Nos últimos meses, angolanos e portugueses assistem, uns mais cépticos, outros indiferentes e quase todos conformados à contínua e acelerada peregrinação de políticos portugueses a Angola, nomeadamente ao MPLA. É um exaustivo, mas consciente, exercício de bajulação ao poder. Mas nem todos se conformam. Há sempre quem resista, quem ainda tenha capacidade para se indignar. O Folha 8 publica hoje a opinião de Paulo de Morais, Presidente da Frente Cívica.
Em pouco meses de presidência em Angola, João Lourenço já conseguiu a subserviência da quase totalidade dos políticos portugueses.
João Lourenço quis que o processo judicial por corrupção que corria em Portugal – que acusava o seu amigo íntimo Manuel Vicente, ex-vice-presidente angolano – fosse encaminhado para Angola. E assim aconteceu, numa atitude de submissão do poder judicial português ao poder executivo… de Angola.
Aliás, muitos portugueses coraram de vergonha ao ver o Presidente português “aliviado” porque a Justiça portuguesa deixou de ser “um irritante” para Manuel Vicente, co-responsável por um dos mais corruptos regimes do mundo. No que havia sido secundado pelo chefe do governo António Costa; este chegou mesmo ao ponto de colocar o seu ministro da Defesa na posição humilhante de ir pessoalmente agradecer a Lourenço as palavras de regozijo pela derrota da Justiça portuguesa face ao regime de Luanda.
O primeiro corolário deste lamentável episódio: as relações entre Portugal e Angola serão marcadas doravante pela total impunidade face à Justiça. Está visto que quando a Justiça quiser intervir, terá um “chega p’ra lá” por parte dos maiores dignitários da política de Lisboa. Pior seria impossível!
Depois deste funesto acontecimento, têm-se sucedido as manifestações de bajulação face ao novo poder angolano, tem sido a marca constante dos últimos meses. Os líderes políticos que mais adulam o novo presidente angolano são justamente os políticos facilitadores de negócios – logo eles que foram dos mais beneficiados pelo poder corrupto do antigo presidente.
O socialista Jorge Coelho, o centrista Lobo Xavier, que administram a Mota-Engil, sabem que o seu papel é garantir que a construtora não tem falta de encomendas por parte do novo regime. Mas também Miguel Relvas, social-democrata eminente, se verga perante João Lourenço. Estes e muitos outros, entre os quais se inclui até Armando Vara, prestam vassalagem ao novo poder e até já renegam as suas ligações ao passado recente, cujo predomínio pertencia a Eduardo dos Santos e Isabel dos Santos – uma tristeza, uma vergonha, uma indignidade.
E são estes políticos de negócios que, impondo a sua vontade, vêm dirigindo as posições oficiais dos seus partidos. Assim, por influência de Paulo Portas, a presidente do CDS, Assunção Cristas foi a Angola garantir que o novo regime poderia contar consigo; também Rui Rio, novo líder do PSD se deslocou a Luanda em peregrinação, para posar sorridente junto a Lourenço e assim manter contentes os seus apoiantes com negócios ligados a Angola, como Morais Sarmento ou Paulo Mota Pinto.
E, muito em breve, será a vez do Primeiro-Ministro António Costa ir ao beija-mão a João Lourenço, seu companheiro na Internacional Socialista.
Esperar-se-ia de políticos europeus, eleitos num país democrático, uma postura de exigência democrática, de respeito pelos direitos humanos, de combate à corrupção. Nesse contexto, os políticos portugueses deveriam demarcar-se das empresas lusas que vivem do tráfico de influências. Mais ainda: junto do governo de Angola, teriam de exigir a devolução dos cerca de cinco mil milhões de dólares que o Banco Espírito Santo emprestou, sem garantias, a membros do MPLA, de entre os quais o próprio João Lourenço.
Mas, pelo contrário, a mensagem que todos estes políticos transmitem, com estas manobras de bajulação vergonhosa, é a de que a corrupção em Angola pode continuar e que a diplomacia portuguesa não incomodará de qualquer forma – desde que as empresas portuguesas bafejadas pelo regime de Lisboa possam, livremente, continuar a “negociar”, cá e lá.
Os principais políticos de Lisboa ajoelharam-se durante anos perante o regime de Eduardo dos Santos. E continuarão de joelhos face ao novel poder angolano de João Lourenço. Estão dispostos a ser servos; servos de qualquer patrão.
Já nada disto me espanta. Mas tudo isto me envergonha.
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