Carta aberta ao Presidente Filipe Jacinto Nyusi (13)
Senhor Presidente, esta é a décima terceira carta aberta que lhe escrevo. Nas outras tantas, sempre lhe pedi a mesma coisa: paz. Pedi-lhe para que, caso fosse necessário, se deslocasse pessoalmente à Serra da Gogongosa para falar com o senhor Afonso Dhlakama. Parece que ouviu as minhas súplicas. Parabéns!!!
Todavia, acho que é demasiado cedo para romantizar este histórico encontro entre o Presidente da República e o líder da Renamo. Não lhe quero tirar o mérito, Presidente. Estou a tentar ser cauteloso. É que as várias lideranças da Frelimo me ensinaram a desconfiar. Não gosto de presentes que escamoteiam a verdade: o cavalo de Tróia.
Por outro lado, a sua atitude, Presidente, pode ter abalado a muitos dos seus camaradas. Sei que dentro do partido há os que não querem paz, lucram, possivelmente, com a guerra. E é essa meia dúzia de camaradas que semeará escolhos para que o senhor tropece nos seus intentos. É por isso que sou cauteloso. As minhas palmas, o meu agradecimento, tê-las-ás, mas só quando o desfecho for agradável.
Falta muito pouco tempo para o final do seu mandato, Presidente. E ainda há muita coisa por fazer. A paz efectiva não tem preço. Por ora louvo a sua iniciativa de deslocar-se até a Serra de Gorongosa. Mas é preciso fazer mais. Muito mais. Eu não tenho a mesma paciência do séquito dos seus aduladores. Não vou cantar hossanas por esta iniciativa. Aliás, quando escolhemos o senhor para Presidente da República, pretendíamos que trabalhasse para o bem do povo moçambicano. Tenho que ser honesto: o que o senhor fez ainda é pouco. Muito pouco. É preciso desfazer-se das amarras que lhe toldam o passo. O Presidente tem que caminhar célere. A paz efectiva é necessária para ontem.
Moçambique, meu Presidente, não é só a região sul. Muitos dos que aplaudem qualquer iniciativa sua, olham para este país com óculos cuja graduação deixa muito a desejar. O povo moçambicano, na realidade, está a sofrer. Sabe o Presidente que há quem vive da agricultura, pesca, artesanato, caça, pequena criação e tantas outras coisas? Essas pessoas não estão na cidade de Maputo. Estão distribuídas por este extenso e belo país que a guerra está a destruir. Como é que o Presidente e os camaradas da Frelimo julgam que essas pessoas vivem com a instabilidade?
Poderá haver qualquer outra pessoa, ou mesmo o Presidente, que me pergunte porquê só olho para o senhor. É simples: Afonso Dhlakama não é Presidente de Moçambique. Quem dirigi este país é o Presidente Filipe Jacinto Nyusi e cabe a ele fazer de tudo para que a nação moçambicana viva em harmonia. Isso inclui sacrifícios, desentendimentos com alguns camaradas, insónias, falta de apetite. É para isso e mais outras coisas que a nação precisa de um líder.
As eleições estão à porta, Presidente. E se o senhor for de novo candidato pelo partido Frelimo, o próximo teste será muito difícil. O povo está descontente. Roubam-lhe e os prevaricadores não são punidos. Precisa de paz e não tem. Que vontade tem esse mesmo povo de voltar a eleger o senhor como Presidente da República?
É obrigatório fazer mudanças, mesmo que isso choque com os ideais de alguns camaradas seus. O povo tem que estar em primeiro lugar. Moçambique em primeiro lugar. Este país não é de meia dúzia de frelimistas. É de todos os moçambicanos. Avança Presidente. Traga paz. Mesmo que isso implique se mudar da Ponta Vermelha para a Serra da Gorongosa. O Presidente tem que escrever a sua própria história. E para que seja bem recordado por este povo e, quiçá, pelo mundo inteiro, tem que ser mais audaz. Tem que sair desse circulo de camaradas que funciona como se fosse máfia. Este país precisa de uma liderança perspicaz, visionária.
As nossas esperanças, a esperança de todo o povo moçambicano, estão em suas mãos, Presidente. Precisamos de um país próspero. A paz é a espinha dorsal. O resto complementar-se-á quando tivermos uma paz efectiva.
Repito: gostei do seu gesto de se ter deslocado à Serra da Gorongosa para uma conversa com Afonso Dhlakama. Mas que isso não seja um golpe de Marketing. Coisas similares já assistimos com as outras lideranças. Até foram capazes, findo o prazo estipulado por lei, recensear o senhor Afonso Dhlakama na mata. Mas voltamos a desembocar na mesma desgraça: guerra. Por isso que prefiro ser cauteloso. Contudo, torço para que haja paz efectiva. É o que Moçambique quer. É o que este povo sofredor, estou a falar-lhe deste povo com cicatrizes da guerra quer. Queremos ver um novo raiar do Sol. Por isso, mais uma vez, aqui vai a minha súplica: traga paz, Presidente!
Nini Satar
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