sexta-feira, 4 de agosto de 2017

"Então, também quero ser empregado do povo, nos mesmos moldes que o senhor"

EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (63)
Bom dia, Presidente. A cada dia convenço-me que o senhor não é empregado do povo. Decididamente, o povo não é seu patrão. Se empregado do povo fosse, não iria activar as falanges do ódio contra esse mesmo povo. Quem empurrou o País às dívidas? Pergunta retórica. E quem são os que andam na rádio e televisão públicas a defender os ladrões da Frelimo? Outra pergunta retórica!
Há muito que me dizem que sou do lado de lá, a direita, os reaccionários.
Entenda-se por direita e reaccionários aqueles que não rezam segundo a cartilha consagrada do esquerdismo.
Seja como for, não me vou desviar do caminho de me posicionar sobre questões que dizem respeito ao interesse público, mesmo que para isso tenha de excitar a sede de sangue das falanges do ódio. Pouco me interessam os que querem submeter a democracia ao crivo de um ente de razão que só se exerce plenamente na ditadura.
Eu sou céptico quanto ao seu último pronunciamento público. O Presidente afirmou que o relatório da Kroll, sobre dívidas ocultas, aponta para irregularidades capazes de indiciar crime, o que pode levar a Procuradoria-Geral da República a fazer a acusação.
Eu considero o seu pronunciamento uma narrativa construída para o consumo do incauto povo. É que, se efectivamente a justiça tivesse que punir os prevaricadores já teria dado passos nesse sentido.
E, por outro lado, o Presidente não tem nada que dizer isto ao povo. Sabemos, todos nós, que neste País não existe separação de poderes, de facto. Portanto, o Presidente manda na senhora Beatriz Buchili, a alta magistrada do Ministério Público. E se quer que o processo das dívidas ocultas prossiga como a lei manda, é só ligar para a Procuradora-Geral da República e dar-lhe as necessárias instruções. Nós, o povo, veremos resultados. Não queremos discursos.
O Presidente está sempre a apontar o que está errado.
Todavia, nunca toma medidas. O senhor está investido desse poder. Querendo, a qualquer altura, muita coisa pode mudar neste País. E para o bem.
O mesmo acontece quando o Presidente visita ministérios. Só queixas.
Jamais tomou medidas de vulto. Acha o Presidente que só se queixando o My Love vai desaparecer? Mas se tomar medidas, conducentes a isso, pode resultar. E o Presidente não é porque não sabe. O problema está no que disse no meu intróito: o povo não é seu patrão. Como pode o patrão minguar a olhos vistos enquanto o empregado a cada dia está rechonchudo? Não é o filho deste povão que há dias importou da África do Sul uma viatura que custa um milhão de randes. O único Florindo conhecido neste País é filho do Presidente da República.
Onde é que ele trabalhou?
Donde tira tanto dinheiro? É esse o filho de um empregado do povo? Então, também quero ser empregado do povo, nos mesmos moldes que o senhor.
DN – 04.08.2017

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