Elisio Macamo estava a sentir-se pensativo.
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Na semana passada escutei uma entrevista impressionante. Não me lembro de ter ouvido uma moçambicana – ou um moçambicano – a abordar questões políticas com tanta lucidez, tanta coerência e tanta convicção como essa moçambicana da entrevista nos últimos 40 anos. Reconheço que o que não me lembro não precisa de coincidir com a realidade. A entrevista foi em 1974. Ela falava da independência que se avizinhava, dava o crédito pela libertação à Frelimo e formulava o desejo legítimo de que a independência a ser negociada com Portugal produzisse um Moçambique plural que iria acomodar todas as opiniões, sensibilidades e culturas.
Eu, como muitos outros moçambicanos da minha idade, vivi a euforia dos primeiros anos da independência como um filme “Western”. Havia os bons e havia os maus. Os bons eram os que trouxeram a liberdade. Os maus eram os que os bons acusavam de ter sido traidores duma pátria que ainda não existia. Essa moçambicana fazia, e continua a fazer, parte dos maus. E cantávamos sobre ela, dizíamos que tinha sido “reaccionária”. Ela desapareceu, não se sabe para onde. Até hoje. Há apenas especulações mais ou menos fundadas sobre a sua execução sob acusação de ter traído a pátria ou, como alguém sugeriu numa discussão, de ter sido “lesa-pátria”. Estou a falar de Joana Simeão.
Este não é um assunto fácil de abordar. Para pessoas como eu, beneficiárias da liberdade que outros mais corajosos, mais visionários e mais intrépidos do que os nossos próprios pais produziram, é sempre muito mais fácil assumir uma posição de superioridade moral. É fácil hoje, com a distância do cheiro da pólvora, das intrigas próprias duma insurreição armada, exigir o tipo de rectidão moral que eu próprio, nas mesmas circunstâncias, talvez nunca teria tido. E é fácil também transmitir a ideia de que as vítimas das acções desses grandes homens e mulheres que fizeram a nacionalidade moçambicana seriam, elas próprias, santas ou, quiçá, a melhor alternativa para o país. É fácil também transmitir a impressão de querer remexer em feridas que se deviam deixar sarar para o bem de todos. Portanto, não é fácil abordar este assunto.
Não obstante, abordo-o porque as razões que são dadas para que o assunto não seja abordado não me parecem úteis e, também, porque acho que a cultura política predominante no país está profundamente ligada ao facto de abordarmos estes assuntos como se fossem tabús. Dão-se essencialmente três razões para que se não fale deste assunto.
A primeira é que ela estava contra a independência e, por isso, não merece nenhuma atenção. O problema com esta razão é que ela impõe como pré-condição para a discussão a aceitação daquilo que está em discussão. Impõe-se como critério o conjunto de razões que levou ao afastamento dessa mulher do processo político. Este critério é difícil de satisfazer sobretudo também porque nos obriga a adoptar um vocabulário (marxista) responsável pela traição do nacionalismo quando, e como bem diz o historiador João Paulo Borges Coelho, a luta armada de libertação nacional se tornou numa fábula para justificar a prerrogativa de alguns de governar e não num momento da história nacional.
A segunda razão aponta para um facto incontornável, nomeadamente que a história não é sempre feita por santos. Isto é verdade. A independência de Moçambique conquistou-se a ferro e fogo. É natural, portanto, que nesse processo pessoas de bem, pessoas que em circunstâncias normais nem a uma mosca fariam mal, virem feras e tenham de fazer coisas extremas. Eu concordo com este ponto de vista, mas não o considero razão suficiente para que se não discuta o passado, incluíndo essas acções. Isto por duas razões.
Primeiro, ao se falar desses casos num momento de reflexão sobre as pessoas e as acções que constituíram a nossa nação não se está necessariamente a falar de responsabilidade criminal ou jurídica. Está-se a falar do conjunto de valores que devem fazer parte da nossa comunidade moral. Está-se a levantar a questão de saber se o princípio dos fins que justificam todos os meios é útil no processo de construcção da nação. A julgar pelo constante recurso que se faz a este princípio no nosso país, é evidente que ele não é bom. Ele legitima tudo, incluíndo a falta de respeito que parece ser uma característica forte da maneira como nos relacionamos. Se alguém se sente prejudicado pela forma como as eleições decorreram, ele pega em armas, embosca e mata civis e militares e ainda tem o benefício da dúvida duma esfera pública moldada e forjada no principio dos fins que justificam os meios.
Também não concordo com o ponto de vista segundo o qual a prática de atrocidades seria normal em processos desta natureza e, por isso, não devíamos falar sobre o assunto porque queremos olhar para as pessoas que fizeram isso como nossas heroínas. Ora, um herói não é uma pessoa imaculada – nem mesmo Jesús ou Maomé foram. Não são só as acções que definem um herói, mas a sua coragem em assumir responsabilidade moral pelo que fez. Impedir a discussão destes assuntos com base no argumento segundo o qual essas coisas seriam normais é privar os heróis da oportunidade que eles têm de assumirem públicamente o que fizeram. E pior: é negar-lhes o direito de irem ao seu descanso eterno aliviados dum peso que devem ter na consciência se realmente forem pessoas moralmente íntegras. Se a execução de pessoas sem processo nem transparência não lhes cria nenhum problema de consciência, então duvido muito da integridade moral dessas pessoas e, por isso, da sua heroicidade.
A terceira razão dada para não falarmos deste assunto é de que só atrapalharia o processo de construcção nacional. Aqui também concordo que há um potencial destructivo em toda insistência naquilo que de negativo existe na nossa história. Uma nação, essa comunidade imaginada sobre a qual falam alguns historiadores, constrói-se com mensagens positivas. Sim, mas não só. Há, por um lado, um certo sentido em que uma história não reflectida estimula o cinismo, o que produz o efeito contrário de minar o sentimento patriótico. Existem vários exemplos disto na nossa esfera desde a algo estúpida discussão sobre se Chipande deu o primeiro tiro até à irrelevante discussão sobre se Mondlane é mesmo o arquitecto da unidade nacional. A narrativa histórica sobre a qual Moçambique assenta como projecto nacional virou em muitas mentes uma farsa, objecto de ridicularização.
Mas por outro lado existe o perigo de valorizar uma versão histórica que apenas legitima a prerrogativa de poder dum grupo de pessoas e é vista assim pelo público. Isso traz consigo três problemas. O primeiro é óbvio. A legitimidade do poder será sempre posta em causa por aqueles que não têm o poder. A consequência disso é que cria um ambiente intelectual dentro do qual a resistência a esse poder, não importa se bem fundada ou não, será sempre bem vista por muitos sectores de opinião. Há um lado doentio na celebração, por exemplo, da morte de militares vitimados pelas acções da Renamo nos últimos quatro anos, mas ela é também fruto da perda de legitimidade não por causa duma suposta fraude eleitoral, mas por se não reconhecer autoridade moral naqueles que detêm o poder.
O segundo problema é que gente que não tendo praticado acções tenebrosas, mas defendeu discursivamente essas acções como fazendo parte dum projecto supostamente “revoluccionário”, hoje passeia pela história como apóstola moral e exemplo duma ética que fez mal ao país. Hoje essa gente reclama a perda de valores que foi possível justamente por causa desse projecto, por causa do seu autoritarismo, da sua arrogância e da sua incapacidade em pensar um Moçambique que não fosse prerrogativa exclusiva dos fazedores da “revolução”.
O terceiro problema é um problema com o qual estamos a braços desde 1975. É o problema de se pensar que se a luta pela independência confere a prerrogativa de poder a alguns só uma outra luta – como a da Renamo com todas as suas atrocidades – constitui forma viável de contestação do poder. É de novo aquele problema dos fins que justificam os meios. Um desgraçado aguerrido e disposto a soltar o gatilho lá de Manica mantém o nosso país refém da sua vaidade pessoal há décadas com recurso a este princípio.
Hoje temos uma cultura política violenta que está intimamente ligada à ausência duma discussão franca e aberta sobre os maus momentos da nossa história. Por causa das zonas de penumbra da nossa história, ninguém tem autoridade moral para nada, por isso, não existe entre nós figura(s) moralmente capaz(es) de liderar o processo nacional. O grande feito que foi a independência é visto com cinismo, na melhor das hipóteses, ou até posto em causa, na pior, simplesmente porque foi conduzido por pessoas de conduta moral duvidosa. Só num país como o nosso é que um líder político pode manifestar em plena entrevista pública o desejo ainda que retórico de ver o país entregue de volta aos colonizadores e só sofrer críticas daqueles que o criticariam de qualquer maneira, falasse ele bem ou não.
A violência da nossa cultura política vem também desta história que nunca foi trabalhada. Por causa dessa lógica dos fins que justificam os meios, todo aquele que se sente com razão para seja o que for que lhe der na gana sente-se também no direito de tratar os outros como bem entender. Quando vejo gente que se espanta pelos maus tratos a que pessoas estão sujeitas nas minas de rubis fico eu próprio espantado. Esse é o Moçambique real da falta de respeito pela dignidade humana, algo que não é prerrogativa do governo, mas sim de todo aquele que se sente em posição de infligir a dor ao outro. Mesmo aquilo que chamamos de corrupção - e dá de comer aos espertinhos que vendem isso aos doadores - não é outra coisa senão uma manifestação da falta de respeito que define as relações humanas entre nós. Se eu estiver com fome, ou quiser mais, tiro simplesmente, que se lixem aqueles que não têm, que se lixe a comunidade. E se alguém me apertar para justificar, vou evocar o interesse nacional. Eu posso sujar o nome de pessoas, arrastar a sua reputação na lama em nome duma moral bombástica que tem a sua raiz neste princípio dos fins que justificam os meios.
Como simpatizante assumido duma Frelimo que aos poucos se tem distanciado da folia revolucionária que a levou a violar a dignidade humana naqueles anos de euforia guardo a esperança de que ela um dia, mais cedo do que mais tarde, e em nome da nacionalidade que ela criou, mas também para permitir que os heróis se libertem do peso do que eles em circunstâncias normais nunca teriam feito, trabalhe esse passado, peça desculpas onde for necessário e mostre que é, na verdade, muito maior do que os outros. À Frelimo posso manifestar esse desejo porque, apesar de tudo, ela se norteou por objectivos nobres ao contrário dos que se deixaram instrumentalizar por forças externas para semear a morte e a destruição no país.
Um primeiro passo nesse sentido seria a meu ver a reabilitação de pessoas como a Joana Simeão num distanciamento claro dessa horrível linguagem de “contra-revoluccionária”, “lacaia do imperialismo” e “fantoche” que adiou a nossa independência efectiva por muitos e longos anos e, potencialmente, tirou a nacionalidade a muitos que a ela tinham direito, mesmo pensando diferente.
Comentários
Calbe Jaime Que tal um exercicio igual ao da Comissão de Verdade e Reconciliação?
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Elisio Macamo bom, não sei. eu estou a falar da responsabilidade moral dos que fizeram a nossa independência. estou a falar sobre eles, não sobre todo o país. o assunto da comissão é outro, talvez, muito distante.
Paulo Inglês Por acaso também ouvi a entrevista e fiquei impressionado com a sua lucidez e este post responde muitas perguntas. Merci.
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Elisio Macamo e um sentimento de perda, mesmo sem saber tudo da pessoa.
Fatima Mendonça Excelente Elisio Macamo!
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Elisio Macamo obrigado.
CJ Bila Um texto com premissas interessantes para um verdadeiro debate nacional. Parabéns professor
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Elisio Macamo vamos a isso, então.
Ricardo Santos Tu, estás aqui, estás ali! Só a Joana Simeão é que mancha eu teu texto verdadeiramente refrescante para quem quer pensar Moçambique. ´Gostei muito da análise. Mas mantenho as minhas discordâncias no que à Joana Simeão diz respeito. Já escrevi noutro post e repito: nada justifica o assassinato de um prisioneiro. Sei que foste suficientemente delicado para não ir tão longe. É mais um ponto a teu favor. Porém, no contexto do momento que se vivia entre o 25 de Abril e a Independência de Moçambique, a Joana Simeão apareceu, de facto, como uma carta jogada em última instância pelo poder colonial, pela África do Sul e pela Rodésia para impedir ou diluir a nossa independência. Aliás, não foi por falta de lugares nos hotéis que ela se alojou em casa do Jorge Jardim. A Independência Unilateral da Rodésia estava ali tão perto!
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Elisio Macamo eu compreendo-te, Ricardo. a frase chave escreveste-a "nada justifica o assassinato de um prisioneiro". a discussão tem que ser sobre isso, tudo o resto impede a discussão porque nos obriga a adoptar as razões para o que se fez com ela como premissas para a discussão. essa seria uma falsa discussão. se calhar estamos perante uma falsa heroína, se calhar o que dizes sobre a sua instrumentalização é verdade. mas se quem tem autoridade moral não quer assumir responsabilidade, nunca saberemos isso. é só isso. a grandeza está aí, não na insistência nas boas razões que tivemos para fazer o que em circunstâncias normais não teríamos feito. mas eu compreendo-te esta questão cria-me muita angústia.
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Ricardo Santos Mais grave ainda Elisio Macamo, é que eu não possuo nenhuma informação sobre os restantes Urias Simango, Lázaro Nkavandame e outros que terão sido eliminados pura e simplesmente do igual modo. Aliás, tive ocasião de publicar aqui uma carta aberta ao Marcelino dos Santos sobre esse assunto, a propósito de ele ter dito numa entrevista que esses assassinatos tinham sido um gesto revolucionário!
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Brazao Catopola Prezado Ricardo Santos, não sei até que ponto poderia concordar consigo que ela era a última cartada rodesiana. Na verdade a opinião dela e de Jorge Jardim sobre a independência de Moçambique diferem completamente. A negociação ou proposta de negociação sobre independência de Moçambique a partir da Zâmbia por Jorge Jardim implicava uma transição muito mais lenta e penosa. Joana Simeão apresentava uma proposta diferente na qual se dava ênfase a condição ser moçambicana. Tem um outro artigo dela na qual mostra querer um Moçambique moçambicano diferentemente da de JJ. Agora é preciso tornar claro o que conceitualmente fazia alguém de inimigo.
GostoMostrar mais reações · Responder · 4 · 2/8 às 17:52 · EditadoEliminar
Elisio Macamo aí está. em tempos fiz uma recensão crítica a um livro sobre uria simango na qual punha em causa a metodologia. terminei essa recensão crítica, publicada no jornal notícias, pedindo que os veteranos se pronunciassem, nem que apenas 1% disso fosse verdade. alguém me contou que quando um deputado da renamo perguntou por essas pessoas numa das sessões do primeiro parlamento a resposta de sérgio vieira foi "foram executados porque eram traidores da pátria". assim, secamente. isso angustia-me. repito: a questão não é de inventar novos heróis ou de dizer que estes eram também bandidos. é de reconhecer erros.
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Brazao Catopola Sobre a morte de Urias Simango, Padre Gwendjere há várias versões. No entanto entrevistei a três pessoas que disseram que a sua.morte estava diretamente relacionada com informação dos serviços secretos que havia um plano de ataque Sul africano pra captura deles no Niassa e os aliar ao MNR.
Verdade ou não. Ainda devemos pesquisar
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Benedito Mamidji Esta leitura de que ela era uma carta jogada pelo poder colonial não passa ao escrutínio da investigação e apenas serve para corroborar a dominante narrativa da libertação ou a tal fábula. O grande peso que recaía sobre ela era que ela era acusada de ter sido agente da PIDE, alegação feita por um ex-namorado que era amigo dos camaradas. Isso ainda no tempo de Lisboa. Teria assumido o tal amigo que ela terá levantado num bar para ir ao banheiro e caiu de sua carteira um cartão da PIDE. A conclusão a que chegaram é que ela era agente. No seu volumoso livro de memórias, Sérgio Vieira reproduz esta fábula. Ora, o facto é que a PIDE nunca emitiu cartões a seus agentes. Não seria um serviço de inteligência se o fizesse. A Joana já estava acostumada a dialogar com o poder colonial directamente (fê-lo pela primeira vez para evitar que ela e sua irmã fossem despejadas da escola em Portugal quando o pai perdeu poder econômico para continuar a pagar os custos da educação das meninas. E dessa conversa com a autoridade colonial ela consegui uma bolsa). No momento conturbado dos anos 73-4, ela tomou a iniciativa de explorar os mesmos canais que havia usado antes para o seu projecto político. Pode se discutir os méritos e deméritos do seu projecto, mas não se pode lhe tirar o mérito de ter sido a única mulher politicamente madura (atrevo-me a dizer muito mais madura que muitos homens do seu tempo). Há de ter sido justamente isso que terá selado o seu triste fim. O facto de ser uma mulher, bem articulada e politicamente madura. Escrevi há uns anos um artigo em que defendia que houve muito mais imaginários sobre o futuro político de Moçambique para além do nacionalismo exclusivista da Frente de Libertação. Como diz o historiador Frederick Cooper, as independências em África e o triunfo do nacionalismo bloquearam muitas outras avenidas imaginadas por diversos grupos. Agrupar todos esses grupos na categoria de reacionários é o que os dirigentes políticos fizeram em todo o continente. A Joana morreu perto de M'telela em Majune. Terá sido queimada junto com outros companheiros. Antes de morrer ela tentou suicidar-se dentro da sua cela. Já estava quase cega, pelas sevícias e muito provavelmente por umas diabetes não tratadas. Um fim macabro para quem cometeu o crime de pensar politicamente diferente.
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Elisio Macamo eu não falaria, a rigor, dum nacionalismo exclusivista da frente de libertação, mas sim duma versão que se tornou dominante em algum momento e que, em 1975, proporcionou lentes para a leitura de comportamentos. é preciso não esquecer que os ex-presos políticos, por exemplo, passaram por um longo e difícil processo de aprendizagem para se adaptarem a essa versão. alguns nem conseguiram.
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Ricardo Santos Se bem me lembro, a questão dos ex-presos políticos não era propriamente a mesma. Tinha mais a ver com a capacidade de resistir à tortura e não denunciar os seus iguais.
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Ricardo Santos O que, diga-se de passagem, não é assunto nada ligeiro de nenhum ponto de vista.
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 18:08Eliminar
Elisio Macamo sim, Ricardo, mas referia-me mais à forma como eles próprios interpretavam a independência. eles tiveram que aprender a ver a independência na perspectiva revolucionária.
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Eusébio A. P. Gwembe Benedito Mamidji depois de ter cruzado dados de um guarda prisional dela, de medico, de um religioso que tinha luz verde para entrar no campo e uma amiga de cela da Joana, fiquei com a conclusão segundo a qual a cegueira resultou de maus tratos que recebeu apos a recapitula. Segundo um dos carcereiros (hoje no Zomba) ela tinha sido liberada mas perdeu-se pela floresta, recapiturada teve a condenaçao que visou impossibilitar-lhe a visao. Quando Maputo descobre sobre este problema, um telegrama (tenho as datas e o codigo dela algures) pede que "se leve a doente X a Machava para tratamento ao que Nissa responde 'afirmativo'. Chegada a Maputo pediu uma confissao assistida. Pessoalmente, no Porto, conversei com o referido sacerdote que, sem me falar do teor da confissao, confirmou aquela "ünica confissao assistida na minha vida" mas nao fazia conta de que era aquela mulher cega". Recentemente, um outro sacerdote, Jose Augusto Alves de Sousa, em suas memorias sobre 44 anos de missionação em Moçambique, voltou a tocar no mesmo tema confirmando a passagem da Joana pela Machava, ja cega. Eu ainda nao consegui descobrir se ela, apos a ida a Maputo, regressou ao Niassa ou morreu mesmo em Maputo. Mas tenho pistas, so questao de tempo
GostoMostrar mais reações · Responder · 9 · 2/8 às 18:22Gerir
Benedito Mamidji Tomo de emprestado a expressão nacionalismo exclusivista dos historiadores David Hedges e Colin Darch, num artigo entitulado "Não vamos herdar nada de Portugal: As origens do exclusivismo político em Moz". Por "exclusivismo" pode se entender uma perspectiva política radical baseada na crença da chamada "linha correcta" de que a libertação foi fruto exclusivo da luta da Frente e que só a Frente está destinada a ditar o curso das coisas. Acho que não há grande diferença entre o que chama de versão dominante.
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Lyndo A. Mondlane Viva Eusébio A. P. Gwembe.. temos q conversar..
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 18:29 · EditadoEliminar
Elisio Macamo a minha questão não é essa. é sobre a versão dominante dentro dessa frente porque é óbvio que mesmo dentro dos círculos mais fechados houve outras concepções. o desenrolar dos acontecimentos mostra isso claramente. portanto, o exclusivismo aplica-se a essa versão dominante dentro da frente.
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Benedito Mamidji Eusébio A. P. Gwembe são dados bastante ricos que apresenta. Na verdade, na falta de dados fiáveis, vamos tecendo a historia com migalhas de fontes. Um dia a verdade vai surgir. Em que ano é que ela foi a Maputo? Esse dado pode ser fundamental, pois eu tenho a data em que ela tentou se suicidar
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Benedito Mamidji Elisio Macamo estou absolutamente de acordo
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 18:30Eliminar
Hlomulo Zimba É caso para dizer, com mentira e falsidade conquistaste a independência, com mentira e falsidade desfrutará dela.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 18:43Eliminar
Elisio Macamo o relato do Eusébio A. P. Gwembe levanta um outro lado por explorar. pode ter havido excesso de zelo também. nesse caso, seria interessante saber como os dirigentes se sentiram em maputo quando souberam do excesso de zelo.
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Elisio Macamo não, Hlomulo Zimba, não. não foi com mentira e falsidade que se conquistou a independência. foi com luta e dedicação à causa. isso eu não nego aos libertadores.
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Benedito Mamidji Eles sempre souberam do "excesso de zelo". Os relatórios dos responsáveis pelos Serviços Províncias de Reeducação sempre lhes informaram que as condições em que estavam a viver os presos políticos eram desumanos. A minha tese trata disso
GostoMostrar mais reações · Responder · 2 · 2/8 às 20:04Eliminar
Hlomulo Zimba Professor, não quero tirar mérito a luta dos nossos libertadores, quis sim dizer, que a nossa história foi feita com muitas omissões, e aliado a falta de abertura para se trazer a verdadeira história, deixa os moçambicanos com uma história controversas. E entendo eu, que esta situação de faltar a verdade a quem merece, por parte de alguns moçambicanos, transformou se num modus vivendi, pois continuamos com um presente envenenado, com acontecimentos que tem a verdade como madrasta.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 21:10Eliminar
Brazao Catopola Benedito Mamindj já agora peço a sua tese. Desculpa o aproveitamento
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 22:20Eliminar
Eusébio A. P. Gwembe Brazao Catopola Padre Gwenjere também esteve no Niassa?
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 23:04Gerir
Brazao Catopola Entrevistei ao Cabrita e me falou da morte deles. Sim.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 23:15Eliminar
Benedito Mamidji Brazao Catopola a tese ainda está a ser cozida. O fogo é brando e os ingredientes são duros. Mas logo logo fica pronta. A propósito, tens alguma relação familiar com Luís Catopola, um militante da clandestinidade e ex-prisioneiro político na Machava?
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Brazao Catopola Sim, Benedito Mamidji. É meu pai.
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Benedito Mamidji Brazao Catopola temos muito que conversar. Estou a trabalhar num projecto de investigação em que ele é uma das figuras centrais
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Brazao Catopola Ok. Podemos sim.
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Elisio Macamo mais uma vez, Hlomulo Zimba, não houve omissões, nem se faltou à verdade em meu entender. houve uma interpretação própria do processo de libertação. essa interpretação produziu os bons e os maus assim como algumas das acções problemáticas. nós, hoje, não vemos melhor. vemos com outros olhos.
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Hlomulo Zimba Bom dia professor, concordando que o processo de libertação produziu certos problemas, típicos de uma revolução, o que sucede com qualquer processo do género. A questão que coloco é, uma vez conquistada a razão da produção dos maus e dos bons(independência), e passado mais de 40 anos, qual seria o risco de se abrir espaço para a reconstrução da história?
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Elisio Macamo não sei se entendo a questão. o espaço para a "reconstrução da história" existe. esta nossa discussão faz parte disso. não sei se o desafio é de identificar uma versão da história com a qual todos estejam de acordo. não me parece possível, nem necessário.
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Brazao Catopola Eu acho que há sim um espaço para um debate público sobre o processo e sem necessidade de classificar. Lembro me por exemplo o Professor Oscar Monteiro falar dos erros cometidos nas aulas na UEM e em seminários a ponto de nós a todos eles chamarmos de jovens eufóricos, pois segundo ele vieram com vontade de fazer as coisas que presumiam certas naquela altura e cometeram muitos erros e graves. É essa abertura que é possível de termos e discutir. Por exemplo pela fala de Joana Simeão até que ponto pode ser considerada uma traidora? Se discutirmos Gwambe até que ponto a sua visão que hoje quase vigora podemos dizer que foi traidor. Mariano Matsinhe disse ao Jornal Savana era normal matar naquela altura. É preciso compreender a conjuntura desse era normal, etc etc. Nao se trata de fazer uma historia unica e de herois ou novos herois, mas u.a historia que permitirá que novas situações similares ocorram e, sobretudo, que nos construímos continuamente aceitando outras perspectivas dos mesmos factos
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Elisio Macamo uma história que vai impedir a repetição dos mesmos erros, creio que queria dizer. de resto, concordo. é por isso que não estou certo se o reconhecimento destas coisas constituiria mesmo um problema.
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Hlomulo Zimba Bom professor, dá m prazer roubar lhe mais um pouco do seu saber, percebo que este espaço é válido para reconstrução histórica, e concordo que é quase impossível ter uma história na qual todos se acomodam, afinal de contas a história, no meu entender ( admito estar errado) por vezes é escrita de modo a proteger uma determinada classe. Mas quando falo da reconstrução, falo da clarificação de alguns episódios que nortearam a luta pela independência e que até hoje são interpretadas de várias maneiras, a título de exemplo o "desaparecimento" da Joana Simão, e do autor do primeiro tiro, que o professor até fez referência no texto, uma vez que temos ainda vivo algumas das personagens que estiveram nessa luta..
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Elisio Macamo eu faço uma distinção entre escrever a história e assumir responsabilidade moral. a história estará sempre a ser reescrita, não há como. e continuará a ter ficções politicamente úteis. assumir responsabilidade moral, porém, não é para mim reescrever a história porque até pode ser que essas pessoas consideradas traidoras tenham sido mesmo traidoras. a questão é: deviam ter sido tratadas assim? faríamos o mesmo hoje? como nos sentimos em relação a esses actos? questões como quem deu o primeiro tiro, etc. interessam-me muito pouco. são muito mesquinhas. só encontra utilidade nelas aquele que gostaria de ter a satisfação de contradizer o discurso oficial. um exemplo: como começou a primeira guerra mundial? a versão oficial diz que foi com o assassinato do príncipe austríaco em sarajevo por um rebelde. sim e não. o seu motorista enganou-se no caminho quando o levava ao hospital para ele ir ver os feridos dum atentado bombista. por um acaso qualquer o rebelde que regressava à casa deparou com a viatura e aproveitou o momento. foi o rebelde ou foi o motorista? importa?
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Hlomulo Zimba A questão de quem deu o primeiro tiro, apenas trouxe como exemplo, não que haja uma necessidade de se levar a discussão.
Leo D. P. Viegas Fantastico Elisio Macamo.
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Brazao Catopola Já conhecia a entrevista que me foi gentilmente aconselhada por João Cabrita. Esse é um bom tema para discutir ee analisar. Tenho dito que um dos grandes problemas que enfrentamos hoje, sobretudo na esfera publica (o deixar de debater o assunto e passar para a pessoa) resulta substancialmente da forma como o foi e, infelizmente, é construída a ideia do nacionalismo moçambicano. Joana Simeão nessa entrevista tem uma clara noção de diferença étnica, de um governo resultante da multiculturalidade. É verdade que os cientistas sociais (sobretudo) têm o privilégio de profetizar o passado, mas concordo consigo que é necessário debater abertamente as questões de construção do estado-nação Moçambique.
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Celia Meneses Concordo Ricardo!
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Eusébio A. P. Gwembe Parabéns Elisio Macamo por dizer o que muitos (de nós) gostaríamos de dizer mas não podemos, simplesmente para não ofender a corte. Há quem pense que pedir desculpas reduz-lhe as chances da heroicidade, pelo contrário, acho que os futuros heróis deviam também sê-lo por reconhecer os próprios erros e excessos. O seu texto recorda-me vários episódios/encontros que, como historiador, tenho tido com vários actores da nossa história. Para além de um sentimento geral de bravura há o sentimento de culpa pelos erros cometidos, pior, quando descobrem que aquilo que julgavam ter escondido vem ao de cima, por outras vias. É chato, por vezes, ver um velho chorando ao entrevistador e como que um sacerdote ter que engolir sapos escutando-lhe os desabafos. O medo da responsabilidade judicial pode ser o que nos impede de debater sobre esta violência (no meu ponto de pensar o problema de criação de cidadania) que caracterizou o nosso nascimento como nação/Estado. Por vezes tenho-me deparado com aqueles entrevistados que a dado ponto me questionam “o que você quer fazer com isso”. Eles, mais do que nós que os defendemos, é que precisam/necessitam da paz espiritual.
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Lyndo A. Mondlane Eusébio A. P. Gwembe, ja estas a dizer...
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Elisio Macamo concordo consigo Eusébio A. P. Gwembe que a separação entre responsabilidade criminal e moral pode criar alguns problemas. deve haver uma maneira de falar sobre isto sem que a responsabilidade criminal se levante. imagino que haja gente com os corações amarrados por causa daquilo que teve que fazer em nome de ideais. falar pode ser uma maneira de essas pessoas se libertarem e ganharem paz de espírito.
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Lyndo A. Mondlane Mas a responsabilidade criminal ja expirou, excepto em casos de crimes contra humanidade, q nao é o caso...
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 17:59 · EditadoEliminar
Lyndo A. Mondlane A vantagem de Elisio Macamo, nao tem ataduras, nao depende do partido para seguir triufando (eu tambem), entao tem suas convicçoes q se pode estar de acordo ou nao, mas se pode permitir escrever ou dizer o q pensa.. gosto
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Elisio Macamo pensas tu...
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 18:04Eliminar
Lyndo A. Mondlane Kkkkk a frelimo em basileia nao pinta nada, igual q em alicante.........kkkk
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Elisio Macamo a frelimo tem paciência...
GostoMostrar mais reações · Responder · 2 · 2/8 às 18:14Eliminar
Lyndo A. Mondlane Kkkkk, nao me assustes prof. Ja falei demasiado..kakakakkakaka
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Elisio Macamo tarde demais...
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Lyndo A. Mondlane Kakakka.. vou me retirar a valverde uma povoaçao de 500 habitantes no interior da provincia.. la nao chegarao, nem ha caminhos...kkkkkk....
Wakamaā Mabjaia Infelizmente, os mortos ou desaparecidos não mais cá estão para poder defender-se. A saga dos excessos da revolução na fase logo pós-independência repetiu-se, infelizmente, a meu ver, num passado muito recente e continua a repetir-se... falo das execuções sumárias de cidadãos (sejam quais forem as razões arroladas como estando por detrás).
Ainda não conseguimos resolver nossas diferenças sem ser com recurso à violência e/ou eliminação física, assassinatos de caráter, etc.
Por todas as razões que levanta, até mesmo para podermos (para poderem) dormir de consciência tranquila um dia, precisamos de nos reconciliar com o passado.
Precisamos de ser tolerantes uns para com os outros (incluindo em ideias) e um pouco mais de EMPATIA. Abraço e obrigado por escrever e partilhar.
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Manuel Bila Os outros desbravaram a mata, preparam a terra ,plantam,sacham, ja perto da colheita aparece alguém que esteve ausente deste processo todo a opinar como deve ser feito a distribuição da colheita, sabendo que que muitas vidas se perderam nesse processo todo acredito que o que para o contexto revolucionário estao perdoados os nossos heróis.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 18:18Eliminar
Elisio Macamo para quem se guia pelo velho testamento o raciocínio não espanta. dente por dente, olho por olho.
Ricardo Santos Nada justifica o assassinato de um prisioneiro. No entanto, é preciso não esquecer.
A Joana Simeão e outros prisioneiros terão sido executados nos fins dos anos 70 ou princípios dos anos 80.
Num momento em que a Renamo dizimava o país, num momento em que a Renamo dizimava populações indefesas na Manhiça e as ambulâncias chegavam aos magotes ao Hospital Central de Maputo. Num momento em que o apartheid imperava. Num momento em que o a Rodésia andava em roda livre. Estes contextos não podem nunca ser esquecidos.
Sob pena de nos esquecermos de nós próprios.
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Elisio Macamo d'acord. mas estamos a especular.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2 · 2/8 às 18:25Eliminar
Brazao Catopola Bem agora estamos a fugir do assunto tratando um problemacomo solução do outro.
Mablinga Shikhani Hehehehehehe "A Terceira Via"... hehehe
GostoMostrar mais reações · Responder · 2/8 às 18:53Eliminar
Lazaro Mabunda Deixe-me fazer copy and past e imprimir o texto. Quero reler. Achei muito doce. Parece-me levantar questões importantes sobre o projecto da construção da Nação Moçambicana. Vou ler sentado e bem fresquinho. Até...
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Lenine Daniel Excelente professor! Penso que há necessidade dos libertadores investirem na reabilitação de pessoas como a Joana Simeão ( é um prazer ouvir os trechos de áudio dela, era muito "avançada" para a época), Urias Simango e outros. Ao não darem esse passo deixam a sociedade a mercê de qualquer informação propalada. Preocupa-me como pai, por exemplo, reproduzir o discurso segundo o qual essa senhora era reaccionária. Contudo, reconheço a dificuldade dos libertadores ( tinham ideiais bem claras de defesa a pátria e a criação da nossa identidade.) em dar alguns avanços no que concerne ao reconhecimento dos erros e excessos próprios do processo. A nossa sociedade está em termos morais muito mal e uma tentativa dos libertadores de se reconciliarem com eles mesmos e com a história pode não ser nada pacífica. Concordo que isso seja necessário, mas tenho reservas em relação ao "timing" para tal. Enfim, é um assunto muito sensível.
GostoMostrar mais reações · Responder · 2 · 2/8 às 19:42 · EditadoEliminar
Elisio Macamo simpatizo muito com a forma como coloca as coisas. a questão, contudo, é se haverá melhor momento, se esta ferida que sangra não vai ficar assim. muito complicado.
Amosse Macamo Penso que não podemos apressar o processo de "reabilitação" da nossa história. Enquanto existirem os dois lados (bom e o mau ) e cada um com o seu fundamento por se ter posicionado de uma forma e não de outra, enquanto existirem ofendidos e ofensores teremos sempre uma situação de posições irredutíveis ...há factos que só o tempo e a crescente consciência de Cidadania nos podem ajudar a resolver. Claro que isso não pode impedir a sua discussão, porem será sempre difícil livrarmo-nos da suspeição
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Elisio Macamo oxalá, mpoyombo, oxalá. o problema é que este assunto tornou a relação de muitos com aquilo que devia ser a sua história muito cínica. até crimes mais hediondos, porque simplesmente sádicos, ganham hoje o benefício da dúvida. eu compreendo os teus receios, são meus também.
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Brazao Catopola Creio que sim podemos fazer isso. A cidadania e a conciliação histórica faz se fazendo. A nossa consciência cidadã vai surgir desses debates. Creio que todos temos a consciência que isso foi do tempo, mas precisamos falar sobre isso
Clelio Clelio O fecho deste texto longo é espetacular,faz ter valído a pena ler sem se cansar.
Maria Fernanda Tomásio Cavadas Li e reli .....👍
Calton Cadeado Acho o texto muito bom pelo apelo ao debate. Este é um apelo que eu vejo inclusive na "retórica" dos libertadores e no próprio discurso oficial da FRELIMO. A prova disso é, que de um tempo a esta parte, tem surgido muitos livros de memórias de figuras sonantes da FRELIMO na qual se pode tirar alguma coisa para o debate. Nesses livros, encontramos muito material que glorifica a luta de libertação e a heroicidade, mas também é possível encontrar algum questionamento, ainda que tênue. Tanto a retórica dos libertadores quanto o discurso oficial da FRELIMO não dizem que se deve única e exclusivamente publicar memórias de glorificação.
Elisio Macamo sim, concordo que têm sido publicados livros interessantes. muitos precisam de ser lidos entrelinhas como qualquer documento histórico. neste capítulo tenho muita inveja da áfrica do sul onde existe uma tradição mais forte de redação de memórias. hoje sei muito mais sobre a luta do anc e o regime do apartheid a partir de memórias de combatentes, agentes e políticos. é uma outra tradição intelectual.
Calton Cadeado Quanto a questão moral, eu vejo-a de forma relativa. Esta minha relatividade tem muito a ver com o facto de o discurso de concepção da luta de libertação nacional foi sempre alicerçado em valores morais nobres. Além disso, houve também uma pratica de respeito pela vida dos prisioneiros das tropas do regime colonial. O apelo a separação entre o regime colonial e o Homem branco é, em si, uma atitude politico-moral que tem uma expressão teórica e empírica. Portanto, eu discordo com a generalização a respeito da decadência (minha expressão) moral na construção do estado. Isto, para mim, torna relevante discutir os excessos a diferentes níveis de análise (topo a base; individual e institucional) para perceber se a decadência moral era institucional e como isso pode conduzir a um pedido de desculpas (individual ou institucional).
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · Ontem às 9:29 · EditadoEliminar
Elisio Macamo não sei se estou completamente de acordo. é verdade que a história oficial sempre falou dessa separação. no livro de memórias de sérgio vieira há uma referência a esse aspecto quando durante as negociações de lusaka se aborda a questão da troca de prisioneiros e se constanta que os portugueses mataram todos os prisioneiros enquanto a frelimo não. ao mesmo tempo, porém, depois da independência não se mostra o mesmo sentido de clemência e respeito à vida não só em relação aos que são tidos como traidores, mas também em momentos subsequentes como execuções públicas, etc. isso relativiza a integridade moral desses indivíduos.
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Calton Cadeado Prof. Eu vejo os contextos, antes e depois da independência, como factores importantes para INTERPRETAR a clemência. Em ambos contextos, estava em jogo a sobrevivência da FRELIMO. Antes da independência, matar branco significava perda de legitimidade da causa da luta de libertação, significava perder apoio de "países amigos" e de pessoas amigas, inclusive nos países europeus. Isso poderia significar lutar contra os líderes que tinham esposas brancas ou contra os intelectuais místicos e brancos. Com tanta luta pelo poder, com tantas divisões, com tanto intervencionismo do regime colonial (que também lutava pela sua sobrevivência), a Frelimo usou o fear factor (factor medo) para garantir coesão e garantir sobrevivência. Depois da independência, a luta pela sobrevivência foi mais evidente e o fear factor continuou a ser opção política. Nesta altura, a pena de morte foi o instrumento mais marcante. Este contexto de luta de sobrevivência pode, provavelmente, ajudar a interpretar a aplicação da clemência antes da independência e o abandono, depois da independência. Mas, como digo, está é apenas uma tentativa de interpretação! Ainda precisamos estudar muito sobre a nossa realidade!
Elisio Macamo sim, ainda precisamos de fazer isso.
Calbe Jaime Calton gostei do argumento acima, faz sentido
Calton Cadeado Quanto ao pedido de desculpas, Prof. eu acho que a dimensão política pesa mais do que a dimensão moral, neste momento. O timing é um factor crucial a considerar, os exemplos de pedidos de desculpas em outras realidades podem ser importantes para perspectivar um provável pedido de desculpas, aqui em Moçambique. A questão do timing e dos exemplos parece ser crucial, pois há MUITOS exemplos de excessos em outras realidades, há mais de 100 ou 200 anos, mas ainda não fizeram pedidos de desculpas. Mas, também há POUCOS exemplos de pedidos de desculpas. E, se tiver que acontecer um pedido de desculpas, em Moçambique, não vão faltar os que vão incluir a Renamo a pedir desculpas! Nesse caso, quem toma a iniciativa? Essa questão pode fazer adiar um eventual pedido de desculpas dos libertadores ou da FRELIMO. Acima de tudo, os perigos políticos (em função do timing) podem dificultar o pedido de desculpas. Eu acho que é mais fácil existirem pedidos de desculpa individual do que pedido de desculpa institucional.
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Elisio Macamo deste problema também estou ciente e não tenho opinião formada senão a esperança de que haja mais coragem para se admitir os erros. a separação entre o individual e o colectivo seria difícil porque como poderia um indivíduo pedir desculpas por algo que o colectivo não admite? algo me diz que a frelimo teria muito a ganhar tomando a dianteira neste assunto. os exemplos de outros países são instructivos, mas o meu problema com eles é o perigo de nós os utilizarmos para justificar a nossa falta de coragem em fazer aquilo que a moral nos diz ser correcto fazer. o que fez os alemães levaram assim tanto tempo para admitirem o genocídio na namíbia foi a arrogância e a falta de respeito. se nós fizermos o mesmo estaremos também a revelar essas características. eu sou dum romantismo que me leva a apostar muito na ideia de que se pudermos ser melhores que os outros devemos tentar ser.
Bayano Valy sobre o autor e outros mais (verdugos intelectuais, incluídos), não sei se não devíamos olhar para a questão também do ponto de vista psicológico. ocorre-me o romance de arthur koestler "darkness at noon" onde o protagonista rubashov, um bolchevista convicto, confessa ter comitido crimes capitais sem tê-los. rubashov é uma metáfora da bancarrota moral fruto do que as ideologias totalitárias inculcam nos seus seguidores ao ponto dos mesmos de abandonarem o seu auto-respeito como seres humanos.
ps: não é para discutirmos :)
Elisio Macamo acho que este comentário no post errado. mas como não é para discutirmos está tudo bem...
2/8 às 16:16 ·
16 Minutos
Na semana passada escutei uma entrevista impressionante. Não me lembro de ter ouvido uma moçambicana – ou um moçambicano – a abordar questões políticas com tanta lucidez, tanta coerência e tanta convicção como essa moçambicana da entrevista nos últimos 40 anos. Reconheço que o que não me lembro não precisa de coincidir com a realidade. A entrevista foi em 1974. Ela falava da independência que se avizinhava, dava o crédito pela libertação à Frelimo e formulava o desejo legítimo de que a independência a ser negociada com Portugal produzisse um Moçambique plural que iria acomodar todas as opiniões, sensibilidades e culturas.
Eu, como muitos outros moçambicanos da minha idade, vivi a euforia dos primeiros anos da independência como um filme “Western”. Havia os bons e havia os maus. Os bons eram os que trouxeram a liberdade. Os maus eram os que os bons acusavam de ter sido traidores duma pátria que ainda não existia. Essa moçambicana fazia, e continua a fazer, parte dos maus. E cantávamos sobre ela, dizíamos que tinha sido “reaccionária”. Ela desapareceu, não se sabe para onde. Até hoje. Há apenas especulações mais ou menos fundadas sobre a sua execução sob acusação de ter traído a pátria ou, como alguém sugeriu numa discussão, de ter sido “lesa-pátria”. Estou a falar de Joana Simeão.
Este não é um assunto fácil de abordar. Para pessoas como eu, beneficiárias da liberdade que outros mais corajosos, mais visionários e mais intrépidos do que os nossos próprios pais produziram, é sempre muito mais fácil assumir uma posição de superioridade moral. É fácil hoje, com a distância do cheiro da pólvora, das intrigas próprias duma insurreição armada, exigir o tipo de rectidão moral que eu próprio, nas mesmas circunstâncias, talvez nunca teria tido. E é fácil também transmitir a ideia de que as vítimas das acções desses grandes homens e mulheres que fizeram a nacionalidade moçambicana seriam, elas próprias, santas ou, quiçá, a melhor alternativa para o país. É fácil também transmitir a impressão de querer remexer em feridas que se deviam deixar sarar para o bem de todos. Portanto, não é fácil abordar este assunto.
Não obstante, abordo-o porque as razões que são dadas para que o assunto não seja abordado não me parecem úteis e, também, porque acho que a cultura política predominante no país está profundamente ligada ao facto de abordarmos estes assuntos como se fossem tabús. Dão-se essencialmente três razões para que se não fale deste assunto.
A primeira é que ela estava contra a independência e, por isso, não merece nenhuma atenção. O problema com esta razão é que ela impõe como pré-condição para a discussão a aceitação daquilo que está em discussão. Impõe-se como critério o conjunto de razões que levou ao afastamento dessa mulher do processo político. Este critério é difícil de satisfazer sobretudo também porque nos obriga a adoptar um vocabulário (marxista) responsável pela traição do nacionalismo quando, e como bem diz o historiador João Paulo Borges Coelho, a luta armada de libertação nacional se tornou numa fábula para justificar a prerrogativa de alguns de governar e não num momento da história nacional.
A segunda razão aponta para um facto incontornável, nomeadamente que a história não é sempre feita por santos. Isto é verdade. A independência de Moçambique conquistou-se a ferro e fogo. É natural, portanto, que nesse processo pessoas de bem, pessoas que em circunstâncias normais nem a uma mosca fariam mal, virem feras e tenham de fazer coisas extremas. Eu concordo com este ponto de vista, mas não o considero razão suficiente para que se não discuta o passado, incluíndo essas acções. Isto por duas razões.
Primeiro, ao se falar desses casos num momento de reflexão sobre as pessoas e as acções que constituíram a nossa nação não se está necessariamente a falar de responsabilidade criminal ou jurídica. Está-se a falar do conjunto de valores que devem fazer parte da nossa comunidade moral. Está-se a levantar a questão de saber se o princípio dos fins que justificam todos os meios é útil no processo de construcção da nação. A julgar pelo constante recurso que se faz a este princípio no nosso país, é evidente que ele não é bom. Ele legitima tudo, incluíndo a falta de respeito que parece ser uma característica forte da maneira como nos relacionamos. Se alguém se sente prejudicado pela forma como as eleições decorreram, ele pega em armas, embosca e mata civis e militares e ainda tem o benefício da dúvida duma esfera pública moldada e forjada no principio dos fins que justificam os meios.
Também não concordo com o ponto de vista segundo o qual a prática de atrocidades seria normal em processos desta natureza e, por isso, não devíamos falar sobre o assunto porque queremos olhar para as pessoas que fizeram isso como nossas heroínas. Ora, um herói não é uma pessoa imaculada – nem mesmo Jesús ou Maomé foram. Não são só as acções que definem um herói, mas a sua coragem em assumir responsabilidade moral pelo que fez. Impedir a discussão destes assuntos com base no argumento segundo o qual essas coisas seriam normais é privar os heróis da oportunidade que eles têm de assumirem públicamente o que fizeram. E pior: é negar-lhes o direito de irem ao seu descanso eterno aliviados dum peso que devem ter na consciência se realmente forem pessoas moralmente íntegras. Se a execução de pessoas sem processo nem transparência não lhes cria nenhum problema de consciência, então duvido muito da integridade moral dessas pessoas e, por isso, da sua heroicidade.
A terceira razão dada para não falarmos deste assunto é de que só atrapalharia o processo de construcção nacional. Aqui também concordo que há um potencial destructivo em toda insistência naquilo que de negativo existe na nossa história. Uma nação, essa comunidade imaginada sobre a qual falam alguns historiadores, constrói-se com mensagens positivas. Sim, mas não só. Há, por um lado, um certo sentido em que uma história não reflectida estimula o cinismo, o que produz o efeito contrário de minar o sentimento patriótico. Existem vários exemplos disto na nossa esfera desde a algo estúpida discussão sobre se Chipande deu o primeiro tiro até à irrelevante discussão sobre se Mondlane é mesmo o arquitecto da unidade nacional. A narrativa histórica sobre a qual Moçambique assenta como projecto nacional virou em muitas mentes uma farsa, objecto de ridicularização.
Mas por outro lado existe o perigo de valorizar uma versão histórica que apenas legitima a prerrogativa de poder dum grupo de pessoas e é vista assim pelo público. Isso traz consigo três problemas. O primeiro é óbvio. A legitimidade do poder será sempre posta em causa por aqueles que não têm o poder. A consequência disso é que cria um ambiente intelectual dentro do qual a resistência a esse poder, não importa se bem fundada ou não, será sempre bem vista por muitos sectores de opinião. Há um lado doentio na celebração, por exemplo, da morte de militares vitimados pelas acções da Renamo nos últimos quatro anos, mas ela é também fruto da perda de legitimidade não por causa duma suposta fraude eleitoral, mas por se não reconhecer autoridade moral naqueles que detêm o poder.
O segundo problema é que gente que não tendo praticado acções tenebrosas, mas defendeu discursivamente essas acções como fazendo parte dum projecto supostamente “revoluccionário”, hoje passeia pela história como apóstola moral e exemplo duma ética que fez mal ao país. Hoje essa gente reclama a perda de valores que foi possível justamente por causa desse projecto, por causa do seu autoritarismo, da sua arrogância e da sua incapacidade em pensar um Moçambique que não fosse prerrogativa exclusiva dos fazedores da “revolução”.
O terceiro problema é um problema com o qual estamos a braços desde 1975. É o problema de se pensar que se a luta pela independência confere a prerrogativa de poder a alguns só uma outra luta – como a da Renamo com todas as suas atrocidades – constitui forma viável de contestação do poder. É de novo aquele problema dos fins que justificam os meios. Um desgraçado aguerrido e disposto a soltar o gatilho lá de Manica mantém o nosso país refém da sua vaidade pessoal há décadas com recurso a este princípio.
Hoje temos uma cultura política violenta que está intimamente ligada à ausência duma discussão franca e aberta sobre os maus momentos da nossa história. Por causa das zonas de penumbra da nossa história, ninguém tem autoridade moral para nada, por isso, não existe entre nós figura(s) moralmente capaz(es) de liderar o processo nacional. O grande feito que foi a independência é visto com cinismo, na melhor das hipóteses, ou até posto em causa, na pior, simplesmente porque foi conduzido por pessoas de conduta moral duvidosa. Só num país como o nosso é que um líder político pode manifestar em plena entrevista pública o desejo ainda que retórico de ver o país entregue de volta aos colonizadores e só sofrer críticas daqueles que o criticariam de qualquer maneira, falasse ele bem ou não.
A violência da nossa cultura política vem também desta história que nunca foi trabalhada. Por causa dessa lógica dos fins que justificam os meios, todo aquele que se sente com razão para seja o que for que lhe der na gana sente-se também no direito de tratar os outros como bem entender. Quando vejo gente que se espanta pelos maus tratos a que pessoas estão sujeitas nas minas de rubis fico eu próprio espantado. Esse é o Moçambique real da falta de respeito pela dignidade humana, algo que não é prerrogativa do governo, mas sim de todo aquele que se sente em posição de infligir a dor ao outro. Mesmo aquilo que chamamos de corrupção - e dá de comer aos espertinhos que vendem isso aos doadores - não é outra coisa senão uma manifestação da falta de respeito que define as relações humanas entre nós. Se eu estiver com fome, ou quiser mais, tiro simplesmente, que se lixem aqueles que não têm, que se lixe a comunidade. E se alguém me apertar para justificar, vou evocar o interesse nacional. Eu posso sujar o nome de pessoas, arrastar a sua reputação na lama em nome duma moral bombástica que tem a sua raiz neste princípio dos fins que justificam os meios.
Como simpatizante assumido duma Frelimo que aos poucos se tem distanciado da folia revolucionária que a levou a violar a dignidade humana naqueles anos de euforia guardo a esperança de que ela um dia, mais cedo do que mais tarde, e em nome da nacionalidade que ela criou, mas também para permitir que os heróis se libertem do peso do que eles em circunstâncias normais nunca teriam feito, trabalhe esse passado, peça desculpas onde for necessário e mostre que é, na verdade, muito maior do que os outros. À Frelimo posso manifestar esse desejo porque, apesar de tudo, ela se norteou por objectivos nobres ao contrário dos que se deixaram instrumentalizar por forças externas para semear a morte e a destruição no país.
Um primeiro passo nesse sentido seria a meu ver a reabilitação de pessoas como a Joana Simeão num distanciamento claro dessa horrível linguagem de “contra-revoluccionária”, “lacaia do imperialismo” e “fantoche” que adiou a nossa independência efectiva por muitos e longos anos e, potencialmente, tirou a nacionalidade a muitos que a ela tinham direito, mesmo pensando diferente.
Comentários
Calbe Jaime Que tal um exercicio igual ao da Comissão de Verdade e Reconciliação?
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Elisio Macamo bom, não sei. eu estou a falar da responsabilidade moral dos que fizeram a nossa independência. estou a falar sobre eles, não sobre todo o país. o assunto da comissão é outro, talvez, muito distante.
Paulo Inglês Por acaso também ouvi a entrevista e fiquei impressionado com a sua lucidez e este post responde muitas perguntas. Merci.
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Elisio Macamo e um sentimento de perda, mesmo sem saber tudo da pessoa.
Fatima Mendonça Excelente Elisio Macamo!
GostoMostrar mais reações · Responder · 4 · 2/8 às 16:48Eliminar
Elisio Macamo obrigado.
CJ Bila Um texto com premissas interessantes para um verdadeiro debate nacional. Parabéns professor
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Elisio Macamo vamos a isso, então.
Ricardo Santos Tu, estás aqui, estás ali! Só a Joana Simeão é que mancha eu teu texto verdadeiramente refrescante para quem quer pensar Moçambique. ´Gostei muito da análise. Mas mantenho as minhas discordâncias no que à Joana Simeão diz respeito. Já escrevi noutro post e repito: nada justifica o assassinato de um prisioneiro. Sei que foste suficientemente delicado para não ir tão longe. É mais um ponto a teu favor. Porém, no contexto do momento que se vivia entre o 25 de Abril e a Independência de Moçambique, a Joana Simeão apareceu, de facto, como uma carta jogada em última instância pelo poder colonial, pela África do Sul e pela Rodésia para impedir ou diluir a nossa independência. Aliás, não foi por falta de lugares nos hotéis que ela se alojou em casa do Jorge Jardim. A Independência Unilateral da Rodésia estava ali tão perto!
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Elisio Macamo eu compreendo-te, Ricardo. a frase chave escreveste-a "nada justifica o assassinato de um prisioneiro". a discussão tem que ser sobre isso, tudo o resto impede a discussão porque nos obriga a adoptar as razões para o que se fez com ela como premissas para a discussão. essa seria uma falsa discussão. se calhar estamos perante uma falsa heroína, se calhar o que dizes sobre a sua instrumentalização é verdade. mas se quem tem autoridade moral não quer assumir responsabilidade, nunca saberemos isso. é só isso. a grandeza está aí, não na insistência nas boas razões que tivemos para fazer o que em circunstâncias normais não teríamos feito. mas eu compreendo-te esta questão cria-me muita angústia.
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Ricardo Santos Mais grave ainda Elisio Macamo, é que eu não possuo nenhuma informação sobre os restantes Urias Simango, Lázaro Nkavandame e outros que terão sido eliminados pura e simplesmente do igual modo. Aliás, tive ocasião de publicar aqui uma carta aberta ao Marcelino dos Santos sobre esse assunto, a propósito de ele ter dito numa entrevista que esses assassinatos tinham sido um gesto revolucionário!
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Brazao Catopola Prezado Ricardo Santos, não sei até que ponto poderia concordar consigo que ela era a última cartada rodesiana. Na verdade a opinião dela e de Jorge Jardim sobre a independência de Moçambique diferem completamente. A negociação ou proposta de negociação sobre independência de Moçambique a partir da Zâmbia por Jorge Jardim implicava uma transição muito mais lenta e penosa. Joana Simeão apresentava uma proposta diferente na qual se dava ênfase a condição ser moçambicana. Tem um outro artigo dela na qual mostra querer um Moçambique moçambicano diferentemente da de JJ. Agora é preciso tornar claro o que conceitualmente fazia alguém de inimigo.
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Elisio Macamo aí está. em tempos fiz uma recensão crítica a um livro sobre uria simango na qual punha em causa a metodologia. terminei essa recensão crítica, publicada no jornal notícias, pedindo que os veteranos se pronunciassem, nem que apenas 1% disso fosse verdade. alguém me contou que quando um deputado da renamo perguntou por essas pessoas numa das sessões do primeiro parlamento a resposta de sérgio vieira foi "foram executados porque eram traidores da pátria". assim, secamente. isso angustia-me. repito: a questão não é de inventar novos heróis ou de dizer que estes eram também bandidos. é de reconhecer erros.
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Brazao Catopola Sobre a morte de Urias Simango, Padre Gwendjere há várias versões. No entanto entrevistei a três pessoas que disseram que a sua.morte estava diretamente relacionada com informação dos serviços secretos que havia um plano de ataque Sul africano pra captura deles no Niassa e os aliar ao MNR.
Verdade ou não. Ainda devemos pesquisar
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Benedito Mamidji Esta leitura de que ela era uma carta jogada pelo poder colonial não passa ao escrutínio da investigação e apenas serve para corroborar a dominante narrativa da libertação ou a tal fábula. O grande peso que recaía sobre ela era que ela era acusada de ter sido agente da PIDE, alegação feita por um ex-namorado que era amigo dos camaradas. Isso ainda no tempo de Lisboa. Teria assumido o tal amigo que ela terá levantado num bar para ir ao banheiro e caiu de sua carteira um cartão da PIDE. A conclusão a que chegaram é que ela era agente. No seu volumoso livro de memórias, Sérgio Vieira reproduz esta fábula. Ora, o facto é que a PIDE nunca emitiu cartões a seus agentes. Não seria um serviço de inteligência se o fizesse. A Joana já estava acostumada a dialogar com o poder colonial directamente (fê-lo pela primeira vez para evitar que ela e sua irmã fossem despejadas da escola em Portugal quando o pai perdeu poder econômico para continuar a pagar os custos da educação das meninas. E dessa conversa com a autoridade colonial ela consegui uma bolsa). No momento conturbado dos anos 73-4, ela tomou a iniciativa de explorar os mesmos canais que havia usado antes para o seu projecto político. Pode se discutir os méritos e deméritos do seu projecto, mas não se pode lhe tirar o mérito de ter sido a única mulher politicamente madura (atrevo-me a dizer muito mais madura que muitos homens do seu tempo). Há de ter sido justamente isso que terá selado o seu triste fim. O facto de ser uma mulher, bem articulada e politicamente madura. Escrevi há uns anos um artigo em que defendia que houve muito mais imaginários sobre o futuro político de Moçambique para além do nacionalismo exclusivista da Frente de Libertação. Como diz o historiador Frederick Cooper, as independências em África e o triunfo do nacionalismo bloquearam muitas outras avenidas imaginadas por diversos grupos. Agrupar todos esses grupos na categoria de reacionários é o que os dirigentes políticos fizeram em todo o continente. A Joana morreu perto de M'telela em Majune. Terá sido queimada junto com outros companheiros. Antes de morrer ela tentou suicidar-se dentro da sua cela. Já estava quase cega, pelas sevícias e muito provavelmente por umas diabetes não tratadas. Um fim macabro para quem cometeu o crime de pensar politicamente diferente.
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Elisio Macamo eu não falaria, a rigor, dum nacionalismo exclusivista da frente de libertação, mas sim duma versão que se tornou dominante em algum momento e que, em 1975, proporcionou lentes para a leitura de comportamentos. é preciso não esquecer que os ex-presos políticos, por exemplo, passaram por um longo e difícil processo de aprendizagem para se adaptarem a essa versão. alguns nem conseguiram.
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Ricardo Santos Se bem me lembro, a questão dos ex-presos políticos não era propriamente a mesma. Tinha mais a ver com a capacidade de resistir à tortura e não denunciar os seus iguais.
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Ricardo Santos O que, diga-se de passagem, não é assunto nada ligeiro de nenhum ponto de vista.
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Elisio Macamo sim, Ricardo, mas referia-me mais à forma como eles próprios interpretavam a independência. eles tiveram que aprender a ver a independência na perspectiva revolucionária.
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Eusébio A. P. Gwembe Benedito Mamidji depois de ter cruzado dados de um guarda prisional dela, de medico, de um religioso que tinha luz verde para entrar no campo e uma amiga de cela da Joana, fiquei com a conclusão segundo a qual a cegueira resultou de maus tratos que recebeu apos a recapitula. Segundo um dos carcereiros (hoje no Zomba) ela tinha sido liberada mas perdeu-se pela floresta, recapiturada teve a condenaçao que visou impossibilitar-lhe a visao. Quando Maputo descobre sobre este problema, um telegrama (tenho as datas e o codigo dela algures) pede que "se leve a doente X a Machava para tratamento ao que Nissa responde 'afirmativo'. Chegada a Maputo pediu uma confissao assistida. Pessoalmente, no Porto, conversei com o referido sacerdote que, sem me falar do teor da confissao, confirmou aquela "ünica confissao assistida na minha vida" mas nao fazia conta de que era aquela mulher cega". Recentemente, um outro sacerdote, Jose Augusto Alves de Sousa, em suas memorias sobre 44 anos de missionação em Moçambique, voltou a tocar no mesmo tema confirmando a passagem da Joana pela Machava, ja cega. Eu ainda nao consegui descobrir se ela, apos a ida a Maputo, regressou ao Niassa ou morreu mesmo em Maputo. Mas tenho pistas, so questao de tempo
GostoMostrar mais reações · Responder · 9 · 2/8 às 18:22Gerir
Benedito Mamidji Tomo de emprestado a expressão nacionalismo exclusivista dos historiadores David Hedges e Colin Darch, num artigo entitulado "Não vamos herdar nada de Portugal: As origens do exclusivismo político em Moz". Por "exclusivismo" pode se entender uma perspectiva política radical baseada na crença da chamada "linha correcta" de que a libertação foi fruto exclusivo da luta da Frente e que só a Frente está destinada a ditar o curso das coisas. Acho que não há grande diferença entre o que chama de versão dominante.
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Lyndo A. Mondlane Viva Eusébio A. P. Gwembe.. temos q conversar..
GostoMostrar mais reações · Responder · 1 · 2/8 às 18:29 · EditadoEliminar
Elisio Macamo a minha questão não é essa. é sobre a versão dominante dentro dessa frente porque é óbvio que mesmo dentro dos círculos mais fechados houve outras concepções. o desenrolar dos acontecimentos mostra isso claramente. portanto, o exclusivismo aplica-se a essa versão dominante dentro da frente.
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Benedito Mamidji Eusébio A. P. Gwembe são dados bastante ricos que apresenta. Na verdade, na falta de dados fiáveis, vamos tecendo a historia com migalhas de fontes. Um dia a verdade vai surgir. Em que ano é que ela foi a Maputo? Esse dado pode ser fundamental, pois eu tenho a data em que ela tentou se suicidar
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Benedito Mamidji Elisio Macamo estou absolutamente de acordo
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Hlomulo Zimba É caso para dizer, com mentira e falsidade conquistaste a independência, com mentira e falsidade desfrutará dela.
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Elisio Macamo o relato do Eusébio A. P. Gwembe levanta um outro lado por explorar. pode ter havido excesso de zelo também. nesse caso, seria interessante saber como os dirigentes se sentiram em maputo quando souberam do excesso de zelo.
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Elisio Macamo não, Hlomulo Zimba, não. não foi com mentira e falsidade que se conquistou a independência. foi com luta e dedicação à causa. isso eu não nego aos libertadores.
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Benedito Mamidji Eles sempre souberam do "excesso de zelo". Os relatórios dos responsáveis pelos Serviços Províncias de Reeducação sempre lhes informaram que as condições em que estavam a viver os presos políticos eram desumanos. A minha tese trata disso
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Hlomulo Zimba Professor, não quero tirar mérito a luta dos nossos libertadores, quis sim dizer, que a nossa história foi feita com muitas omissões, e aliado a falta de abertura para se trazer a verdadeira história, deixa os moçambicanos com uma história controversas. E entendo eu, que esta situação de faltar a verdade a quem merece, por parte de alguns moçambicanos, transformou se num modus vivendi, pois continuamos com um presente envenenado, com acontecimentos que tem a verdade como madrasta.
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Brazao Catopola Benedito Mamindj já agora peço a sua tese. Desculpa o aproveitamento
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Eusébio A. P. Gwembe Brazao Catopola Padre Gwenjere também esteve no Niassa?
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Brazao Catopola Entrevistei ao Cabrita e me falou da morte deles. Sim.
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Benedito Mamidji Brazao Catopola a tese ainda está a ser cozida. O fogo é brando e os ingredientes são duros. Mas logo logo fica pronta. A propósito, tens alguma relação familiar com Luís Catopola, um militante da clandestinidade e ex-prisioneiro político na Machava?
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Brazao Catopola Sim, Benedito Mamidji. É meu pai.
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Benedito Mamidji Brazao Catopola temos muito que conversar. Estou a trabalhar num projecto de investigação em que ele é uma das figuras centrais
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Brazao Catopola Ok. Podemos sim.
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Elisio Macamo mais uma vez, Hlomulo Zimba, não houve omissões, nem se faltou à verdade em meu entender. houve uma interpretação própria do processo de libertação. essa interpretação produziu os bons e os maus assim como algumas das acções problemáticas. nós, hoje, não vemos melhor. vemos com outros olhos.
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Hlomulo Zimba Bom dia professor, concordando que o processo de libertação produziu certos problemas, típicos de uma revolução, o que sucede com qualquer processo do género. A questão que coloco é, uma vez conquistada a razão da produção dos maus e dos bons(independência), e passado mais de 40 anos, qual seria o risco de se abrir espaço para a reconstrução da história?
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Elisio Macamo não sei se entendo a questão. o espaço para a "reconstrução da história" existe. esta nossa discussão faz parte disso. não sei se o desafio é de identificar uma versão da história com a qual todos estejam de acordo. não me parece possível, nem necessário.
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Brazao Catopola Eu acho que há sim um espaço para um debate público sobre o processo e sem necessidade de classificar. Lembro me por exemplo o Professor Oscar Monteiro falar dos erros cometidos nas aulas na UEM e em seminários a ponto de nós a todos eles chamarmos de jovens eufóricos, pois segundo ele vieram com vontade de fazer as coisas que presumiam certas naquela altura e cometeram muitos erros e graves. É essa abertura que é possível de termos e discutir. Por exemplo pela fala de Joana Simeão até que ponto pode ser considerada uma traidora? Se discutirmos Gwambe até que ponto a sua visão que hoje quase vigora podemos dizer que foi traidor. Mariano Matsinhe disse ao Jornal Savana era normal matar naquela altura. É preciso compreender a conjuntura desse era normal, etc etc. Nao se trata de fazer uma historia unica e de herois ou novos herois, mas u.a historia que permitirá que novas situações similares ocorram e, sobretudo, que nos construímos continuamente aceitando outras perspectivas dos mesmos factos
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Elisio Macamo uma história que vai impedir a repetição dos mesmos erros, creio que queria dizer. de resto, concordo. é por isso que não estou certo se o reconhecimento destas coisas constituiria mesmo um problema.
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Hlomulo Zimba Bom professor, dá m prazer roubar lhe mais um pouco do seu saber, percebo que este espaço é válido para reconstrução histórica, e concordo que é quase impossível ter uma história na qual todos se acomodam, afinal de contas a história, no meu entender ( admito estar errado) por vezes é escrita de modo a proteger uma determinada classe. Mas quando falo da reconstrução, falo da clarificação de alguns episódios que nortearam a luta pela independência e que até hoje são interpretadas de várias maneiras, a título de exemplo o "desaparecimento" da Joana Simão, e do autor do primeiro tiro, que o professor até fez referência no texto, uma vez que temos ainda vivo algumas das personagens que estiveram nessa luta..
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Elisio Macamo eu faço uma distinção entre escrever a história e assumir responsabilidade moral. a história estará sempre a ser reescrita, não há como. e continuará a ter ficções politicamente úteis. assumir responsabilidade moral, porém, não é para mim reescrever a história porque até pode ser que essas pessoas consideradas traidoras tenham sido mesmo traidoras. a questão é: deviam ter sido tratadas assim? faríamos o mesmo hoje? como nos sentimos em relação a esses actos? questões como quem deu o primeiro tiro, etc. interessam-me muito pouco. são muito mesquinhas. só encontra utilidade nelas aquele que gostaria de ter a satisfação de contradizer o discurso oficial. um exemplo: como começou a primeira guerra mundial? a versão oficial diz que foi com o assassinato do príncipe austríaco em sarajevo por um rebelde. sim e não. o seu motorista enganou-se no caminho quando o levava ao hospital para ele ir ver os feridos dum atentado bombista. por um acaso qualquer o rebelde que regressava à casa deparou com a viatura e aproveitou o momento. foi o rebelde ou foi o motorista? importa?
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Hlomulo Zimba A questão de quem deu o primeiro tiro, apenas trouxe como exemplo, não que haja uma necessidade de se levar a discussão.
Leo D. P. Viegas Fantastico Elisio Macamo.
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Brazao Catopola Já conhecia a entrevista que me foi gentilmente aconselhada por João Cabrita. Esse é um bom tema para discutir ee analisar. Tenho dito que um dos grandes problemas que enfrentamos hoje, sobretudo na esfera publica (o deixar de debater o assunto e passar para a pessoa) resulta substancialmente da forma como o foi e, infelizmente, é construída a ideia do nacionalismo moçambicano. Joana Simeão nessa entrevista tem uma clara noção de diferença étnica, de um governo resultante da multiculturalidade. É verdade que os cientistas sociais (sobretudo) têm o privilégio de profetizar o passado, mas concordo consigo que é necessário debater abertamente as questões de construção do estado-nação Moçambique.
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Celia Meneses Concordo Ricardo!
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Eusébio A. P. Gwembe Parabéns Elisio Macamo por dizer o que muitos (de nós) gostaríamos de dizer mas não podemos, simplesmente para não ofender a corte. Há quem pense que pedir desculpas reduz-lhe as chances da heroicidade, pelo contrário, acho que os futuros heróis deviam também sê-lo por reconhecer os próprios erros e excessos. O seu texto recorda-me vários episódios/encontros que, como historiador, tenho tido com vários actores da nossa história. Para além de um sentimento geral de bravura há o sentimento de culpa pelos erros cometidos, pior, quando descobrem que aquilo que julgavam ter escondido vem ao de cima, por outras vias. É chato, por vezes, ver um velho chorando ao entrevistador e como que um sacerdote ter que engolir sapos escutando-lhe os desabafos. O medo da responsabilidade judicial pode ser o que nos impede de debater sobre esta violência (no meu ponto de pensar o problema de criação de cidadania) que caracterizou o nosso nascimento como nação/Estado. Por vezes tenho-me deparado com aqueles entrevistados que a dado ponto me questionam “o que você quer fazer com isso”. Eles, mais do que nós que os defendemos, é que precisam/necessitam da paz espiritual.
GostoMostrar mais reações · Responder · 12 · 2/8 às 17:46Gerir
Lyndo A. Mondlane Eusébio A. P. Gwembe, ja estas a dizer...
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Elisio Macamo concordo consigo Eusébio A. P. Gwembe que a separação entre responsabilidade criminal e moral pode criar alguns problemas. deve haver uma maneira de falar sobre isto sem que a responsabilidade criminal se levante. imagino que haja gente com os corações amarrados por causa daquilo que teve que fazer em nome de ideais. falar pode ser uma maneira de essas pessoas se libertarem e ganharem paz de espírito.
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Lyndo A. Mondlane Mas a responsabilidade criminal ja expirou, excepto em casos de crimes contra humanidade, q nao é o caso...
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Lyndo A. Mondlane A vantagem de Elisio Macamo, nao tem ataduras, nao depende do partido para seguir triufando (eu tambem), entao tem suas convicçoes q se pode estar de acordo ou nao, mas se pode permitir escrever ou dizer o q pensa.. gosto
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Elisio Macamo pensas tu...
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Lyndo A. Mondlane Kkkkk a frelimo em basileia nao pinta nada, igual q em alicante.........kkkk
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Elisio Macamo a frelimo tem paciência...
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Lyndo A. Mondlane Kkkkk, nao me assustes prof. Ja falei demasiado..kakakakkakaka
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Elisio Macamo tarde demais...
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Lyndo A. Mondlane Kakakka.. vou me retirar a valverde uma povoaçao de 500 habitantes no interior da provincia.. la nao chegarao, nem ha caminhos...kkkkkk....
Wakamaā Mabjaia Infelizmente, os mortos ou desaparecidos não mais cá estão para poder defender-se. A saga dos excessos da revolução na fase logo pós-independência repetiu-se, infelizmente, a meu ver, num passado muito recente e continua a repetir-se... falo das execuções sumárias de cidadãos (sejam quais forem as razões arroladas como estando por detrás).
Ainda não conseguimos resolver nossas diferenças sem ser com recurso à violência e/ou eliminação física, assassinatos de caráter, etc.
Por todas as razões que levanta, até mesmo para podermos (para poderem) dormir de consciência tranquila um dia, precisamos de nos reconciliar com o passado.
Precisamos de ser tolerantes uns para com os outros (incluindo em ideias) e um pouco mais de EMPATIA. Abraço e obrigado por escrever e partilhar.
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Manuel Bila Os outros desbravaram a mata, preparam a terra ,plantam,sacham, ja perto da colheita aparece alguém que esteve ausente deste processo todo a opinar como deve ser feito a distribuição da colheita, sabendo que que muitas vidas se perderam nesse processo todo acredito que o que para o contexto revolucionário estao perdoados os nossos heróis.
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Elisio Macamo para quem se guia pelo velho testamento o raciocínio não espanta. dente por dente, olho por olho.
Ricardo Santos Nada justifica o assassinato de um prisioneiro. No entanto, é preciso não esquecer.
A Joana Simeão e outros prisioneiros terão sido executados nos fins dos anos 70 ou princípios dos anos 80.
Num momento em que a Renamo dizimava o país, num momento em que a Renamo dizimava populações indefesas na Manhiça e as ambulâncias chegavam aos magotes ao Hospital Central de Maputo. Num momento em que o apartheid imperava. Num momento em que o a Rodésia andava em roda livre. Estes contextos não podem nunca ser esquecidos.
Sob pena de nos esquecermos de nós próprios.
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Elisio Macamo d'acord. mas estamos a especular.
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Brazao Catopola Bem agora estamos a fugir do assunto tratando um problemacomo solução do outro.
Mablinga Shikhani Hehehehehehe "A Terceira Via"... hehehe
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Lazaro Mabunda Deixe-me fazer copy and past e imprimir o texto. Quero reler. Achei muito doce. Parece-me levantar questões importantes sobre o projecto da construção da Nação Moçambicana. Vou ler sentado e bem fresquinho. Até...
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Lenine Daniel Excelente professor! Penso que há necessidade dos libertadores investirem na reabilitação de pessoas como a Joana Simeão ( é um prazer ouvir os trechos de áudio dela, era muito "avançada" para a época), Urias Simango e outros. Ao não darem esse passo deixam a sociedade a mercê de qualquer informação propalada. Preocupa-me como pai, por exemplo, reproduzir o discurso segundo o qual essa senhora era reaccionária. Contudo, reconheço a dificuldade dos libertadores ( tinham ideiais bem claras de defesa a pátria e a criação da nossa identidade.) em dar alguns avanços no que concerne ao reconhecimento dos erros e excessos próprios do processo. A nossa sociedade está em termos morais muito mal e uma tentativa dos libertadores de se reconciliarem com eles mesmos e com a história pode não ser nada pacífica. Concordo que isso seja necessário, mas tenho reservas em relação ao "timing" para tal. Enfim, é um assunto muito sensível.
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Elisio Macamo simpatizo muito com a forma como coloca as coisas. a questão, contudo, é se haverá melhor momento, se esta ferida que sangra não vai ficar assim. muito complicado.
Amosse Macamo Penso que não podemos apressar o processo de "reabilitação" da nossa história. Enquanto existirem os dois lados (bom e o mau ) e cada um com o seu fundamento por se ter posicionado de uma forma e não de outra, enquanto existirem ofendidos e ofensores teremos sempre uma situação de posições irredutíveis ...há factos que só o tempo e a crescente consciência de Cidadania nos podem ajudar a resolver. Claro que isso não pode impedir a sua discussão, porem será sempre difícil livrarmo-nos da suspeição
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Elisio Macamo oxalá, mpoyombo, oxalá. o problema é que este assunto tornou a relação de muitos com aquilo que devia ser a sua história muito cínica. até crimes mais hediondos, porque simplesmente sádicos, ganham hoje o benefício da dúvida. eu compreendo os teus receios, são meus também.
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Brazao Catopola Creio que sim podemos fazer isso. A cidadania e a conciliação histórica faz se fazendo. A nossa consciência cidadã vai surgir desses debates. Creio que todos temos a consciência que isso foi do tempo, mas precisamos falar sobre isso
Clelio Clelio O fecho deste texto longo é espetacular,faz ter valído a pena ler sem se cansar.
Maria Fernanda Tomásio Cavadas Li e reli .....👍
Calton Cadeado Acho o texto muito bom pelo apelo ao debate. Este é um apelo que eu vejo inclusive na "retórica" dos libertadores e no próprio discurso oficial da FRELIMO. A prova disso é, que de um tempo a esta parte, tem surgido muitos livros de memórias de figuras sonantes da FRELIMO na qual se pode tirar alguma coisa para o debate. Nesses livros, encontramos muito material que glorifica a luta de libertação e a heroicidade, mas também é possível encontrar algum questionamento, ainda que tênue. Tanto a retórica dos libertadores quanto o discurso oficial da FRELIMO não dizem que se deve única e exclusivamente publicar memórias de glorificação.
Elisio Macamo sim, concordo que têm sido publicados livros interessantes. muitos precisam de ser lidos entrelinhas como qualquer documento histórico. neste capítulo tenho muita inveja da áfrica do sul onde existe uma tradição mais forte de redação de memórias. hoje sei muito mais sobre a luta do anc e o regime do apartheid a partir de memórias de combatentes, agentes e políticos. é uma outra tradição intelectual.
Calton Cadeado Quanto a questão moral, eu vejo-a de forma relativa. Esta minha relatividade tem muito a ver com o facto de o discurso de concepção da luta de libertação nacional foi sempre alicerçado em valores morais nobres. Além disso, houve também uma pratica de respeito pela vida dos prisioneiros das tropas do regime colonial. O apelo a separação entre o regime colonial e o Homem branco é, em si, uma atitude politico-moral que tem uma expressão teórica e empírica. Portanto, eu discordo com a generalização a respeito da decadência (minha expressão) moral na construção do estado. Isto, para mim, torna relevante discutir os excessos a diferentes níveis de análise (topo a base; individual e institucional) para perceber se a decadência moral era institucional e como isso pode conduzir a um pedido de desculpas (individual ou institucional).
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Elisio Macamo não sei se estou completamente de acordo. é verdade que a história oficial sempre falou dessa separação. no livro de memórias de sérgio vieira há uma referência a esse aspecto quando durante as negociações de lusaka se aborda a questão da troca de prisioneiros e se constanta que os portugueses mataram todos os prisioneiros enquanto a frelimo não. ao mesmo tempo, porém, depois da independência não se mostra o mesmo sentido de clemência e respeito à vida não só em relação aos que são tidos como traidores, mas também em momentos subsequentes como execuções públicas, etc. isso relativiza a integridade moral desses indivíduos.
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Calton Cadeado Prof. Eu vejo os contextos, antes e depois da independência, como factores importantes para INTERPRETAR a clemência. Em ambos contextos, estava em jogo a sobrevivência da FRELIMO. Antes da independência, matar branco significava perda de legitimidade da causa da luta de libertação, significava perder apoio de "países amigos" e de pessoas amigas, inclusive nos países europeus. Isso poderia significar lutar contra os líderes que tinham esposas brancas ou contra os intelectuais místicos e brancos. Com tanta luta pelo poder, com tantas divisões, com tanto intervencionismo do regime colonial (que também lutava pela sua sobrevivência), a Frelimo usou o fear factor (factor medo) para garantir coesão e garantir sobrevivência. Depois da independência, a luta pela sobrevivência foi mais evidente e o fear factor continuou a ser opção política. Nesta altura, a pena de morte foi o instrumento mais marcante. Este contexto de luta de sobrevivência pode, provavelmente, ajudar a interpretar a aplicação da clemência antes da independência e o abandono, depois da independência. Mas, como digo, está é apenas uma tentativa de interpretação! Ainda precisamos estudar muito sobre a nossa realidade!
Elisio Macamo sim, ainda precisamos de fazer isso.
Calbe Jaime Calton gostei do argumento acima, faz sentido
Calton Cadeado Quanto ao pedido de desculpas, Prof. eu acho que a dimensão política pesa mais do que a dimensão moral, neste momento. O timing é um factor crucial a considerar, os exemplos de pedidos de desculpas em outras realidades podem ser importantes para perspectivar um provável pedido de desculpas, aqui em Moçambique. A questão do timing e dos exemplos parece ser crucial, pois há MUITOS exemplos de excessos em outras realidades, há mais de 100 ou 200 anos, mas ainda não fizeram pedidos de desculpas. Mas, também há POUCOS exemplos de pedidos de desculpas. E, se tiver que acontecer um pedido de desculpas, em Moçambique, não vão faltar os que vão incluir a Renamo a pedir desculpas! Nesse caso, quem toma a iniciativa? Essa questão pode fazer adiar um eventual pedido de desculpas dos libertadores ou da FRELIMO. Acima de tudo, os perigos políticos (em função do timing) podem dificultar o pedido de desculpas. Eu acho que é mais fácil existirem pedidos de desculpa individual do que pedido de desculpa institucional.
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Elisio Macamo deste problema também estou ciente e não tenho opinião formada senão a esperança de que haja mais coragem para se admitir os erros. a separação entre o individual e o colectivo seria difícil porque como poderia um indivíduo pedir desculpas por algo que o colectivo não admite? algo me diz que a frelimo teria muito a ganhar tomando a dianteira neste assunto. os exemplos de outros países são instructivos, mas o meu problema com eles é o perigo de nós os utilizarmos para justificar a nossa falta de coragem em fazer aquilo que a moral nos diz ser correcto fazer. o que fez os alemães levaram assim tanto tempo para admitirem o genocídio na namíbia foi a arrogância e a falta de respeito. se nós fizermos o mesmo estaremos também a revelar essas características. eu sou dum romantismo que me leva a apostar muito na ideia de que se pudermos ser melhores que os outros devemos tentar ser.
Bayano Valy sobre o autor e outros mais (verdugos intelectuais, incluídos), não sei se não devíamos olhar para a questão também do ponto de vista psicológico. ocorre-me o romance de arthur koestler "darkness at noon" onde o protagonista rubashov, um bolchevista convicto, confessa ter comitido crimes capitais sem tê-los. rubashov é uma metáfora da bancarrota moral fruto do que as ideologias totalitárias inculcam nos seus seguidores ao ponto dos mesmos de abandonarem o seu auto-respeito como seres humanos.
ps: não é para discutirmos :)
Elisio Macamo acho que este comentário no post errado. mas como não é para discutirmos está tudo bem...
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