão a divina retribuição. Confio em que nós acreditamos em um dia como esse, mas não será fácil calcular as ações dos governantes, porque devemos responder às nossas nações e a todos aqueles cujas vidas são direta ou indiretamente afetadas por nossas ações.
Todos os profetas falam de paz e tranqüilidade para o homem --baseada no monoteísmo, justiça e respeito pela dignidade humana.
O senhor não acredita que, caso venhamos todos a acreditar em e acatar esses princípios --ou seja, o monoteísmo, o culto a Deus, o respeito à dignidade do homem, a crença no Juízo Final--, podemos superar os presentes problemas do mundo --que resultam da desobediência ao Todo-Poderoso e aos ensinamentos dos profetas-- e melhorar nosso desempenho?
O senhor não acredita que a crença nesses princípios promove e garante a paz, amizade e justiça?
O senhor não acredita que os princípios citados, escritos e não escritos, são universalmente respeitados?
O senhor não aceitará este convite? Ou seja, de um retorno genuíno aos ensinamentos dos profetas, ao monoteísmo e à justiça, para preservar a dignidade humana e a obediência ao Todo-Poderoso e seus profetas?
Senhor presidente, a história nos ensina que governos repressivos e cruéis não sobrevivem. Deus confiou-lhes o destino do homem. O Todo-Poderoso não deixou o universo e a humanidade entregues aos seus recursos. Muitas coisas acontecem em contraposição aos desejos e planos dos governos. Isso nos diz que existe um poder maior em operação, e que todos os acontecimentos são determinados por Ele.
Será que se pode negar os sinais de mudança no mundo, hoje? A situação atual do mundo pode ser comparada à de 10 anos atrás? As mudanças acontecem em ritmo veloz e furioso.
Os povos do mundo não estão satisfeitos com a situação atual, e prestam pouca atenção às promessas e comentários feitos por diversos líderes mundiais influentes. Muitas pessoas no mundo se sentem inseguras e se opõem à difusão da insegurança e da guerra, e não aprovam ou aceitam políticas dúbias.
As pessoas protestam contra a crescente disparidade entre os favorecidos e os excluídos e os países ricos e pobres.
As pessoas estão desgostosas com a crescente corrupção.
As pessoas de muitos vezes estão zangadas com os ataques contra suas fundações culturais e a desintegração das famílias. Estão igualmente decepcionadas com a compaixão e a caridade cada vez menores. As pessoas do mundo não têm fé nas organizações internacionais, porque seus direitos não são defendidos por essas organizações.
O liberalismo e a democracia ao estilo ocidental não foram capazes de nos ajudar a realizar os ideais da humanidade. Hoje, esses dois conceitos fracassaram. As pessoas mais perceptivas já distinguem o som da fratura e queda da ideologia e dos pensamentos dos sistemas democráticos liberais.
Cada vez mais vemos os povos do mundo se dirigindo a um ponto focal --Deus Todo-Poderoso. Sem dúvida, por meio da fé em Deus e no ensinamento dos profetas, as pessoas resolverão seus problemas. Minha questão para o senhor é: o senhor não quer se juntar a elas?
Senhor presidente,
Quer gostemos, quer não, o mundo está gravitando em direção à fé no Todo-Poderoso e a justiça e a vontade de Alá prevalecerão sobre todas as coisas.
Mahmoud Ahmadinejad, presidente da República Islâmica do Irã"
Tradução de Paulo Migliacci
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