Muito bom!
Um dos melhores que já li sobre o assunto. Contém licções interessantes para o nosso País. Apesar de a estrutura de corrupção no Brasil ser ligeiramente diferente, uma boa parte dos argumentos é válida e aplicável. Eis alguns excertos para aqueles que não terão acesso ao livro.
“Mente quem afirma que acabaremos com a corrupção por meio do encarceramento dos corruptos e dos corruptores, da demonização da política e da destruição das organizações empresariais que no entorno da corrupção gravitam. Mistifica quem usa a sua autoridade, legal ou moral, para inculcar que a repressão é suficiente e que é o todo do combate à corrupção “. Pág.14
“Bancorrupt (...) refere-se ao nosso modo peculiar de acabar com os corruptos e com a corrupção (...) Para combater a corrupção, destruímos o capitalismo, demonizamos a política, expomos nossas leis ao ridículo e levamos as instituições ao ponto de ruptura, a uma fadiga que flerta com o irreversível. É sobre esta técnica inigualável, que corrompe o combate à corrupção, e sobre as suas consequências fantásticas, mas paradoxalmente reais, que trato nestas minhas reflexões “. Págs.22-23
“A corrupção gera ineficiência, iniquidade e pobreza, mas não é óbice ao crescimento econômico “. Pág.27
“O problema com a corrupção, e com o seu combate, é que o ganha-pão dos corruptos depende tanto da política e dos mercados quanto o ganha-pão das pessoas de bem”. Pág.27
“O combate à corrupção no Brasil, elevado à condição de alta dramaturgia pela Operação Lava Jato, opôs as instituições do Estado, fez terra arrasada de setores inteiros da economia, mas não acabou com a corrupção. Trouxe para a corrupção bandidos ainda mais perigosos, ciosos pelos lucros que não terão que compartilhar com os tantos patifes expulsos, talvez por ora, da criminalidade”. Pág.27
“A morte da grande empresa brasileira , consequência do brutal ataque ao capitalismo nacional, submeterá, em breve, os nossos ativos, sim, os ativos nacionais, do povo brasileiro, ao que gosto de chamar, talvez impropriamente, de mínimo preço estrutural, isto é, o preço que se forma no mercado em que só há um comprador ou um grupo de compradores coordenados - e que, portanto, é determinado por esse comprador solitário diante de um vendedor prostrado. Nesse dia, sem forças, suplicaremos para que nos comprem, de novo e como sempre, por espelhos e miçangas. Nesse dia, felizes, veremos nossos filhos bater continência aos generais de um exército corporativo apátrida - num mundo desnacionalizado - e, portanto, descomprometido com as coisas e com as pessoas do Brasil”. Pág.32
“[alguns] dirão, a ponto de convencerem os tolos, que se a nossa política e a nossa economia são corruptas, o melhor, então, é que simplesmente nos livremos delas. Aqueles que o dizem, em geral, fazem-no sob a menor perspectiva de perderem seus empregos, todas as suas reservas e o mínimo de dignidade - num regime de produção no qual só o dinheiro provê dignidade. Mal-acostumados com privilégios, para atestar o malogro de nosso arremedo de democracia, escolhem por quem nunca teve escolha. Pior, acreditam - desprovidos de imaginação- que, por desconhecerem o fundo do poço, jamais irão tocá-lo”. Pág.38
“O combate brasileiro à corrupção, o bancorrupt, é um porteiro exigente, mas jamais uma barreira intransponível . É uma fábrica de supercorruptos, assim como o combate às drogas, que, mal comparando, deu vida e engordou supertraficantes e narcoestados”. Pág.39
“A caracterização casuística e subjetiva dos ilícitos leva à paralisia dos honestos. Os sérios não querem arriscar sequer um segundo de cadeia. E, portanto, irão se manter a quilômetros de distância de qualquer relação econômica com o Estado. O escasseamento de agentes econômicos num dado mercado tende a aumentar os lucros. Mais um incentivo àqueles sem qualquer escrúpulo. Falta de escrúpulo combina com ganância. Com os honestos de fora, com medo de tudo - porque sem definição exata tudo pode ser crime -, os ratos farão a farra”. Pág.49
Etc. Não é para discutirem comigo. É para reflectirem. Aquela estratégia da PGR é uma lástima. Não percebo porque não podem consultar pessoas para a elaboração deste tipo de coisas. Eu até faria de borla...
Adenda (há excertos que deviam estar aqui):
“Ninguém, senão depois de condenado e submetido, antes da condenação, ao devido processo legal e à ampla defesa, deveria, em princípio, ser tratado como culpado (...). A que serve a execração, senão a um vazio e contraproducente ímpeto de vingança?”. Pág.64
“A punição e, antes dela, a expectativa de punição não determinam, exclusivamente, os comportamentos. Não são, portanto, a despeito de importantes, instrumentos definitivos de conformidade. Outras estruturas dissuasórias da conduta indesejada são necessárias para um combate plenamente eficaz”. Pág.91
“É claro que a supressão ou ao menos a mitigação de incentivos à condita se encontra no âmago de uma estratégia bem-sucedida. A impunidade, todavia, é apenas um dos elementos de um sistema perverso de incentivos à criminalidade. O combate à impunidade sempre nos pareceu a solução para a criminalidade porque, por aqui, nem isso conseguimos”. Pág.91
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