Para Eric Morier-Genoud, autor de Catholicism and the Making of Politics in Central Mozambique, 1940-1986, “a visita papal é muito importante”, mas não deixa de merecer muitas críticas, até de bispos, por ser numa altura de campanha eleitoral em Moçambique.
Professor de História na Universidade de Belfast, Eric Morier-Genoud conhece bem o passado e o presente da Igreja Católica em Moçambique, sobre a qual fez a sua tese de doutoramento que resultou no livro Catholicism and the Making of Politics in Central Mozambique, 1940-1986. Actualmente, está a escrever sobre a guerra civil neste país e sobre o diário do médico do imperador Gungunhana. Numa pequena conversa por email com o PÚBLICO, diz que o Papa Francisco assumiu um risco grande” ao visitar oficialmente Moçambique entre 4 e 6 de Setembro, numa altura em que o país está em campanha eleitoral.
Que importância tem esta visita papal a Moçambique?
A visita Papal e muito importante. É somente a segunda visita de um Papa a Moçambique (depois de João Paulo II em 1988) e chega sete anos depois da assinatura duma Concordata entre o Vaticano e Moçambique. A Concordata ainda não está plenamente traduzida na prática (em boa parte, por razões técnicas) e penso que será esse um dos assuntos por discutir alem dos temas oficialmente anunciados de “esperança, paz e reconciliação”.
Este é o melhor timing para a visita, tendo em conta que Moçambique está em campanha eleitoral?
A vinda do Papa no meio de uma campanha eleitoral (eleições provinciais, parlamentares e presidenciais) está a ser bastante, e abertamente, criticada na sociedade, inclusivamente nos meios católicos e por alguns bispos. Há, pois, um alto risco de aproveitamento da visita por parte do partido no poder, a Frelimo. Alem disto, o Papa vem falar de paz e reconciliação, como católico, quando se está a desenvolver uma insurreição islamista no Norte do país que o Sumo Pontífice não vai visitar. Agora, os optimistas centram-se no facto que o Papa chega após a assinatura do Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação com a Renamo em Agosto e esta visita poderá ajudar a sossegar os espíritos, focar no caminho para diante e dar esperança ao povo moçambicano. Os dois lados têm razão. Mas, em parte, o sucesso, ou não, da visita do Papa dependerá também daquilo que o Papa vai dizer e fazer durante a sua curta visita. Há muita esperança de que tocará em assuntos difíceis, do momento e do passado, para ajudar a assegurar a paz, reforçar a democracia e os direitos humanos e lançar a reconciliação.
Em que é que esta visita pode ser diferente da visita do Papa João Paulo II em 1988?
Após 31 anos, a sociedade moçambicana mudou profundamente. É outra geração de moçambicanos aquela que vai receber o Papa. Em 1988, o país ainda estava mergulhado na guerra civil e o grande assunto da Igreja era a restituição das suas propriedades nacionalizadas após a independência. Hoje, as relações entre a Igreja Católica e o Estado são boas e não existe nenhuma “questão religiosa” no país. As relações entre as organizações religiosas e o Estado são boas e as relações inter-religiosas são excelentes também. Mas o momento social e político é quase tão complicado como em 1988, mesmo que por outras razões, e o Papa assumiu um risco grande ao vir neste cenário, no meio de uma campanha eleitoral. Vamos ver se ele consegue oferecer uma visão profética que surpreenda e ultrapasse as expectativas dos críticos da sua visita.
Que importância tem esta visita papal a Moçambique?
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Este é o melhor timing para a visita, tendo em conta que Moçambique está em campanha eleitoral?
A vinda do Papa no meio de uma campanha eleitoral (eleições provinciais, parlamentares e presidenciais) está a ser bastante, e abertamente, criticada na sociedade, inclusivamente nos meios católicos e por alguns bispos. Há, pois, um alto risco de aproveitamento da visita por parte do partido no poder, a Frelimo. Alem disto, o Papa vem falar de paz e reconciliação, como católico, quando se está a desenvolver uma insurreição islamista no Norte do país que o Sumo Pontífice não vai visitar. Agora, os optimistas centram-se no facto que o Papa chega após a assinatura do Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação com a Renamo em Agosto e esta visita poderá ajudar a sossegar os espíritos, focar no caminho para diante e dar esperança ao povo moçambicano. Os dois lados têm razão. Mas, em parte, o sucesso, ou não, da visita do Papa dependerá também daquilo que o Papa vai dizer e fazer durante a sua curta visita. Há muita esperança de que tocará em assuntos difíceis, do momento e do passado, para ajudar a assegurar a paz, reforçar a democracia e os direitos humanos e lançar a reconciliação.
Após 31 anos, a sociedade moçambicana mudou profundamente. É outra geração de moçambicanos aquela que vai receber o Papa. Em 1988, o país ainda estava mergulhado na guerra civil e o grande assunto da Igreja era a restituição das suas propriedades nacionalizadas após a independência. Hoje, as relações entre a Igreja Católica e o Estado são boas e não existe nenhuma “questão religiosa” no país. As relações entre as organizações religiosas e o Estado são boas e as relações inter-religiosas são excelentes também. Mas o momento social e político é quase tão complicado como em 1988, mesmo que por outras razões, e o Papa assumiu um risco grande ao vir neste cenário, no meio de uma campanha eleitoral. Vamos ver se ele consegue oferecer uma visão profética que surpreenda e ultrapasse as expectativas dos críticos da sua visita.
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