domingo, 22 de julho de 2018

"Fui chamado de violador de cabras, pedaço de merda e porco turco". Özil denuncia racismo alemão e abandona a Mannschaft


Mesut Özil abandona a seleção da Alemanha pelas críticas que recebeu por ter tirado uma foto com o presidente da Turquia, Erdogan. "Se a Alemanha ganha, sou alemão. Se perde, sou turco", refere Özil num longo comunicado em que acusa de racismo o presidente da federação alemã

TRIBUNA EXPRESSO
 
Özil (médio ofensivo, Arsenal)
 
CATHERINE IVILL
Desde que tirou uma foto com Recep Erdogan, presidente da Turquia, tempos antes do arranque do Mundial da Rússia, Mesut Özil tornou-se um alvo ambulante para ataques pessoais na Alemanha, nomeadamente, da federação de futebol alemã, pela voz do seu presidente, Reinhard Grindel. Este exigiu que Özil se explicasse publicamente, mas o futebolista manteve o silêncio durante semanas enquanto na Alemanha se montava um circo à sua volta.
Hoje, Özil, nascido na alemã Gelsenkirchen, lançou um extenso comunicado no qual anunciou o seu adeus à seleção. Diz que tirou aquela fotografia com Erdogan por respeito à figura mais importante do país da sua família e não por razões políticas; e diz, também, que voltaria a tirar a fotografia. E acusa algumas figuras alemãs, uma delas Grindel, de racismo.
"Fui chamado de violador de cabras por Bernd Holzahuer (um político alemão), por causa da fotografia e da minha herança turca. Além do mais, Werner Steer (Chefe do Teatro Alemão) disse-me para ir para o raio que me parta em Anatolia, um lugar turco onde há muitos refugiados. Usar discriminação como uma propaganda política é algo que devia dar a demissão automática dessas figuras. Não são melhores do que o adepto alemão que me gritou: 'És um pedaço de merda, vai embora porco turco'.
Sobre Grindel, Özil recorda palavras antigas do mesmo: "O multiculturalismo não existe. Grindel, não me surpreendes. Votaste contra uma legislação de dupla-nacionalidade e também disseste que a cultura islâmica se integrou demasiado nas cidades alemãs. Isso é inaceitável e inesquecível. Logo após a fotografia, tive uma reunião com ele em que lhe expliquei a minha herança turca, mas ele estava mais interessado em expôr os seus pontos de vista político. Mas concordámos que era melhor concentrar-me porque vinha ali o Mundial2018."
Özil garante, por outro lado, que sempre teve o apoio do selecionador Joachim Löw e dos seus colegas, embora tenha sentido várias vezes críticas na sociedade e em alguns media alemães. "Quando a Alemanha ganha, sou alemão. Quando perde, sou turco."
E remata: "Digo isto com o coração pesado, mas nunca mais vou jogar pela Alemanha. Foi uma decisão difícil porque dei sempre tudo pelos meus colegas e pelos treinadores e pelo povo alemão. Mas quando o presidente da Federação me trata assim, já chega."

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