A Missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Maputo, entre os dias 22 e 28 do corrente mês, concluiu que o crescimento económico em 2016 vai ser ainda pior do que projectara em Junho, revendo o crescimento para 3,7% este ano. Apesar das medidas “duras” que estão a ser implementadas pelo Banco de Moçambique e da revisão do Orçamento de Estado a instituição de “Bretton Woods” afirma que o Governo de Filipe Nyusi deve intensificar as políticas monetárias restritivas “para salvaguardar a estabilidade macroeconómica”. Sobre a tão ansiada ajuda financeira “um início efetivo do processo de auditoria (às empresas Proindicus, MAM e EMATUM) a curto prazo ajudariam a criar as condições para um possível retomar das discussões sobre um programa com o FMI”.
A Missão, chefiada por Michel Lazare, concluiu após a sua visita que “Moçambique enfrenta um ambiente económico difícil”, o crescimento que o FMI projectara em Junho em 4,5% foi revisto para 3,7% (configurando-se como o pior crescimento em mais de uma década).
No comunicado a instituição de “Bretton Woods” no entanto aplaude “as medidas de política económica adoptadas pelo governo desde a última visita em Junho”, apesar da inflação continuar a crescer, do metical continuar a depreciar-se, do enfraquecimento das exportações, da queda do investimento directo estrangeiro e das dívidas escondidas.
Todavia como a inflação continua a subir e o metical não pára de desvalorizar o FMI recomenda “ medidas adicionais de restrição monetária para salvaguardar a estabilidade macroeconómica”.
No seguimento da aceitação por parte do Presidente Filipe Nyusi, no encontro que teve em Washington com a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, da auditoria auditoria internacional e independente às empresas Proindicus, MAM e EMATUM – que endividaram Moçambique ilegalmente em mais de 2 biliões de dólares norte-americanos -, a Missão disse ter feito “progressos consideráveis” com a Procuradoria-Geral da República na elaboração dos Termos de Referência para a sua materialização sendo expectável em breve um primeiro rascunho.
De acordo com o comunicado que estamos a citar o Governo de Filipe Nyusi solicitou ao Fundo Monetário Internacional “que fossem retomadas, o mais depressa possível, as discussões sobre apoio financeiro”.
“Uma trajectória sólida de aplicação de políticas macroeconómicas saudáveis e um início efetivo do processo de auditoria a curto prazo ajudariam a criar as condições para um possível retomar das discussões sobre um programa com o FMI”, conclui o comunicado da equipa técnica que visitou o nosso País.
Recorde-se que esta semana o Conselho de Ministro aprovou a proposta de Plano Económico e Social e de Orçamento de Estado para 2017, que deverá ser apreciado durante a próxima sessão da Assembleia da República a iniciar em Outubro próximo.
Lembre-se ainda que no início de Setembro o Chefe de Estado substituiu o Governador do Banco Central, nomeou um moçambicano funcionário do FMI para o cargo. Rogério Zandamela que deveria ter dirigido a suaprimeira reunião do Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique no passado dia 14 de Setembro adiou-a para 21 de Outubro de 2016.
"Aumento das taxas de juro é incoerente tanto com o objectivo de controlo de inflação"
A economista Oksana Mandlate explicou ao @Verdade, em Junho, que o aumento das taxas de juro pelo Banco de Moçambique “é baseada na assumpção de que a inflação está ligada ao excesso da procura na economia, e visa abrandar o consumo e o investimento doméstico. Mas no caso de Moçambique, que tem a sua economia dependente das importações, uma boa parte da inflação nos bens de consumo é importada, em parte devido a desvalorização da taxa de câmbio”.
Após o Banco Central agravar ainda mais as taxas de juros de referência, em Julho, a economista que é assistente de investigação no Grupo de Investigação sobre Economia e Desenvolvimento do Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE), disse ao @Verdade que “a opção de política escolhida pelo Banco de Moçambique, o continuo aumento da taxas de juros de referência, gera um ciclo vicioso na economia. Está medida, assim como a contenção da despesa pública, visa conter a inflação por meio de desaceleração da economia. A medida mostra ser pouco eficaz e tem altos custos para a economia, porque não trata as causas reais da inflação, a dependência estrutural da economia de importação dos bens de consumo básico e dos influxos de recursos externos. No entanto, está medida induz efeito redistributivo na economia, com efeito negativo sobre a estrutura produtiva da economia”.
“Primeiramente, por via do próprio Estado, dado que os seus empréstimos internos ficam mais caros. Em 2013-2014 perto de 50 por cento da despesa do Governo com taxas de juro era direccionada aos bancos domésticos e perto de 20 por cento dos recursos dos bancos eram aplicados em dívida pública. Os empréstimos “secretos” mudaram este quadro, mas também limitaram as oportunidades de buscar recursos no mercado financeiro externo do Governo. Os empréstimos públicos internos mais caros serão pagos por contribuintes, as empresas e as famílias, ao mesmo tempo que a redução da despesa pública implica que menos oportunidades de emprego e negócios serão criadas na economia tanto para as famílias como para as empresas”, esclareceu a economista moçambicana.
“Aumento das taxas de juro é incoerente tanto com o objectivo de controlo de inflação como com o objectivo de aumento da produção nacional”, clarificou na altura Oksana Mandlate.
@VERDADE - 29.09.2016
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