terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ONG denuncia irregularidades em lista de beneficiários de ajuda humanitária para Moçambique

 

05 de Fevereiro de 2013, 15:00

Xai-Xai, Moçambique, 05 fev (Lusa) - Uma organização não-governamental sul-africana desviou ajuda humanitária destinada ao maior campo de deslocados de Moçambique depois de detetar nomes suspeitos na lista de beneficiários fornecida pela administração do campo.
A informação, avançada pelo jornal sul-africano "The Times", foi confirmada à Lusa pelo fundador e diretor da organização 'Gift of Givers', Imtiaz Sooliman, que hoje se reuniu com o governador da província de Gaza para denunciar as irregularidades.
"Acabei de me queixar ao governador esta manhã. Dissemos quem são as pessoas e que não estávamos satisfeitos com o sistema e eles ficaram de investigar", disse.
A reunião com o governador Raimundo Maico Diomba ocorreu depois de a organização ter detetado irregularidades nas listas de beneficiários da ajuda humanitária que está a prestar às vítimas das cheias, que mataram 91 pessoas e desalojaram mais de 150 mil em Moçambique.
"Pedimos uma lista de onde distribuir ajuda e a quem a dar. Quando a recebemos, a lista não estava bem organizada, havia nomes suspeitos e decidimos não lhes dar a ajuda a eles", contou à Lusa Sooliman, que afirmou ter desviado aquela ajuda para outro campo na mesma região.
Segundo a notícia do "The Times", a descoberta das irregularidades ocorreu a horas da entrega de ajuda humanitária no valor de dois milhões de rands (165 mil euros) ao campo de deslocados de Chókwè, perto do centro da zona afetada pelas cheias de há 10 dias.
O alvo da ajuda eram as vítimas das cheias, em particular as milhares de mulheres e crianças alojadas no campo, mas Sooliman descobriu que no topo da lista dos beneficiários estavam os administradores do campo e as suas famílias.
Hoje, depois de se reunir com o governador, Sooliman disse à Lusa tratar-se de um caso isolado que não representa a generalidade dos campos de deslocados moçambicanos.
"Houve um ou dois responsáveis a tentar tirar partido e a pôr nomes suspeitos na lista. Quando descobrimos não quisemos fazer parte disso", disse o fundador da instituição, afirmando que a ajuda humanitária destinada a Chókwè foi desviada para outro campo, em Hokwe, que está "muito mais bem organizado".
"Correu excecionalmente bem", disse Sooliman, acrescentando que na segunda-feira se reuniu com a presidente da Câmara da cidade de Xai-Xai, capital da província de Gaza, cuja equipa também elogiou.
Sooliman garantiu que a sua organização vai ficar o tempo que for preciso em Hokwe, para onde mais de 3.500 famílias fugiram aquando das cheias.
O 'The Times' conta que quando os camiões com ajuda alimentar e as ambulâncias chegaram a Hokwe, escoltados por soldados sul-africanos, a população correu para o centro da vila para pedir ajuda.
O diretor da fundação sul-africana, que no seu site diz ser a maior organização de socorro de origem africana a operar no continente, disse à Lusa que vai agora contar com o apoio do governo da província de Gaza.
"Estivemos três horas sentados com o governador e com o pessoal do socorro [do governo provincial] e decidimos que vamos visitar as várias áreas. Responsáveis do governo vêm connosco, apontam-nos os beneficiários, que recebem a ajuda diretamente", disse.
A província de Gaza foi a mais afetadas pelas cheias e, segundo a Cruz Vermelha, mais de 100 mil pessoas foram desalojadas só nesta província, muitas das quais estão a dormir ao relento.
"Parece que se vive uma situação de total desespero e de caos por lá. No distrito de Chókwé, 40 mil pessoas vivem em centros de acomodação", disse recentemente a porta-voz da organização em Moçambique, Jessica Sallabank.

FPA (PMA) // MLL.
Lusa/fim

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