Tuesday, July 25, 2017

VITAMINAS PARA A CIDADANIA I: REPARAR A NARRATIVA SOBRE O PAÍS


O conceito de enquadramento está relacionado à tradição de definição da agenda (agenda-setting). A base da teoria do enquadramento é que a mídia enfoca a atenção em certos eventos e os coloca em um campo de significado. Na essência, a teoria do enquadramento sugere que a forma como algo é apresentado ao público (chamado "o quadro") influencia as escolhas que as pessoas fazem sobre como processar essa informação. Os quadros são abstracções que funcionam para organizar ou estruturar o significado da mensagem. Acredita-se que eles influenciem a percepção das notícias pela audiência, pelo que pode ser interpretado como uma forma de definição de agenda de segundo nível – os quadros não só influenciam o público sobre o que pensar (teoria de definição da agenda), mas também como pensar sobre essa questão.
Trago abaixo, cinco notícias sobre o mesmo evento, que é o da visita do Director-executivo do Banco Mundial a Moçambique. 
1. Jornal @verdade: Banco Mundial admite que não suspendeu apoio ao Orçamento de Estado de Moçambique: O Banco Mundial admitiu, como o @Verdade revelou, que não suspendeu o seu apoio financeiro directo ao Orçamento de Estado de Moçambique, não alinhando com a posição do Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros doadores quando descobriram em Abril de 2016 a extensão dos empréstimos inconstitucionais e ilegais. “Nós não suspendemos porque teria um impacto negativo na população” admitiu nesta segunda-feira (24) Mark Lundell, o representante da instituição no nosso país, que ainda referiu que “até expandimos a nossa participação”.
2. DW (Radio Alemã): Banco Mundial recusa apoiar o Orçamento do Estado: Moçambique não vai receber apoio do Banco Mundial (BM), devido às dívidas ocultas que o Governo contraiu sem o aval do Parlamento. O anúncio foi feito pelo Director-executivo do BM numa conferência de imprensa.
3. RFI (Rádio Francesa): Banco Mundial prudente quanto a Moçambique
4. AIM: Banco Mundial optimista sobre estabilidade económica no país: Maputo, 24 de Jul (AIM) - O Banco Mundial considera que Moçambique está a caminhar no sentido de atingir uma situação macroeconómica favorável, avaliando pela queda da taxa de inflação e aumento das reservas internacionais, o que poderá assegurar a breve trecho, a estabilidade económica.
5. Magazine Independente: Banco Mundial anuncia 1.2 mil milhões de dólares para Moçambique
Se cada um de nos ler o título e leads de cada noticia, teremos uma percepção especifica sobre o assunto. Por exemplo, lendo a notícia da DW, é possível concluirmos que o Banco Mundial está a punir Moçambique por causa das dívidas ocultas. Essa na verdade, pode ser a opinião a intenção que a DW pode querer fazer passar aos Moçambicanos: faze-los zangar contra seu governo ou acelerar os processos subversivos. É apenas uma hipótese. Ora, quem for a ler a estória produzida pela própria Radio DW vai perceber que o título é enganador. RECUSAR apoiar o Orçamento do Estado não é o mesmo dizer que aguarda a normalização das relações com FMI para pensar-se num possível retorno ao mecanismo de apoio. A própria notícia da DW clarifica isso nas citações que faz. Porém, pode se questionar porque é que a DW preferiu colocar um título bombástico como esse, ainda por cima, não representando o que de facto aconteceu.
Estranhamente e na mesma conferência de imprensa, o @Verdade teve um outro entendimento, citando a mesma fonte. Segundo o jornal, o banco Mundial “admite que não suspendeu apoio ao Orçamento de Estado de Moçambique”. Citando o mesmo Director-executivo, o jornal afirmou “Nós não suspendemos porque teria um impacto negativo na população”. Portanto, quem ler as duas notícias, lado-a-lado, pode ter duas posições antagónicas. No fundo, trata-se do que nos estudos de mídia é conhecido por FRAMING (enquadramento). 
No jornalismo, não existe nenhuma noticia inocente. Mas as regras básicas impõem objectividade, disciplina de verificação e clareza. Quando for para colocar a opinião, o jornalista deve esforçar-se para clarificar ao leitor que se trata da sua opinião e diferencia-la dos factos.
O que tenho vindo a notar é que existe no jornalismo moçambicano posições polarizadas do agendamento: uns contra outros, tentando cada um maquiar sua narrativa sobre o país e sobre o que está acontecer. Este esforço produz inexoravelmente efeitos sobre os leitores ou cidadãos em pelo menos seis níveis: 
1. Cognitivo: inclui qualquer nova informação, significado ou mensagem adquirida através do consumo de mídia. Os efeitos cognitivos prolongam a aquisição do conhecimento passado: os indivíduos podem identificar padrões, combinar fontes de informação e inferir informações em novos comportamentos.
2. Crenças: não podemos validar cada mensagem de mídia mas podemos optar por acreditar em muitas das mensagens, mesmo sobre eventos, pessoas, lugares e ideias que nunca tivermos em primeira mão.
3. Atitudes: as mensagens da mídia, independentemente da intenção, geralmente desencadeiam julgamentos ou atitudes sobre os tópicos apresentados.
4. Afecto: refere-se a qualquer efeito emocional, positivo ou negativo, num indivíduo causado pela exposição à mídia.
5. Fisiológico: reacção emocional física que os indivíduos podem ter em resposta a uma notícia.
6. Comportamentos: qualquer alteração ou reforço em comportamentos.
Esses efeitos têm nos estudos de mídia um nome: SÃO EFEITOS DE MIDIA, que podem ser de longa duração ou de curta ou média duração. 
Ora, a narrativa sobre o país não é um exercício inocente, como afirmei antes. Ela pode ser planificada para um determinado fim. A figura que partilho explica isso de forma mais simples. Está em inglês mas não irei alongar-me.
A primeira vitamina para a cidadania é essa: um bom cidadão deve procurar se informar de diversas fontes. Procedendo assim, este cidadão estará em condições de não ser manipulado seja ao nível social, político ou mesmo económico. O extremismo, a polarização política, o cinismo, resultam do mau hábito de crer (de crença) em fontes únicas.
E, quanto a narrativa sobre o país, urge resgatá-la para melhor entendimento sobre o que está acontecer no país. Corremos o risco de distorcer de forma irremediável parte da história deste país. Falarei disso no próximo capítulo.
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Comentários
Mariano Yano
Mariano Yano É questão de chamar atenção ao leitor, ouvinte ou telespectador se for o caso. Ou criar curiosidade , para poder vender a sua noticia.
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 · 17 min
Gerir
Huntelais Adelino Vinho
Huntelais Adelino Vinho Gostei da vitamina..

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