Diário de
Vasco Pulido Valente
Este espectáculo, pelo mortos e pelo sofrimento dos que não morreram, comoveu o país. Mas o mesmo país habitualmente assiste em paz de espírito às mais graves demonstrações da incompetência e degradação do Estado: investigações criminais que duram anos e anos (como a de Oliveira e Costa e, a seguir, a de Sócrates, a de Ricardo Salgado e as de várias dezenas de suspeitos menores); julgamentos sem fim; a maior dívida da história, que vai crescendo; políticas que se atenuam, interrompem ou simplesmente se metem na gaveta para não ofender parcelas ínfimas do eleitorado; actos egrégios de nepotismo e compadrio; a corrupção que se manifesta ou descobre em cada recanto da vida corrente e da vida pública nacional. O parlamento, depois de lamentar a infindável sequência de comissões de inquérito para prevenir incêndios, que não chegaram a parte alguma, nomeou outra comissão de inquérito; e as “personalidades” que roubaram milhões continuam a passear tranquilamente pelas ruas.
A grande pergunta é simples: porque havia de aparecer em Pedrógão Grande, por milagre flagrante do Altíssimo, um Estado previdente, eficaz e responsável? Não apareceu; e, como de costume, os mais fracos pagaram a conta. Seria bom que fizéssemos mais três dias de luto. Por nós.
Vasco Pulido Valente interromperá a sua crónica durante o próximo mês de Julho