quinta-feira, 11 de julho de 2019

“Novos projetos ferroviários em Moçambique abrem aos portugueses oportunidades de investimento no turismo local”


Praia_de_Bilene_4262115148Presidente executivo da Thai Moçambique Logística, Orlando Marques, diz que a construção de nova linha de comboio, com 639 km, permitirá interligar as restantes linhas e potenciará o transporte turístico no território moçambicano.
Além do carvão, da pasta de papel, do alumínio e do gás natural, Moçambique tem “um enorme potencial turístico não explorado”, referiu ao Jornal Económico o presidente executivo da Thai Moçambique Logística (TML), Orlando Marques, garantido que “o desenvolvimento dos transportes utilizáveis para fins turísticos permitirá fazer crescer o investimento no sector turístico moçambicano, e isso trará aos grupos empresariais portugueses excelentes oportunidades de investimento local”.
São precisamente 2,83 mil milhões de euros os montantes que vão agora ser aplicados, na zona central de Moçambique, na construção dos 639 quilómetros da linha ferroviária que separam a localidade de Chitima, perto das minas de carvão de Moatize, passando por Doa e Mutarara, até chegar à foz do rio Macuse, onde serão construídos diversos terminais portuários.
A empresa que investe neste projeto é a TML, presidida pelo português Orlando Marques, e as obras de construção ficam a cargo da Mota-Engil, que deverá sub-contratar empresas especialistas nas empreitadas que serão realizadas, entre as quais se destaca a ponte sobre o rio Zambeze, entre Moatize e Chitima.
“Esta obra vai abrir grandes oportunidades turísticas em Moçambique, porque este é um dos países do mundo com praias mais belas: não há Seichelles nem Maurícias que se sobreponham e suplantem as Quirimbas, ou a ilha de Moçambique. É por isso que o turismo é mesmo uma potência viva em Moçambique, com condições para acontecer tudo e mais alguma coisa ao nível do investimento potencial neste sector. Mas é preciso ter infraestruturas, captar investimento e concretizar algumas mudanças estruturais relevantes para as coisas acontecerem”, refere Orlando Marques.
“Em relação ao nosso projeto ferroviário, a parte de passageiros está contemplada quase numa vertente de responsabilidade social do projeto para poder criar melhores condições de vida locais. A nossa linha será a primeira em Moçambique que vai interligar os outros corredores, de Nacala e da Beira, o que permitirá a movimentação de pessoas de Nacala, no norte do país, até Macuse ou até à Beira”, diz o CEO da TML.
“Pela primeira vez em Moçambique haverá uma interligação de corredores, o que aumenta a mobilidade das pessoas, mas isso ainda vai demorar algum tempo. Também permitirá uma qualidade de serviços de transporte completamente diferente das ligações rodoviárias em autocarro”, adianta o executivo.
Entre o investimento português em Moçambique figura um dos maiores projetos da Portucel e a participação da Galp na exploração de petróleo e LNG em Cabo Delgado. O investimento total em Moçambique foi alavancado pela China, África do Sul e, recentemente, pelos 23 mil milhões de dólares aplicados no ‘oil & gas’, concentrados em Cabo Delgado, liderados pelos americanos, o que coloca o desenvolvimento e o investimento em Moçambique num patamar diferente. “Todos estes projetos têm um bom impacto para Moçambique”, reconhece Orlando Marques.
Desde logo, com os investimentos novo corredor ferroviário, o CEO da TML reconhece que “haverá negócios paralelos que vão ser desenvolvidos, sobretudo ao nível da atividade de interligação que terá o novo porto da Macuse. É muito provável que, a médio prazo, o LNG que for transportado por barco até Macuse, possa ser posteriormente distribuído por comboio”. “Teremos a linha mais próxima do Malawi. Fazer um ramal até à fronteira corresponderá apenas a uma linha com cerca de 20 km e essa obra implicará um acordo político que terá de existir”, admite Orlando Marques.
A expansão desta linha para a Zambia são 150 km, e 120 km para o norte do Zimbabwe. “O Governo moçambicano quer ver as coisas a acontecer para depois se comprometer com países vizinhos, porque essas potenciais futuras ligações implicarão acordos bilaterais. A expansão desta linha para os países vizinhos vai ser uma coisa natural. E vai atrair um conjunto de serviços logísticos”, admite Orlando Marques.
“O porto Nacala é o melhor porto de Moçambique. Mas a questão é que o corredor ferroviário de Nacala até Tete percorre uma distância de 1100 km, o que é mais do dobro dos 458 km que vão de Macuse até Téte. Para chegar ao Malawi são 900 km, mas por este novo corredor ferroviário que vai ser construído, a ligação ao Malawi nem chega a 300 km. Atendendo a que 1100 km em ferrovia são 48 horas de viagem, uma ligação ferroviária ao Malawi através deste corredor poderá ser feita em menos de meio dia de viagem de comboio. “O posicionamento geo-estratégico da linha Macuse-Moatize é muito interessante para todo Moçambique e para o desenvolvimento das províncias da Zambezia e de Téte, e também pelas interligações aos países vizinhos. Neste momento o projeto da nova linha de comboio em Moçambique é muito mais que o do inicial terminal de carvão e ainda pode crescer muito mais. É um projeto ambicioso”, garante o CEO.

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