Luanda
- O presidente da UNITA disse hoje que o processo de exumação dos
restos mortais de Jonas Savimbi está parado devido à necessidade de
desminar o cemitério que deverá receber os restos mortais do fundador do
partido.
Fonte: Lusa
Isaías
Samakuva falava em entrevista à agência Lusa, em Luanda, a propósito do
aniversário da morte em combate, na província do Moxico, de Jonas
Savimbi, a 22 de fevereiro de 2002, garantindo que continua a ser
pretensão do partido, militantes e família, dar um funeral condigno ao
histórico líder da União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA).
O partido chegou em maio de 2014 a criar
uma comissão para tratar do processo de exumação dos restos mortais de
Jonas Savimbi, que ficou sepultado, logo após a morte em combate, no
cemitério de Luena, Moxico, e trasladação para o cemitério da família,
na aldeia de Lopitanga, município do Andulo, a cerca de 130 quilómetros a
norte do Kuito, província do Bié.
"A comissão tinha um calendário [para
tratar da exumação] , mas ficou sem capacidade para continuar a andar
porque uma parte das tarefas só podem ser executadas pelo Governo,
nomeadamente a necessidade de se desminar a área onde se pretende que
seja o repouso final dos restos mortais do doutor Savimbi", explicou
Samakuva.
De acordo com o líder da UNITA, o
cemitério onde estão os restos mortais dos pais de Jonas Savimbi
permanece minado, inviabilizando que se realize uma cerimónia de grande
dimensão, pretendida pelo partido.
"Não sabemos por que razão, mas este
cemitério, já durante a guerra, chegou a ser minado. A área que circunda
o cemitério e as vias de acesso tinham sido minados. Um evento como o
funeral do doutor Savimbi requer muito mais cuidado", recordou o
presidente da UNITA.
Segundo Isaías Samakuva, por orientação
do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a comissão criada
pela UNITA para assegurar a exumação chegou a estabelecer contactos com o
Ministério do Interior, mas o processo não avançou.
"A
comissão que ficou responsável estabeleceu todos os contactos, até que a
determinada altura ficou num impasse. O ministério fazia pedidos, mas
que só dependiam deles. Estamos agora ver se retomamos os contactos, mas
naturalmente já não será antes das eleições [agosto de 2017] ",
lamentou.
Jonas Malheiro Savimbi morreu aos 67
anos, acossado por uma ofensiva das tropas governamentais, e morreu a
lutar, tal como o fizera ao longo da vida, primeiro contra o regime
colonial português, depois contra o imperialismo soviético.
Ao longo de quase 40 anos perseguiu o ideal de resgatar a etnia ovimbundo, maioritária no centro e leste de Angola, onde nasceu, da tradicional dominação dos kimbundos, dominantes na região de Luanda e centro norte.
Foi derrubado por 15 tiros próximo do
rio Lungué Bungo e os seus restos mortais permanecem no cemitério de
Luena, leste de Angola.
Em maio de 2014, a decisão da UNITA de
criar uma comissão para tratar da exumação foi duramente condenada num
editorial do Jornal de Angola, em que Savimbi era apelidado de
"condecorado herói do 'apartheid'".
Intitulado de "Incitação à violência", o
editorial do diário estatal angolano de 13 de maio de 2014 acusava o
histórico líder da UNITA de ter reduzido "Angola a pó", após as eleições
de 1992."Homenagear em Angola um herói do 'apartheid' é de uma
violência inusitada.
É um atentado de morte à reconciliação
nacional. É igual a glorificar Hitler ou negar o Holocausto", lê-se no
editorial do Jornal de Angola, sublinhando que Savimbi "não pode ser
homenageado nem glorificado".
Além dos restos mortais de Jonas
Savimbi, cuja morte determinou o fim das hostilidades no país em 2002,
permitindo a assinatura do Memorando de Entendimento do Luena,
complementar ao Protocolo de Lusaca, de 1994, a Comissão criada pela
UNITA tratará da exumação dos restos mortais de outros dirigentes do
partido durante a guerra.
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