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Editorial do semanário "Magazine Independente"
(Posted on 6 Setembro, 2016 by Elisio Muchanga)
Lendo um conhecido semanário da praça de Maputo da última semana, ficamos a saber coisas curiosas relacionadas com o conflito político-militar opondo o governo e a Renamo e por extensão, relacionadas com a economia do País.
Diz o semanário que no passado dia 20 de Agosto, unidades combinadas das Forças de Defesa e Segurança atacara uma mina de pedras preciosas, pertencente ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama. A mina, da empresa chamada SOCADIV Holding, Lda, localiza-se no Posto Administrativo de Nhapassa, no Distrito de Bárwè.
Em consequência do ataque, um cidadão foi morto e houve feridos e as tropas do governo levaram consigo quantidades não especificadas de turmalinas e quatzo. Houve, portanto, danos resultantes deste ataque.
Este artigo traz-nos dados interessantes para análise. O primeiro dado é aquele que confirma que o líder da Renamo tem minas no país e explora as mesmas, resultando dai benefícios para si, para a sua família e para a sua organização. E, portanto, um empresário, não colando, para todos os efeitos, a máxima que temos ouvido de que os recursos naturais do país beneficiam uma pequena elite, mormente a elite ligada ao partido governamental.
Afinal, Afonso Dhlakama faz parte desta elite que bem e merecidamente se beneficia dos nossos recursos naturais, não se sabendo, para já se paga impostos, se paga bons salários aos seus trabalhadores, se tem acções de responsabilidade social junto das comunidades em volta das suas minas, consta que não é apenas aquela. É bom que seja empresário Sr. Dhlakama e para o bem da transparência, seria interessante verificar quantos trabalhadores emprega e quais são as tabelas salariais por lá.
Na sequência deste ataque, Fernando Mazanga, quadro da Renamo agora afecto como vogal na Comissão Nacional de Eleições, escreveu, por mandato de Afonso Dhlakama, uma carta-protesto ao Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Pedro Couto. Uma frase curiosa de Mazanga levanta um segundo dado curioso e interessante na História:
"A empresa (invadida) é um bem civil que concorre para o desenvolvimento económico do país e não tem nenhuma ligação político-militar, não obstante pertencer a figura do líder do maior partido da oposição, em diferendo com o governo. Deste modo, apela-se a SEXA (o Ministro Couto), na sua qualidade de membro do governo, para, junto dos seus pares encontrar mecanismos para desencorajar este tipo de acções".
Ora esta posição de Mazanga é paradoxal quanto a nós, sabendo-se que a Renamo, através do seu braço armado, comandado precisamente pelo general Dhlakama, ataca alvos civis, "bens económicos que concorrem para o desenvolvimento do país".
Quer dizer quando populações indefesas são atacadas, quando líderes comunitários são mortos, quando hospitais e postos médicos são atacados e incendiados, quando escolas são encerradas como consequência dos ataques armados da Renamo, quando viaturas transportando mercadorias da população civil são atacadas e destruídas por ordens do empresário-general Afonso Dhlakama isso não é problema.
Quando uma jovem empreendedora foi morta há anos por ataques da Renamo no Save, quando fazia seu negócio entre Quelimane e Maputo aí não houve protesto nenhum do nosso diligente Mazanga. Agora que o alvo do ataque foi uma empresa do seu líder, aí sim, temos um bem económico que contribui para o desenvolvimento do país a ser alvo de guerra, a ser confundido pelas forças de defesa e segurança.
Não há pior hipocrisia do que esta Sr. Mazanga. Valia a pena ter ficado calado, gerindo a dor que naturalmente sente o General Dhlakama pelos prejuízos infringidos, mas ele sabe, perfeitamente, que os seus adversários que estão no governo fazem exactamente aquilo que ele manda fazer contra alvos civis.
É por isso que estamos sempre a dizer que não se pode brincar com a guerra. Não se pode recorrer as armas para reclamar direitos políticos ou outros, porque essa guerra prejudica a todos nós. Na ingenuidade de Mazanga, o Ministro Pedro Couto iria notificar o seu colega no governo, Salvador Mutumuque e outro, Basílio Monteiro para terem cuidado com os bens, empresas e propriedades do sr. Dhlakama. "Coitadinho dele, ele até ajuda no desenvolvimento do nosso País através das suas empresas. Não as ataquem por favor", diria Couto aos colegas da área de defesa e segurança.
Assim, estaríamos nós num pacto silencioso, em que os protagonistas da guerra acordam proteger os bens de Dhlakama quando este manda atacar sem selecção alvos civis, manda assassinar civis e paralisa, atrofia e prejudica a economia deste país desde há praticamente 40 anos.
E claro que nós não podemos apoiar este tipo de raciocínio, elaborado a luz do dia, por quadros com nome e alguma reputação no País. Só podemos condenar este tipo de postura sem vergonha, de gente que move guerra, mas que quando são beliscados um pouco gritam até Deus ouvir.
O ataque a mina de Afonso Dhlakama fez-se no contexto da guerra. Como resultado do entendimento (certo ou errado) das FDS, de que as minas de Dhlakama ou aquela em particular, são fontes de financiamento da guerra.
O ideal era que não houvesse guerra no país, para que cada um desenvolva as actividades que bem entender em solo pátrio. O ideal era que houvesse paz e aí sim, faria sentido a carta-protesto de Mazanga, caso fossem atacados bens do seu líder sem contexto nenhum nem motivos aparentes. Afinal dói, Sr. Mazanga!
Lourenço Jossias
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Obrigado, Lourenço Jossias! Se o teu exemplo fosse seguido pelos teus pares, Moçambique conheceria o mais rapidamente possível uma nova era de paz—mas uma «paz efectiva».
Agora, eu insto:
Meu compatriota Afonso M. M. Dhlakama, pára de viver servindo de instrumento de desestabilização do tua Pátria a favor de pessoas mais espertas e «mais malandras» que tu! Volta ao convívio da tua família e dos teus concidadãos!
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