Muito contestadas em
vários quadrantes de
dentro e fora do país,
por promoverem aglomerações
populacionais forçadas no
campo, as aldeias comunais foram
um dos selos de marca da governa-
ção do primeiro Presidente moçambicano,
Samora Machel, mas a ex-
-primeira-ministra Luísa Diogo vê
virtudes na sua implantação.
Falando numa palestra dedicada ao
tema “O Pensamento de Samora
Machel Sobre o Desenvolvimento
Económico de Moçambique”, na
Escola Superior de Contabilidade e
Gestão (ESCOG), Diogo considera
que a criação das aldeias comunais
foi necessária.
Perante o corpo docente e estudantes,
Diogo, que também foi ministra
e vice-ministra das Finanças, assinalou
que a dimensão territorial de
Moçambique e as insuficiências em
termos de serviços sociais essenciais
tornavam aquele tipo de assentamentos
eficaz para a promoção do
desenvolvimento humano.
“Se formos a analisar as razões que
ditaram a criação das aldeias comunais,
muitas dessas razões foram
prevalecentes, quando olhamos para
as necessidades humanas, ao nível de
professores, médicos e enfermeiros,
vamos perceber que o acesso a esses
serviços foi facilitado pelas aldeias
comunais”, afirmou a ex-governante.
Ao se criar aquele tipo de agrupamentos,
defendeu Luísa Diogo, o
Governo da Frelimo acreditava que
seria mais eficaz prover serviços sociais
básicos.
“Pensou-se que as pessoas estariam
melhor, quando estivessem próximas,
prefiro não discutir os rótulos,
mas não há dúvidas que um agregado
rural é mais acessível do que
a dispersão rural”, acrescentou a ex-
-governante, actualmente presidente
do Conselho de Administração do
Barclays Bank.
A antiga primeira-ministra moçambicana
também saiu em defesa da
política de cooperativas e do associativismo,
incentivados por Samora
Machel.
“Quando falamos das associações e
das cooperativas, dos instrumentos
de produção, entendemos que esses
esquemas de organização são melhores,
porque tudo que sejam desafios
de gestão, contabilidade e decisões
técnicas, funciona melhor em cooperativa”,
acrescentou Luísa Diogo.
Para Diogo, o projecto de sociedade
idealizado por Samora Machel emperrou
devido às agressões de que o
país foi alvo, incluindo a “guerra de
desestabilização”.
“Se nós formos analisar as crises, a
maior parte são ditadas por razões
exógenas à gestão macro-econó-
mica. Tivemos a crise da guerra de
desestabilização, foi-nos imposta do
exterior, nós fomos bombardeados”,
frisou a ex-primeira-ministra.
Luísa Diogo recordou que Samora
Machel pagou um preço elevado
pela sua oposição feroz ao Governo
racista da Rodésia, actual Zimbabué
e ao apartheid da África do Sul.
“O Presidente Samora foi um dos
mais activos na criação dos estados
da linha da frente, num contexto regional
hostil, especialmente de um
parceiro económico mais poderoso
(África do Sul) e, por outro lado, de
um segundo mais poderoso (a Rodésia),
esses dois vizinhos com uma
longa fronteira, não era fácil sobreviver”,
ressalvou Diogo.
A antiga primeira-ministra também
recordou que a viragem de Moçambique
para uma economia de mercado
e as negociações com o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e
com o Banco Mundial iniciaram-se
ainda no tempo de Samora Machel
e foram motivadas pela vontade de
criar condições para a prosperidade
do país e não por razões ideológicas.
“A opção em relação a Bretton
Woods foi para responder às necessidades
prementes do seu povo,
na minha modesta opinião, o que
lhe ditava não eram os rótulos e
questões ideológicas, fazia o que era
melhor para o seu povo”, declarou
Luísa Diogo.
Dívidas irresponsáveis
Questionada sobre a actual crise
económica e financeira, Diogo defendeu
que a conjuntura que o país
atravessa deve-se a uma combinação
de factores, incluindo uma gestão irresponsável
da dívida pública.
“O primeiro factor é que a gestão do
endividamento não foi feita de maneira
séria e responsável”, afirmou
Luísa Diogo, realçando que foi ignorada
a espiral de dívida que o país
contraiu pelos governantes da altura.
Uma das causas por detrás da crise
da dívida, prosseguiu Diogo, é que o
modelo do Fundo Monetário Internacional
não toma em consideração
as dívidas privadas e é possível que os
técnicos que estavam a fazer o controlo
do endividamento não tenham
tomado em consideração a sustentabilidade
da dívida de Moçambique.
“É ainda mais grave quando o Or-
çamento do Estado, além da sua
própria dívida, ele assume, através de
garantias, que quando o privado não
pagar, ele deve assumir e pagar”, afirmou
Luísa Diogo.
A gestão da dívida pública não foi
cuidadosa e devidamente feita, não
foi cautelosa, frisou Diogo, descartando
a hipótese de a actual crise da
dívida ter resultado de uma intenção
lesiva.
A queda colossal dos preços das
matérias-primas que Moçambique
exporta também privou o país de
receitas, agudizando os problemas
económicos.
L
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