Hipocrisia governativa, até quando?
Por Bitone Viage & Ivan Maússe
1. No âmbito do desenvolvimento de seus trabalhos enquanto o mais alto representante do órgão executivo do Estado, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, esteve reunido, neste último fim-de-semana, em sessão extraordinária do Governo Distrital de Homoine, na Província de Inhambane.
2. O encontro que contou com a presença do Governador Provincial respectivo, Daniel Chapo, serviu para que o estadista moçambicano se inteirasse do nível de desempenho dos titulares órgãos locais que actuam em diversas áreas ou sectores de actividade, tendo Nyusi ouvido a todos para ali convocados.
3. Para a surpresa do nosso chefe de Estado (que, em bom rigor, nem devia constituir), ao questiona-los sobre alguns dados-base sobre o sector que chefiam, os titulares dos órgãos locais do Distrito de Homoine, mostraram, nuamente, um parcial e até mesmo total desconhecimento sobre os mesmos.
4. Vestidos a rigor, digamos, uniformizados de camisas, túnicas e balalaicas, ao todo, feitas de tecido de capulana, os chefes locais provaram que nada ou pouco sabem sobre as áreas que dirigem, que sua missão é de, ao amanhecer, se refastelarem nos escritórios e, de vez em quando, forjarem relatórios.
5. A ignorância total e parcial dos chefes locais em relação aos dados-base sobre os pequenos círculos territoriais e muito específicas áreas e sectores que chefiam, fez de Filipe Nyusi um homem algo decepcionado. Entendeu, então, que vezes sem conta tem sido enganado, que recebe dados falsos.
6. E como resultado de recepção de dados falsos, por força da lógica, também são tomadas decisões erradas para lugares errados. Uma autêntica confusão! Num contexto em que, em bom abono da verdade, o cenário de Homoine é comum em quase todas as regiões do país, não desenvolvemos.
7. Pessoalmente, não entendemos a razão de espanto por parte do Chefe de Estado, porquanto, a qualidade das chefias de Homoine é a mesma a de muitos titulares dos órgãos públicos em Moçambique, não fosse o clientelismo, amiguismo, camaradagem que sempre foi prática neste país.
8. É tempo de colocarmos as pessoas certas nos lugares certos sob o risco de construirmos um Estado paraplégico, quando, em contrapartida, abundam jovens e adultos com competências técnicas e científicas para fazerem muito e melhor que aqueles que chegam a chefia por mera confiança política.
9. Esses administradores, chefes de postos administrativos e seus afins, como sabemos, chegam ao poder porque alguém os identificou, os nomeou e fê-los tomar posse. Aliás, é lógico que antes do Presidente da República, prestam informação a quem os confiou, e será que não notava essa letargia?
10. É tempo de mudar se o nosso ideal é desenvolvermos como país, como nação ou como Estado. Deixemos de hipocrisia governativa. Deixemos de fingir que estamos a governar. É preciso agirmos, e tal é urgente. Continuarmos com (pseudo)quadros é institucionalizar a incompetência no nosso país.
11. Diante de um Governo que não perde a oportunidade de criar células ou círculos partidários nas instituições públicas, estamos cientes de que essas (pseudo) chefias que nada sabem sobre os dados das áreas ou sectores que dirigem, são boas no patrulhamento ideológico dos seus. Esse papel cumprem-no, e muito bem.
12. Se o nosso compromisso é com o desenvolvimento, então que demos um basta a fenómenos de clientelismo, em que ser ministro, deputado, governador, administrador, tornou-se em prémio político-partidário pela participação na luta de libertação, de ser filho e familiar da elite “libertadora”.
13. Devíamos, sem precisar de muito exercício, nos questionarmos por que razão, em Moçambique, de um modo geral, nós temos um parlamento, governo e administração públicas, ao todo, deficientes, cheios de pessoas já em idade de aposentados que procuram a todo custo marginalizar a juventude.
14. Para terminar dizer que “más assessorias concorrem para más decisões do assessorado e, no final, quem paga o preço é o assessorado, porquanto é este quem dá cara”. O descrédito do chefe máximo resulta, em parte, do “trabalho” que as chefias locais realizam. O nosso Presidente Nysui não pode ser hipócrita, fingindo que não sabe como são distribuídos os cargos de chefia neste país. Basta a hipocrisia!
Atenciosamente!
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