O Presidente do Partido Independente de Moçambique (PIMO) e do Bloco da Oposição Construtiva, Yá-qub Sibindy, disse em entrevista exclusiva que existe falta de vontade dos actores políticos do governo e da Renamo em resolver em definitivo a crise político militar. Sibindy que falava numa entrevista sobre o 7 de setembro dia dos acordos de Lusaka fez saber que o país, está nas mãos de colonialistas moçambicanos que vem das fileiras daqueles que dirigiram o povo na luta contra o colonialismo - extractos de Samora Machel já previam esta perdição, acompanhe a entrevista.
Pergunta - Comemora-se amanhã o dia 7 de Setembro num momento em que o país vive uma situação conturbada que mensagem deixa aos moçambicanos?
Resposta - Dia 7 de Setembro de 1974, felizmente eu estive já no activo nas Forças Populares de Libertação de Moçambique - FPLM, na então Província de Manica e Sofala, eu vivi os efeitos da sessação das hostilidades militares que o governo português impôs ao longo da sua existência centenária em moçambique, recusando o direito dos moçambicanos de constituírem o seu Estado e o seu próprio Governo. No entanto eu vi o desmoronar do império português apoiado e suportado pela NATO, pelo que a minha mensagem é que a data deve servir de balanço é reflexão sobre o tipo de Independência com que sonhavámos durante a euforia da luta pela nossa Independência!
“Devemos olhar para o passado, para o país que construímos de 7 de Setembro até cá, e fazer uma avaliação do que construímos e como consolidamos. Alcançamos a Independência política e ainda não alcançamos a Independência económica, pois agora se olharmos para trás veremos que o instrumento primordial usado para o alcance da Independência foi a UNIDADE NACIONAL e hoje porquê que não se usa o mesmo instrumento para formar mais uma Frente Económica de modo a traçar uma agenda inclusiva de Libertação Económica.
É uma data em que também temos a lamentar o facto de não se reconhecer o direito de pensar diferente, as ideias construtivas dos partidos da oposição e também da sociedade civil que são profanadas pelos maquievealistas políticos no poder que em épocas eleitorais aparecem à fazer falsas promessas de governação inclusiva que valorizaria às boas ideias sem cores partidárias!
Acho que à união dessas ideias construtivas entre os moçambicanos comprometidos com a construção de um modelo económico sem oposição, ajudaria os diversos cidadãos a unirem se numa nova Frente que possa de novo lograr uma verdadeira libertação do país da externa dependência económica.
É triste, e não é saudável manter eternamente 40 anos no poder um Governo teimoso que não aceita ideias oriundas da oposição, no poder, desprovido de estratégias para promover políticas económicas afim de produzir o seu próprio orçamento do Estado.
No entanto, a data dever servir de reflexão na necessidade de haver um Governo genuíno de Unidade Nacional, um governo de reconciliação e transparência que vai lutar pela distribuição equitativa das riquezas do país entre o Cidadão e o Estado!
P - O acordo de Lusaka prova ser uma história de sucesso em muitos acordos, no seu ponto de vista para quem vai o mérito desse acordo?
R - O sucesso do acordo e consequentemente do desmoronar do imperialismo português, vai para Eduardo Mondlane, a que temos que homenagear a nível singular e a nível colectivo, pois ele é que traçou o plano estratégico que dirigiu a Resistência Militar de 10 anos contra a ocupação colonial que finalmente, desempenhou um papel fundamental para influenciar na mesa as conclusões estratégicas militares de que o colonialismo português não tinha mais capacidade de aguentar com a luta armada, no entanto, foi nesse projecto de Eduardo Mondlane que se dirigiu a luta dinamizada pela bravura de Samora Machel, homem que inspirou a Guerrilha e soube transformar todas adversidades numa força motriz para dinamizar a luta pela independência de Moçambique, e isso culminou-se com o 7 de Setembro de 1974, por meio de negociações e rendição das forças colonialistas portuguesas!
Há um aspecto importante que gostaria de realçar para a nova geração, é que nós vimos a tentativa de fazer de 25 de Abril, uma estratégia ou a face B da mesma moeda isto é caía o fascismo do Marcelo Caetano e nascia o sistema neocolonialista da mesma potência portuguesa.
P - Como o governo português pretendia orquestrar isso?
R - António de Spínola, o então Presidente de Portugal, tinha como estratégia oferecer uma transição de 20 anos as colonias para em conjunto preparar mentes e cérebros com capacidade de gerir um Moçambique, Angola ou um país independente.
No entanto essa estratégia foi colocada com a desculpa de que para além da Frelimo no caso especial de Moçambique, haviam outras forças políticas que também deveria sentar a mesa de negociações dos acordos de Lusaka de modo a partilhar a oportunidade de tomar o poder em Moçambique, mas Samora Machel, não recusou o facto, e num dos encontros antes do acordo de Lusaka, puxou o mapa de Moçambique e pediu a Mário Soares que lhe indicasse onde operavam esses outros movimentos de libertação, tais como o GUMO, FICO, COREMO... que o governo português alegava existirem, de modo a que pudessem ter a honra de sentar-se a mesa de negociações e assinar o acordo de paz em nome dos moçambicanos, facto que Mário Soares não conseguiu mostrar.
P - Perante este facto qual foi a resposta de Samora a Mário Soares?
R - Samora disse a Mário Soares, que ele estava a tentar criar partidos fantoches, e caso fossem inclusos na mesa de negociações, não deveriam contar com a FRELIMO e que a luta continuaria até que reconheçam que a FRELIMO é a representante dos Moçambicanos.
P - O 7 de Setembro, determina praticamente a Independência de Moçambique, com estas manobras que o governo português fazia será que o acordo era genuíno?
R - A Independência de moçambique, não foi estabelecida de boa-fé por Portugal, porque o país entrou numa emboscada do imperialismo, na zona Austral, havia Rodésia do Sul com forças hostis a Independência de Moçambique, havia uma potência do Apartheid que tinha uma capacidade de varrer no mapa Moçambique com os seus novos governantes num piscar de olhos, mas Samora Machel, entra e proclama a Independência, mesmo com 40 minutos de atraso em relação a hora marcada porque haviam ameaças de invasão das forças do apartheid que estava já estacionadas no Komattport, com ordens para impedir a Declaração da Independência em Moçambique.
P - Disse que as Forças do regime do Apartheid poderia "varrer" Moçambique num piscar de olhos mas Independência foi declarada mesmo com estas forças hostis, o que falhou?
R - …o plano do regime de Apartheid, falhou porque quem estava a dirigir a Frelimo naquela altura era um comandante militar e já tinha alcançado uma visão preventiva, convidando o Presidente da Organização da Unidade Africana OUA, e Presidente da Somália, General Mohamed Siad Barre, na altura a Somália era tido como "potência" Soviética na Africa.
O Presidente Siad Barre, vinha escoltado de uma frota de submarinos Soviéticos que ocuparam a baía de Maputo, facto que gorou a tentativa do regime do apartheid de invadir o país, e inviabilizar a proclamação da Independência de Moçambique no dia 25 de Junho de 1975.
Mas como Samora, sabia que poderia ser invadido a a qualquer altura, não descansou no Caiderão do poder na Ponta Vermelha, exportou a Guerrilha para outros países como Rodesia, África do Sul, Namíbia e implementou às Resoluções das Nações Unidas, ordenando o encerramento das fronteiras Moçambicanas, com a Rodhesia do Sul, visando apertar a queda de Ian Smith e forçar a queda do apartheid.
P - Há historiadores que avançam que Mondlane já vinha com a ideia de libertar o país e logo implementar o pluralismo, dando oportunidades aos partidos formarem democraticamente governo, o que falhou já com a Independência e Mondlane morto?
R - …Se naquela altura, tivesse-se implantado a teoria pacifica de Eduardo Mondlane de que depois da Independência a FRELIMO deixava de existir como movimento e dava lugar a existência de partidos políticos que traçavam a estratégia para concorrer as eleições e formar o governo, este pensamento de Mondlane não poderia ser possível a sua implementação logo após a Independência, porque esta foi proclamada de uma forma simulatória no ponto de vista de Portugal, pois tratava-se de uma emboscada para limpar a direção da FRELIMO, e impedir a independência genuína e colocar no lugar desta, um neocolonialismo, que Spínola tinha preparado em nome da Democracia, foi isso que fez impossível convocar às eleições em 1974 e 1975.
P - Na altura não se implantou o neocolonialismo mas hoje vive-se uma situação que reflete tanto o neocolonialismo?
R - Sim é triste, como se mudou de um ideal de governação, para dum momento para o outro, alguns históricos ministros do então governo da transição, eles devem explicar aos moçambicanos como é que eles mudaram a linha de governação inclusiva do povo Moçambicano, e implantam uma governação exclusiva com o suporte de um capitalismo selvagem que cria o desespero para os moçambicanos, e até fabricam guerras injustificáveis como aqui estamos a viver hoje.
Expulsamos o colonialismo português substituindo por um outro colonialismo muito mais perigoso que não tem pátria, para poder ser expulso para lá... porque é um colonialista interno que vem das fileiras daqueles que dirigiram o povo na luta contra o colonialismo - extractos de Samora Machel, dizem isso.
P - O 7 de Setembro foi marcado por busca de consenso bem-sucedido entre o governo português e a FRELIMO e o país hoje vive uma espécie de reedição de tantos acordos do passado, em que se tenta buscar consenso entre moçambicanos que tem quase sempre falhado, vem isso como falta de interesse ou incapacidade dos moçambicanos de se entenderem?
R - Penso que há falta de interesse porque quando uma pessoa pretende mudar, primeiro deve manter se fiel às primeiras palavras de confiança que teria alcançado com à sua contraparte antes de alcançar o período de implementação de quaisquer resultados duma causa comum.
Está a ser difícil alcançar um consenso entre às partes beligerantes, pois o que está por detrás deste actual conflito entre à Frelimo e a Renamo, não é um conflito derivado às disputas políticas para melhor servir o Povo, mas sim uma disputa motivada pelo apuderamento partidário das Províncias que possuem mais recursos minerais, depois do Dlhakama, ver se excluído na partilha do "bolo" do gás de Palma pela dupla Guebuza/Chipande que também deixou de fora alguns séniores dos consulados de Samora Machel, assim como os de Joaquim Chissano!
Isso significa que quando lutávamos para conquistar os recursos económicos nacionais, logo após a Independência, já estávamos numa parceria inclusiva com todos moçambicanos, pois tínhamos um governo que recolhia do seu povo, ideias de como governar um país, mas agora por exemplo quando nasce o espírito ganancioso de se apuderar sózinho o gás, o petróleo, madeira, carvão, assim os demais outros recursos do Estado, há uma perca total de credibilidade nestas pessoas.
P - Na qualidade de político sente que há realmente vontade de se alcançar consenso nestas negociações?
R - Neste momento está a decorrer um grande perigo para o futuro da nossa democracia, principalmente quando se pretende fazer com que haja comissões mistas bilaterais que discutem uma agenda para alcançar uma paz privatizada entre a Frelimo e a Renamo! Está se a criar uma "bomba atómica", cuja explosão poderá espalhar diversas calamidades políticas, para um outro futuro que ninguém vai travar, porque neste momento o decalque das comissões mistas do passado acordo de Lusaka que se está a tentar implementar agora, visa na realidade buscar uma estratégia que ontém enganou o povo pensando que Lusaka era o acordo do povo mas que no entanto fez nascer bolsas de colonialismo interno mais cruel que o colonialismo português!
P - No entanto como vê estas negociações?
R - No meu ver, as negociações são para fazer o governo “comer” com a Renamo, porque a Arma de Chantagem da Renamo é Governar mesmo sem documentos, recorrendo a interpretações teóricas do passado de que são tradicionais vencedores daquelas Províncias e para calar o Nyusi, a Renamo também questiona à legitimidade do Nyusi proclamado Presidente sem à presença de editais originais que suportam à transparência da sua vitória!
A Renamo alega que se à Constituição da República deu espaço ao Nyusi como Presidente, sem as tais provas, então a mesma Constituição deve também averbar um espaço legal para a Renamo governar às 6 províncias, reveindicadas como o seu bastião tradicional!
P - Em caso de os dois maiores partidos não alcançarem acordo acredita que estão em condições de prolongar com o conflito politico militar?
R - Não acredito porque o governo de Nyusi agora está totalmente fora da confiança das agências de financiamento internacionais e o país está numa crise económica que qualquer falta d capacidade de o governo reconciliar-se pacificamente com a Renamo, poderá levar o povo à desencadear uma revolta popular derivado ao alto custo de vida!
FIM DA ENTREVISTA
Nota:
BRINDEI OS ESTIMADOS LEITORES COM UMA FOTOGRAFIA QUE REPORTA A MINHA PASSADA CARREIRA MILITAR, AOS 20 ANOS DE IDADE, PARA RECORDAR O DIA 20 DE SETEMBRO DE 1978, DIA EM QUE SE TRAVOU O PRIMEIRO COMBATE, SOB COMANDO DE YÁ-QUB SIBINDY, ENTRE A INFANTARIA MOTORIZADA DO EXERCÍTO REGULAR MOÇAMBICANO, CONTRA À INVASÃO DO EXERCÍTO DE IAN SMITH, NOS ARREDORES DA CIDADE DE CHIMOIO - CANHA E SÁ!
BRINDEI OS ESTIMADOS LEITORES COM UMA FOTOGRAFIA QUE REPORTA A MINHA PASSADA CARREIRA MILITAR, AOS 20 ANOS DE IDADE, PARA RECORDAR O DIA 20 DE SETEMBRO DE 1978, DIA EM QUE SE TRAVOU O PRIMEIRO COMBATE, SOB COMANDO DE YÁ-QUB SIBINDY, ENTRE A INFANTARIA MOTORIZADA DO EXERCÍTO REGULAR MOÇAMBICANO, CONTRA À INVASÃO DO EXERCÍTO DE IAN SMITH, NOS ARREDORES DA CIDADE DE CHIMOIO - CANHA E SÁ!
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