sábado, 27 de julho de 2019

O adeus emocionante de Abel Xavier dos Mambas


O adeus emocionante de Abel Xavier dos Mambas
Abel Xavier diz que deixa o comando técnico dos Mambas com sentimento de dever cumprido e considera que os resultados desfavoráveis estiveram por detrás da sua não continuidade na selecção nacional. O ex-seleccionador nacional diz mesmo que foi uma etapa e um ciclo que se fechou.
Calmo, sereno e bastante cauteloso no seu discurso. Abel Xavier chamou a imprensa moçambicana nesta terça-feira para dar a sua versão dos factos em relação a não continuidade nos Mambas. Na ocasião confirmou que os resultados pouco conseguidos ditaram a não renovação do contrato com a Federação Moçambicana de Futebol para continuar nos Mambas, mas também falou de outras vertentes como o legado que deixa na FMF, o desejo de sucesso a nova equipa técnica dos Mambas, embora tenha começado com os agradecimentos. O discurso directo de Abel Xavier na conferência de Imprensa.
 
 
NÃO RENOVAÇÃO DO CONTRATO
A parte mais importante deste desfecho, podemos falar de falta de resultados, de um objectivo não conseguido. E esse objectivo não foi conseguido aos 92 minutos. Portanto, nós podemos estar a falar num minuto, que determina esta conferência de imprensa. Porque num minuto, se nós efectivamente conseguíssemos a qualificação, possivelmente esta conferência de imprensa não se estava a realizar. Mas não podemos esquecer que durante três anos e meio existiram muitos minutos de trabalho. Portanto, a essência da nossa ruptura, com as adversidade que foram todas identificadas, baseia-se, simplesmente nisto e em mais nada. Se analisarmos as coisas como valorização do trabalho e de resultados, e se nos concentrarmos que o objectivo não foi conseguido, que foi a qualificação, temos que ver a forma como não foi conseguida, se a equipa foi capaz e competitiva ao longo do tempo, temos que perceber o que foi construído, o que éramos e o que agora somos. Portanto, o que se baseia na ruptura, no nosso entendimento, é a questão de objectivo. A partir do momento em que o contrato acaba no dia 30 de Junho não há condições de renovação. Então, chegamos a um entendimento que não há condições de renovação.
 
LEGADO DEIXADO NOS MAMBAS

Na nossa base de dados temos 137 jogadores selecionados para o quadro de selecções e 71 jogadores foram utilizados. Não é só uma questão operacional da construção de uma base de dados. Nós temos a informação e temos que perceber o que fazer com essa informação. Isto é que é muito importante. Neste momento há um modelo específico de Federação implantada, que no meu ponto de vista deve haver continuidade. É lógico que novo seleccionador nacional, ou o actual, interino, vai personalizar, vai dar o seu cunho pessoal, mas existe, neste momento, um conceito de continuidade que não existia no passado. Neste momento existe material, não só do conhecimento humano por parte das equipas técnicas, mas material e físico em termos de todo trabalho que fizemos, que do meu ponto de vista dá uma orientação positiva para o futuro das selecções. Deixei um leque de recomendações dentro dos meus relatórios ao longo do tempo, mas nesta fase final eu deixei um relatório com recomendações específicas e penso que em termos federativos o próprio presidente Alberto Simango sabe o que deve fazer. Porque a forma como nós trabalhamos foi a nossa forma, que poderia ser melhor, porque com boas condições somos sempre melhores. Mas de qualquer maneira tenho a consciência de que foi num dever de estado e nacional a forma como preparei os jogadores, a equipa e toda estrutura.
 
 
DESEJOS À NOVA EQUIPA TÉCNICA
Vou sempre olhar para as actividades ao nível da selecção. Desejo muito que o próximo seleccionador nacional tenha sucesso. Aqui uma palavra muito importante aos treinadores que estarão em curso, de uma forma interina, e dizer que não tenho dúvidas que a estrutura que vai iniciar os trabalhos hoje (ontem terça-feira) vai dar continuidade ao trabalho. Não tenho dúvidas de que quem vai liderar esta equipa, Victor Matine, é muito capacitado. Todos treinadores da formação compreenderem melhor aquilo que é, de facto, um trabalho específico. Portanto, nós formamos muitas pessoas e não somente jogadores e por isso desejo, enormemente que a equipa interina possa conseguir bons resultados e que, possivelmente, deixe de ser interina e dê continuidade aos trabalhos já iniciado.
 
 
AGRADECIMENTOS
Primeira pessoa é o chefe do estado, Excelência Filipe Jacinto Nyusi, que em vários momentos e me recorda da vitória histórica que tivemos em Ndola, na Zâmbia, na qual proferiu palavras não só a minha pessoa, mas também a grande alegria que tínhamos dado ao povo moçambicano. Na preparação do grupo CHAN, deslocou-se ao Estádio Nacional do Zimpeto e conversou com os jovens na preparação do jogo com o Madagáscar, incentivando e dando uma palavra, porque é muito importante na diferença que temos nos jogadores que jogam no estrangeiro, moçambicanos, e os nacionais e sua Excelência esteve presente. Na preparação do grupo CAN, nomeadamente no jogo contra a Namíbia, onde esteve connosco no trabalho motivacional de preparação ao jogo, dando um incentivo enorme e demonstrando o lado humano, em relação ao objectivo que todos queríamos atingir. E também porque foi importante na preparação para o jogo com a Guiné-Bissau, onde tivemos uma preparação de referência, de modelo, tendo o Conselho de Ministro aprovado que o Estado iria participar e apoiar na íntegra todas as rubricas da preparação para esse jogo com a Guiné-Bissau.
Agradecer a presença em dois momentos de dor da Ministra da Juventude e Desportos, Nyeleti Mondlane, nomeadamente da viagem que fizemos ao jogo contra a Namíbia, onde ela esteve no balneário a reconfortar os jogadores depois da derrota, bem como da sua presença no aeroporto, aonde reconfortou a toda delegação depois de não termos conseguido o objectivo prioritário que era a qualificação, e isso é importante da aproximação das pessoas nos momentos difíceis porque passamos.
Agradecer ao presidente e ao vice-presidente da FMF, a oportunidade que me deram de trabalhar em nome do país, no país que me viu nascer, numa primeira fase de trabalhar por dois anos e mais tarde renovado por mais um ano e meio, portanto três anos e meio que estive a trabalhar no processo de transformação das selecções nacionais, o meu muito obrigado, que é extensivo a toda estrutura federativa em todas áreas.
Os agradecimentos foram estendidos aos jogadores no seu todo e a todas pessoas que apoiaram no trabalho desenvolvido ao nível da Federação Moçambicana de Futebol.
 
 
Percurso de Abel Xavier no comando dos Mambas
 
Chegou ao país em Janeiro de 2016, quando os Mambas ainda disputavam a fase de qualificação ao CAN-2017, para ocupar o lugar de João Chissano. Encontrou os Mambas na última posição, sem nenhum ponto, num grupo liderado pelo Gana, e estreou com uma derrota, diante da poderosa selecção ganesa por 3-1, em Accra. Terminou a fase de qualificação ao CAN-2017 na segunda posição com sete pontos, depois de ter ganho o Ruanda e as Maurícias e empatado com o Gana.
Depois disso seguiram-se mais jogos, entre particulares, do torneio regional da Cosafa e da fase de qualificação ao CHAN-2018 e CAN-2019, duas provas que não conseguiu a qualificação à fase final.
Ao todo, Abel Xavier, no comando dos Mambas, disputou 30 jogos, equivalente a 90 pontos em disputa. No percurso, alcançou 10 vitórias, oito empates e 12 derrotas, tendo visto a selecção marcar 34 golos e sofrer 37. Ou seja, dos 90 pontos que disputou, Abel Xavier conseguiu apenas 38 pontos.
Durante o período de permanência nos Mambas, os maiores destaques do luso-moçambicano foram os seguintes:
PELA POSITIVA: as duas vitórias alcançadas diante da Zâmbia, na fase de qualificação ao CAN-2019, ambos pelo mesmo resultado de 1-0, em Ndola e em Maputo;
As vitórias diante da Angola e Cabo Verde, em jogos particulares realizados em Maputo e Lisboa, respectivamente.
PELA NEGATIVA: a eliminação do CHAN-2018 diante do Madagáscar, depois do empate a dois golos em Antananarivo e derrota em Maputo por duas bolas sem resposta;
A eliminação do CAN-2019 por conta das duas derrotas diante da Namíbia, em Maputo e em Windhoek; Os desaires no torneio da Cosafa, onde os Mambas não passaram da primeira fase, em 2017 e 2018, e 2019.
 

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