segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Luísa Diogo diz que as aldeias comunais eram necessárias

Muito contestadas em vários quadrantes de dentro e fora do país, por promoverem aglomerações populacionais forçadas no campo, as aldeias comunais foram um dos selos de marca da governa- ção do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, mas a ex- -primeira-ministra Luísa Diogo vê virtudes na sua implantação. Falando numa palestra dedicada ao tema “O Pensamento de Samora Machel Sobre o Desenvolvimento Económico de Moçambique”, na Escola Superior de Contabilidade e Gestão (ESCOG), Diogo considera que a criação das aldeias comunais foi necessária. Perante o corpo docente e estudantes, Diogo, que também foi ministra e vice-ministra das Finanças, assinalou que a dimensão territorial de Moçambique e as insuficiências em termos de serviços sociais essenciais tornavam aquele tipo de assentamentos eficaz para a promoção do desenvolvimento humano. “Se formos a analisar as razões que ditaram a criação das aldeias comunais, muitas dessas razões foram prevalecentes, quando olhamos para as necessidades humanas, ao nível de professores, médicos e enfermeiros, vamos perceber que o acesso a esses serviços foi facilitado pelas aldeias comunais”, afirmou a ex-governante. Ao se criar aquele tipo de agrupamentos, defendeu Luísa Diogo, o Governo da Frelimo acreditava que seria mais eficaz prover serviços sociais básicos. “Pensou-se que as pessoas estariam melhor, quando estivessem próximas, prefiro não discutir os rótulos, mas não há dúvidas que um agregado rural é mais acessível do que a dispersão rural”, acrescentou a ex- -governante, actualmente presidente do Conselho de Administração do Barclays Bank. A antiga primeira-ministra moçambicana também saiu em defesa da política de cooperativas e do associativismo, incentivados por Samora Machel. “Quando falamos das associações e das cooperativas, dos instrumentos de produção, entendemos que esses esquemas de organização são melhores, porque tudo que sejam desafios de gestão, contabilidade e decisões técnicas, funciona melhor em cooperativa”, acrescentou Luísa Diogo. Para Diogo, o projecto de sociedade idealizado por Samora Machel emperrou devido às agressões de que o país foi alvo, incluindo a “guerra de desestabilização”. “Se nós formos analisar as crises, a maior parte são ditadas por razões exógenas à gestão macro-econó- mica. Tivemos a crise da guerra de desestabilização, foi-nos imposta do exterior, nós fomos bombardeados”, frisou a ex-primeira-ministra. Luísa Diogo recordou que Samora Machel pagou um preço elevado pela sua oposição feroz ao Governo racista da Rodésia, actual Zimbabué e ao apartheid da África do Sul. “O Presidente Samora foi um dos mais activos na criação dos estados da linha da frente, num contexto regional hostil, especialmente de um parceiro económico mais poderoso (África do Sul) e, por outro lado, de um segundo mais poderoso (a Rodésia), esses dois vizinhos com uma longa fronteira, não era fácil sobreviver”, ressalvou Diogo. A antiga primeira-ministra também recordou que a viragem de Moçambique para uma economia de mercado e as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial iniciaram-se ainda no tempo de Samora Machel e foram motivadas pela vontade de criar condições para a prosperidade do país e não por razões ideológicas. “A opção em relação a Bretton Woods foi para responder às necessidades prementes do seu povo, na minha modesta opinião, o que lhe ditava não eram os rótulos e questões ideológicas, fazia o que era melhor para o seu povo”, declarou Luísa Diogo. Dívidas irresponsáveis Questionada sobre a actual crise económica e financeira, Diogo defendeu que a conjuntura que o país atravessa deve-se a uma combinação de factores, incluindo uma gestão irresponsável da dívida pública. “O primeiro factor é que a gestão do endividamento não foi feita de maneira séria e responsável”, afirmou Luísa Diogo, realçando que foi ignorada a espiral de dívida que o país contraiu pelos governantes da altura. Uma das causas por detrás da crise da dívida, prosseguiu Diogo, é que o modelo do Fundo Monetário Internacional não toma em consideração as dívidas privadas e é possível que os técnicos que estavam a fazer o controlo do endividamento não tenham tomado em consideração a sustentabilidade da dívida de Moçambique. “É ainda mais grave quando o Or- çamento do Estado, além da sua própria dívida, ele assume, através de garantias, que quando o privado não pagar, ele deve assumir e pagar”, afirmou Luísa Diogo. A gestão da dívida pública não foi cuidadosa e devidamente feita, não foi cautelosa, frisou Diogo, descartando a hipótese de a actual crise da dívida ter resultado de uma intenção lesiva. A queda colossal dos preços das matérias-primas que Moçambique exporta também privou o país de receitas, agudizando os problemas económicos. L

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