sexta-feira, 4 de agosto de 2017

"Uma aturada investigação é capaz de apurar que cenas similares ou piores acontecem nas barbas do poder executivo"


XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
O CASO de coitados pés descalços à moda esclavagista, não é único o da mina de Montepuez, Cabo Delgado.
Uma aturada investigação é capaz de apurar que cenas similares ou piores acontecem nas barbas do poder executivo.
Não se conhece um único oficial superior ou da mediania que não tenha tido, sob os seus auspícios, jovens militares desviados para trabalhos do comandante. Do chefe.
Foi assim durante a guerra civil, tem sido assim e a cena promete ainda dramática se um levantamento de protesto não fôr activado contra este tipo de malcriadez.
Os jovens nessas situações acabam submetidos a autêntico esclavagismo, embora um bocadinho modernizado.
Na época da guerra civil, os jovens viam com bons olhos conquistar a simpatia dos generais, coronéis, majores, pois desse modo corriam menos risco de serem alvejados por uma bala inimiga ou capturados pela guerrilha.
Hoje, o método de recrutar jovens militares, também civis, para trabalhos particulares prevalece, como se pôde depreender com caso de Montepuez, onde os custos de mão-de-obra são baratos ou simplesmente nulos.
Afinal ao escravo não se paga absoluta nada, apenas alguma refeição para o manter forte e goza de pouco tempo de descanso, desse modo evitando que desenhe esquemas de fuga.
Uma estratégia recuperada pelos boers sul-africanos nas suas farmas, onde migrantes clandestinos moçambicanos estão proibidos de se comunicar.
Autenticamente, eles são escravos.
Método idêntico acontece nas cadeias moçambicanas, onde consta que funcionários prisionais têm sob alçada condenados e em cumprimento de penas, entretanto requisitados para trabalhos do chefe.
Eles gostam porque gozam da oportunidade de mudarem momentaneamente do ambiente da cadeia para um mais livre, ainda se beneficiam de refeições melhoradas, além da possibilidade de comunicar com gente diferente com a que está nos quintais da prisão.
Os exemplos são múltiplos, como aquele grupo que em cada fim-de-semana é provavelmente transportado para trabalhos na horta de fulano, sicrano ou beltrano.
Há necessidade, pois, de uma denúncia por forma a que este tipo de situações acabe de uma vez por todas.
O que se diz da cadeia de Mabalane, província de Gaza, não passa de escravatura à moda antiga, numa teia cúmplice e proteccionista suficiente para abafar qualquer tentativa de denúncia.
As pessoas estão na cadeia sujeitas a todo o tipo de sevícias e nem sequer têm voz para expôr os seus problemas, porque imediatamente abafados e os teimosos silenciados.
Há uns anitos, antigo militar derreteu em lágrimas durante audiência - julgamento de muita audiência, na baixa da cidade de Maputo - ao se lembrar de cenas humilhantes por que teria passado, perpetrados pelo seu superior...comissário. Ruim...
EXPRESSO – 03.08.2017

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