O FENÓMENO QUE DESMENTE A MENTIRA DOS NÚMEROS
Quando o fenómeno do batimento de panelas, vuvuzelas, apitos foi anunciado, eu não lhe dei muita importância, nem imaginei que viesse a ter a adesão que teve.
Quando a panelada começou, eu estava nos confins do Bairro Luís Cabral, um dos mais martirizados pela pobreza urbana. Na aglomeração familiar em que eu e meus familiares estávamos, havíamos ficado poucas pessoas que ainda se mantiveram em conversa de cavaqueira quando, de repente começou a ecoar o som ainda audível à distância. É daí que nasce a preocupação de cada um ir para casa.
Pelos becos de Luís Cabral até à zona Junta, vi e passei por gente de todas as idades, que se fizera aos caminhos e às ruas, batendo panelas e cantando Venâncio Mondlane.
Eram jovens, homens e mulheres totalmente distintos de molwenes e terroristas, movimentando-se para aqui e acolá.
Uma vez na Junta, fiz-me à EN1 até ao Bairro do Jardim, desci pela Rua da EDM até à empresa 2M, na tentativa de reduzir as distância que o Tony e o Mário deveriam percorrer até Infulene e S. Damanso, respectivamente, visto que já não havia nenhum meio de transporte de passageiros a circular e, mesmo as viaturas particulares tinham sumido, excepto algumas colhidas no meio de contingências diversas, tal como aconteceu comigo.
A rua até à 2M estava composta de gente eufórica, gritando, batendo panelas, suas tampas, pronunciando sempre um nome que é o suspeito de sempre.
Defronte das Bombas da Total, na 2M, a estrada estava abarrotada de gente e o Tony achou prudente que eu manobrasse dali mesmo pois, era mais seguro para quem estivesse a andar a pé do que para quem se fizesse transportar em viatura. Poderia ser confundido pelas pessoas eufóricas, por oportunitas ou por infiltrados.
De regresso à EN1 pela mesma via, o ruído das panelas subia de tom e, para não parecer um contra, naquela calada da noite, entrei na onda de buzinar, como faziam as poucas viaturas que sobreviviam, circulando perdidas pelas ruas daquele bairro. Enquanto isso, o carro andava devagarinho e, as pessoas aplaudiam e eu ripostava com mais buzinadelas. Era estratégia de sobrevivência numa euforia popular sem igual, com todos os riscos nocturnos associados.
A chegada ao semáforo do Bairro de Jardim, cruzei com uma viatura da TV Miramar, decerto, fazendo o seu trabalho.
Desci pela Avenida Joaquim Chissano, na convicção de que, àquela hora da noite, ninguém lá estaria pois, imaginava que as pessoas estivessem nos confins do seu bairro, tal como vira no Bairro Luís Cabral.
Engano meu. Os residentes do Bairro Aeroporto desceram para a Avenida Joaquim Chissano. Era uma massa humana enorme que nunca imaginei poder ver àquela hora da noite.
Muita gente se fizera à rua e, a maior concentração estava defronte do Centro de Saúde de Xipamanine, onde a estrada estava literalmente bloqueada por um denso cordão humano, eufórico, às paneladas e eu, seguindo as regras da experiência de sobrevivência que a vida me ensinou, voltei a entrar na onda dos manifestantes e, como não poderia descer da viatura, servi-me das buzinadelas e luzes de emergência ligadas, conduzindo devagar, devagarinho, enquanto as pessoas ovacionavam por ter mais um "reforço" e, nessa onda, ia-se abrindo caminho por entre a multidão, até eu passar.
Ninguém tocou na minha viatura, tendo chegado à Avenida de Angola, depois a Acordos de Lusaka, passando pela Avenida Milagre Mabote que, pela esquerda, estava composta por uma enorme onda humana, saída do irreverente Bairro da Maxaquene, eufórica e às paneladas, em resposta ao apelo feito.
Em todo o trajecto da minha aventura nocturna só vi alguns Polícias da FIR defronte do Centro de Saúde de Xipamanine. Diz-se que, depois de eu passar, os ânimos exaltaram e, o ambiente foi temperado de gás lacrimogéneo.
Nos demais locais por onde passei, a população eufórica estava sozinha, sem Polícia a fazer, fosse o que fosse.
Quando contornei a Praça da OMM e tomei a Avenida Vladimir Lenine, a euforia das pessoas nas estradas, foi substituída pelo som das panelas, tampas, objectos metálicos, vuvuzelas, apitos saídos dos prédios e residências. Na estrada, eram buzinadelas das poucas viaturas e tchoplelas que ainda sobrevivam.
A cidade dos prédios vibrava ao som das panelas e outros instrumentos sonoros, desmentindo a mentira dos números dos resultados eleitorais anunciados pela CNE do Bispo D. Carlos Matsinhe, em relação à Cidade de Maputo.
Com efeito, aquando do anúncio dos resultados eleitorais dos distritos urbanos da Cidade de Maputo e Matola, eu escrevi que, nos bairros, eu não estava a encontrar as pessoas que votaram nos resultados eleitorais que iam sendo anunciados pelas Comissões Distritais de Eleições e, o evento das panelas nocturnas de ontem, só serviu para desmentir os resultados eleitorais fabricados para as Cidades de Maputo e Matola por um lado e, por outro, para cimentar a convicção que eu, como eu, sempre tive, de que, como um povo, tínhamos sido burlados, pelo facto de os órgãos de administração eleitorar nos terem feito perder tempo, ao termos irmos votar num acto eleitoral cujo resultado dependia do que eles queriam e não em função do voto popular.
Não sei o que se passou em outras partes do país mas, no que às Cidades de Maputo e Matola diz respeito, é preciso muita casmurice, para não admitir que os resultados eleitorais a elas atribuídos, não passaram de uma farsa, uma burla, sem igual.
Eu nunca disse que o Venâncio Mondlane tenha vencido as eleições, como muitos defendem entretanto factos são factos os números que foram anunciados são uma farsa montada pelo STAE e pela CNE do Bispo da desgraça que, tal como o casamento, tem a parte religiosa chancelada pela igreja, seguidamente, virá a parte jurídico-civil, daquela instituição cujo nivel de manipulações assenta melhor a uma associação de malfeitores.
Numa cidade onde mais de 70% das pessoas votaram em certo partido e candidato, não sobraria gente para alimentar aquele tipo de eventos, muito menos para suportar as manifestações que se arrastam desde o dia 24 de Outubro.
Não há como justificar que aquele evento de ontem à noite tenha sido dos 20% que votaram no outro candidato.
Os números da mentira não têm como suportar e sustentar uma monstruosa mentira.
Espero que quem tem o condão de decidir saiba pôr na balança a justiça dos números, por um lado e a mentira dos números, por outro lado e trazer-nos as conclusões finais, que façam o mínimo de sentido nas cabeças das pessoas.
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