domingo, 15 de maio de 2016

Engenheiro dos negócios Ematum e Proíndicus: Do Crédit Suisse para o universo Iskandar Safa

Um quadro sénior do Crédit Suisse, que estruturou os empréstimos concedidos por esta instituição bancária à Ematum e à Proindicus, deixou o banco suíço, pouco depois para trabalhar directamente para o beneficiário chave dos negócios que ameaçam a credibilidade de Moçambique, o empresário libanês Iskandar Safa, revelou quarta-feira a Zitamar News. Trata-se de Andrew Pearse, um neozelandês que ajudou duas empresas ligadas aos serviços secretos moçambicanos a contrair uma dívida de 1.472 milhões de dólares em negócios que foram ocultados ao público e ao parlamento moçambicano. Pearse juntou-se numa parceria de negócios com Iskandar Safa, ao mesmo tempo que a maior parte do dinheiro foi transferido para as contas dos estaleiros navais de Safa, conhecidos por Abu Dhabi Mar, nos Emiratos Árabes Unidos. Os negócios das duas empresas moçambicanas e a MAM (Mozambique Assets Management) estão no centro de uma crise política e económica sem precedentes em Moçambique, cujo governo ofereceu garantias soberanas para os empréstimos, mas que agora tem dificuldades em manter as amortizações de mais de 300 milhões de dólares por ano. Desde que o empréstimo oculto da Proíndicus foi descoberto em Abril deste ano, o FMI e outros parceiros internacionais suspenderam assistência financeira ao país que agora vai ser obrigado a proceder a cortes substanciais nos serviços básicos como forma de evitar entrar em incumprimento no pagamento dos empréstimos. Ao que o SAVANA apurou, Andrew Pearse desloca-se com regularidade a Maputo e, eventualmente, estará a tratar da reestruturação da dívida da Proindicus com o “chapéu” da Polomar Capital Advisers, uma das empresas ligadas a Sata. Os negócios da Ematum e da Proíndicus foram realizados em 2013, estruturados por uma equipa posicionada nos escritórios do Credit Suisse em Londres, e da qual Pearse fazia parte. O caso Ematum veio a público em Setembro desse ano quando os bancos Credit Suisse e o francês BNP Paribas procederam à venda das suas obrigações de 850 milhões de dólares no mercado internacional de capitais. O negócio da Ematum consistiu numa mistura de uma frota de barcos de pesca e lanchas de defesa naval, enquanto o da Proíndicus envolve mais barcos, aviões, drones, radares e outro equipamento de protecção costeira, de acordo com o que conseguimos apurar. As contas da Ematum mostram que a empresa transferiu quase todo o seu dinheiro —  836,3 milhões de dólares — para a Abu Dhabi Mar, uma empresa conjuntamente detida pela Privinvest e pela família real de Abu Dhabi, em Setembro e Outubro de 2013. A Privinvest é a empresa-mãe da família Safa, que opera nas áreas da construção naval, transportes marítimos, imobiliária e explora- ção de petróleo e gás. O resto do dinheiro da Ematum, segundo a Zitamar News, foi gasto em taxas e serviços bancárias, conforme as contas da empresa. Estes detalhes não estão ainda disponíveis no caso da Proíndicus, cujos 622 milhões de dólares adquiridos ao Credit Suisse e ao banco russo VTB Capital em 2013 não foram transacionados nos mercados de capitais. O Ministro das Pescas, Agostinho Mondlane, disse, numa conferência de imprensa no dia 28 de Abril em Maputo, que o equipamento da Ematum e da Proíndicus tinha sido adquirido junto do mesmo fornecedor — a Abu Dhabi Mar — para minimizar os custos. Pouco depois do fecho dos negócios da Ematum e da Proíndicus em 2013, Pearse tornou-se administrador de uma série de empresas pertencentes a Iskandar Safa, todas sob a designação de Palomar. Em Setembro de 2013, Pearse criou a Palomar Natural Resources com o americano John Buggenhagen, um executivo ligado ao negócio de petróleo e gás. Em Outubro, ele foi nomeado administrador de uma empresa de consultoria financeira com sede em Zurique, a Palomar Capital Advisors, e um mês depois assumiu a presidência do conselho de administração da empresa, substituindo Christopher Langford, um advogado do Reino Unido que é administrador de uma série de empresas pertencentes a Iskandar Safa, incluindo a Abu Dhabi Mar (Europa) e a Abu Dhabi Mar (Reino Unido). A Pearse juntou-se na Palomar Capital Advisors, um outro funcionário pertencente à equipa responsável pelas dívidas dos mercados emergentes no Credit Suisse, o alemão Dominic Schultens. Fontes ligadas aos mercados internacionais de capitais descrevem o papel de Schultens como sendo o de estruturar soluções financeiras para contratos de segurança marítima idênticos aos da Ematum e da Proíndicus em outros países africanos. Documentos obtidos a partir da firma de advogados Mossack Fonseca, com sede no Panamá (os famosos Papéis do Panamá), mostram que Pearse e Langford são ambos administradores e accionistas da Palomar Holdings Limited, domiciliada nas Ilhas Virgens, pertencentes à Grã Bretanha — cujos outros accionistas incluem os estaleiros navais da Privinvest Shipbuilding LLC e a Privinvest Holding SAL, ambas empresas pertencentes a Safa. No principiado de Liechtenstein, uma empresa chamada Palomar Invest está actualmente a ser alvo de um processo de insolvência — mas mostra mais provas das liga- ções da Palomar a Safa. A empresa foi fundada em Outubro de 2013 com a denominação Privinvest Africa — uma empresa que, de acordo com o perfil na rede de busca Linkedln de um dos seus administradores residente na Nigéria, é “um grande promotor de transferência para África de tecnologia de sistemas de armas e estaleiros navais”.

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